Élio Gasda SJ – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 09 May 2024 21:05:01 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Élio Gasda SJ – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Tragédia anunciada (mais uma)! Chuva demais, inteligência e responsabilidade de menos https://observatoriodaevangelizacao.com/tragedia-anunciada-mais-uma-chuva-demais-inteligencia-e-responsabilidade-de-menos/ https://observatoriodaevangelizacao.com/tragedia-anunciada-mais-uma-chuva-demais-inteligencia-e-responsabilidade-de-menos/#respond Thu, 09 May 2024 20:56:31 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49866 [Leia mais...]]]> Será que desta vez vamos aceitar que a ameaça é real? Entraremos em pânico ao perceber que o que está ruim pode piorar? O futuro será pior que o presente. O aquecimento global está apenas em seu começo. Poucos meses após a passagem de um ciclone extratropical que trouxe devastação e morte ao Rio Grande do Sul, enchentes ainda maiores estão castigando os gaúchos. 80% dos municípios devastados, milhares de desabrigados e desalojados, centenas de feridos, mortos e desaparecidos.

A tragédia é mais um sinal gravíssimo da crise ambiental. Desmatamento, mineração ilegal, queimadas, destruição dos biomas, desertificação. Enxurrada, enchentes, inundações, causando desmoronamentos, destruindo casas, matando gente e arruinando meios de subsistência. O ambiente mudou tanto que o que antes era uma possibilidade, agora é um fenômeno real.

Eventos extremos se tornaram frequentes. Embora esteja acontecendo no Sul, impacta diretamente todo o Brasil. Não são fatalidades naturais, mas um fenômeno resultante das mudanças climáticas. Há muito a ciência alerta sobre o agravamento do aquecimento global. Um crescimento econômico continuado num planeta finito e sobrecarregado só pode terminar em tragédia. Uma catástrofe ambiental é prenúncio de flagelo social: migração, desemprego, fome, doenças, pobreza.

Fingir surpresa diante dos fatos é cinismo e canalhice. O negacionismo das alterações climáticas foi fomentado por muitos anos. A falta de bom senso e o desprezo pela ciência é prenúncio de desastre. Não faltam alertas científicos! O último relatório do IPCC de 2023, após 15 anos de pesquisas realizadas por centenas de cientistas, apontou a América do Sul como área de eventos climáticos extremos, como inundações.

Em 2015, o relatório “Brasil 2040”, da Presidência da República, indicou o aumento de chuvas acentuadas no Sul em decorrência das mudanças climáticas. O documento apresentava medidas para minimizar os impactos das mudanças inevitáveis. O estudo foi arquivado. Previsões ignoradas. Essa é a quarta ocorrência de fortes chuvas em terras gaúchas em menos de um ano.

Registro da tragédia do Ciclone extratropical no Rio Grande do Sul em 2021.

Não há como negar tantas evidências científicas, mas…

Eduardo Leite (PSDB), governador desde 2018, e Sebastião Melo (MDB) prefeito de Porto Alegre desde 2020, não só desprezaram as advertências, como também destruíram o Estado, privatizaram a infraestrutura e sucatearam a secretaria de meio ambiente. A prefeitura de Porto Alegre não investiu um centavo em prevenção contra enchentes em 2023. Tudo em nome da austeridade fiscal.

O governo estadual aumentou o orçamento da defesa civil em apenas 50 mil reais, alterou 480 artigos do Código do Meio Ambiente, mudou o conceito de Área de Preservação Permanente (APP) favorecendo a intervenção do agronegócio em áreas sem autorização de órgão ambiental, retirou os artigos que versavam sobre Unidades de Conservação e sua proteção. Menos de um mês atrás, o governador sancionou uma lei que flexibiliza regras ambientais para construção de barragens em APPs.“A crise já chegou, ela não é no futuro.

 

A crise já chegou, ela não é no futuro. Não há mais como evitar os eventos extremos.

Suely Araújo, coordenadora do Observatório do Clima.

 

A crise já chegou, ela não é no futuro. Não há mais como evitar os eventos extremos” (Suely Araújo, coordenadora do Observatório do Clima). A mudança climática é uma realidade, mas a legislação e as políticas públicas ainda são pensadas como se ela não existisse. A flexibilização da legislação ambiental pode gerar muitas outras tragédias. Tramita no Congresso um “pacote da destruição”: mais de 20 projetos de lei que fragilizam a legislação ambiental. Em meio ao desastre climático, a bancada ruralista quer reduzir reservas na Amazônia.

Catástrofes causadas pela crise climática podem ser evitadas? Quem poderá frear a ganância predatória dos poderosos que sacrificam um país inteiro em benefício próprio? É um desastre após outro. É preciso pôr fim à tamanha insanidade. “Continuaremos sonâmbulos para as catástrofes climáticas?” (António Guterres, secretário-geral da ONU).

 

Continuaremos sonâmbulos para as catástrofes climáticas?

António Guterres, secretário-geral da ONU.

 

As vidas perdidas logo serão esquecidas? Continuaremos elegendo governantes e políticos negacionistas patrocinados por empresas e seus interesses escusos? Uma hora a conta chega. A fatura chegou no Rio Grande do Sul!

Não basta maquiar mudanças na economia. Sem visão de futuro, pode ser tarde demais. A crise climática é expressão de uma crise muito maior: a crise civilizatória. São urgentes mudanças “nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder que hoje regem as sociedades” (Laudato Si’, 5).

A crise climática-humanitária revela um profundo abandono dos mais pobres. Diante desse desamparo, o povo se enche de compaixão e se organiza por meio de doações e voluntariado. A ação coletiva mostra que pode fazer a diferença na reconstrução de uma sociedade. Solidariedade é essencial, mas a mobilização por justiça climática também é urgente. Não se pode enfrentar um problema tão grave apenas com medidas pontuais. Respostas emergenciais e provisórias são insuficientes.Eventos extremos como esse não podem ser tratados como imprevistos. Um problema sistêmico gerador de tragédias humano-ambientais só será realmente enfrentado com a mudança do modelo socioeconômico. Prevenir é melhor que remediar.

(Os grifos são nossos!)

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte: Portal FAJE

]]>
https://observatoriodaevangelizacao.com/tragedia-anunciada-mais-uma-chuva-demais-inteligencia-e-responsabilidade-de-menos/feed/ 0 49866
“Eleições: seu voto pode mudar a história”, com a palavra o prof. Élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/eleicoes-seu-voto-pode-mudar-a-historia-com-a-palavra-o-prof-elio-gasda-sj/ https://observatoriodaevangelizacao.com/eleicoes-seu-voto-pode-mudar-a-historia-com-a-palavra-o-prof-elio-gasda-sj/#comments Fri, 30 Sep 2022 14:50:42 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46075 [Leia mais...]]]> Dois de outubro de 2022, uma data crucial. Serão as eleições mais importantes desde a redemocratização pós-ditadura. Está em jogo o futuro do país para os próximos anos. O Brasil chegou à semana decisiva no meio de uma grave crise social, ambiental, econômica e de violência política. Retrocessos no campo dos direitos fundamentais e ambientais.

Diante de tantas urgências, “os políticos são chamados a cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas… As maiores preocupações de um político deveriam ser a de não encontrar uma solução eficaz para o fenômeno da exclusão social e econômica” (Fratelli tutti, 188).

Para frear o avanço do neoliberalismo, que o voto seja um exercício de cidadania no enfrentamento das exclusões e injustiças. É fundamental resgatar esse Brasil que “não tem medo de fumaça e não se entrega” (Ary Barroso). Reconstrução se faz com justiça, solidariedade e políticas públicas.

Um voto pelos direitos humanos. São tempos de sofrimento e violência, principalmente para os vulneráveis e empobrecidos. A marginalização e a pobreza são consequenciais de decisões políticas. As causas, segundo a ONU, podem ser a dificuldade de acesso à educação de qualidade, falta de investimentos em serviços básicos como saúde, saneamento básico e transporte, política fiscal injusta e baixos salários.

Sem dúvida, a fome é a principal urgência. Quem tem fome tem pressa. 33 milhões de pessoas vivem com seus pratos mais vazios. Que seja o voto a favor da soberania alimentar que acabe com a fome e a desnutrição.

O retrato mais trágico da devastação social é o mundo do trabalho. Desemprego, informalidade, trabalho escravo, salários congelados, altos índices de inflação, disparada dos preços dos alimentos. Desalento e angústia. Que seja um voto a favor do trabalho e de uma economia a serviço da nação, e não do sistema financeiro!

A via para a superação do fundamentalismo, do negacionismo e das fake news é garantir a educação de qualidade como direito de todos e dever do Estado. Aplicar 10% do PIB, investir em livros, escolas, universidades e pesquisa, não em armas e clubes de tiro.

Na saúde, a pandemia escancarou o desprezo do governo com a saúde do povo. O país se aproxima dos 700 mil mortos. Gastos em saúde foram cortados e repassados ao orçamento secreto. A ampliação do investimento federal no Sistema Único de Saúde (SUS), valorização de trabalhadoras e trabalhadores da saúde, é critério na hora do voto!

Não existimos sem a natureza. Ecologia somos nós e nossa casa comum. Então, que seja um voto ecológico! O compromisso com a preservação do meio ambiente deveria ser prioridade na definição do voto. O voto pode ajudar a fazer com que a preservação da floresta amazônica se torne realmente uma questão de Estado.

Imprescindível escolher políticos comprometidos com um projeto econômico sustentável. Até quando a “boiada vai passar”? Que seja um voto de protesto contra o desmatamento, a mineração predatória, o garimpo ilegal, a violência no campo. Que seja um sim à reforma agrária agroecológica, à agricultura familiar, ao reconhecimento, homologação, demarcação e regularização dos territórios indígenas.

A superação da cultura das armas e a gestão da política do ódio implica a desmilitarização da sociedade e das instituições públicas. Um voto pela redução da letalidade policial, pelo fim da violência do Estado contra pobres, pretos e periféricos. Garantir segurança pública cidadã e de proteção da dignidade das pessoas.

Um voto antirracista, anti-homofóbico e contra todos os preconceitos. Pelo fim da violência contra as mulheres. Que seja um sim às políticas públicas de promoção e garantia dos direitos constitucionais para todas as pessoas: brancos, pretos, indígenas, quilombolas, pessoas atípicas, jovens, idosos, mulheres, pessoas LGBTQIA+. Um sim aos mesmos direitos para todos os tipos de famílias.

Que seja um voto pelo fortalecimento da democracia e em defesa do Estado de Direito, da Constituição e das instituições da república. A laicidade do Estado garantidor da liberdade religiosa depende do seu voto. Que ateus, católicos, evangélicos, espíritas, religiões de matriz indígena e africana, ateus, possam se reconhecer e escrever sua cultura e sua história.

Que seja um voto em memória daqueles que foram assassinados pela ditadura, dos perseguidos por defender a democracia, o meio ambiente, o direito à terra e os direitos humanos. Um voto em memória das vidas perdidas para a covid-19 por irresponsabilidade do governo.

Nesse caminho desafiador, a eleição pode ser uma vereda. No dia 02 de outubro, que seja um voto inspirado por papa Francisco:

Necessitamos de dirigentes políticos que vivam com paixão o seu serviço aos povos, solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que anteponham o bem comum aos seus interesses privados; que não se deixem intimidar pelos grandes poderes financeiros e midiáticos; que sejam competentes e pacientes face a problemas complexos; que sejam abertos a ouvir e aprender no diálogo democrático; que conjuguem busca da justiça com misericórdia“.

(Os grifos são nossos.)

Sobre o autor:

Prof. dr. Élio Gásda, SJ

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte:

domtotal.com

]]>
https://observatoriodaevangelizacao.com/eleicoes-seu-voto-pode-mudar-a-historia-com-a-palavra-o-prof-elio-gasda-sj/feed/ 1 46075
“Direitos humanos”, com a palavra o prof. Élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/direitos-humanos-com-a-palavra-o-prof-elio-gasda-sj/ Fri, 10 Dec 2021 09:55:19 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=43118 [Leia mais...]]]> Levante sua voz contra a desigualdade, proteste, combata a violência dirigida às pessoas negras, aos mais pobres e indefesos, lute contra o machismo que agride as mulheres e as minorias. Que os países cumpram as obrigações dos tratados que ratificaram e respeitem o quadro de direitos humanos com que se comprometeram. Defender a vida! Denunciar as violações aos direitos humanos! Todas as formas de desrespeito à pessoa humana devem ser eliminadas. Desprezar o outro é ofender a Deus. Trabalhar contra os Direitos Humanos é opor-se ao Evangelho de Jesus.

Confira a reflexão do prof. dr. pe. Élio Gasga, SJ:

Direitos Humanos

Élio Gasda, SJ

São tantas lutas inglórias.

São histórias que a história qualquer dia contará….

Uma crença num enorme coração dos humilhados e ofendidos.

Explorados e oprimidos que tentaram encontrar a solução.

São cruzes sem nomes, sem corpos, sem datas.

Memória de um tempo onde lutar por seu direito é um defeito que mata.

Gonzaguinha

10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos

São tantas violações dos direitos à vida, à saúde e à proteção social; violências baseadas em gênero e ameaças aos direitos sexuais e reprodutivos; repressão de militantes, censura da imprensa.

1.323 ativistas dos direitos humanos foram assassinados entre 2015 e 2019 no mundo (Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas). A maioria na América Latina: 993 execuções. No Brasil, 174 pessoas foram mortas por defender os direitos humanos.

Guerras, conflitos internos, pobreza, miséria, fome, desemprego, trabalho escravo, concentração de renda, racismo, xenofobia, violência de gênero, homotransfobia, assombram populações inteiras. Dezenas de milhares de pessoas continuam a fugir da violência, da pobreza e da desigualdade. A Covid-19 agravou a situação já precária de pessoas refugiadas e migrantes.

Desastres, exacerbados pelo aquecimento global e por instabilidade climática, afetam severamente, para milhões de pessoas, o exercício dos seus direitos à vida, à alimentação, à saúde, à moradia, à água e ao saneamento.

A destruição da natureza impacta diretamente nos direitos humanos: secas, tempestades, alagamentos, incêndios, ondas de calor. Somente em 2020 foram mortos 227 ambientalistas (Relatório A última linha de defesa – ONG Global Witness). O Brasil aparece na quarta posição, com 20 assassinatos. Levantamento da Comissão Pastoral da Terra aponta que até o final de agosto de 2021, 11 pessoas foram mortas por defenderem seus territórios, o meio ambiente, o acesso à terra e a água. Com o problema da subnotificação, os números são ainda maiores.

A violência com base no gênero (violência doméstica, violência sexual, estupros, feminicídios) é extremamente alta em todo o mundo. Muitos criminosos continuam impunes. Algumas autoridades praticam, elas mesmas, essa violência. É urgente agir para eliminar todas as formas de violência e práticas danosas contra todas as mulheres. Para alcançar a justiça de gênero, é preciso deter os retrocessos dos direitos das mulheres e das pessoas LGBTQI+.

Toda a espécie humana tem direito à vida e à liberdade, à dignidade, à paz, à educação, à saúde, direito à defesa e ao justo julgamento. Esses, entre outros diretos, devem ser garantidos, independentemente da nacionalidade, cultura, sexo, religião, idioma ou ideologia.

Direitos Humanos não são uma invenção ou um privilégio de alguns, mas sim o reconhecimento de que aspectos fundamentais da vida devem ser garantidos a todos. Por isso, em 1948, foi redigida a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Hoje 193 países são signatários da Organização das Nações Unidas, consequentemente da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O governo Bolsonaro, não tem seguido diversas recomendações e diretrizes da ONU. A desconstrução da proteção dos direitos humanos é um projeto do bolsonarismo.

A Constituição Federal de 1988, conhecida como Constituição cidadã por estar alinhada com a Declaração dos Direitos Humanos, está sendo desmantelada. Nunca se apresentou tanta Proposta de Emenda Constitucional (PECs) e Projetos de Lei (PL) que prejudicam principalmente o pobre, o trabalhador e o meio ambiente. Tempos sombrios!

As desigualdades, injustiças e violências marcam a história do Brasil e colocam em risco permanente a garantia dos Direitos Humanos aos mais pobres e indefesos: povos indígenas, quilombolas, trabalhadores, mulheres, população LGBTQI+.

A cena da moto do Policial militar remete ao pelourinho. O jovem negro de periferia é arrastado pelas ruas e torturado por agentes do próprio Estado. Imagem cruel do retrocesso civilizatório.

Levante sua voz contra a desigualdade, proteste, combata a violência dirigida às pessoas negras, aos mais pobres e indefesos, lute contra o machismo que agride as mulheres e as minorias. Que os países cumpram as obrigações dos tratados que ratificaram e respeitem o quadro de direitos humanos com que se comprometeram.

Defender a vida! Denunciar as violações aos direitos humanos! Todas as formas de desrespeito à pessoa humana devem ser eliminadas. Desprezar o outro é ofender a Deus. Trabalhar contra os Direitos Humanos é opor-se ao Evangelho de Jesus.

O mundo existe para todos, porque todos nós, seres humanos, nascemos nesta terra com a mesma dignidade. As diferenças de cor, religião, capacidade, local de nascimento, lugar de residência e muitas outras não podem antepor-se nem ser usadas para justificar privilégios de alguns em detrimento dos direitos de todos. Como comunidade, temos o dever de garantir que cada pessoa viva com dignidade e disponha de adequadas oportunidades para o seu desenvolvimento integral”.

(Papa Francisco, Fratelli Tutti, 118).

Sobre o autor:

Prof. dr. Élio Gásda, SJ

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte:

https://faculdadejesuita.edu.br/fajeonline/palavra-presenca/direitos-humanos/

]]>
43118
“Fundamentalismo: Não deixe os bastardos te oprimirem”, com a palavra o prof. Élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/fundamentalismo-nao-deixe-os-bastardos-te-oprimirem-com-a-palavra-o-prof-elio-gasda-sj/ Fri, 19 Nov 2021 15:20:01 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=42820 [Leia mais...]]]>
Imagem utilizada por https://www.cartacapital.com.br/opiniao/duas-dicas-de-leitura-para-refletir-sobre-os-males-do-fundamentalismo/?utm_source=leiamais

Liberdades, direitos, culturas, credos e instituições democráticas sob ataque! É o fundamentalismo destilando ódio e semeando injustiça, discórdia e violência.

O termo fundamentalismo surgiu de um movimento religioso protestante-conservador, no século, 20 nos Estados Unidos, visava conter os avanços da modernidade liberal. Democracia, laicidade, as ciências, teorias como a da evolução, eram vistas como perigos a fé cristã. O fundamentalismo não é uma ameaça vinda do oriente a partir do atentado às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001.

O fundamentalismo está fechado ao diálogo com pensamentos diferentes. Doutrinas fundadas em interpretações literais da Bíblia se convertem em verdades incontestáveis. Sua visão estreita de ser humano não admite que ele seja singular, com uma história própria, uma família. Com sua cultura, religião, educação, profissão, todo ser humano é potencialmente construtor da sociedade. A realidade humana é plural. Ninguém é dono da verdade. Seria um absurdo pretender controlar uma sociedade plural com normas morais fundadas em uma religião e impostas por autoridades religiosas.

O fundamentalismo se estendeu a política. Essa aproximação gerou um movimento sociorreligioso político que pode levar ao extremismo, colocando em risco a democracia. Política e religião são importantes, inclusive se inter-relacionam. Toda teologia tem implicações políticas. Ideologias políticas contém pressupostos teológicos.

Para Carl Schmitt (1888-1985), jurista e filósofo fundamentalista, conceitos fundadores do Estado moderno têm origem teológica. O fundamento do Estado e da lei está em um poder superior. A política é uma arena onde se digladiam teologias, divindades e seres humanos. Religiões fundamentalistas lutam para controlar o Estado para, através dele, impor sua doutrina sobre toda a sociedade. Deus se serve do Estado para proteger seus escolhidos dos perigos deste mundo. Para isso os fundamentalistas disputam o poder: que Deus seja obedecido pelo Estado. A salvação do mundo está na adoração religiosa e na subserviência à Deus.

Diante da insegurança, do medo e das adversidades, pessoas sentem-se vulneráveis. Supersticiosas, são levadas a buscar refúgio e proteção em poderes sobrenaturais. A realidade dos fatos é ignorada para dar lugar a uma crença que oferece explicação em uma vontade superior misteriosa que governa todas as coisas. Religiões que brotam do medo confundem a razão para controlar os comportamentos. A manipulação será mais forte ainda se for uma religião monoteísta revelada por uma divindade: Há um só Deus. A palavra dos seus porta-vozes é lei.

A ignorância é alimentada pela própria religião. Muitos fiéis fundamentalistas não têm ideias próprias. O medo de desobedecer a deus leva ao abandono da razão. É religião utilizada como “ópio do povo” por aqueles que se valem do poder para dar continuidade a desigualdade, à injustiça e à violência. Religião alienante explora fiéis alienados.

Essa dominação religiosa se estende à política. Diviniza-se políticos: “sob a aparência da religião, adora-se reis como se fossem deuses” (Baruch Espinoza). O fiel é ‘liberado’ de suas responsabilidades sociais para assumir os compromissos de seu líder religioso. Para controlar costumes, linguagens, pensamentos, corpos e espíritos, ‘leis divinas’ são impostas como leis civis. Pluralidade ideológica, diversidade cultural e religiosa, liberdades e direitos sociais e políticos tornam-se alvos preferenciais da intolerância.

Religião fundamentalista vira ideologia política, sem problemas em apoiar políticos autoritários e seus disparates. Os cidadãos são rebaixados a cumpridores de mandamentos divinos. Leis pretensamente divinas, quando impostas como leis políticas, impedem o exercício das liberdades políticas. A consciência política dá lugar à submissão religiosa. Elege-se quem tem mais fé. Projetos de nação dão lugar a projetos de religião. A sociedade paga um preço muito alto por cair nesse engodo. No caso brasileiro, setores do catolicismo e do protestantismo abraçaram o fundamentalismo e abandonaram o cristianismo para se tornarem bolsocrentes. A palavra de Bolsonaro e seus ‘apóstolos bolsonaristas’ é mais importante que a mensagem de Jesus Cristo.

Fundamentalismo é antidemocrático. Teocracia é o projeto do fundamentalismo! Portanto, “cuidado com a rigidez que eles lhe propõem: cuidado. Por trás de cada rigidez há algo de mau, não há espírito de Deus”, adverte papa Francisco.

Nós somos os responsáveis por nossa história. Não importa o quão entristecidos e angustiados estivermos, nunca deixemos de resistir e lutar. Nolite te bastardes carborundorumNão deixe esses bastardos te derrubarem (Margareth Atwood – tradução livre).

(Os grifos são nossos)

Sobre o autor:

Prof. dr. Élio Gásda, SJ

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

https://faculdadejesuita.edu.br/fajeonline/palavra-presenca/fundamentalismo-nolite-te-bastardes-carborundorum/
]]>
42820
“Migrantes e refugiados: a urgência da cidadania universal”, com a palavra o prof. Élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/migrantes-e-refugiados-a-urgencia-da-cidadania-universal-com-a-palavra-o-prof-elio-gasda-sj/ Thu, 07 Oct 2021 12:46:27 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=41841 [Leia mais...]]]> 2020 foi o nono ano de crescimento seguido de deslocamentos forçados. Coincide com a concentração de riqueza. Bilionários viajam pelo espaço enquanto milhões passam fome em uma terra devastada pelo colapso climático e pela ganância… Se queremos salvar vidas, é urgente construir um mundo verdadeiramente sem fronteiras. Pensar a cidadania universal é recriar a solidariedade, o diálogo, a justiça e a paz entre os povos. Somos todos irmãos! “Se quisermos, poderemos transformar as fronteiras em lugares privilegiados de encontro, onde possa florescer o milagre de um nós cada vez maior” (Papa Francisco).

Confira toda a reflexão do prof. dr. Élio Gasda, SJ:

Crianças choram na fronteira entre o México e os Estados Unidos, perto de Playas de Tijuana, em 2 de dezembro de 2018 (Guillermo Arias/AFP)

“Humilhação inadmissível”, crise humanitária e contradições internacionais

Homens, mulheres, crianças, milhares de pessoas debaixo de uma ponte a espera de oportunidade. Entretanto, o que lhes é dado são chicotadas, caçados como animais.  (Fronteira do México com USA). Um corpo no deserto. Brasileira morreu de sede. Buscava vida digna (USA). Barracas, colchões, fraldas, brinquedos, documentos de venezuelanos imigrantes queimados na fogueira da intolerância (Chile). “Humilhação inadmissível” (Felipe González/ONU). Histórias da vida real. Cenários de uma crise humanitária. Representação das contradições internacionais.

Quem são essas pessoas? Deslocados, migrantes, refugiados. Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) define como refugiados aquelas pessoas que fogem de conflitos armados ou perseguições. A extrema vulnerabilidade provocada pela perda de seus direitos básicos, os deixa em uma situação-limite. Homens, mulheres e crianças impossibilitados de viverem em seu próprio país. Migrantes são definidos como aqueles que escolhem se deslocar em busca de melhores condições de vida e trabalho. Podem migrar dentro do próprio país ou para o exterior. Ao contrário dos refugiados, continuam a receber proteção de seus governos.

A migração não é um fenômeno novo. No entanto, nunca ocorreu em tão alta escala

A migração não é um fenômeno novo. No entanto, nunca ocorreu em tão alta escala. Segundo o relatório anual da Acnur, até o final de 2020, 82,4 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas. Em plena pandemia, o número de refugiados no mundo é recorde. 1% da humanidade está desabrigada, o dobro de dez anos atrás. 42% são adolescentes com até 18 anos. Uma em cada 95 pessoas do planeta está em deslocamento.

2020 foi o nono ano de crescimento seguido de deslocamentos forçados. Coincide com a concentração de riqueza. Bilionários viajam pelo espaço enquanto milhões passam fome em uma terra devastada pelo colapso climático e pela ganância. Desde 2000, a maioria da população mais pobre do mundo recebe somente 1% do aumento da riqueza global.

Em 2020, a fome atingiu 811 milhões de pessoas. Pandemia, guerras, mudanças climáticas, agronegócio afetaram a produção de alimentos (Relatório O Estado da Insegurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI) 2021). Relatório da OIT Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo: Tendências 2021, aponta que 220 milhões de pessoas estão desempregadas. Antes da pandemia eram 187 milhões.

A mobilidade humana não é espontânea, mas consequência direta do sistema econômico global

A mobilidade humana não é espontânea. É consequência direta do sistema econômico global. Um mundo onde a lógica do capitalismo, o lucro, impera. Uma tecnologia que, a serviço de poucos, transforma homens e mulheres em mercadoria descartável. Permite o tráfico humano, a comércio de órgãos e a prostituição até de crianças. Seres humanos coisificados. A riqueza nas mãos de poucos, poucas pessoas, poucos países. Sociedade da exclusão. Quem socorre os refugiados durante uma pandemia global?

Papa Francisco ensina que “os nacionalismos fechados e agressivos (Fratelli tutti, 11) e o individualismo radical (Fratelli tutti, 105) desagregam e dividem o nós, tanto no mundo como na Igreja. O preço mais alto é pago por aqueles que mais facilmente se tornam os outros: os estrangeiros, os migrantes, os marginalizados, que habitam as periferias existenciais”.

A Igreja e os migrantes e refugiados

A mais de 100 anos a Igreja dedica o último domingo do mês de setembro ao Dia mundial do migrante e do refugiado. Na mensagem deste ano, papa Francisco faz um apelo a toda humanidade “para que não existam mais muros que nos separam, nem existam mais os outros, mas só um nós, do tamanho da humanidade inteira”. Aos católicos ressalta: “a Igreja é chamada a sair pelas estradas das periferias existenciais para cuidar de quem está ferido e procurar quem anda extraviado, sem preconceitos nem medo, sem proselitismo, mas pronta a ampliar a sua tenda para acolher a todos“. E completa: “No encontro com a diversidade dos estrangeiros, dos migrantes, dos refugiados e no diálogo intercultural […] é-nos dada a oportunidade de crescer como Igreja, enriquecer-nos mutuamente“.

Papa Francisco continua seu apelo convidando homens e mulheres para juntos caminharem para “recomporem a família humana, a fim de construirmos em conjunto o nosso futuro de justiça e paz, tendo o cuidado de ninguém ficar excluído […]. O futuro das nossas sociedades é um futuro “a cores”, enriquecido pela diversidade e as relações interculturais. Por isso, hoje, devemos aprender a viver, juntos, em harmonia e paz”.

Cidadania universal! Se queremos salvar vidas, é urgente construir um mundo verdadeiramente sem fronteiras. Pensar a cidadania universal é recriar a solidariedade, o diálogo, a justiça e a paz entre os povos.

Somos todos irmãos! “Se quisermos, poderemos transformar as fronteiras em lugares privilegiados de encontro, onde possa florescer o milagre de um nós cada vez maior” (Papa Francisco).

(Adaptação e grifos, Edward Guimarães, para o Observatório da Evangelização)

Sobre o autor:

Prof. dr. Élio Gásda, SJ

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte:

www.domtotal.com

]]>
41841
“Solidariedade: fé sem obras de justiça é morta (Tg 2,14-18)”, com a palavra Elio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/solidariedade-fe-sem-obras-de-justica-e-morta-tg-214-18-com-a-palavra-elio-gasda-sj/ Tue, 05 Oct 2021 02:05:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=41779 [Leia mais...]]]> Somos solidários? Sentimento de amor pelos necessitados e injustiçados, que impele o indivíduo a prestar-lhes ajuda moral ou material. Situação de um grupo que resulta do compartilhamento de atitudes e sentimento, tornando-o coeso e sólido, com capacidade de resistir aos tempos de crise e perseguição. Solidariedade é também ato de resistência… A solidariedade encontra seu maior referencial na pessoa de Cristo… é uma prática que nos transforma em amigos do Senhor… Praticar a solidariedade é resistir, é reconquistar diretos e reconstruir a sociedade.” 

Confira a reflexão do prof. dr. Élio Gasda, SJ:

Comunicação MST/Fotos Públicas

Você é solidário? Somos solidários?

Solidariedade, do latim solidus, firme, inteiro, sólido. Em português, o substantivo feminino significa qualidade de solidário. Sentimento de amor pelos necessitados e injustiçados, que impele o indivíduo a prestar-lhes ajuda moral ou material. Situação de um grupo que resulta do compartilhamento de atitudes e sentimento, tornando-o coeso e sólido, com capacidade de resistir aos tempos de crise e perseguição. Solidariedade é também ato de resistência.

O povo brasileiro se auto define solidário. Faz campanhas do agasalho, de cestas básicas para os que tem fome, faz doação de sangue, roupas, ajuda idosos a atravessar ruas, compra rifas de entidades sociais, visita os enfermos, é criativo em seu “empreendedorismo social”. Mas ser solidário não é apenas ser assistencialista. Se assim o fosse, o Brasil jamais voltaria ao mapa da fome. Somamos 20 milhões de famintos.

Não adianta dizer “somos um povo cheio de fé” se somos um povo um povo cheio de fome!

  • Que adianta ter cruz nos tribunais se estão cheios de injustiça?
  • Que adianta ter cruz nas casas legislativas, cheias de leis iníquas, de acertos, corrupção e maldade?
  • Que adianta colocar na cédula “Deus seja Louvado” e explorar o pobre, o trabalhador, maltratar o aposentado, o desempregado, o desalentado?

A fé tem que estar presente na vida… Como nos diz Thiago: assim também acontece com a fé, se não se traduz em obras, por si só está morta! (padre Júlio Lancellotti).

A solidariedade encontra seu maior referencial na pessoa de Cristo. Sua fonte é a própria experiência de Jesus. Como afirma Bento XVI, “dar de comer aos famintos é um imperativo ético para toda a Igreja, é resposta aos ensinamentos de solidariedade e partilha do seu Fundador, o Senhor Jesus” (Caritas in Veritate, 27).

A solidariedade é uma prática que nos transforma em amigos do Senhor. 

“Em Jesus a solidariedade alcança as dimensões do mesmo agir de Deus. N’Ele, e graças a Ele, também a vida social pode ser redescoberta, mesmo com todas as suas contradições e ambiguidades, como lugar de vida e de esperança, enquanto sinal de uma graça que de contínuo é a todos oferecida”. É ver o próximo não só como sujeito de direitos, é vê-lo como “imagem viva” de Deus, e assim deve ser amado. O próximo é aquele que merece todo nosso esforço: “dar a vida pelos irmãos”.

Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n.196

Não se pode amar verdadeiramente a Deus e dar as costas aos necessitados

A solidariedade, ao lado da Dignidade da pessoa humana, do Bem comum, da Subsidiariedade e da Participação, é um princípio permanente da Doutrina Social da Igreja. Os princípios, articulados entre si, são referências para a interpretação da realidade e dos acontecimentos, são critérios orientadores do agir em todas as esferas: política, social, econômica, interpessoal. São “caminhos possíveis para edificar uma vida social verdadeira e boa” (Compêndio, n. 162).

A solidariedade é princípio social que deve inspirar as instituições sociais. As “estruturas de pecado” que dominam as relações entre as pessoas e os povos devem ser superadas e transformadas em estruturas de solidariedade.

Como virtude moral, a solidariedade não pode se reduzir ao desejo transitório de ajudar os sofredores. Pelo contrário, é 

“determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos [….]. A solidariedade é uma virtude social fundamental, pois se coloca na dimensão da justiça. A solidariedade com sentido evangélico de perder-se em benefício do próximo em vez de o explorar, de ‘servi-lo’ em vez de o oprimir para proveito próprio” .

Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 193

Viver a solidariedade é indispensável para possibilitar que as práticas políticas recuperem a sua inteireza” (dom Walmor). Nunca foi tão importante resistir a uma política corrompida e fragmentada que corrói o tecido social brasileiro. Praticar a solidariedade é resistir, é reconquistar diretos e reconstruir a sociedade.

A solidariedade não pode ser compreendida como “gestos de generosidade esporádicos”, talvez, por isso, seja uma palavra de significado pouco conhecido. Solidariedade, ensina papa Francisco, 

é pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. É também lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, a terra e a casa, a negação dos direitos sociais e laborais. É enfrentar os efeitos destrutivos do império do dinheiro”.

Fratelli tutti, 116
  • A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana.” 

Franz Kafka

  • Que importa ao Senhor que sua mesa esteja cheia de objetos de ouro se Ele está passando fome? Sacia primeiro Sua fome e, se sobrar, enfeitai sua mesa“.

São João Crisóstomo

(Adaptação e grifos, Edward Guimarães, para o Observatório da Evangelização)

Sobre o autor:

Prof. dr. Élio Gásda, SJ

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte:

www.domtotal.com

]]>
41779
“A economia de Francisco e Clara”, com a palavra Élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/a-economia-de-francisco-e-clara-com-a-palavra-elio-gasda-sj/ Fri, 17 Sep 2021 14:31:39 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=41078 [Leia mais...]]]> O prof. dr. pe. Élio Gasda, SJ explica o que é a proposta do papa Francisco voltada para uma economia solidária e justa, que privilegie o ser humano no lugar do lucro e do sistema excludente que hoje impera nas economias neoliberais.

Uma economia solidária e justa, que privilegie o ser humano no lugar do lucro e do sistema excludente que hoje impera nas economias neoliberais. Uma economia que parta dos mais pobres, dos excluídos, do respeito à ética e à dignidade humana.

Élio Gasda SJ explica, nesta edição do “Nós Humanos”, qual é a proposta do papa Francisco contida na “Economia de Francisco e Clara”.

Esta reflexão faz parte do projeto “Nós Humanos – Em busca de um novo humanismo”, realização da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE).

]]>
41078
“Educação, direito de todos e dever do Estado”, com a palavra prof. Élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/educacao-direito-de-todos-e-dever-do-estado-com-a-palavra-prof-elio-gasda-sj/ Fri, 17 Sep 2021 01:18:29 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=41035 [Leia mais...]]]> A educação é o melhor recurso para a construção e desenvolvimento de uma sociedade justa. Forma cidadãos conscientes. O analfabetismo, analfabetismo funcional, a qualidade do ensino público, o ensino inclusivo, baixa remuneração dos professores, falhas na tecnologia, evasão escolar e muitos outros desafios já deveriam ter sido superados[…]. Mas como falar em colaboração, desenvolvimento e promoção diante do desgoverno Bolsonaro?  Ele odeia os professores. A educação agoniza. Destruir a escola pública, a ciência e a universidade é o projeto de um governo que instalou o caos em todos os níveis de ensino. Educação é a área mais atingida pelos cortes orçamentários do presidente.

Confira a reflexão do prof. dr. Élio Gasda, SJ:

Educação é a área mais atingida pelos cortes orçamentários do presidente

A dificuldade em acompanhar as aulas remotamente levou a uma crescente evasão (Jorge Araujo/Fotos Publicas)

Educação, direito de todos e dever do Estado

A pandemia impactou a vida de todos. Quem mais sentiu os efeitos foram as crianças e os adolescentes. Privados do ensino escolar, de atividades culturais, do convívio com os amigos, muitos até da alimentação, pois na escola recebiam a única refeição do dia.

A educação é o melhor recurso para a construção e desenvolvimento de uma sociedade justa. Forma cidadãos conscientes. O analfabetismo, analfabetismo funcional, a qualidade do ensino público, o ensino inclusivo, baixa remuneração dos professores, falhas na tecnologia, evasão escolar e muitos outros desafios já deveriam ter sido superados.

O Artigo 205 da Constituição Federal de 1988 prescreve:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho“.

Não é uma mercadoria.

O Ministério da Educação (MEC) é o setor do governo responsável pela elaboração e execução da Política Nacional de Educação (PNE). Todo o sistema educacional, da educação infantil à profissional e tecnológica, está sob a responsabilidade do MEC. Mas como falar em colaboração, desenvolvimento e promoção diante do desgoverno Bolsonaro?  Ele odeia os professores.

A educação agoniza. Destruir a escola pública, a ciência e a universidade é o projeto de um governo que instalou o caos em todos os níveis de ensino. Educação é a área mais atingida pelos cortes orçamentários do presidente. Em três anos, Milton Ribeiro é o quarto a assumir a pasta. Está mais para ministro da deseducação.

Absurdo! Foram mais de trinta meses em silêncio, nenhum plano ou ação realizada. Municípios e estados decidiram sozinhos os rumos da educação. Sem nenhuma orientação e sem vacinação, a solução foi fechar as escolas e investir em aulas virtuais.

A pandemia ajudou a escancarar a desigualdade na educação. A migração forçada para o ambiente online deixou pais, professores e alunos mais pobres em apuros. Bolsonaro vetou projeto que garantia acesso à internet nas escolas públicas.

Estudo do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Indec) indica a inércia do governo: 47 milhões de brasileiros permanecem desconectados, são mais de 6 milhões de alunos sem acesso à Internet. O número de lares que possuem celulares atinge 89% dos estudantes, mas 38% necessitam compartilhar o aparelho com outras pessoas.

Não basta conectar as escolas! A dificuldade em acompanhar as aulas remotamente levou a uma crescente evasão. Em outubro de 2020, 1,38 milhão de estudantes entre 6 e 17 anos estava sem frequentar a escola, presencial ou remotamente (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios IBGE). Pesquisa Datafolha indica que 30% dos pais ou responsáveis temem que devido à pandemia, seus filhos deixem os estudos. A expectativa para 2021 é de que a evasão escolar chegue a 11 milhões de alunos. O governo não pensa como evitar essa tragédia. “Não há nada mais desolador que a ignorância em ação” (Goethe).

O Enem 2021 é outra prova do descaso. Houve uma queda de 31% nas inscrições em relação ao ano passado. A diferença é basicamente o número de estudantes que pediram isenção do valor da matrícula em 2020 e não compareceram às provas. Esse ano, sem justificativa para a falta, não conseguiram isenção da taxa.  

Sem ações durante a pandemia, o ministro da educação quer o retorno imediato das aulas presenciais: “A presença do professor em classe … é insubstituível… Não podemos privar nossos filhos do aprendizado”. Crianças com algum tipo de deficiência são menosprezadas. Segundo Milton Ribeiro, 12% das crianças com deficiência (cegos, surdos e alguns autistas) nas escolas, tem um grau que “impede dela ter o convívio dentro da sala de aula. “Atrapalha” outras crianças. É urgente vacinar o ministro da educação contra a segregação e a ignorância.

Mesmo com apenas 26% da população totalmente imunizada, estados e municípios estão autorizando o retorno das aulas presenciais. Crianças entre 0 e 12 anos não têm autorização para vacinar. Como frequentarão a escola? A variante Delta pode significar uma nova onda devastadora se as normas sanitárias não forem cumpridas.

Com as aulas presenciais “estamos oferecendo aos estudantes o vírus” (Isaac Schrarstzhaupt). “Se não temos taxa de mortalidade alta entre crianças, é porque elas ficaram isoladas” ressalta o biólogo Lucas Ferrante. São importantes as aulas presenciais, mas num país governado por negacionistas inimigos da educação, todo cuidado é pouco.

“Educar é sempre um ato de esperança que convida à participação, transformando a lógica estéril e paralisadora da indiferença numa lógica capaz de acolher a nossa pertença comum… é um dos caminhos mais eficazes para humanizar o mundo e a história” (Papa Francisco. Pacto Educativo Global).

Educação pública, gratuita e de qualidade para todos!

Educar é humanizar. “Não nascemos humanos, nos tornamos humanos pela educação” (Hannah Arendt).

(Adaptação e grifos, Edward Guimarães, para o Observatório da Evangelização)

Sobre o autor:

Prof. dr. Élio Gásda, SJ

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte:

www.domtotal.com

]]>
41035
MP 1045: agressão ao sagrado direito do trabalho, com a palavra o prof. élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/mp-1045-agressao-ao-sagrado-direito-do-trabalho-com-a-palavra-o-prof-elio-gasda-sj/ Sat, 21 Aug 2021 14:28:19 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40217 [Leia mais...]]]> Os trabalhadores sofrem os maiores ataques aos seus direitos em todo o período da república

MST distribui mais de mil cestas e 7 toneladas de alimentos frescos em Curitiba e Araucária (PR). Falta trabalho para 33 milhões de pessoas (Valmir Neves Fernandes/MST-PR e Giorgia Prates)

Uma trapaça contra os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil

O desfile de blindados e a votação da Câmara sobre o voto impresso foram a trapaça utilizada por Bolsonaro para desviar as atenções da plateia enquanto na jaula dos leões os trabalhadores e as trabalhadoras eram devorados. Sim, 304 deputados aprovaram, no último dia 10/08/2021, a Medida Provisória 1045, um terrível pacote de maldades contra os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.

A MP foi encaminhada ao Congresso pelo governo para evitar demissões durante a pandemia. Deveria ser apenas a segunda fase do programa de redução de jornadas de trabalho e salários. Contudo, a articulação entre o ministro Paulo Guedes e o relator do texto, deputado Christino Aureo, recebeu emendas esdrúxulas. A aprovação da MP mostra de que lado estão os políticos que votaram a favor. Difícil saber quem é mais perverso, o executivo ou o legislativo.

Encaminhada ao Senado, a MP cria o Regime Especial de Trabalho Incentivado, Qualificação e Inclusão Produtiva (Requip), o Programa Primeira Oportunidade e Reinserção no Emprego (Priore) e o Programa Nacional de Prestação de Serviço Social Voluntário. Prevê redução de horas extras para algumas categorias, FGTS menor para quem for demitido e flexibilização da fiscalização trabalhista. E determina quem pode contar com gratuidade no acesso à Justiça.

Espoliação e perversidade institucionalizada

O Priore, por exemplo, permite a contratação de jovens entre 18 e 29 anos e pessoas com idade igual ou superior a 55 sem vínculo trabalhista, sem férias, FGTS e 13º salário. Redução de direitos nunca gerou mais empregos. Muito pelo contrário.

Para burlar a lei que impede que o trabalhador ganhe menos que o salário mínimo (R$1.100,00), quem for contratado através do Requip vai receber uma Bolsa de Incentivo à Qualificação (BIQ) e um Bônus de Inclusão Produtiva (BIP), ou compensação financeira para fazer algum curso de qualificação. O governo não se importa com o desemprego que beira a 15%, só quer acabar com a dignidade que resta aos trabalhadores e trabalhadoras.

Falta trabalho para 33 milhões de pessoas. Bolsonaro é responsável pela perda de 377 empregos por hora! (Consultoria IDados, com base no IBGE). Bolsonaro só faz aumentar as desigualdades sociais em plena pandemia. As mulheres negras são 60% do universo de desempregados (IBGE). Além disso, segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos (Dieese) são elas que também recebem menos, R$10,95 por hora contra R$18,15 das mulheres brancas e R$20,95 dos homens brancos.

“Quando o trabalho vivo (trabalhadores de fato) é eliminado, o trabalhador se precariza, vira camelô, faz bico etc.” (Ricardo Antunes). Os antigos bicos são a uberização de hoje, o falso empreendedorismo arrasta o trabalhador para um panorama ainda mais dramático, sem perspectiva, sem direitos.

Espoliação! Os trabalhadores sofrem os maiores ataques aos seus direitos em todo o período da república. Mais do mesmo: privatizar, destruir forças produtivas, liquidar direitos! Bolsonaro será lembrado como o pior inimigo dos trabalhadores e trabalhadoras. Reina a barbárie. Milhões de desempregados. Pais, mães que não têm o que dar de comer para os filhos. O país afunda. O cenário é de destruição e desespero do povo.

Trabalho e dignidade na vida em sociedade

O trabalho é elemento fundamental de socialização, de identidade, de equilíbrio psicológico. A insegurança laboral e a precarização impossibilitam viver o presente e planejar o futuro. O trabalho precário “é uma ferida aberta para muitos trabalhadores e trabalhadoras, que vivem no medo de perder o próprio trabalho. Precariedade total. Isso é imoral. Isso mata: mata a dignidade, mata a saúde, mata a família, mata a sociedade” ressalta papa Francisco.

Ser pessoa é a única condição para a titularidade de direitos. “Que haja trabalho para todos, e trabalho digno, não escravo” insiste papa Francisco. O valor primeiro do trabalho está vinculado ao fato de que quem o executa é uma pessoa criada à imagem e semelhança de Deus. Onde há um trabalhador, aí está o olhar de amor do Senhor.

Crises sistêmicas confirmam a necessidade de reestruturar a economia. Não existe outra forma de sair da precariedade no trabalho, da insegurança social e deter a destruição ambiental sem uma profunda transformação. Propor um outro sentido da vida que supere a visão capitalista.

Papa Francisco aposta em uma “Economia do trabalho”. Compartilhar o trabalho e compartilhar os frutos do trabalho. Descartados e trabalhadores explorados devem estar do mesmo lado nas lutas por outra sociedade.

A terra, o teto e o trabalho pelo qual vocês lutam, são direitos sagrados. Afirmar isso é Doutrina Social da Igreja“.

Papa Francisco

(Adaptação e grifos, Edward Guimarães, para o Observatório da Evangelização)

Sobre o autor:

Prof. dr. Élio Gásda, SJ

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

]]>
40217
Earth Overshoot Day: o pior está por vir, com a palavra o prof. Élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/earth-overshoot-day-o-pior-esta-por-vir-com-a-palavra-o-prof-elio-gasda-sj/ Thu, 19 Aug 2021 21:47:44 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40165 [Leia mais...]]]> Mudanças climáticas são mais mortíferas que a pandemia do coronavírus. Elas ameaçam a existência de toda a humanidade e da vida na terra… Você conhece o Earth Overshoot Day? Em 2021, a humanidade excedeu sua cota anual de recursos regeneráveis em 29 de julho. Earth Overshoot Day! Seriam necessários 1,7 Planetas Terra para manter os padrões atuais de produção e consumo. Precisaríamos de mais cinco planetas se a população mundial vivesse como nos Estados Unidos… A crise climática é expressão de uma crise muito maior: a crise de civilização. A saída? Um novo modelo de sociedade e um novo sentido da vida.

Confira a reflexão do prof. Élio Gasda, SJ:

O ser humano é o principal responsável pelo aquecimento global (Ehimetalor Akhere Unuabona on Unsplash)

Mudanças climáticas são mais mortíferas que a pandemia do coronavírus. Elas ameaçam a existência de toda a humanidade e da vida na terra. Consequência do negacionismo irracional de governos, empresas e de setores da população. Humanidade ameaçada por ela mesma!

Você sabe do Earth Overshoot Day?

Earth Overshoot Day! Em 2021, a humanidade excedeu sua cota anual de recursos regeneráveis em 29 de julho. Seriam necessários 1,7 Planetas Terra para manter os padrões atuais de produção e consumo. Precisaríamos de mais cinco planetas se a população mundial vivesse como nos Estados Unidos.

No Brasil, a cota foi esgotada dois dias antes, em 27 de julho (Global Footprint Network – GFN). 2021 ainda terá 155 dias pela frente. Recursos que deveriam durar para o ano inteiro foram consumidos em sete meses. Consumimos 74% mais recursos naturais do que o planeta tem condições de regenerar em um ano. Uma das causas foi o crescimento do desmatamento na Amazônia onde, somente em junho foram registradas 2.308 queimadas.

Você conhece o Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU?

“A natureza fala, mas a humanidade não a ouve” (Victor Hugo). Há 40 anos os cientistas vêm alertando que se implementem recursos tecnológicos, sociais e organizacionais para evitar a catástrofe.

O recente Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU (IPCC), em agosto de 2021, divulgou o sumário executivo da primeira parte do seu sexto relatório (AR6) sobre o clima. Elaborado por 800 cientistas do mundo inteiro, o texto foi revisado e aprovado por 196 países.

O AR6 mostra que o ser humano é o principal responsável pelo aquecimento global. Até 2075, a mudança climática reduzirá a biodiversidade local em 75%. No oceano, ondas de calor serão mais frequentes e desaparecerão de 70 a 90% dos recifes de coral. Altas taxas de emissões de gases levarão ao desaparecimento metade da floresta amazônica.

Consequências?

Escassez de alimentos e de água, doenças e epidemias, condições meteorológicas extremas, desastres naturais: enchentes torrenciais na Europaincêndios arrasadores no Mediterrâneoondas de calor no Canadá, florestas queimando na gélida Sibéria, oito meses de chuva em único dia na China, ondas de frio polar no Brasil. O Centro-Sul enfrenta a pior seca em 91 anos.

Mudanças climáticas estão entre as principais causas dos fluxos migratórios. Tsunamis, secas, desertificação, chuvas torrenciais, inundações, furacões destroem cultivos, matam os animais e tornam inabitáveis regiões inteiras. Centenas de milhões sofrerão um calor mortal, principalmente na África subsaariana e no Sudeste Asiático. A cada ano, 2,7 milhões serão deslocados por inundações e mais de 400 milhões de residentes urbanos serão afetados pela falta de água.

O agravamento do aquecimento global pode levar ao primeiro evento de extermínio em massa das espécies – ecocídio. Uma situação de permanente colapso com regiões inteiras inabitáveis. O ecocídio é também um suicídio. As bases ecológicas do planeta estão ameaçadas. Porque a inércia generalizada? Há sabotagem das propostas da ONU para reduzir os danos?

A ciência climática no Brasil foi desativada por falta de recursos. O negacionismo da crise ambiental é semelhante ao negacionismo da pandemia que produziu quase 600 mil mortes. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) vem alertando sobre o processo de savanização das florestas e perda irreversível da biodiversidade. Amazônia apresenta áreas imensas de savanização.

Não há como negar tantas evidências científicas. E vai piorar. Se o mundo fosse governado por Bolsonaros, chegaríamos ao fim do século com até 5,7º de elevação de temperatura. Ecocídio-suicídio.

(Adaptação e grifos, Edward Guimarães, para o Observatório da Evangelização)

Sobre o autor:

Prof. dr. Élio Gásda, SJ

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

]]>
40165