Ecoteologia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 09 May 2024 21:05:01 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Ecoteologia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Tragédia anunciada (mais uma)! Chuva demais, inteligência e responsabilidade de menos https://observatoriodaevangelizacao.com/tragedia-anunciada-mais-uma-chuva-demais-inteligencia-e-responsabilidade-de-menos/ https://observatoriodaevangelizacao.com/tragedia-anunciada-mais-uma-chuva-demais-inteligencia-e-responsabilidade-de-menos/#respond Thu, 09 May 2024 20:56:31 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49866 [Leia mais...]]]> Será que desta vez vamos aceitar que a ameaça é real? Entraremos em pânico ao perceber que o que está ruim pode piorar? O futuro será pior que o presente. O aquecimento global está apenas em seu começo. Poucos meses após a passagem de um ciclone extratropical que trouxe devastação e morte ao Rio Grande do Sul, enchentes ainda maiores estão castigando os gaúchos. 80% dos municípios devastados, milhares de desabrigados e desalojados, centenas de feridos, mortos e desaparecidos.

A tragédia é mais um sinal gravíssimo da crise ambiental. Desmatamento, mineração ilegal, queimadas, destruição dos biomas, desertificação. Enxurrada, enchentes, inundações, causando desmoronamentos, destruindo casas, matando gente e arruinando meios de subsistência. O ambiente mudou tanto que o que antes era uma possibilidade, agora é um fenômeno real.

Eventos extremos se tornaram frequentes. Embora esteja acontecendo no Sul, impacta diretamente todo o Brasil. Não são fatalidades naturais, mas um fenômeno resultante das mudanças climáticas. Há muito a ciência alerta sobre o agravamento do aquecimento global. Um crescimento econômico continuado num planeta finito e sobrecarregado só pode terminar em tragédia. Uma catástrofe ambiental é prenúncio de flagelo social: migração, desemprego, fome, doenças, pobreza.

Fingir surpresa diante dos fatos é cinismo e canalhice. O negacionismo das alterações climáticas foi fomentado por muitos anos. A falta de bom senso e o desprezo pela ciência é prenúncio de desastre. Não faltam alertas científicos! O último relatório do IPCC de 2023, após 15 anos de pesquisas realizadas por centenas de cientistas, apontou a América do Sul como área de eventos climáticos extremos, como inundações.

Em 2015, o relatório “Brasil 2040”, da Presidência da República, indicou o aumento de chuvas acentuadas no Sul em decorrência das mudanças climáticas. O documento apresentava medidas para minimizar os impactos das mudanças inevitáveis. O estudo foi arquivado. Previsões ignoradas. Essa é a quarta ocorrência de fortes chuvas em terras gaúchas em menos de um ano.

Registro da tragédia do Ciclone extratropical no Rio Grande do Sul em 2021.

Não há como negar tantas evidências científicas, mas…

Eduardo Leite (PSDB), governador desde 2018, e Sebastião Melo (MDB) prefeito de Porto Alegre desde 2020, não só desprezaram as advertências, como também destruíram o Estado, privatizaram a infraestrutura e sucatearam a secretaria de meio ambiente. A prefeitura de Porto Alegre não investiu um centavo em prevenção contra enchentes em 2023. Tudo em nome da austeridade fiscal.

O governo estadual aumentou o orçamento da defesa civil em apenas 50 mil reais, alterou 480 artigos do Código do Meio Ambiente, mudou o conceito de Área de Preservação Permanente (APP) favorecendo a intervenção do agronegócio em áreas sem autorização de órgão ambiental, retirou os artigos que versavam sobre Unidades de Conservação e sua proteção. Menos de um mês atrás, o governador sancionou uma lei que flexibiliza regras ambientais para construção de barragens em APPs.“A crise já chegou, ela não é no futuro.

 

A crise já chegou, ela não é no futuro. Não há mais como evitar os eventos extremos.

Suely Araújo, coordenadora do Observatório do Clima.

 

A crise já chegou, ela não é no futuro. Não há mais como evitar os eventos extremos” (Suely Araújo, coordenadora do Observatório do Clima). A mudança climática é uma realidade, mas a legislação e as políticas públicas ainda são pensadas como se ela não existisse. A flexibilização da legislação ambiental pode gerar muitas outras tragédias. Tramita no Congresso um “pacote da destruição”: mais de 20 projetos de lei que fragilizam a legislação ambiental. Em meio ao desastre climático, a bancada ruralista quer reduzir reservas na Amazônia.

Catástrofes causadas pela crise climática podem ser evitadas? Quem poderá frear a ganância predatória dos poderosos que sacrificam um país inteiro em benefício próprio? É um desastre após outro. É preciso pôr fim à tamanha insanidade. “Continuaremos sonâmbulos para as catástrofes climáticas?” (António Guterres, secretário-geral da ONU).

 

Continuaremos sonâmbulos para as catástrofes climáticas?

António Guterres, secretário-geral da ONU.

 

As vidas perdidas logo serão esquecidas? Continuaremos elegendo governantes e políticos negacionistas patrocinados por empresas e seus interesses escusos? Uma hora a conta chega. A fatura chegou no Rio Grande do Sul!

Não basta maquiar mudanças na economia. Sem visão de futuro, pode ser tarde demais. A crise climática é expressão de uma crise muito maior: a crise civilizatória. São urgentes mudanças “nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder que hoje regem as sociedades” (Laudato Si’, 5).

A crise climática-humanitária revela um profundo abandono dos mais pobres. Diante desse desamparo, o povo se enche de compaixão e se organiza por meio de doações e voluntariado. A ação coletiva mostra que pode fazer a diferença na reconstrução de uma sociedade. Solidariedade é essencial, mas a mobilização por justiça climática também é urgente. Não se pode enfrentar um problema tão grave apenas com medidas pontuais. Respostas emergenciais e provisórias são insuficientes.Eventos extremos como esse não podem ser tratados como imprevistos. Um problema sistêmico gerador de tragédias humano-ambientais só será realmente enfrentado com a mudança do modelo socioeconômico. Prevenir é melhor que remediar.

(Os grifos são nossos!)

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte: Portal FAJE

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“Papa Francisco e o Sínodo da Amazônia”, com a palavra Paulo Agostinho https://observatoriodaevangelizacao.com/papa-francisco-e-o-sinodo-da-amazonia/ Mon, 16 Sep 2019 12:17:37 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=31620 [Leia mais...]]]> A Igreja Católica vive uma primavera com o papa Francisco. Ele revela e testemunha em gestos e palavras o título que deu a sua encíclica programática do seu trabalho à frente da Igreja: a alegria do Evangelho – Evangelii Gaudium. Propõe que nos desinstalemos, saiamos da nossa zona de conforto, nos convoca a viver uma “Igreja em saída”.

Depois do Sínodo sobre a Família, em 2014/2015, que foi antecedida de uma consulta mundial a todas as dioceses, contanto com a participação de milhões de famílias, foi publicada a Exortação Apostólica Amoris Laetitia, a alegria do amor. Em 2016, exercendo o chamado do Concílio Vaticano II por uma Igreja em colegialidade e sinodalidade, Francisco convoca o Sínodo dos Jovens. Mais de 300 jovens ajudaram na elaboração do instrumento de trabalho e houve a consulta e a colaboração pela internet de mais de 15.000 jovens. E desse Sínodo foi publicada outra exortação pós-sinodal: Christus vivit – Cristo vive.    

Agora Francisco nos provoca a refletir sobre a Amazônia em novo Sínodo, entre os dias 06 e 27 de outubro, em Roma.

Mais uma vez aparece sua preocupação com a ecologia integral, que já havia emergido na sua primeira Encíclica Laudato Sí, Louvado sejas, meu Senhor!, que tem como subtítulo o “cuidado da casa comum”. Nessa encíclica, que todos deveriam conhecer, Francisco mostra a realidade, o que estamos fazendo com nossa casa comum, a raiz humana da crise ecológica e reflete sobre a ecologia integral e as linhas de ação para enfrentarmos essa situação, que passa pela educação e pela espiritualidade, por uma conversão ecológica.

Não haveria momento mais oportuno, não só pelos incêndios e destruição crescente das florestas, mas também pela exploração mineral, pelos problemas trazidos pelas barragens e hidrelétricas, que ameaçam a rica biodiversidade, os ecossistemas e o bioma amazônico, mas que tragicamente atingem com a morte milhares de indígenas e os povos amazônicos que por milhares de anos têm cuidado e protegido essa imensidão de território.

O instrumento de trabalho, que todos deveriam conhecer, é muito rico. Mostra a realidade da Amazônia, reflete sobre a Ecologia integral e coloca o desafio de a Igreja ser profética na Amazônia. Por tudo isso, Francisco tem recebido muitas críticas tanto internas, por aqueles que não querem mudança ou reforma da Igreja, mas também pelo governo brasileiro que parece ter esquecido da soberania nacional e assume uma postura irresponsável para com as pessoas e a natureza.

Por isso, é importante que nos manifestemos, por exemplo, desta forma:

#EuApoioOSínodo

#EuApoioOPapa

E não perca, dia 24 de setembro, terça-feira, às 19h, estaremos refletindo sobre o Sínodo da Amazônia com Dom Mol e o professor César Kuzma, da PUC Rio. Será no Museu de História Natural da PUC Minas, na avenida Dom José Gaspar, 290.

Paulo Agostinho N. Baptista

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Doutor e Mestre em Ciências da Religião (UFJF), com pós-doutorado em Demografia pelo CEDEPLAR/UFMG. Especialista em Filosofia da Religião (PUC Minas), licenciado em Filosofia (UFJF) e bacharel em Teologia (PUC Minas). Trabalha na PUC Minas desde 1985, é professor adjunto IV e pesquisador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, Líder do Grupo de Pesquisa “Religião, Educação, Ecologia, Libertação e Diálogo” – REDECLID

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