Economia de Francisco – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 19 Nov 2020 22:32:01 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Economia de Francisco – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 “Economia de Francisco”, com a palavra o prof. Élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/economia-de-francisco-com-a-palavra-o-prof-elio-gasda-sj/ Thu, 19 Nov 2020 22:32:01 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=36464 [Leia mais...]]]> A humanidade precisa mudar. É fundamental mudar a economia. O sistema mundial em sua vertente capitalista neoliberal financeirizada é insustentável. A desigualdade é o mal estrutural maior do planeta. Especulação e idolatria do dinheiro: os pecados do nosso tempo. As agressões mais frequentes e cruéis contra a vida e a Criação vêm do poder dinheiro. Essa economia não salva ninguém... As relações econômicas necessitam de uma mudança radical de orientação: da competitividade para a colaboração; da exploração para a sustentabilidade; da acumulação egoísta para a distribuição justa; do consumismo individualista desenfreado ao consumo consciente e solidário. Pensar em um mundo menos desigual. Não há democracia política sem democracia econômica.”

Confira a reflexão do prof. Élio Gasda:

ECONOMIA DE FRANCISCO

A Economia de Francisco se tornou o mais amplo movimento de jovens economistas e empreendedores do mundo (Reprodução/Vatican Media)
A Economia de Francisco se tornou o mais amplo movimento de jovens economistas e empreendedores do mundo (Reprodução/Vatican Media)

Hoje, 19 de novembro, começa o Encontro Economia de Francisco.

Em modalidade virtual, o evento se estenderá até o dia 21 e poderá ser acompanhado no portal francescoeconomy.org. A versão on-line permite que todos os jovens inscritos participem do encontro nas mesmas condições de compartilhar suas experiências, trabalhos, propostas e as reflexões amadurecidas nos últimos meses.

É a primeira vez que um líder mundial de uma instituição global convoca os jovens para pensar uma economia diferente daquela que descarta e “mata” milhões de pessoas e destrói a natureza.

O compromisso de Francisco com a proposta de vida de Jesus, “o Reinado de Deus “, é um convite. A economia que o inspira está baseada no encontro com Jesus de Nazaré.

É preciso escutar os jovens!

O projeto Economia de Francisco se tornou o mais amplo movimento de jovens economistas e empreendedores do mundo. Aconteceram mais de 300 encontros preparatórios on-line envolvendo 3 mil jovens de 120 países. Estão previstas conferências de economistas renomados como Muhammad Yunus, Jeffrey Sachs, Vandana Shiva, Stefano Zamagni, Nelson Barbosa. 

As 12 “aldeias” temáticas foram transformadas em sessões de trabalho on-line que os jovens realizaram nos últimos meses:

  1. trabalho e cuidado;
  2. gestão e dom;
  3. finanças e humanidade;
  4. agricultura e justiça;
  5. energia e pobreza;
  6. lucro e vocação;
  7. políticas para a felicidade;
  8. CO2 da desigualdade;
  9. negócios e paz;
  10. economia e mulher;
  11. empresas em transição;
  12. vida e estilos de vida.

Pensar outra economia é uma obrigação moral.

A humanidade precisa mudar. É fundamental mudar a economia. O sistema mundial em sua vertente capitalista neoliberal financeirizada é insustentável. A desigualdade é o mal estrutural maior do planeta. Especulação e idolatria do dinheiro: os pecados do nosso tempo. As agressões mais frequentes e cruéis contra a vida e a Criação vêm do poder dinheiro. Essa economia não salva ninguém.

As gerações futuras vão herdar um mundo grandemente deteriorado. Nossos filhos e netos não têm de pagar o preço da irresponsabilidade de nossa geração” (Papa Francisco).

É urgente corrigir modelos de crescimento que não respeitem a vida humana, o meio ambiente e a justiça. Devemos redescobrir a essência mais importante da economia. Não se trata apenas do dinheiro, investimentos e finanças. A Igreja, liderada por Francisco, quer contribuir para mudar a economia. Uma economia inclusiva, sem descartar ninguém.

O documento que embasa o movimento Economia de Francisco é a encíclica Laudato si’, sobre o cuidado da casa comum (2015). Ecologia integral significa pensar no bem comum. A ideia é colocar a economia a serviço da sociedade.

O dinheiro deve servir, e não governar! (Evangeli gaudium, 58).

O fim último da economia não está na economia, mas no seu propósito. A economia é uma atividade realizada por pessoas e orientada ao serviço das pessoas. Significa administrar a casa comum para garantir a sobrevivência material. “A dignidade da pessoa humana e o bem comum deveriam estruturar toda a política econômica” (Evangeli gaudium, 203).

A economia é uma prática social relacionada com outras práticas para constituir uma forma de vida racional e ecologicamente sustentável. A casa comum é uma só. Não é possível uma ecologia integral sem uma economia integral. Pensar a economia a partir de questões básicas como: O que produzir? Quanto produzir? Como produzir? Com que impactos ambientais? Como será distribuída a produção?

As relações econômicas necessitam de uma mudança radical.

As relações econômicas necessitam de uma mudança radical de orientação: da competitividade para a colaboração; da exploração para a sustentabilidade; da acumulação egoísta para a distribuição justa; do consumismo individualista desenfreado ao consumo consciente e solidário. Pensar em um mundo menos desigual. Não há democracia política sem democracia econômica.

Uma economia gerada desde a cotidianidade da vida. A vida é o ponto de partida. A vida é a condição absoluta de tudo o que o ser humano faz. Se matamos as condições que permitem a vida se reproduzir, estamos condenados. Não pode haver dúvidas quanto a isso. “Façamos um ‘pacto’ para mudar a atual economia e dar uma alma à economia do amanhã” (Papa Francisco).

(Adaptação e grifos, Edward Guimarães, para o Observatório da Evangelização)

Sobre o autor:

Prof. dr. Élio Gásda, SJ

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte:

www.domtotal.com

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Acompanhe o “Encontro Mundial dos Movimentos Populares com o Vaticano”, dia 24/10/2020, a partir das 9h https://observatoriodaevangelizacao.com/acompanhe-o-encontro-mundial-dos-movimentos-populares-com-o-vaticano-dia-24-10-2020-a-partir-das-9h/ Sat, 24 Oct 2020 01:47:52 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=36052 [Leia mais...]]]> 🌎 O Encontro Mundial dos Movimentos Populares com o Vaticano vai acontecer no sábado, dia 24 de outubro de 2020, e será transmitido a partir das 9h da manhã, pelo YouTube.

📖 Neste encontro, vamos apresentar as propostas dos movimentos sociais de todo o globo para o Encontro da Economia de Francisco e Clara.

⭐ O encontro vai contar com a presença do Cardeal Michael Czerny e do Cardeal Peter Turkson.

📎 Para conferir a programação completa, acesse:

https://movpop.org/2020/10/encuentro-de-los-movimientos-populares-con-el-vaticano/

📍 Assista ao encontro ao vivo através dos links:

Confira a programação:

 24/10/2020 | 14h – 18h, Roma / África do Sul ~ 9h – 13h, Argentina / Brasil ~ | Amplie a transmissão da videoconferência no Youtube  e Facebook 

 PROGRAMA  versão em inglês ]

 Moderador geral  | Cardeal Michael Czerny, Subsecretário do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral.

 Cronograma   Exercício 
9: 00h Buenos Aires / São Paulo>
14: 00h Roma / África do Sul>
Apresentação da Conferência.
Juan Grabois
, referente do Sindicato dos Trabalhadores da Economia Popular (Argentina)
9: 15h Buenos Aires / São Paulo>
14: 15h Roma / África do Sul>
Apresentação do documento Carta ao Papa por ocasião do encontro A Economia de Francisco :
Andrés Cappa
, economista, membro do Observatório de Situação Econômica e Políticas Públicas OCEPP (Argentina); 
Marina Oliveira, coordenadora de projetos da Arquidiocese de Belo Horizonte (Brasil); 
Jean Jores, economista (Haiti);
Julianne Furno, PhD em Desenvolvimento Econômico (Brasil).
9h45 Buenos Aires / São Paulo>
14h45  Roma / África do Sul>
Descanso / atividade cultural.
10: 00h Buenos Aires / São Paulo>
15: 00h Roma / África do Sul>
Reflexão sobre a pós-pandemia – Eixo Terra.
João Pedro Stedile
, líder da Via Campesina (Brasil)
10: 20h Buenos Aires / São Paulo>
15: 20h Roma / África do Sul>
Reflexão sobre a pós-pandemia – eixo Teto.
Rose Molokoane
, referência da Slum Dwellers International e da Federação dos Pobres Urbanos (África do Sul)
10: 40h Buenos Aires / São Paulo>
15: 40h Roma / África do Sul>
Reflexão sobre a pós-pandemia – Eixo Trabalho.
Aboubakar Soumahoro
, presidente da Lega Braccianti e promotor do Stati Populari (Costa do Marfim – Itália)
11: 00h Buenos Aires / São Paulo>
16: 00h Roma / África do Sul>
Descanso / atividade cultural.
11: 15h Buenos Aires / São Paulo>
16: 15h Roma / África do Sul>
Apresentação da Universidade Latino-Americana das Periféricas.
Padre Charly Olivero
, sacerdote vilão.
11h30 Buenos Aires / São Paulo>
16h30 Roma / África do Sul>
A perspectiva dos movimentos populares a partir da encíclica Fratelli tutti sobre fraternidade e amizade social .
Charo Castelló
, referência do Movimento Mundial de Trabalhadores Cristãos (Espanha)
11h45 Buenos Aires / São Paulo>
16h45 Roma / África do Sul>
Descanso / atividade cultural.
12: 00h Buenos Aires / São Paulo>
17: 00h Roma / África do Sul>
Apresentação das conclusões ao Cardeal Peter Turkson, Prefeito do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral.
María del Carmen Almendras
, advogada e ex-vice-chanceler da Bolívia.
12: 15h Buenos Aires / São Paulo>
17: 15h Roma / África do Sul>
Intervenção do Cardeal Peter Turkson.
12: 45h Buenos Aires / São Paulo>
17: 45h Roma / África do Sul>
Fim da reunião.
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Economia de Francisco: o projeto do papa Francisco para a economia https://observatoriodaevangelizacao.com/economia-de-francisco-o-projeto-do-papa-francisco-para-a-economia/ Fri, 28 Feb 2020 19:18:02 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=34219 [Leia mais...]]]> Por Eduardo Brasileiro

1. A proposta de Francisco

O papa Francisco faz um percurso imprescindível em seu sexto ano de pontífice da Igreja Católica, completos em 2019, trata-se do Congresso Economia de Francisco, inspirado a partir de uma ponte criada com o economista, Joseph Stiglitz, ganhador do prêmio Nobel da Economia e Robert Johnson, presidente do Instituto de Novo Pensamento Econômico.

A reunião com os economistas e com o Francisco, teve a presença da Fundação de Direito Pontifício Scholas Ocurrentes (Escolas dos Encontros), fundada pelo Papa em 2013, que verte o desejo de uma cultura do encontro, a partir da educação, do esporte e da arte.

A reunião tornou concreto uma articulação global por meio de Scholas Ocurrentes em realizar na cidade de Assis – terra de São Francisco –, na Itália, um Congresso reunindo pessoas e sobretudo, jovens do mundo inteiro que desenham uma nova economia ou alternativas econômicas dentro do capitalismo neoliberal.

É fundamental trabalhar a partir da educação em sistemas alternativos que não tenham como premissa a ideia de idolatrar o dinheiro. Temos que buscar desenvolver programas e estudos em torno do conceito de economia circular, que contribuam para uma educação consciente da sustentabilidade ambiental, que requer devolver ao meio ambiente o que lhe é retirado”, disse Stiglitz, durante o encontro.

2. Integra da Carta do papa Francisco convocando o Congresso Economia de Francisco. (2)

Caros amigos, estou escrevendo para convidá-los a uma iniciativa que tanto desejei: um evento que me permita conhecer quem hoje está se formando e está iniciando a estudar e praticar uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a depreda. Um evento que nos ajude a estar juntos e nos conhecer, e que nos leve a fazer um “pacto” para mudar a atual economia e dar uma alma à economia do amanhã.

Sim, precisamos “re-almar” a economia! E qual cidade seria mais adequada para isso do que Assis, que há séculos tem sido símbolo e mensagem de um humanismo da fraternidade? Se São João Paulo II a escolheu como ícone de uma cultura de paz, a mim parece também um lugar que pode inspirar uma nova economia. Aqui, de fato, Francisco se despojou de todo o mundanismo para escolher Deus como estrela guia de sua vida, tornando-se pobre com os pobres e irmão universal. Sua escolha da pobreza também deu origem a uma visão da economia que permanece muito atual. Pode dar esperança ao nosso amanhã, para o benefício não só dos mais pobres, mas de toda a humanidade. É necessária, aliás, para o destino de todo o planeta, a nossa casa comum, “a nossa Mãe Terra”, como Francisco a chama em seu Cântico do Irmão Sol.

Na Carta Encíclica Laudato si’ enfatizei como hoje, mais do que nunca, tudo está intimamente conectado e a salvaguarda do ambiente não pode ser separada da justiça para com os pobres e da solução dos problemas estruturais da economia mundial. É necessário, portanto, corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das futuras gerações.

Infelizmente, continua-se surdos ao apelo para tomar consciência da gravidade dos problemas e, acima de tudo, para pôr em prática um novo modelo econômico, fruto de uma cultura da comunhão, baseado na fraternidade e na equidade.

Francisco de Assis é o exemplo por excelência do cuidado pelos fracos e de uma ecologia integral. Lembro-me das palavras dirigidas a ele pelo Crucifixo na pequena igreja de São Damião: “Vá, Francisco, conserte a minha casa que, como você pode ver, está toda em ruínas”. Aquela casa a ser consertada diz respeito a todos nós. Diz respeito à Igreja, à sociedade e ao coração de cada um de nós. Também diz respeito cada vez mais ao ambiente que necessita urgentemente de uma economia saudável e de um desenvolvimento sustentável que cure suas feridas e garanta um futuro digno.

Diante dessa urgência, todos, todos nós mesmo, somos chamados a rever nossos esquemas mentais e morais, para que possam estar mais em conformidade com os mandamentos de Deus e com as exigências do bem comum. Mas pensei em convidar especificamente vocês, jovens, porque, com vosso desejo de um futuro bom e feliz, vocês já são uma profecia de uma economia atenta à pessoa e ao meio ambiente.

Caríssimos jovens, sei que vocês são capazes de escutar com o coração os gritos cada vez mais angustiados da terra e de seus pobres em busca de ajuda e de responsabilidade, ou seja, alguém que “responda” e não se vire para o outro lado. Se ouvirdes o vosso coração, sentireis que sois portadores de uma cultura corajosa e não tendes medo de assumir riscos e comprometer-vos a construir uma nova sociedade. Jesus ressuscitado é a nossa força! Como eu vos disse no Panamá e escrevi na Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit: “Por favor, não deixeis para outros o ser o protagonista da mudança! Vós sois aqueles que detêm o futuro! Através de vós o futuro entra no mundo. Também a vós, eu peço para serdes protagonistas desta mudança. […] Peço-vos para serdes construtores do futuro, trabalhai por um mundo melhor” (nº 174).

Vossas universidades, vossas empresas, vossas organizações são canteiros de esperança para construir outras formas de entender a economia e o progresso, para combater a cultura do desperdício, para dar voz àqueles que não a têm, para propor novos estilos de vida. Enquanto o nosso sistema econômico-social ainda produzir uma vítima e houver mesmo que uma pessoa descartada, não poderá haver a festa da fraternidade universal.

Por isso desejo encontrar vocês em Assis: para promover juntos, através de um “pacto” comum, um processo de mudança global que veja na comunhão de intenções não somente aqueles que têm o dom da fé, mas todos os homens de boa vontade, para além das diferenças de credo e de nacionalidade, unidos por um ideal de fraternidade atento sobretudo aos pobres e aos excluídos. Convido cada um de vocês a ser protagonista deste pacto, assumindo um compromisso individual e coletivo para cultivar juntos o sonho de um novo humanismo que responda às expectativas do homem e ao projeto de Deus.

O nome deste evento – “Economia de Francisco”- tem clara referência ao Santo de Assis e ao Evangelho que ele viveu em total coerência também no plano econômico e social. Ele nos oferece um ideal e, de alguma forma, um programa. Para mim, que assumi seu nome, é uma fonte contínua de inspiração.

Junto com vocês e por vocês, farei um apelo para alguns dos melhores estudiosos e especialistas da ciência econômica, bem como a empresários e empresárias que hoje já estão empenhados em nível mundial com uma economia coerente com esse quadro ideal. Tenho confiança que eles responderão. E, principalmente, tenho confiança em vocês jovens, capazes de sonhar e prontos para construir, com a ajuda de Deus, um mundo mais justo e mais belo.

O encontro está marcado para os dias de 26 a 28 de março de 2020. Junto com o Bispo de Assis, cujo predecessor, Guido, há oito séculos acolheu em sua casa o jovem Francisco no gesto profético de seu despojamento, conto em acolher vocês também. Eu vos espero e desde agora vos saúdo e vos abençoo. E, por favor, não esqueçam de rezar por mim.

Do Vaticano, 1 de maio de 2019 – Memória de São José Trabalhador

3. Economia: projeto de ponte para os povos ou de muro do dinheiro?

Francisco abre as portas, pelo signo da misericórdia. Seu pontificado tornou-se chave que possibilita processos. O discurso convocando o Congresso Economia de Francisco, é um convite a desencadear processos que transformem a sociedade culturalmente. Em maio de 2018, no III Encontro Internacional de Jovens pela Cultura do Encontro (2), Francisco convidou a juventude a Pensar, Sentir e Agir, a insistência dele com a juventude passa pela renovação da esperança, pelo reencanto que provoca Pensar, quando se sente e age, sentir quando se pensa e age, e agir quando se pensa e sente. A consciência ao desencadear processos de Francisco está ligada a capacidade de oxigenar nas Igrejas particulares do mundo inteiro o sopro de mudança e de compromisso cristão.

3.1 Como a Igreja pode ser ponte para uma nova economia?

Para os cristãos três palavras vizinhas se enlaçam aqui: economia, ecologia, ecumenismo. As três compartilham o oikos: unidade básica social (casa, mas também mundo). Simplificando: economia → oikos + nomos (lei/norma); ecologia → oikos + logos (compreensão/estudo); ecumenismo → oikos + forma do particípio passivo feminino (habitado/habitantes). São assim três formas de estar no mundo e de organizar a vida no mundo. Enquanto a economia dispõe, normatiza sobre o modo de produção da vida na relação com o mundo, a ecologia se ocupa de entender essas relações suas lógicas e implicações e o ecumenismo se pergunta pelas formas (objetivas e subjetivas) de ocupação/vivência do mundo. Para seguir os passos de Francisco, essas três são sínteses desse papado, que confluí o desejo pelo cuidado da casa comum (Laudato Si), o diálogo entre fés (ecumenismo) e uma nova economia.

Então, tudo depende de como se entende a missão da religião, de modo especial, como entende-se a religião numa economia de mercado e suas relações com o mundo/planeta. Entendendo a economia como a forma básica de organização da sociedade e seus arranjos da vida material, seria importante perguntar pelas correlações entre crenças e as mobilidades/imobilidades sociais.

De um modo geral, a religião – de modo especial as novas formas religiosas dentro do cristianismo – cumpre seu papel hoje de “dar alma” para a lógica capitalista, liberando a acumulação privada de bens. Por isso, Francisco aponta para “Re-almar”. O capitalismo encontra na religião hoje um fundamento de justificação e legitimação das formas desiguais de usufruto do mundo. O dissenso se dá na apropriação da vida comunitária como objeto de manipulação do capital a partir da circulação dos bens religiosos. A teóloga e assessora da Comissão Pastoral da Terra, Nancy Cardoso (2010), alertou:

A crise espiritual e ética é também uma crise do modelo de apropriação do mundo pelas regras da propriedade privada que é antiética e idolátrica, porque coloca fora da história e da sociedade as legitimidades de posse do mundo. O desejo de conviver precisa se articular, então, com a ruptura da ordem da propriedade na afirmação dos direitos da terra e o direito dos povos”.

Nesse sentido, os sistemas de crença podem ser mais ou menos pressionados pelos conflitos econômicos e políticos, viabilizando narrativas de pretensão da norma, do conhecimento e da pertença. O reconhecimento dos impactos econômicos no corpo eclesial precisam ser revelados para um aggiornamento do anuncio do evangelho.

3.2 Essa economia mata: O Capitalismo como fim da utopia econômica.

a) A raiz econômica dos problemas sociais
Um dos aspectos presentes de maneira repetida e extremamente clara nos três pronunciamentos do Papa Francisco é a identificação da raiz econômica dos problemas sociais. A essencialidade da economia com relação à sociedade e ao ser humano é um dos pontos fundamentais desses discursos. Em nenhum momento o sumo pontífice se enreda em explicações abstratas e superficiais sobre os problemas, sobretudo em países periféricos.

Francisco rejeita os termos de uma economia assistencialista e individualista quando com os movimentos populares em 2014 convoca para uma solidariedade com caráter concreto de ação social transformadora que se dirige à base da organização social

Solidariedade […] é muito mais do que gestos de generosidade esporádicos. É pensar e agir em termos de comunidade, de prioridades da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. É também lutar pelas causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, a terra e a casa, a negação dos direitos sociais e laborais. É fazer frente aos efeitos destruidores do império do dinheiro (I Encontro dos Movimentos Populares, em Roma 2014)

Francisco vincula as causas estruturais da pobreza em relação direta com as causas econômicas:

Destaque para desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos laborais não são inevitáveis, são o resultado de uma previa opção social, de um sistema econômico que põe os benefícios acima do homem (II Encontro dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de La Sierra – Bolívia, 2015).

Ao falar do “elo invisível” que conecta as diversas formas de exclusão, o papa está expondo a essência que dá sentido aos fenômenos, que, caso não seja compreendida, tampouco avançaremos na compreensão das mazelas sociais. Quando aborda sobre a crise migratória, diz:

[…] Pude sentir de perto o sofrimento de numerosas famílias expulsas da sua terra por motivos ligados à economia ou por violências […] por causa de um sistema socioeconômico injusto e das guerras que não foram procuradas nem criadas por aqueles que hoje padecem a dolorosa erradicação de sua pátria (III Encontro dos Movimentos Populares em Roma, 2016).

b) A condenação profética ao sistema capitalista

Francisco retoma num discurso no III encontro com Movimentos Populares que sua revolta com o sistema está presente em toda a doutrina social da Igreja:

Há quase cem anos, Pio XI previu a imposição de uma ditadura global da economia, à qual ele chamou “imperialismo internacional do dinheiro”. Refiro- me ao ano de 1931! […] E foi Paulo VI que denunciou, há quase cinquenta anos, “a forma abusiva de domínio econômico nos planos social, cultural e até político” […] São palavras duras, mas justas dos meus predecessores que perscrutaram o futuro. A Igreja e os profetas dizem há milênios aquilo que tanto escandaliza que o papa repita neste tempo, no qual tudo isto alcança expressões inéditas. Toda a doutrina social da Igreja e o magistério dos meus predecessores estão revoltados contra o ídolo dinheiro, que reina em vez de servir, tiraniza e aterroriza a humanidade (III Encontro dos Movimentos Populares em Roma, 2016).

A idolatria do dinheiro não é para Francisco uma moral individual, um desvio de caráter relacionado na índole das pessoas, mas como um mal do próprio sistema. A economia – componente mais elementar da essência humana – degenerou-se quando o sistema colocou o capital (dinheiro) acima da vida e da dignidade humana.

Isto acontece quando no centro de um sistema econômico está o “deus dinheiro” e não o homem, a pessoa humana. Sim, no centro de cada sistema social ou econômico deve estar a pessoa, imagem de Deus, criada para que seja o denominador do universo. […] um sistema econômico centrado no “deus dinheiro” tem também necessidade de saquear a natureza, para manter um ritmo frenético de consumo que lhe é próprio. […] Porque neste sistema o homem, a pessoa, foi deslocada do centro e substituída por outra coisa. Porque se presta um culto idolátrico ao dinheiro (I Encontro Mundial dos Movimentos Populares em Roma, 2014).

A centralidade do discurso de Francisco nos três encontros mundiais com os movimentos populares, dão a tônica deste que se tornará o Congresso global para propor uma nova economia – a Economia de Francisco de Assis. Visitando as cosmologias do Sul, na América Latina, percorre o bem viver, filosofia em construção pelos povos latinos, que parte do modo de vida do povo ameríndio, mas que está presente nas mais diversas culturas. Está entre nós, no Brasil, com o teko porã dos guaranis, na ética e filosofia Africana do ubuntu – “eu sou porque nós somos”. Importante ressaltar que em nenhum dos três discursos do papa Francisco, pode-se encontrar alguma perspectiva de “melhorar” o sistema econômico existente, “este sistema vai contra o projeto de Jesus”(4). Por isso, é preciso negá-lo em nome da fé, dos povos da terra e da natureza. É o próprio capitalismo que não serve mais.

c) Qual caminho econômico não tomar?

Francisco em seu pragmatismo político, ao apontar os erros deste sistema, é também um exímio articulador de pensamentos. Ao pensar em quais fonte das ciências econômicas o papa recorre, ele aponta para as epistemologias do Sul, como diria o sociólogo Boaventura de Souza Santos, pensador que promove o debate sobre os abismos entre as epistemologias dos países do norte em relação a produção dos intelectuais do sul, nunca ouvidos pelo pensamento dominante. Ele aponta o padrão de hierarquização no qual, assim como as cultura, as epistemologias foram suprimidas com o processo de colonização. É necessário portanto, um diálogo das outras formas de saberes, propondo, portanto, uma ecologia de saberes.

Por isso, os teóricos de Francisco, são das periferias. Abaixo elenco os principais nomes que constroem o Congresso Economia de Francisco:

Amartya Sen, economista indiano, Prêmio Nobel de Economia em 1998 por sua contribuição às teorias da escolha social e do bem-estar social. Professor de Harvard (EUA), foi um dos idealizadores do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e fundador do Instituto Mundial de Pesquisa em Economia do Desenvolvimento (Universidade da ONU). Sen é reconhecido internacionalmente por sua dedicação ao combate à pobreza com soluções concretas.

Muhammad Yunus, economista e vencedor do Prêmio Nobel, foi internacionalmente reconhecido pelo seu sistema revolucionário de microcrédito — a concessão de pequenos empréstimos a empreendedores demasiado pobres para se qualificarem para empréstimos de banco tradicionais — o que ajudou milhões de pessoas a escapar da pobreza. Nascido na cidade portuária de Chittagong em Bangladesh, a vida de Yunus é motivada pela sua visão de um mundo sem pobreza.

Vandana Shiva, nascida na Índia em 1952, é uma liderança socioambiental, ecofeminista, mundialmente conhecida. É uma das vozes mais expoentes na luta por alternativas ao capitalismo. A indiana defende a agroecologia como o ponto de partida para a realização das justiças social, econômica e ambiental. Sua luta vem de berço: nascida em 1952 em Dehra Dun, cidade do norte da Índia, aos pés do Himalaia, quase na fronteira com o Nepal e a China, Vandana é filha de mãe agricultora e pai guarda florestal. É doutora em física em seu país, com mestrado em filosofia da ciência.

Carlo Petrini é um jornalista italiano que fundou o movimento internacional Slow Food e foi uma das pessoas que encampou uma série de ações contra o fast-food, em especial contra o McDonald’s, quando este abriu uma lanchonete no centro histórico de Roma.

Tony Meloto, liderança nas Filipinas no combate a extrema pobreza.

Bruno Frey, economista suíço e professor visitante de Economia Política na Universidade de Basel. Ficou conhecido mundialmente por sua pesquisa de Economia da Felicidade.

Além desses, muitos outros teóricos e ativistas por uma nova economia. O sentimento: irrupção. Os movimentos populares em diálogo com o Papa, intelectuais, jovens vem apontando novos processos, sobretudo após o boom nas ruas de todo o mundo em reação a plutocracia internacional concentrado nas finanças globais contra o qual se levantou o movimento Occupy Wall Street em 2011.

As evidências se provam no desmanche do neoliberalismo e as sementes de revolta gerada nas populações do mundo inteiro. A crítica deriva da leitura da financeirização econômica do regime de acumulação ocorrida após a crise dos anos de 1970, com todas as suas implicações sobre a lucratividade das empresas e o aumento da desigualdade entre as classes sociais, como busca explorar a íntima conexão entre a mercantilização, a crise econômica e o Estado Neoliberal.

Desde o início dos anos de 1990, o Brasil foi tomado de assalto pelos ventos (neo) liberais, que já andavam assombrando o mundo havia uma década. Lá no centro do sistema, ou seja, nos países desenvolvidos, depois de anos de elevadas taxas de crescimento e forte presença estatal na economia, o aumento descontrolado das taxas da riqueza financeira começou a cobrar a conta e a exigir que fosse devolvido ao mercado o lugar de proeminência que o Estado havia lhe roubado (Welfare State – Estado de Bem Estar Social).

4. Neoliberalismo no domínio da racionalidade

O neoliberalismo se apresenta como um “movimento social ofensivo ‘dos de cima’” cujo objetivo é promover um amplo ajuste social capaz de concatenar as necessidades empresariais num contexto de crise de acumulação às exigências de reprodução da ordem política diante da crise de legitimidade promovida por um Estado nacional refém do poder das finanças globalizadas. O que se tem hoje é uma gestão da vida do povo a partir da flexibilização, com políticas de criminalização, punição e encarceramento massificado dos pobres.

Karl Polanyi, sociólogo austríaco, introdutor de uma nova sociologia econômica, percebeu o avanço descontrolado da mercantilização sobre mercadorias fictícias, isto é, o trabalho, a terra e o dinheiro, numa terceira onda da mercantilização, que num processo de espoliação, que é bastante visível quando se observa o aumento das desigualdades, a partir da precarização dos sistemas nacionais de saúde e educação pública.

Além da interpretação do neoliberalismo como espoliação, ganhou força na França, uma abordagem do neoliberalismo cuja ênfase recai sobre o povo à racionalidade neoliberal em duas dimensões decisivas, isto é, a dinâmica da concorrência e o modelo da empresa. Segundo Pierre Dardot e Christian Laval (2016), uma “nova razão do mundo” teria resultado de processos políticos conduzidos por diferentes governos a partir dos anos 1980.

Trata-se de uma racionalidade que mobiliza todas as esferas da atividade humana sem se reduzir, conforme a interpretação exposta anteriormente, ao domínio das dinâmicas econômicas ou das estratégias políticas necessárias à reprodução da acumulação capitalista. De acordo com eles, o neoliberalismo não seria propriamente uma renovação do velho liberalismo, mas uma racionalidade global de novo tipo engajada na criação de políticas de apoio às empresas, de redução de custos trabalhistas, de desmantelamento do direito do trabalho e de estímulo ao empreendedorismo individual. O neoliberalismo criou um novo sujeito: o homem empresarial. O grande adversário a ser batido são as formas de solidariedade classista que ainda resistem à investidas desta racionalidade concorrencial.

O resultado além do sufocamento do sujeito solidário, há o reflexo do adoecimento, do aumento do suicídio, e dos inúmeros casos de esgarçamento da ideia de bem comum.

5. Apontamentos para a discussão brasileira.

Além do Neoliberalismo como racionalidade humana, a economia brasileira passa por um profundo processo de mudanças, estando em curso um novo padrão sistêmico de riquezas, conhecido como financeirização, sendo a riqueza gerada prioritariamente na esfera financeira e especulativa, e não mais na esfera produtiva (trabalho), sendo assim, marcando a concentração riquezas de um lado e a crescente desigualdade do outro lado. Esses fatores foram levantados pelo professor da PUC de São Paulo, doutor em economia, Ladislau Dowbor, que sentencia esse momento como a Era do Capital Improdutivo. Ele afirma: 42 pessoas possuem uma riqueza maior que os 50% da humanidade (Relatório OXFAM 2018, A distância que nos une), o que equivale a 3,7 bilhões de pessoas. Os efeitos da financeirização são perversos, pois drenam os recursos das famílias, das empresas e do governo. No Brasil a taxa média de crediário é de 88% ao ano, a taxa de juros no cheque especial é de 297% ao ano, e no cartão de crédito ela chega a 318% ao ano. A segunda maior taxa de juros na América Latina é do Peru, sendo de 53% ao ano. Por outro lado, na França, a taxa de juros no crédito não chega a 4% ao ano.

O Brasil precisa realizar uma ampla e profunda reforma do sistema financeiro, que implique na desconcentração do crédito, aumento da oferta monetária e limitação das taxas de juros, com o resultado de um ajuste fiscal – não nos investimento público como foi feito recentemente -, e sim, promova o aumento da receita tributária por meio da cobrança de impostos progressiva dos mais ricos do país, com combate à sonegação de impostos, promovendo assim a justiça social.

O Brasil tem a possibilidade de reunir forças outrora divergentes, – pois caminhavam em linhas alternativas -, para uma convergência nova: O projeto de ponte para os povos na reconstrução de uma matriz econômica alternativa ao Brasil, distante do neoliberalismo capitalista.

O grupo de trabalho formado no Brasil para discutir a economia de Francisco, dos muitos que poderão surgir, pretende pensar as possibilidades que se abrem com este Congresso. O encontro ocorrido em São Paulo, em 10 de julho, na Paróquia São Domingos, dos frades dominicanos, acolhida pelo Frei Betto, teve a presença de José Maria de Corral, presidente da Fundação Scholas Ocurrentes, que apresentou o projeto do Congresso e ouviu os apontamentos do grupo presente. Dentre os encaminhamentos, foi tirado os seguintes tópicos para ser debatido:

Para a Igreja: 

Segundo José Maria de Corral, é desejo de Francisco que o projeto caminhe com as igrejas locais, – por isso do primeiro encontro com ele ocorrer numa comunidade católica -, portanto, criar uma articulação brasileira via as comissões da CNBB, abrindo duas possibilidades de diálogo:

  • Fomentar o Projeto Economia de Francisco na Pastoral Juvenil Brasileira, desmembrando no Setor Juventude dos Regionais da CNBB;
  • Incidência em documentos internos da Igreja que formulem essas reflexões dentro das pastorais, haja vista que para as pastorais operárias (bastante fragilizadas) retoma fôlego com esse movimento de Francisco, porque o trabalho é central no desmonte dessaeconomia neoliberal e do empreendedor (essa com o toque neoliberal precisa beber desse movimento do Papa) convoca a uma conversão;
  • Espaço de Fóruns de Pastorais, dos Regionais da CNBB que articulem a ida de iniciativas de Igrejas locais para o encontro de Assis, em 26 à 28 de Maio de 2020;
  • Produção teológica a partir de uma Economia de Francisco de Assis;

Para os Movimentos Populares:

  • Grande Congresso Economia de Francisco ocorrendo simultaneamente aqui no Brasil;
  • Fomentar um circuito de reflexões, encontros no Brasil inteiro;
  • Articulação Brasileira: levar iniciativas, formulações, acúmulos que o nosso Brasil possui na proposta de uma nova economia para o Encontro Internacional em Assis, em 2020;

Para Intelectuais, jovens e empreendedores:

  • Formar uma equipe de comunicação brasileira sobre ECONOMIA DE FRANCISCO;
  • Elaborar textos e outros insumos para reflexão de uma economia anticapitalista;
  • Buscar apoiadores e patrocinadores – para levar jovens e grupos de todo o Brasil para esse encontro;

Notas:

1. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/letters/2019/documents/papa- francesco_20190501_giovani-imprenditori.html. Acesso em: 24 jul. 2019.

2. III Encontro Mundial dos Movimentos Populares em Roma, 2016:http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2016/november/documents/papa- francesco_20161105_movimenti-popolari.html

3 Scholas Ocorrentes: Projeto Político-Pedagógico de Francisco que atualiza as CEB’s. http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/579478-scholas-ocurrentes-projeto-politico-pedagogico-de- francisco-que-atualiza-as-cebs

4. FRANCISCO, Papa. Discurso Para o II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, 2015. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/july/documents/papa- francesco_20150709_bolivia-movimenti-popolari.html

Sobre o autor:

Eduardo Brasileiro, sociólogo pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), professor de jovens e adultos num Curso Profissionalizante gratuito na periferia de São Paulo, articulador de projetos sociais na Zona Leste de São Paulo e membro da Coordenação Paroquial de Pastoral de Nossa Senhora do Carmo, da Diocese de São Miguel Paulista.

Informações:

Foram abertas as inscrições para o encontro de três dias desejado pelo Papa Francisco, que pretende reunir em Assis, de 26 a 28 de março de 2020, jovens economistas, empreendedores, protagonistas de mudanças, provenientes de diversas partes do mundo. O convite para participar do encontro “The Economy of Francesco. Os jovens, um pacto, o futuro” vem diretamente do Santo Padre, e é dirigido a jovens de até 35 anos. O Site Oficial de a Economia de Francisco foi inaugurado nesta semana (22/02/2020)

https://francescoeconomy.org/ Inscrições até o dia 30 de Setembro de 2019page12image45909120

Bibliografia:

– FRANCISCO, Papa. Discurso do Papa Francisco aos participantes do I Encontro Mundial de Movimentos Populares, em Roma, 28 de Outubro de 2014: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2014/october/documents/papa- francesco_20141028_incontro-mondiale-movimenti-popolari.html

– FRANCISCO, Papa. Discurso do Papa Francisco aos participantes do II Encontro Mundial de Movimentos Populares, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, 9 de Julho de 2015: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/july/documents/papa- francesco_20150709_bolivia-movimenti-popolari.html

– FRANCISCO, Papa. Discurso do Papa Francisco aos participantes do III Encontro Mundial de Movimentos Populares, em Roma, 5 de novembro de 2016: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2016/november/documents/papa- francesco_20161105_movimenti-popolari.html

– DOWBOR, Ladislau. A Era do Capital Improdutivo. São Paulo. Autonomia Literária. 2018.- LAVAL, Christian. DARDOT, Pierre. A nova razão do mudo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo. Boitempo. 2016.

– SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo. Companhia das Letras. 2009.

Notícias
IHU: Papa Francisco e Joseph Stiglitz querem estimular uma economia social de mercado que dê voz aos jovens: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/589135-papa- francisco-e-joseph-stiglitz-querem-estimular-uma-economia-social-de-mercado-que-de- voz-aos-jovens


IHU: Stiglitz e Rodrik denunciam os limites da economia dominante: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/589084-stiglitz-e-rodrik-denunciam-os-limites- da-economia-dominante


IHU: Papa lança um pacto global para mudar o modelo de economia: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/589067-papa-lanca-um-pacto-global-para- mudar-o-modelo-de-economia

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Conheça Ramon Jung, jovem que representará Minas Gerais no encontro Economia de Francisco em Assis https://observatoriodaevangelizacao.com/conheca-ramon-jung-jovem-que-representara-minas-gerais-no-encontro-economia-de-francisco-em-assis/ Thu, 20 Feb 2020 11:03:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=34196 [Leia mais...]]]> Apresentação:

“Meu nome é Ramon Jung Pereira, tenho 26 anos e moro em Betim. Atualmente sou mestrando em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (bolsista), com foco em estudos nas áreas de inovações sociais e empresas sociais, além de ser pesquisador associado do Núcleo de Pesquisa em Ética e Gestão Social (NUPEGS) da PUC Minas. Sou formado em Administração pela PUC Betim, e tenho experiência profissional bem diversificada que já alcança 10 anos, experiências essas nas áreas de robótica, gestão financeira, empreendedorismo (negócio próprio), docência (monitorias de matemática), etc. Em minha última experiência profissional, eu desenvolvi em uma empresa de software o Decolab – uma aceleradora de negócios, projetos e ideias que visava, de acordo com a necessidade de cada situação, criar mecanismos, realizar pesquisas com alto rigor técnico, criar processos de inteligência, adaptar processos e setores a novas culturas de trabalho, para obter rapidamente e respostas sobre a viabilidade de projetos. Em 2019, abandonei esse posto para me dedicar ao mestrado, onde tenho realizado pesquisas sobre, principalmente, as temáticas das empresas sociais e inovações sociais, alem de assuntos como sustentabilidade, reciclagem, entre outros temas dentro do campo da gestão social que muito dialogam com os princípios da economia de Francisco. Além disso, sou professor voluntário de inglês para crianças que moram nos bairros de Vianópolis, Marimba, Santo Afonso e Barro Branco, presentes no projeto Sonhart.

No meu ponto de vista, o chamado do Papa Francisco foi o reforço, foi o incentivo necessário para que possa a partir dali, uma nova economia, mais justa, mais igualitária, incorporada dos seus reais sentidos possa surgir. Sempre fui muito incomodado pela maneira como temos enxergado a economia como algo fora das suas reais funções. O padrão hegemônico neoliberal de ensino, de trabalho e de vida, tem nos levado a esquecer de sermos seres humanos. No meu ponto de vista, a visão tradicional de que o crescimento econômico por si só traz benefícios a sociedade, gera bem-estar e garante “bien-vivir”  não pode ser dado como verdade. A visão tradicional do capitalismo, que concentra em uma pequena porcentagem de pessoas grande quantidade de riqueza e, consequentemente, acarreta o descompasso do fenômeno do consumo, precisa ser repensado. Eu acredito que precisamos trabalhar nessa necessária reconstrução e ressignificação do capitalismo. É incrivelmente maravilhoso como tantas pessoas abraçaram o chamado do papa Francisco, não apenas os católicos, mas aquelas pessoas quem acreditam que precisamos mudar para sobreviver, viver, com fé que sim, se juntos, conseguiremos chegar a dias melhores. Estou extremamente ansioso para o congresso de Assis, rs.

Sobre o concurso de empresas sociais:

 O “Concurso de Empresas Sociais” é um projeto de caráter extensionista criado pelo professor Téo (Armindo dos Santos de Sousa Teodósio) e desempenhado entre turmas de graduação em administração e sistemas da PUC Minas Betim e São Gabriel. O concurso tem o objetivo de fomentar a criação de empresas sociais entre graduandos gerando ideias, projetos e perspectivas de negócios capazes de gerar valor social e ambiental e se contrapor à minério-dependência na cidade de Brumadinho após o crime da Vale – crime que causara a morte de aproximadamente trezentas pessoas. Hoje, o concurso é realizado dentro da disciplina “Responsabilidade & Sustentabilidade Organizacional”, nas turmas de administração da unidade de Betim e São Gabriel e, para a turma de Sistemas da unidade do São Gabriel, é desenvolvido dentro da disciplina de “Introdução a Administração”. Sua metodologia do concurso se dá em quatro etapas: contextualização da literatura, desenvolvimento de propostas de empresas sociais, pitchs para aprimoramento de propostas e apresentação final de propostas para banca avaliadora e comunidade de Brumadinho.

Espera-se que, através desse modelo didático, seja desenvolvido um tipo de corrente não tradicional de ensino que combinam aulas multidisciplinares, descentralização do conhecimento e criação de iniciativas que resolvam problemas reais “junto” e não “para” as pessoas. Além disso, espera-se que seja possível estimular o empreendedorismo social e aplicação de valores de cidadania entre estudantes através de práticas que exigem se relacionar com atores fora da academia, com os saberes locais, estimulando o processo de construção de inovações sociais em contexto real problemático. De forma geral, observa-se que através do desenvolvimento do concurso é notado uma possível promoção e disseminação do empreendedorismo social como alternativa de carreira – a qual respeita e objetiva questões importantes não consideradas no modelo capitalista tradicional –, aproximação da universidade com a comunidade, estabelecimento de forma alternativa de discência, descentralizando e desierarquizando saberes e a criação de iniciativas de empresas sociais para problemas reais da sociedade, que atualmente, soma-se mais de cinquenta propostas criadas.”

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Jovens da Articulação brasileira pela Economia de Francisco lançam Carta aberta https://observatoriodaevangelizacao.com/jovens-da-articulacao-brasileira-pela-economia-de-francisco-lancam-carta-aberta/ Tue, 04 Feb 2020 01:50:58 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=34064 [Leia mais...]]]> Jovens brasileiros que se preparam para participar do evento convocado pelo papa Francisco em março, na cidade de Assis, lançam provocante Carta Aberta. Confira:

Carta de Clara e Francisco

Direto do Brasil para o Encontro Mundial em Assis

Um ponto de partida: Uma ponte, como as pontes que Santa Clara de Assis desejava construir.

Direto do Brasil, em Encontro Nacional, escrevemos nossa Carta iniciando pelo significado da Sagrada Feminilidade para a mudança de paradigma na economia global. A Economia, substantivo feminino. Todas as mulheres que nos habitam, a menina que há em mim, a mulher que há em mim, a mulher que é minha mãe, a mulher que é minha avó; a menina que é minha irmã e minha filha, a mulher que é minha companheira, a mulher que é minha mãe, a mulher que é minha avó. A todas essas mulheres, reconhecemos e pedimos perdão. Agradecemos, amamos e honramos os saberes ancestrais transmitidos por elas, pelo feminino que traz a vida em seu ventre. 

Nossa proposta de uma economia baseada no feminino, no cíclico, na acolhida, no cuidado e no afeto, pressupõe uma transição radical nos modos e nas formas de produção linear, masculinizada, que impôs uma visão de progresso baseada na extração. Assumimos uma compreensão circular dos processos produtivos. Também expressa um profundo compromisso ético com as gerações que estão por vir. 

Escutando a silenciosa linguagem de Clara de Assis, nós nos fazemos ponte a ligar “os que têm de sobra com aqueles que sentem falta de tanta coisa”. Para as novas economias no século XXI, masculino e feminino tem que caminhar lado a lado, ombreados, nem à frente nem atrás, mas de mãos dadas, como o “Irmão Sol” e a “Irmã Lua”. Economia de Francisco e Clara é o que pretendemos praticar e honrar.  

Inspirados em Clara e Francisco, manifestamos nosso desejo por uma profunda mudança no enfoque até hoje estabelecido nas relações econômicas. A começar pela divisão sexual do trabalho, valorizando os saberes tradicionais das mulheres e suas formas de cuidado e respeito à natureza cíclica de nossa casa comum, o planeta Terra. O patriarcado reduziu a economia unicamente à dimensão material e produtivista. Essa concepção distorceu o sentido do bem-estar social, produzindo iniquidade e infelicidade. No caminhar junto, feminino e masculino buscam novos paradigmas: da competição para a colaboração; do egoísmo para a generosidade; da exploração para a sustentabilidade; da acumulação para a distribuição; do desequilíbrio nas relações entre pessoas e países para o equilíbrio, com comércio justo e solidário; do consumo desenfreado ao consumo responsável; da ganância ao altruísmo.

A caminho de Assis nos comprometemos com o chamado do Papa Francisco para “realmar a economia”. Uma “economia com alma” comunga as pessoas com todos os seres viventes na Terra, nossos irmãos, filhos da mesma Mãe. Medo, frustração e sofrimento, têm sido as imposições de uma economia sem alma, praticada sob o capitalismo, sobretudo em sua fase neoliberal. Individualismo, consumismo, desprezo ao próximo, egoísmo, vulgaridade, superficialidade e descarte levarão o mundo à ruína e à destruição. Timóteo, entre os primitivos cristãos, já apontava: “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”. Pensamos e pretendemos a economia a partir do Comum, a partir da escala da vida. Não mais a vida servindo ao sistema econômico, mas a economia à serviço da vida.

Uma Economia a serviço da vida precisa levar em conta a espiritualidade como uma dimensão do Ser. Distinta de religiosidade, a espiritualidade não é algo circunscrito às religiões e vem sendo gradativamente estudada nas ciências médicas, já reconhecida como categoria clínica há três décadas pela Organização Mundial de Saúde, assim como nas ciências sociais. Tanto sob a perspectiva religiosa como científica, a espiritualidade deve ser contemplada na Economia de Francisco e Clara a partir do exemplo iniciado pelo jovem de Assis, que se despojou de bens materiais para se enriquecer espiritualmente.

A Economia com alma não subestima a importância dos bens materiais, mas rejeita o culto à materialidade, baseada na ideologia do consumismo. Tal é a loucura do capitalismo e sua apologia ao consumismo que ao invés fazermos utensílios são os utensílios nos fazem. Edificamos a casa e a casa nos edifica. Entre as grandes cidades do mundo já proliferam imensos edifícios urbanos com a única finalidade de servirem à guarda de coisas não usadas, a despeito dos limites ambientais do planeta. Edifícios-depósito, verdadeiros monumentos ao descarte e à acumulação. 

Um desenvolvimento na escala humana deve resultar em novo paradigma socioeconômico para o mundo, que leva em conta a espiritualidade, a inter-religiosidade e o cultivo do Ser. Rompe com a cultura do descarte e vulgaridade e se atenta a outros fatores essenciais para a vida, aspirando abundância em afeto, solidariedade, vida digna para todos, entendimento, proteção, sororidade, convivência, identidade, diversidade, alteridade, solidariedade, empatia, companheirismo, ócio, criatividade, fantasia e imaginação.

Afeto e solidariedade por um mundo humano. Rejeitamos a “natureza não natural”, a “cultura não cultural”, o “humano não humano”. Não queremos ser comandados por algoritmos a maximizarem o lucro, transformando subjetividades em mercadoria. Rejeitamos a vida pós-biológica e a realidade virtual embaralhando a realidade real. Rechaçamos a imposição de um mundo da pós-verdade e do “transumanismo”. Não somos Coisa! Nem permitiremos que nos transformem em máquina para produzir e consumir, meras coisas desprovidas de sentido, sob o controle de gananciosos sem limites. 

Conforme alerta Francisco, o Papa: “As gerações futuras vão herdar um mundo grandemente deteriorado. Nossos filhos e netos não têm de pagar o preço da irresponsabilidade de nossa geração e das gerações que nos antecederam”. Vivemos em uma época de profundas transformações. A começar pelas mudanças climáticas. E o tempo para reverter essas mudanças está se esgotando. 

Não há mais tempo a perder! 

Se a economia mundial continuar baseada no uso intensivo do carbono, caminharemos para o suicídio ecológico. “Há que mudar essa atitude perversa” de negacionismo sobre os efeitos das mudanças climáticas na vida do planeta, como bem aponta o Papa Francisco. Pelos jovens, pelas crianças, pelo futuro dos animais, das plantas, e de todos os seres que habitam o planeta, a Economia de Francisco e Clara só terá sentido se incorporar firmemente a decisão de manter os combustíveis fósseis no subsolo, reduzindo sua extração, até serem plenamente substituídos. A natureza levou milhões de anos para transformar formas vivas em petróleo ou carvão mineral, capturando carbono e colocando-o no fundo da terra. É ilógico, e criminoso com o planeta, expelir esse carbono em um período de menos de duzentos anos, quase que de uma só vez em termos de tempo geológico. Essa desfaçatez está afetando irremediavelmente o equilíbrio do planeta. Resta apenas uma década para contermos o aquecimento global, aponta relatório da ONU, avalizado por toda a comunidade científica. Se ultrapassarmos o limite de 1,5 grau centígrado no aquecimento global, os efeitos serão catastróficos. 

Já estão sendo! 

Doenças adormecidas ressurgem a cada dia. 

As secas, as enchentes, as tormentas e os tornados. 

A tenebrosa tarde que se fez noite na cidade de São Paulo, encoberta pela fuligem dos incêndios na floresta amazônica.

O óleo betuminoso a tomar conta de nossas praias; da costa do Maranhão à foz do rio Doce, no norte do Espírito Santo. Óleo que encarde praias, que mata peixes, tartarugas e mariscos. Óleo que impregna arrecifes e manguezais. 

Rio Doce, o rio assassinado com a lama da ganância das mineradoras.

Será que não basta para darmos um basta?

Que tormentas mais estamos a esperar?

Quantos rios mais precisaremos matar? 

Quantas novas barragens a interromper o fluxo da vida? 

Água encardida não traz vida. 

Quanto mais água fétida, mais cólera e febre amarela. 

Quanto mais fuligem a adentrar em nossas narinas, mais asma e bronquite.

E quando os rios secarem e as matas virarem deserto? 

E quando o ar que entrar por nossas narinas começar a arder?

O que diremos aos nossos netos? 

O que os nossos netos dirão sobre nós?

Nossa feminina Economia de Clara e Francisco aponta para um novo padrão energético, com produção distribuída de energias limpas e renováveis. A energia do sol, a energia dos ventos, e todas as energias boas que se descobre a partir da boa ciência. Energias produzidas de nova forma, descentralizada, distribuindo conhecimento e permitindo que todos acessem os avanços tecnológicos. Placas solares ou cataventos desenvolvidos nas comunidades, pelas comunidades, unindo saber local com conhecimento científico. Iluminando e aquecendo casas, ruas, escolas e parques. E indústrias. Novas indústrias, ecológicas e sustentáveis, orientadas por princípios da economia circular, com produção descentralizada, sem resíduos, em cadeias produtivas curtas, aproximando produção de consumo. Uma economia integrada, a perpassar todas as dimensões do cuidado com a casa. Oikos, casa, lar, ambiente; Nomein, gerenciar, administrar, cuidar; do grego antigo Oikos/Nomein, economia. A produção na escala da vida, com justiça e equilíbrio, que democratize os ganhos de produtividade, que não podem destinar-se apenas aos donos do capital, mas sobretudo ao trabalho humano. 

Produzir na escala da vida também significa preservar a vida dos demais seres, reconhecendo-os como Sujeitos de Direitos. Os animais têm direitos, as plantas, as águas, as flores, as montanhas, todos têm direito à dignidade que preserva o sentido de suas vidas, de sua existência. Essa é a lógica do Teko Porã, o “modo bom de viver na Casa”, dos povos Guarani. Os povos originários deste continente, que veio a ser chamado América, nos ensinam que é preciso cuidar de nossa morada e de nossa mãe, a Mãe Terra, nossa dádiva, nossa Casa Comum. Cabe a cada geração legar um mundo melhor para as gerações seguintes. Essa sabedoria se traduz por Bem Viver, Sumak Kawsay em Quéchua, Suma Qamaña em Aimara, Küme Mongen, em Mapuche. Promover o encontro entre Economia de Francisco e Clara e o Bem Viver significa o reencontro com e entre sabedorias ancestrais, reestabelecendo o fluxo para uma vida em abundância e harmonia. Colocando em questão a própria ideia de Des-Envolvimento, pois para “desenvolver” não é preciso separar. Essa compreensão ocidental de desenvolvimento gera uma falsa ideia de progresso, baseada no individualismo e no interesse privado, desprezando os direitos coletivos. É chegado o momento para uma nova noção de desenvolvimento com a Declaração dos Direitos da Natureza.

O contraponto é pensar uma Economia do Suficiente, do justo e do bom, que atenda a todas e todos com equidade, gerando o Bem Viver. Uma economia que fortaleça laços comunitários a construírem o desenvolvimento coletivo, tendo por foco as comunidades como autogestoras de seus processos de vida. O urbanismo colaborativo, as ecovilas, a agroecologia. A produção de alimentos saudáveis, sem veneno, colhidos pela agricultura familiar ou em hortas urbanas. Moradia digna, trabalho como direito. A livre circulação nas cidades, e entre cidades, e entre países. O convívio com o diverso, a cultura, o lazer. A educação e a saúde como bens comuns, jamais como mercadoria. Que as pessoas vivam bem, e que a boa vida de cada um não resulte em opressão e exploração sobre os demais. 

Essa forma generosa de economia remete a formas colaborativas de produção, quando a tecnologia deve ser um vetor de inclusão, jamais de exclusão. Uma tecnologia a favor do humano, em que trabalho autônomo não pode ser sinônimo de precarização do trabalho. A aparente objetividade proporcionada pela técnica leva o mundo a horrores, porque desprovida de sentimento, esfriando e debilitando o próprio sentido da vida. Uma forma dadivosa de economia remete à generosidade intelectual, com o fomento a conhecimentos livres e transferência de conhecimentos e tecnologias para as comunidades, como no caso do software livre, energias renováveis e agricultura sintrópica, integrando, organizando, equilibrando e preservando sistemas energéticos e de produção.

Economias no plural. Economias solidárias e populares, criativas, colaborativas. A economia circular e ecológica. As economias da dádiva, a festa comunitária, a comunhão. A economia feminista, das mulheres. As economias camponesas e tradicionais. A economia do cuidado, a economia doméstica. As economias digitais e do software livre. A economia da cultura. O mundo do trabalho, enfim. As economias vivas.   

Do coletivo, do comum. Daquilo que é de todos e que tem que ser repartido entre todos. Na Economia de Francisco e Clara não há lugar para o egoísmo, nem para a ambição desmedida, nem para a acumulação infinita. Nem para bilionários. Sim, um mundo sem bilionários e sem megafortunas. A concentração de riqueza, tal qual se apresenta nos tempos atuais, é infame. Não se pode tolerar uma economia em que, para acumular bilhões (de dinheiros) é necessário deixar outros bilhões (de vidas) sem nada. A era do capital improdutivo tem que acabar. De uma forma ou de outra. E começamos conclamando aqueles que, por diversas circunstâncias, estiverem na condição de detentores de megafortunas, que comecem a repartir, por iniciativa própria, por consciência, assim como fizeram São Francisco, Santa Clara e tantos jovens de Assis. 

O mundo não pode esperar mais. É preciso instituir uma taxação internacional sobre fluxo de capitais e movimentações financeiras em Paraísos Fiscais. Lucros e dividendos, grandes Fortunas, artigos de luxo, supérfluos ou que fazem mal à saúde, precisam de taxação específica. Não é possível que aqueles que têm tanto sigam com tantos privilégios, recebendo isenções e subsídios, enquanto bens e artigos essenciais são taxados em razão inversa. Onera-se o trabalho e libera-se o capital. Esse é um mundo ao revés, que cobra muito daqueles que têm tão pouco e cobra tão pouco daqueles que têm muito. A acumulação capitalista se fez a partir da superexploração dos recursos naturais e humanos; o subsídio a tanta ganância foi pago com a vida de gerações inteiras; também as montanhas pagaram seu tributo, os bosques e florestas, repletos de plantas úteis e medicinais, os cursos d’água, os oceanos; sistemas de vida foram alterados, quando não destruídos por completo. Chegou o momento para uma tributação social e ecológica que resgate as dívidas social e ambiental. Bem como a rediscussão do Sistema de Dívida, que escraviza países e pessoas.  

O Sistema Financeiro, controlando um emaranhado de empresas que assolam o mundo, está acumulando tamanha concentração de poder e riqueza que transforma pessoas e países em “escravos da dívida”. Dívida para ter uma casa, dívida para ter um carro, dívida para ter um diploma de nível superior, dívida pelo consumismo. Dívida de Estados a manter países no subdesenvolvimento. Dívida para sujar o nome das pessoas. Dívida para controlar nações. Um mundo de servidão imposto por um Sistema sem controle. Um Sistema que controla Estados, Organismos Internacionais e Corporações Econômicas. Que concentra riqueza e poder com o objetivo de mastigar vidas. Na forma que existe, o Sistema Financeiro precisa acabar. Se quisermos viver a vida tal qual nos foi ofertada, como dádiva e milagre, será preciso reinventar esse Sistema. 

Pensar um mundo menos desigual é o principal desafio para a Economia de Francisco e Clara. O modelo econômico capitalista e produtivista, tal qual se apresenta em nossos tempos, se contrapõe ao cuidado da Casa Comum. As dimensões do Planeta Terra, nossa Casa, são finitas, e os recursos esgotáveis. É ilógica a prevalência de um modelo econômico que prega a acumulação sem limites e a exploração infinita. É inaceitável um modelo econômico que pretende transformar a última gota de água limpa em líquido pútrido, transfazendo o humano em coisa. A ideologia de mercado, agravada pelo neoliberalismo, está levando a humanidade ao suicídio.

Para que a Economia de Francisco e Clara floresça é necessário assumir essa visão com clareza, sem meias palavras. Nosso método de ação é fraterno, é de paz. Mas sabemos de que lado estar. Nossa opção preferencial é pelos pobres, pelos excluídos, pelos desvalidos. Pelo pão, pelo trabalho, pelo teto e pela terra, pelo planeta. Pelo que é justo. Não nos restringiremos a ações paliativas ou pontuais. Vamos também a elas, ao propor o Mutualismo, a exemplo das Associações de Auxílio Mútuo, criadas pelos movimentos operários ao final do século XIX e início do XX, para mitigar o desamparo a que famílias de trabalhadores eram abandonadas. Em nome da acumulação primitiva do capital, um mundo sem leis e sem direitos se impunha sob a bandeira do liberalismo econômico. Com o neoliberalismo essa regressão e desamparo voltou. Não nos furtaremos a enfrenta-la. Seja lutando pela preservação de direitos trabalhistas e sociais, seja estando lado a lado dos desamparados, aliviando suas necessidades imediatas. Mas também iremos pôr em questão discutir a macroeconomia e o poder que a impõe. 

Enfrentar o debate macroeconômico pressupõe firmeza em reconhecer que, no tempo histórico atual, não há como prescindir do Estado como estrutura para promoção do equilíbrio entre igualdade na diversidade, e liberdade no individual e no coletivo. A desigualdade se agravou a níveis nunca vistos na exata proporção em que os Estados foram enfraquecidos, até serem plenamente capturados pelo poder absoluto do dinheiro, degradando o sentido da democracia e do bem comum. Cabe reverter esse quadro. Os benefícios gerados pela Economia Nacional e Global não podem continuar sendo apropriados por uma minoria que controla o poder nos Estados e Organismos Internacionais. A vida deve ser boa e justa para todos.

Políticas públicas de qualidade, inventivas e universais, justas e bem executadas, também dizem respeito à Economia de Francisco e Clara. Assim como a ética na execução dessas políticas. Nós vamos disputar a formulação e implantação das políticas públicas, via Estado e via ações de natureza pública não estatal, na esfera do comum. Sempre com amplitude, em diálogo respeitoso e sem sectarismo, mas assertivo, com estudos aprofundados, experiências concretas e propostas. E traduzido esse debate em linguagem acessível, popular, que desmitifique o conhecimento, permitindo que todas as pessoas possam compreender, ao menos um pouco, o intrincado mundo da gestão do Estado, do Poder Público e das finanças. É preciso mudar a legislação tributária no Brasil e no mundo. Reforma da arquitetura financeira, com fomento a Bancos Públicos e Comunitários; regulação de fluxos de capital; reforma tributária, com desoneração do consumo popular e cobrança de impostos sobre propriedades, heranças e renda de capital; redução de subsídios a combustíveis fósseis e incentivo às energias renováveis. 

Reunidos no Brasil, reafirmamos a importância e necessidade de consolidação de propostas e experiências iniciadas em nosso país. Propostas que precisam ser reapropriadas por nosso povo, bem como ofertadas para o mundo. Como já acontece com algumas políticas públicas idealizadas e experimentadas por aqui. A Renda Básica da Cidadania, iniciada como Bolsa Família, que permitiu retirar mais de 30 milhões de pessoas da condição de pobreza ou miséria; uma Renda Cidadã, caminhando para uma Renda Universal, a assegurar dignidade e meios de sobrevivência para todas as pessoas. Orçamento Participativo, em que os cidadãos possam decidir sobre a aplicação de recursos públicos em suas comunidades; essa experiência se espalhou por cidades brasileiras e de muitos países, cabe aprofundá-la, contemplando a origem das receitas públicas, não se atendo apenas às despesas, e ampliar para a efetividade em outras esferas de poder, não somente a local. Rede de Economia Solidária e Finanças Solidárias, estimulando a criação de moedas virtuais locais, com controle social e arranjos produtivos locais. Segurança alimentar, como o Programa de Aquisição de Alimentos da  agricultura camponesa e familiar, com incentivo à produção de alimentos saudáveis, livres de veneno, em transição agroecológica. Especialmente na merenda escolar, estimulando a educação alimentar e nutricional, a exemplo do Guia Alimentar para a População Brasileira. Programas como as Farmácias-vivas, que preparam remédios de baixo custo para distribuição gratuita. a partir das plantas medicinais. 

 Saberes e experiências, nascidos nas franjas, nas bordas do sistema hegemônico, não podem mais ser considerados ações periféricas. Vamos atuar para que passem ao centro do debate sobre economia e desenvolvimento. A economia de mercado tem colocado os povos à serviço da lógica dos mercados, exacerbando comportamentos individualistas, consumistas e irresponsáveis. Cabe jogar luz para outras formas de ser, pensar e agir. As linguagens do coração, da cabeça e das mãos, que brotam do Brasil escondido e até sufocado.  Partimos das ações simples, do real, das experiências bem-sucedidas, idealizadas e construídas no seio das comunidades brasileiras, de norte a sul do país, de leste a oeste, das favelas aos pequenos municípios, do litoral ao sertão, das grandes metrópoles aos povos das florestas. Em meio à escassez brotam as saídas. E voltará a esperança. 

As moedas sociais, locais, que incentivam as comunidades a aplicarem seus recursos em negócios gerados na própria comunidade, com bancos comunitários que amparem a fiança solidária. As relações econômicas surgidas na base da confiança nas relações interpessoais, as compras coletivas, os pequenos empreendimentos. A exitosa política com a instalação de um milhão de cisternas no semiárido brasileiro. Tal programa, fruto de ampla articulação de organizações comunitárias, vem melhorando a qualidade de vida das famílias que convivem com a seca naquelas regiões. A agricultura familiar e camponesa, em que o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra é o maior produtor de alimentos orgânicos na América Latina, com 14.000 toneladas de arroz orgânico, entre outros alimentos. A rede de Agroecologia e Agroflorestas, com mais de mil entidades. As cooperativas de produção, o cotrabalho, a revalorização dos ofícios e saberes tradicionais, atualizados nas formas contemporâneas possibilitadas pela cultura digital. Os Pontos de Cultura, fomentando a identidade e a diversidade cultural em 1.100 municípios, com mais de 3.500 Pontos, espalhados pelos rincões mais afastados, de favelas a aldeias indígenas. Os coletivos de artistas, de jovens, de mulheres, de negras e negros, dos LGBT. As redes dos povos quilombolas, dos povos indígenas, das comunidades tradicionais. 

O quadro acima sistematiza o que já está sendo feito e que pretendemos potencializar. Também apresentamos propostas novas, como a educação dos jovens para a ação solidária e cidadã, com os Agentes Jovens da Comunidade. Uma política pública que ainda não teve escala necessária, mas que já foi experimentada com bons resultados, em uma primeira edição, com 5.500 jovens na cidade de São Paulo, e outra com 11.000 em todo o país. Um aprendizado-serviço junto a organizações comunitárias. O oposto do serviço militar, um serviço civil, que valoriza organizações comunitárias a serem transformadas em potentes espaços de acolhida, aprendizado e experimentação, para os jovens da Economia de Francisco e Clara.  

Toda essa vitalidade, presente no solo brasileiro, ensaia novos modelos de política e autogestão. É esse caldo de cultura colaborativa que nos faz ter esperança no Brasil, mesmo em meio a um ambiente de regressão econômica, social, política, e até mesmo civilizatória. Enfrentaremos o horror, os preconceitos e violências, com a Cultura da Paz ativa. A Economia de Francisco e Clara chega para ficar e começa fazendo o necessário; depois, o que é possível; até que estaremos fazendo o impossível. Como São Francisco de Assis, pretendemos realizar o impossível a partir das coisas simples.

Viemos para escutar e para falar. Falamos de democracia porque queremos evitar a barbárie e desenvolver a civilização. Com democracia real, substantiva, para além das aparências, do simples votar. Não somente a democracia representativa, mas participativa (referendos, plebiscitos), tendo a democracia econômica como condição para a democracia social e política. Uma democracia para um mundo diverso, plural, poliédrico, não esférico e uniforme. A beleza do mundo está em conviver com as muitas formas e cores. Nossa beleza reside no fato de que somos iguais e diferentes ao mesmo tempo. Uma democracia verdadeira pressupõe que os povos se apropriarem dos meios de governança e autodederminarem-se, com Estados e sociedades democráticas, e que os recursos do Estado sejam colocados à serviço da vida, não dos mercados. Para tanto é preciso ir além dos Estados, fortalecendo a Sociedade Civil e Processos Democráticos a partir da Base, autogestionários, comunitários, com conselhos e ouvidorias, com direito à cidade e democratização dos meios de comunicação.

Democratizar os processos de controle cidadão sobre os Estados e a Economia demanda novas leis. A começar por mecanismos que possibilitem uma maior participação de mulheres, negros e indígenas nos parlamentos, como espelhos mais reais da diversidade refletida pela sociedade. Tudo isso demanda legislação e regulação, repensando modelos de financiamento de campanhas eleitorais e governança democrática. Democracia é também acesso à Justiça, com casa familiar inviolável, redes de proteção contra casos de injustiça, abuso de autoridade, perseguição (lawfare), genocídio e crimes de ódio. Há que ter controle social sobre o Judiciário, Ministério Público e as Polícias, fortalecendo as Defensorias Públicas e o exercício da advocacia, justiça restaurativa, ações civis públicas, mandados de segurança e participação comunitária em processos judiciais de interesse coletivo público, via amicus curiae

Do local e comunitário à governança planetária, com a reformulação e democratização dos Organismos Internacionais. Vivemos todos em uma mesma Casa. É chegado o momento para se abrir espaço para uma Cidadania Planetária. Neste mundo ao revés, imposto pela ideologia neoliberal, as mercadorias e as coisas podem circular livremente entre países, menos as pessoas. Somos todos cidadãos de um mesmo planeta, queremos um mundo com menos muros e mais pontes.

 Tratar de democracia é tratar sobre a democratização das cidades, a ocupação dos espaços públicos e os Bens Comuns. Bens Comuns, os bens que são de todos e que não podem ser aprisionados pela ganância. A água, o ar, a saúde, a educação, a cultura e o lazer, o ir e vir. O Teto e o direito à moradia digna. O trabalho como direito. Não é ético um país subutilizar dezenas de milhões em sua força de trabalho. No Brasil são sessenta milhões de pessoas entre desempregados, subempregados e precarizados. É muita energia humana descartada, ainda mais em um país em que há tanto por fazer. Democracia real é debater o mundo do trabalho, a democratização dos ganhos de produtividade e as transformações em curso, a redução da jornada de trabalho. Terra, trabalho, teto e liberdade para que todos possam viver uma vida justa e em paz.  

A caminho de Assis nos somamos ao Pacto Educativo Global, também lançado pelo Papa Francisco. Concordamos que é “fundamental trabalhar a partir da educação em sistemas alternativos que não tenham como premissa a ideia de idolatrar o dinheiro. Temos que buscar desenvolver programas e estudos em torno do conceito da economia circular, que contribuam para uma educação consciente da sustentabilidade ambiental, que requer devolver ao meio ambiente o que lhe é retirado”, conforme pronunciamento do Nobel de Economia, Joseph Stiglitz em encontro no Vaticano, com o programa Scholas Occurrentes. 

Unidos ao Pacto Educativo Global, propugnamos por mudanças nos currículos dos cursos de economia. Também pela mudança nos currículos de todos os cursos. Da educação infantil ao ensino superior, passando pela educação do trabalho. Buscamos alcançar uma educação integral para uma ecologia integral. Defendemos a valorização dos professores e sua formação para orientarem seus alunos na redescoberta do sentido do Bem Comum. Também valorizando os saberes tradicionais e comunitários como parte integrante dos currículos. Abraçamos uma educação sobre nossos direitos e deveres, sobre a ética da responsabilidade e da reciprocidade, em que a educação econômica aconteça desde a educação básica

Nessa caminhada afirmamos nosso compromisso por uma Transformação Global, tendo por base cinco palavras, que, em português, são iniciadas pela letra E: 

  • Ética;
  • Economia;
  • Ecologia;
  • Educação;
  • Estética.

Com essa base lutaremos para o surgimento de um novo modelo civilizatório. Nesse modelo, não mais será “um ou outro” e sim “um E outro”. Um mundo em que caibam outros mundos. Que a beleza e a partilha do sensível sejam uma constante em nossas ações, harmonizando forma e conteúdo. Em que a educação seja transformadora, emancipadora, fazendo com que nos reencontremos com a ecologia, nos reconhecendo como uma espécie que não pode viver “à parte” do planeta, e sim como “parte” do planeta. Somos filhos de uma mesma mãe e um mesmo pai. Nossa ação econômica será orientada para novos modos de obtenção e utilização dos recursos necessários ao bem comum, com respeito ao próximo. E que a ética jamais se afaste de nós. 

Beleza e alegria, arte e cultura, justiça e felicidade, são os nossos votos para Realmar a Economia. Para tanto propomos trocar os números frios para medição do Produto Interno Bruto dos países, pelos indicadores quentes da Felicidade Interna Bruta. “A alegria é a prova dos nove!”, disse o poeta modernista Oswald de Andrade. A Economia de Francisco e Clara, para dar certo, deverá ter como principal indicador a alegria que irá proporcionar aos viventes desta abençoada província do universo. Quando isso acontecer, saberemos que Clara e Francisco também estarão alegres.

A Economia de Francisco e Clara, inspirada no Cântico das Criaturas, está chegando e nos unimos a ela!

Bela e radiante,

Louvada sejas, com todas as suas criaturas.

A Economia do irmão Sol e da irmã Lua com as estrelas

Louvada sejas, pelo irmão vento, pelo ar ou nublado.

Serena, às tuas criaturas dará sustento.

Útil e humilde, saciará nossa sede.

Os frutos diversos, as coloridas flores e ervas,

Todos somos filhos de nossa mãe Terra.

Louvai e bendizei a meu Senhor,

E dai-lhe graças!

ARTICULAÇÃO BRASILEIRA PELA ECONOMIA DE FRANCISCO

São Paulo, 19 de novembro de 2019

I Encontro Nacional, realizado no Teatro de Arena -Tucarena- da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP. 

(Carta revista e ampliada a partir do encontro de planejamento com os jovens rumo a Assis, em 18 de janeiro de 2020, na Escola de Formação do DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

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Novas economias, novas esperanças – Passos para uma economia mais humana e inclusiva https://observatoriodaevangelizacao.com/novas-economias-novas-esperancas-passos-para-uma-economia-mais-humana-e-inclusiva/ Tue, 26 Nov 2019 04:09:41 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=33558 [Leia mais...]]]> A panaceia tecnológica disruptiva e excludente

A década de 1980 foi um marco muito importante na perspectiva do modo de produção capitalista. Podemos afirmar que o 2º grande ciclo produtivo (Modelo fordista) teve seu fim quando do surgimento, fundamentalmente, do sistema Toyotista1 no Japão. Denominamos esse novo ciclo como a 3ª Revolução Industrial que se caracterizou como início concreto da automação, da comunicação on-line e da informática, bem representada pelo novo mundo da internet. 

Em termos de ambiente produtivo a 3ª Revolução Industrial nos mostrou uma produção marcadamente pela “poupança” da força produtiva humana. Novos equipamentos e novos sistemas produtivos conseguiram produzir mais e melhor os novos produtos, basicamente de bens de consumo. Computadores pessoais, telefones celulares, armazenagens de informações em meios digitais, sistemas automatizados de produção e lampejos robóticos marcaram decisivamente a forma e o modo de produção capitalista. A produtividade da força de mão-de-obra foi facilmente superada pela junção dos hardwares (computadores) e softwares (sistemas de processamento de informações) mais velozes e furiosos quanto ao uso intenso do fator humano na produção. E, isso, não ficou restrito ao mundo da produção. No setor de serviços também teve impulso novas formas de atendimento das demandas por informação, saúde, comunicação, serviços públicos e pessoais. Até na tradicional agricultura essa combinação moderna (hardware e software) teve influência tanto na quantidade como na qualidade dos produtos, principalmente nas culturas de comodities (grãos, por exemplo). 

Toda nova forma de produção traz consigo novas formas de acumulação e concentração de capital. Os novos sistemas produtivos modernos simplificadamente supracitados possibilitaram novos patamares de redução de custos com ampliação considerável da produtividade, em todos os setores. Grandes espaços fabris foram (destruídos) transformados em produções em cédulas reduzidas, com grande impacto negativo no número de trabalhadores empregados, como também, em sistemas produtivos integrados de relação demanda e oferta. Isto é, se produz quantitativamente o que se demanda e da forma on-line – redução do tempo entre a decisão de produção e consumo dos bens e serviços. O tempo assumiu outra dimensão. 

E, quando se pensava que as duas décadas de 1980 e 1990 seriam os degraus dessa nova revolução produtiva e de consumo. Um novo sistema surge com mais força e mais fúria. Fruto, ainda dos embriões da 3ª Revolução Industrial, surge um sistema mutante já denominado por Indústria 4.0 ou a 4ª Revolução Industrial. Caracterizada, essa, pela intensificada e potencializada robotização, comunicação entre máquinas e coisas, inteligência artificial, biotecnologia, inovações disruptivas, serviços altamente personalizados, educação a distância mediada por sistemas computacionais, acelerando a eficiência operacional e novos patamares de acumulação e crescimento do capital nunca vistos e/ou imaginados. Isso está sendo construído pela reunião de tecnologias emergentes, conectadas e inteligentes digitalmente num caráter global. Nem bem estávamos entendendo a 3ª Revolução Industrial quando chegou, de assalto, um novo e perverso sistema ainda mais poupador da força de mão-de-obra.

Em síntese, o final do século XX, estabeleceu-se no surgimento de um novo padrão global de desenvolvimento produtivo e competitivo que destoou dos padrões industriais anteriores. O paradigma tecnológico desenvolvimentista se caracteriza por uma ampla situação disruptiva. As inovações tanto nos equipamentos como nos sistemas produtivos não guardam mais a sequência lógica e evolutiva de melhorias de produção. Mas sim, se estrutura por inovações radicais dos modelos anteriores. Consubstanciando novos produtos, novos serviços personalizados e por equipamentos produtivos robotizados e automatizados de forma intensa. E, principalmente, pela desconstrução do uso da força de mão-de-obra. Postos de trabalhos são exterminados radicalmente. Centenas de profissões são substituídas por novos controles informatizados e o “chão de fábrica” se torna “clean” e asséptico. A presença do recurso humano não tem mais significado decisivo no processo produtivo.

Reação I – O Movimento ambientalista mundial e o conceito de desenvolvimento sustentável

Desde que o homem descobriu sua força transformadora da natureza a relação com o meio ambiente sempre foi conflituosa. Isto é, sua capacidade de transformar determinados recursos em bens de consumo deixou um rastro de destruição da flora e fauna estarrecedor. Desde a descoberta do fogo, o homem nunca guardou preocupação com os recursos naturais. Ao final das contas é o nosso padrão civilizatório nos impulsionou na construção de uma concepção o bem-estar e o conforto na transição de nossas cavernas para os lares climatizados. E, com isso, concebeu-se uma ideia desenvolvimentista em que o ser humano é a razão de tudo, apesar de tudo e sobre tudo.

Concomitante aos novos paradigmas modernistas e tecnológicos desse fim de século (XX), uma força social traduzida pelo questionamento global sobre que tipo de desenvolvimento as economias deveriam traduzir. Esse movimento foi denominado por movimento ambientalista.

Mas, dando uns poucos passos para trás, em 1968, o empresário italiano Aurelio Peccei, presidente honorário da Fiat, mais o cientista escocês Alexander King promoveram um encontro para se discutir o futuro das condições humanas no planeta. A ideia era convidar algumas personalidades da época para se discutir a relação entre meio ambiente, política, economia e sociedade. Como essa reunião ocorreu em Roma esse grupo foi denominado por Clube de Roma.

Logo depois, em 1972, com a mesma preocupação ambientalista, uma equipe de cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) liderado por Dennis e Donela Meadows elaboraram um relatório intitulado “Os limites do Crescimento”. Com projeções quanto aos efeitos da presença marcante do homem, do seu aumento populacional concluiu-se que a rota humana e/ou a rota produtiva do homem levaria ao esgotamento dos recursos naturais. Se a humanidade continuasse a consumir os recursos naturais como na época, e por consequência da industrialização, os recursos estariam esgotados em 100 anos. E, como, segunda conclusão o crescimento econômico no mundo deveria ser freado. Forja-se, assim, o conceito de desenvolvimento sustentável

Neste mesmo ano de 1972, em consequências das repercussões do Clube de Roma e do relatório do MIT, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente que tinha entre seus principais objetivos manter o estado do meio ambiente global sob contínuo monitoramento; alertar povos e nações sobre problemas e ameaças ao meio ambiente e recomendar medidas para melhorar a qualidade de vida da população sem comprometer os recursos e serviços ambientais das gerações futuras. Esse programa foi lançado na (primeira) Conferência Mundial sobre Homem e o Meio ambiente – Estocolmo/ Suécia. Os principais temas tratados foram a chuva ácida e o controle da poluição do ar. E como conclusão chegou-se: “A proteção e a melhoria do ambiente é uma questão fundamental que afetava o bem-estar das pessoas e o desenvolvimento econômico em todo o mundo”. Mas essa elaboração não teve um eco uníssono. De um lado, os países desenvolvidos queriam diminuir as atividades mundiais da indústria por um determinado tempo para reduzir a poluição. De outro, os países subdesenvolvidos desejam continuar com a industrialização, matriz desenvolvimentista das economias e sinônimo de crescimento e bem-estar de suas populações.

O conceito de sustentabilidade ganha uma dimensão mais representativa e global com o “Relatório Brundtland2” denominado como “Nosso Futuro Comum” (1987) patrocinado pela ONU no qual se definiu mais explicitamente o conceito de desenvolvimento sustentável como aquele que satisfaz as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. Dessa forma, o Relatório Brundtland norteou discussões sobre um modelo de crescimento econômico menos consumista e mais em sintonia com as questões ambientais.

Vinte anos depois, exatamente em 1992, a ONU realiza a segunda Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento ocorrida na cidade do Rio de Janeiro/ Brasil, mais conhecida como ECO 92. Esse evento tentava conciliar o desenvolvimento social e econômico com a necessidade com a conservação e proteção do meio ambiente. O principal resultado desse encontro foi ao Plano de Ação – Agenda 21, um programa de ações para o desenvolvimento sustentável para o século 21 assinado por 179 países. Durante o evento foram aprovados também dois acordos importantes: a Convenção da Biodiversidade que tem como objetivo conservar a biodiversidade, fazer uso sustentável de seus componentes e dividir de forma justa os benefícios gerados com a utilização de recursos genéticos, e a Convenção sobre Mudanças Climáticas que serviu de base para o Protocolo de Kyoto de 1997, que colocou metas de redução de emissão de gases do efeito de estufa.

O Plano de Ação Agenda 21 tem como objetivo envolver e comprometer os países em ações instituições de governo no sentido de implementações de políticas para o desenvolvimento sustentável baseado no tripé ambiental, econômico e social. A Agenda 21 tem como orientação: 

  • Desenvolvimento de processos voltados para a conscientização da sociedade sobre os problemas ambientais e as definições sobre a relação desenvolvimento econômico e proteção e conservação ambiental;
  • Comprometimento com soluções envolvendo toda a sociedade, principalmente as empresas e/ou instituições produtivas nos 3 setores produtivos (primário, secundário e terciário);
  • Compatibilização dos planos de ações que expressem atenção as questões sociais, proteção ambiental e definição do conceito de desenvolvimento econômico sustentável; e
  • Envolvimento toda a sociedade nas discussões dos problemas e soluções no que tange desenvolvimento econômico e cuidado com o meio ambiente.

Em 2000 a ONU através da Cúpula do Milênio das Nações Unidas adotou a Declaração do Milênio definindo um conjunto de objetivos3 à serem alcançados em 2015. São eles:

  • Educação básica de qualidade para todos;
  • Igualdade entre sexos e valorização da mulher;
  • Redução da mortalidade infantil;
  • Melhora da saúde materna;
  • Combate a AIDS, malária, tuberculose, principalmente;
  • Garantia da sustentabilidade ambiental;
  • Estabelecimento de parcerias mundiais para o desenvolvimento.

Seguindo nossa trajetória histórica do movimento ambientalista mundial, em 2002, ocorreu a terceira Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável4 em Johannesburgo/ África do Sul, que ficou conhecida como “Rio + 10”. Esse encontro teve como objetivo rever as metas propostas pela Agenda 21 e trabalhar na implementação das ações propostas anteriormente.

Em 2012 ocorre a quarta Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a chamada “Rio + 20”, que teve como objetivo discutir sobre as renovações dos compromissos políticos ambientais anteriores e a discussão das bases do desenvolvimento sustentável. Nessa conferência também são discutidos os conceitos de:

  • segurança alimentar;
  • acesso à água;
  • uso da energia;
  • economia verde.

Um dos importantes conceitos trabalhados na conferência “Rio +20” (2012) “economia verde – EV” foi traduzida por um conjunto de orientações e processos produtivos (indústrias, comerciais, agrícolas e de serviços) que ao ser aplicado em um determinado local ou território gera nele um desenvolvimento sustentável sob os aspectos ambientais e social. Mais em detalhe, a EV tenta compatibilizar o desenvolvimento econômico com aspectos da igualdade racial, erradicação da pobreza e melhoria do bem-estar dos seres humanos e, principalmente, reduzindo os impactos ambientais negativos e a escassez ecológica. Para exemplificar mais esse conceito podemos observar suas principais características pretendidas:

  • uso racional de combustíveis fósseis com a redução substancial e progressiva desse complexo energético;
  • eficiência na utilização de recursos naturais, práticas e processos que visem a inclusão social e a erradicação da pobreza;
  • investimentos e valorização da agricultura sem agrotóxicos e fertilizantes químicos;
  • tratamento adequado do lixo com sistemas eficientes de reciclagem;
  • qualidade nos sistemas de mobilidade urbana com ênfase para soluções coletivas e públicas. 

Soma-se as estratégias da EV o conceito da emissão e sequestro de carbono (CO2). Esse conceito é originário da Conferência da ONU em Quioto/Japão em 1997.

As atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis, a utilização de calcário para produção do cimento, a pecuária bovina (emissão de gazes pelo processo de ruminação), as queimadas e os desmatamentos florestais são as principais causas do rápido aumento dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera contribuindo para o fenômeno do aquecimento global.

Nesse sentido várias estratégias foram criadas, até então, para a retirada desses excessos. Tais como:

  • reflorestamento;
  • plantio de árvores;
  • conservação de florestas;
  • redução da pecuária bovina;
  • cuidado ambiental;
  • diminuição das queimadas;
  • despoluição de rios, lagos, represas, mares e oceanos;
  • Dentre outras. 

E, finalmente, em 2015, a Assembleia Geral das Nações Unidas divulga o documento “Transformando o nosso mundo – Agenda 2030 – com os 17 objetivos e 169 metas de desenvolvimento sustentável”. São eles:

  1. Erradicação da pobreza;
  2. Fome zero; 
  3. Boa saúde e bem-estar;
  4. Educação de qualidade;
  5. Igualdade de gênero;
  6. Água limpa e saneamento;
  7. Energia acessível e limpa;
  8. Emprego digno e crescimento econômico; 
  9. Indústria, inovação e infraestrutura;
  10. Redução das desigualdades;
  11. Cidades e comunidades sustentáveis;
  12. Consumo e produção responsáveis;
  13. Combate às alterações climáticas;
  14. Vida de baixo d’água;
  15. Vida sobre a terra;
  16. Paz, justiça e instituições fortes;
  17. Parcerias em prol das metas.

Reação II – Da Economia da Comunhão, de Chiara Lubich, à Economia Solidária, de Paul Singer

Com certeza não é de hoje que se discute sobre o esgotamento das relações de produção baseada no confronto Capital X Trabalho.

Sem nos alongar em estudos históricos, sociológicos e políticos do gênero podemos buscar na Itália da 2ª Grande Guerra Mundial (1943) as fontes para uma maior humanização nas relações de produção do mundo capitalista. Nesse ano, na cidade de Trento, surgiu um movimento eclesial e civil denominado como Movimento dos Focolares que, um pouco mais tarde, denominou-se por Economia da Comunhão – EdC.

O significado focolare se traduz em lar, casa ou mesmo uma laleira que aquece uma casa. O Movimento Focolare fundamenta-se na espiritualidade católica da caridade, da solidariedade e da reconstrução das casas destruídas pelos bombardeios da 2ª Grande Guerra Mundial. Esse movimento foi fundado por Chiara Lubich que se estendeu para mais de 182 países e conta com mais de 5 milhões de membros, segundo a organização do movimento. 

Em 1991, esse Movimento, diante de análise de sua fundadora e das observações sobre a enorme desigualdade social dos países (Brasil, principalmente) que divide a sociedade entre pobreza concentrada na periferia e riqueza e alta concentração de renda, percebeu que este contraste inimaginável é inaceitável para a “fé cristã”. Cunha-se, então, a expressão “Economia da comunhão – EdC”. 

A Economia da Comunhão EdC propõe uma nova forma de gestão para as empresas inseridas no sistema capitalista. A proposta está em oferecer uma alternativa ao modelo capitalista selvagem de criação de riqueza para poucos e pobreza para muitos.

Com a EdC, pretende-se buscar a expansão econômica baseada no “empenho em crescer junto” e não na luta para prevalecer. Constitui-se em um esforço de integração entre a gestão de empresas e os princípios contidos em uma base religiosa para transformar o modelo econômico dominante, considerado excludente e socialmente injusto. Não se confunde, portanto, com um simples caso de filantropia ou de participação nos lucros.

O movimento opera também no sentido de estimular a passagem da economia e da sociedade, de uma cultura consumista do “ter” à “cultura do dar”, a qual, junto aos lucros, produz a liberdade do homem e a sua plena realização.

Ressalta-se, e ao mesmo tempo, alerta-se que não se trata apenas de colocar em comum moeda corrente para atingir os fins propostos, mas de criar empregos, investir os lucros das empresas em projetos de expansão, fornecer equipamentos ou serviços, colocar em comum a experiência adquirida e a capacidade gerencial. No movimento, entende-se que a partilha não é apenas de bens materiais, mas também de propósitos, de tempo e de capacidades.

No Brasil, mais propriamente no final dos anos 90 e início dos anos 2000 Paul Singer – professor economista da Universidade de São Paulo/USP lança um movimento denominado por Economia Solidária – EcoSol. Buscando beber da fonte do cooperativismo mundial e nacional, Singer apresenta, num conjunto de obras, as experiências brasileiras da construção de uma alternativa de economia em contraposição ao mundo capitalista.

O conceito de Ecosol define-se pelo conjunto de atividades econômicas – produção de bens e serviços, distribuição, consumo e finanças – organizados e realizados solidariamente por trabalhadores e trabalhadoras na forma coletiva e autogestionária.

A economia solidária possui as seguintes características: 

  • 1. Cooperação: existência de interesses e objetivos comuns, união de esforços e capacidades, propriedade coletiva de meios de produção, partilha de resultados e responsabilidade solidária. Está presente em diversos tipos de organizações coletivas: empresas autogestionárias ou recuperadas (assumidas por trabalhadores); associações comunitárias de produção; redes de produção, comercialização e consumo; grupos produtivos de segmentos específicos (mulheres, jovens, quilombolas, entre outros); clubes de trocas etc. 
  • 2. Autogestão: os/as participantes das organizações exercitam as práticas participativas nos processos de trabalho, nas definições estratégicas e cotidianas dos empreendimentos, na direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e interesses. Em um projeto autogestionário, apoios externos, de assistência técnica e gerencial, de capacitação e assessoria, não substituem e nem impedem o protagonismo dos verdadeiros sujeitos da ação. Todo conhecimento produzido por assistentes técnicos ou por trabalhadores/as deve ser disponibilizado para todos/as. 
  • 3. Dimensão econômica: é uma das bases de motivação da agregação de esforços e recursos pessoais e de outras organizações para produção, beneficiamento, crédito, comercialização e consumo. Envolve o conjunto de elementos de viabilidade econômica, permeados por critérios de eficácia e efetividade, ao lado dos aspectos culturais, ambientais e sociais.
  • 4. Solidariedade: o caráter de solidariedade nos empreendimentos é expresso em diferentes dimensões: na justa distribuição dos resultados alcançados; nas oportunidades que levam ao desenvolvimento de capacidades e na melhoria das condições de vida dos participantes; no compromisso com um meio ambiente saudável e com o desenvolvimento sustentável dos biomas; nas relações que se estabelecem com a comunidade local; na participação ativa nos processos de desenvolvimento sustentável de base territorial, regional e nacional; nas relações com os outros movimentos sociais e populares de caráter emancipatório; na preocupação com o bem estar dos trabalhadores/as e consumidores/as; e no respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.

Em 2003 Paul Singer assume a Secretaria Nacional de Economia Solidária – órgão de política pública do Ministério do Trabalho do governo federal. E, por 13 anos, até 2016, desenvolve um enorme e representativo conjunto de ações de fomento para o desenvolvimento e estruturação de empreendimentos de economia solidaria por todo o território nacional. Nesse período foram realizadas 3 conferências nacionais que definiram as estratégias de articulação dos empreendimentos, redes e cadeias produtivas sob os princípios da economia solidária. Cada conferência reunia mais de 3.500 participantes de todo o país. Mulheres, jovens, agricultura familiar, cooperativas populares, redes de apoio, redes territoriais de produção e logística, bancos comunitários, quilombolas, comunidades indígenas fizeram se presentes num movimento que articulava a defesa pela construção de uma nova economia e de uma nova organização dos processos de inclusão produtiva baseados na geração autônoma de trabalho e renda nos territórios. Em 2015 foram registrados mais de 19.700 empreendimentos de economia solidária espalhados por todo o território nacional. 

É muito importante ressaltar que as experiências apresentados por Singer tiveram forte apoio dos projetos de inclusão produtiva gestados pela Cáritas Brasileira – órgão da Igreja Católica – de 2006 a 2010. Esses projetos eram voltados para o desenvolvimento local, fortalecimento comunitário e a geração de trabalho e renda por meio dos princípios nascentes da economia solidária. Foi um projeto nacional articulados por entidades parceiras. Tais como: Associação de Apoio às Comunidades do RN/Natal; Associação de Desenvolvimento Solidário e Sustentável de Marituba – Pará; Associação do Voluntariado e da Solidariedade – Porto Alegre/RS; Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Guayí – Democracia, Participação e Solidariedade Porto Alegre/RS; Instituo de Tecnologia para o Agronegócio e Meio Ambiente Amazônico – Manaus/Amazonas; Unisol – Central de Cooperativas e Empreendimentos de Economia Solidária – São Bernardo do Campo/SP e Via do Trabalho – Recife/PE. 

Essas entidades desenvolveram os seguintes temas: 

  • Etnodesenvolvimento – uma perspectiva sustentável dos povos e comunidades tradicionais baseada no reconhecimento e fortalecimento das potencialidades locais. Reconhece os direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais dessas populações e valoriza suas identidades étnicas; 
  • Economia Feminista – compreende que a Economia Solidária incorpora as relações de gênero na compreensão do pensamento econômico. Destaca as relações da divisão sexual do mundo da produção e desenvolve articulações e lutas para o empoderamento da mulher no mundo do trabalho e da sociedade como um todo; e
  • Desenvolvimento Solidário Sustentável – princípio fundamental da compreensão do que seja a base política da Economia Solidária. Esse princípio tem como sustentação a construção de uma nova e moderna relação social não mais baseado na organização produtiva pelo Capital e sim sob o princípio do trabalho. 

A Economia Solidária é um processo endógeno de mobilização das forças sociais e das potencialidades econômicas locais com a finalidade de implementação de mudanças que proporcionem a elevação das condições de vida da população local, em harmonia com o meio ambiente e com a participação ativa e solidária da sociedade na autogestão do seu desenvolvimento.” 

Ademar Bertucci – Cáritas Brasileira. 2010.

Reação III – Novas formas de criar, produzir e participar na perspectiva do conhecimento e da sustentabilidade

Também no início dos anos 2000, mais precisamente em 2001 através do autor inglês John Howkins em sua publicação “The Creative Economy” – A Economia Criativa apresenta o conceito onde a relação entre criatividade e capital intelectual é a base para a criação, produção e distribuição de bens e serviços. Define que o processo de produção é tão importante como o produto final. A cadeia produtiva acredita que o conhecimento é capaz de produzir riqueza, gerar empregos e distribuir renda. 

A economia criativa promove a diversificação econômica, de receitas, de comércio e inovação, e pode se relacionar, de forma simbiótica, com as novas tecnologias, notadamente as tecnologias de informação e comunicação. Iniciativas baseadas na abordagem de economia criativa podem promover a revitalização de áreas urbanas degradadas, ou mesmo o desenvolvimento de áreas rurais com herança de patrimônio cultural.”

IPEA, 2013

O modelo da Economia Criativa tem como estrutura 5 Cs:

  • Capital humano;
  • Capital cultural;
  • Capital institucional;
  • Capital social;
  • Criatividade como a manifestação máxima desse processo.

Esse modelo foi criado pelo Centro para Pesquisa de Política Cultural, da universidade de Hong Kong. Na realidade, trata-se de um modelo com 32 indicadores relacionados com a cultura e agrupados em cinco pilares da criatividade:

  • capital humano;
  • tecnologia;
  • ambiente institucional;
  • ambiente social;
  • abertura;
  • diversidade.

O objetivo de tal índice seria destacar o potencial da inclusão de indicadores baseados em cultura em quadros existentes relacionados à criatividade, à inovação e ao desenvolvimento socioeconômico com vista a avaliar o desempenho criativo e facilitar a criação de políticas públicas. Basicamente a criatividade é o uso de ideias para produzir novas ideias.

(Ipea, 2013).

Em 2010 surge um outro conceito de economia apresentado pelos estudos da Fundação Ellen MacArthur5(Inglaterra) surge o conceito da “Economia Circular – EC”, regenerativa e restaurativa. Seu objetivo é criar estruturas produtivas e produtos, componentes e materiais que possam ser utilizados o tempo todo – produção e consumo orientados para a reciclagem sistêmica dos diversos produtos que utilizamos no cotidiano. Desde a concepção, consumo e descarte correto para sua reutilização permanente. Com isso, haveria, por hipótese, uma considerável redução dos recursos naturais nos processos produtivos. 

A EC consiste em um ciclo de desenvolvimento contínuo que preserva e aprimora o capital natural, otimiza a produção de recursos e minimiza riscos sistêmicos administrando estoques finitos e fluxos renováveis, oferecendo diversos mecanismos de criação de valor dissociado do consumo dos recursos finitos. Os recursos devem ser regenerados biologicamente ou recuperados nos novos ciclos produtivos. Tem, basicamente, três princípios:

  • (i) preservar e aumentar o capital natural, controlando estoques finitos e equilibrando os fluxos de recursos renováveis;
  • (ii) otimizar a produção de recursos, fazendo circular produtos, componentes e materiais no mais alto nível de utilidade o tempo todo, através de projetos elaborados pensando na remanufatura, na reforma e na reciclagem, de modo que componentes e materiais continuem circulando e contribuindo para a economia;
  • (iii) fomentar a eficácia do sistema, revelando as externalidades negativas e excluindo-as dos projetos, reduzindo danos a produtos e serviços.

Reação IV – Laudato Si – Sobre o cuidado da casa comum. 

Em 24 de maio de 2015 o papa Francisco lança sua segunda Encíclica – “Laudato si‘”. Encíclica é uma carta, uma comunicação, um documento de orientação a comunidade católica mundial sobre determinados posicionamentos, opinião, esclarecimento. E, principalmente, um convite para uma reflexão sobre determinado problema em que a sociedade mundial vive contemporaneamente. Assim, papa Francisco, lança a “Laudato Si‘” como um convite à reflexão sobre os problemas ambientais que afligem todo o planeta e propõe uma nova forma de entender a dimensão econômico-financeira e produtiva das nações e suas consequências para com o meio ambiente.

A “Laudato si’” traz consigo uma concepção de “ecologia integral”. O ser humano não está dissociado da terra ou da natureza, ele faz parte de um mesmo todo. Portanto, destruir a natureza significa destruir o próprio homem.

Papa Francisco considera, em sua encíclica, que os atuais padrões de produção e consumo são insustentáveis que resultam numa clara e inequívoca degradação das relações humanas e ambientais. Isto é, a continuar com os atuais padrões de produção e consumo com base na utilização maciça dos recursos naturais estamos destruindo nossas relações e nossa casa que é única.

Já na primeira parte do documento Nada deste mundo nos é indiferente observa que a Igreja Católica sempre esteve preocupada com os problemas do mundo e reage a elas. Relembra as mensagens do papa João XXIII quanto a paz – “Pacem in terris” (1963). Oito anos depois papa Paulo VI já alertava sobre o problema da exploração da natureza e que o ser humano começava a correr riscos de a destruir e ser destruído. E, sublinha a necessidade de se evitar uma catástrofe ecológica sob os efeitos da civilização industrial sem limites. Papa João Paulo II também alertava e advertiu que o ser humano parece “não dar conta de outros significados do seu ambiente natural, para além daqueles que servem somente para os fins de uso ou consumo imediato”. E, bem mais recentemente o papa Bento XVI renova todas essas outras mensagens (alertas) fazendo um convite para “eliminar as causas estruturais das disfunções da economia mundial e corrigir os modelos de crescimento que a parecem incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente”.

Na segunda parte da introdução do documento escreve Unidos por uma preocupação comum” ressaltando:

Estas contribuições dos Papas recolhem a reflexão de inúmeros cientistas, filósofos, teólogos e organizações sociais que enriqueceram o pensamento da Igreja sobre estas questões. Mas não podemos ignorar que, também fora da Igreja Católica, noutras Igrejas e Comunidades cristãs – bem como noutras religiões – se tem desenvolvido uma profunda preocupação e uma reflexão valiosa sobre estes temas que a todos nos estão a peito…”

Terminando a parte introdutória – O meu apelo

O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos, nos mais variados sectores da atividade humana, estão a trabalhar para garantir a proteção da casa que partilhamos. Uma especial gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor, por resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo. Os jovens exigem de nós uma mudança; interrogam-se como se pode pretender construir um futuro melhor, sem pensar na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos”.

Continuando com o documento do papa Francisco, no Capítulo I – O que está a acontecer à nossa casa – observa um conjunto de reflexões sobre as consequências da poluição, das mudanças climáticas, a questão da água, a perda da biodiversidade, deterioração da qualidade de vida humana e a degradação social, da desigualdade planetária, da fragilidade das reações e da diversidade de opiniões.

No Capítulo III – A raiz humana da crise ecológica – aborda os efeitos da tecnologia que se bem orientada pode trazer benefícios e soluções para a maioria dos problemas ambientais do nosso planeta. Mas, com outra orientação a tecnologia somente serve ao agravamento da centralização do poder para poucos e ampliação da miséria para muitos. Essencialmente a tecnologia não pode destruir o trabalho – uma das fontes de liberdade e desenvolvimento humano.

Uma ecologia Integral” é o título do Capítulo IV. E no item 1 – Ecologia ambiental, econômica e social define:

A ecologia estuda as relações entre os organismos vivos e o meio ambiente onde se desenvolvem. E isto exige sentar-se a pensar e discutir acerca das condições de vida e de sobrevivência duma sociedade, com a honestidade de pôr em questão modelos de desenvolvimento, produção e consumo. Nunca é demais insistir que tudo está interligado. O tempo e o espaço não são independentes entre si; nem os próprios átomos ou as partículas subatómicas se podem considerar separadamente. Assim como os vários componentes do planeta – físicos, químicos e biológicos – estão relacionados entre si, assim também as espécies vivas formam uma trama que nunca acabaremos de individuar e compreender. Boa parte da nossa informação genética é partilhada com muitos seres vivos. Por isso, os conhecimentos fragmentários e isolados podem tornar-se uma forma de ignorância, quando resistem a integrar-se numa visão mais ampla da realidade.”

E um pouco mais à frente introduz o conceito de da ecologia econômica, assim definida:

… o crescimento económico tende a gerar automatismos e a homogeneizar, a fim de simplificar os processos e reduzir os custos. Por isso, é necessária uma ecologia económica, capaz de induzir a considerar a realidade de forma mais ampla. Com efeito, «a proteção do meio ambiente deverá constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e não poderá ser considerada isoladamente». Mas, ao mesmo tempo, torna-se atual a necessidade imperiosa do humanismo, que faz apelo aos distintos saberes, incluindo o económico, para uma visão mais integral e integradora. Hoje, a análise dos problemas ambientais é inseparável da análise dos contextos humanos, familiares, laborais, urbanos, e da relação de cada pessoa consigo mesma, que gera um modo específico de se relacionar com os outros e com o meio ambiente. Há uma interação entre os ecossistemas e entre os diferentes mundos de referência social e, assim, se demonstra mais uma vez que «o todo é superior à parte.”

No Capítulo V – apresenta “Algumas linhas de orientação e ação”. São elas: 

  1. O diálogo sobre o meio ambiente na política institucional;
  2. O diálogo para nova políticas nacionais e locais;
  3. O diálogo e transparência nos processos decisórios;
  4. Política e economia em diálogo para a plenitude humana; e
  5. As religiões no diálogo com as ciências.

No Capítulo VI – “Educação e espiritualidade ecológica”, mais especificamente no Item 1. Apontar para outro estilo de vida tece comentários sobre a necessidade urgente de se repensar os mecanismos do consumismo compulsivo ou obsessivo como reflexo de um sistema que parece obrigar as pessoas a simplesmente consumir sem avaliar as consequências para si, para os outros e, principalmente, para com a natureza. 

Dado que o mercado tende a criar um mecanismo consumista compulsivo para vender os seus produtos, as pessoas acabam por ser arrastadas pelo turbilhão das compras e gastos supérfluos. O consumismo obsessivo é o reflexo subjetivo do paradigma tecno-económico. Está a acontecer aquilo que já assinalava Romano Guardini: o ser humano «aceita os objetos comuns e as formas habituais da vida como lhe são impostos pelos planos nacionais e pelos produtos fabricados em série e, em geral, age assim com a impressão de que tudo isto seja razoável e justo». O referido paradigma faz crer a todos que são livres pois conservam uma suposta liberdade de consumir, quando na realidade apenas possui a liberdade a minoria que detém o poder económico e financeiro. Nesta confusão, a humanidade pós-moderna não encontrou uma nova compreensão de si mesma que a possa orientar, e esta falta de identidade é vivida com angústia. Temos demasiados meios para escassos e raquíticos fins.”

E, finalmente, nos últimos parágrafos observa que a “conversão ecológica” será fruto da nova consciência da necessidade de se entender que somos responsáveis por tudo que criamos e fazemos para com a natureza. E, para tanto, a educação ambiental baseada na aliança entre os conceitos de humanidade, ambiente e economia é a “chave” para a salvação da humanidade. 

A educação ambiental deveria predispor-nos para dar este salto para o Mistério, do qual uma ética ecológica recebe o seu sentido mais profundo. Além disso, há educadores capazes de reordenar os itinerários pedagógicos duma ética ecológica, de modo que ajudem efetivamente a crescer na solidariedade, na responsabilidade e no cuidado assente na compaixão.”

O recado está dado e o convite está feito. Cabe à nos fazer por acontecer. Mobilizar mentes e corações no sentido da preservação de nosso planeta, nossa casa e de nossa civilização. Uma outra economia, uma outra sociedade, um outro ser humano desponta em reação ao processo destruidor que o sistema produtivo atual, baseado no lucro pelo lucro, que só beneficia uns poucos em detrimento de todos. Basta! 

Referências:

ARAUJO, T. D.; QUEIROZ, A.A.F.S.L. Economia Circular: Breve panorama da produção científica entre 2007 e 2017. XIX ENGEMA. São Paulo – SP. 2017.

OLIVEIRA, J.M.; ARAUJO B.C.; SILVA, L. V. Panorama da economia criativa no Brasil. Textos para discussão. IPEA Rio de Janeiro – RJ. 2013.

SANTOS, H. B. A economia da comunhão como uma nova forma de gestão: Impactos no sentido do trabalho. XXXI ANPAD. Rio de Janeiro- RJ.2007

SENAES. Ministério do Trabalho e Emprego. Termos de Referência da Política Nacional de Economia Solidária. Brasília DF. 2013.

SINGER. P. Introdução a Economia Solidária. Editora Perseu Abramo. São Paulo – SP 2002

________. A economia Solidária no Brasil. Editora Contexto. São Paulo – SP 2000

VATICANO. Carta Encíclica Laudato Si’ do Santo Padre Francisco sobre o cuidado da Casa Comum. Roma. 2015.

Notas:

1 Historicamente podemos dividir o sistema produtivo capitalista em 3 grandes períodos: I Revolução Industrial de 1780 a 1890 (Inglaterra) – Indústria Têxtil, Metalúrgica, Energia a Vapor e as estradas de ferro; II Revolução Industrial de 1890 a 1980 (EUA, Alemanha, França e Itália) – Indústria automobilística, energia elétrica, indústria química pesada (petróleo); e a III Revolução Industrial de 1980 a 2000 (Japão) – indústria eletroeletrônica, informática, comunicação on line, automação e início da robotização. 

2 O “Relatório Brundtland” foi produzido pela Primeira Ministra da Noruega – Gro Harlem Brundtland e foi presidente da Comissão para o Meio Ambiente da ONU. 

3 Juntamente com os Objetivos do Milênio foi apresentada uma nova metodologia para calcular o grau de desenvolvimento das nações – IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. 

4 Essa conferência da ONU também foi denominada por Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável.

5 Fundação Ellen MacArthur é uma instituição de caridade registrada na instituição de caridade registrada no Reino Unido, que tem como objetivo inspirar uma geração a repensar, redesenhar e construir um futuro positivo através da estrutura de uma economia circular. Foi criada em 2009 por Ellen MacArthur, Philip Sellwood e Peter Morgan.

Sobre o autor:

Claudio Nascimento

Educador popular do Instituto IDHES, especializado por Economia solidária

Fonte:

www.ecofranbr.org

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Economia de Francisco: por uma economia a serviço do bem comum, com a palavra o prof. Ladislau Dowbor https://observatoriodaevangelizacao.com/economia-de-francisco-por-uma-economia-a-servico-do-bem-comum/ Wed, 20 Nov 2019 10:00:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=33297 [Leia mais...]]]>

Buscamos uma economia que seja a serviço do bem comum, o que implica que seja economicamente viável, mas também socialmente justa e ambientalmente sustentável. Este triplo objetivo define um novo equilíbrio e uma outra forma de organização. 

O desafio não é o de falta de recursos. No mundo se produz anualmente 80 trilhões de bens e serviços por ano, o que, razoavelmente distribuído, asseguraria 3500 dólares por mês por família de quatro pessoas. O Brasil esta precisamente nesta média mundial. Nosso problema não é de capacidade de produção, e sim de saber o que produzimos, para quem, e com que impactos ambientais. O grande desafio é o da governança do sistema. 

O mundo que enfrentamos se caracteriza por crescente e dramática desigualdade, com 1% detendo mais riqueza do que os 99% seguintes, e 26 famílias com mais do que a metade mais pobre da população, 3,8 bilhões de pessoas. No Brasil 6 famílias acumularam mais riqueza do que os 105 milhões na base da pirâmide. A desigualdade atingiu níveis eticamente, politicamente e economicamente insustentáveis. 

A mudança climática, a liquidação da vida nos mares e em terra – perdemos 52% dos vertebrados em apenas 40 anos – a perda de cobertura florestal, a contaminação química generalizada, a inundação dos plásticos e tantos outros processos destrutivos estão levando a uma catástrofe ambiental generalizada. 

Temos, portanto, de enfrentar o duplo desafio da redução da desigualdade, portanto de uma democratização da economia, e da redução do ritmo de destruição da base natural da nossa sobrevivência, evoluindo para uma economia circular sustentável.

Sabemos o que deve ser feito: os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (Agenda 2030) o definem claramente. Temos os recursos financeiros: apenas nos paraísos fiscais, os 20 trilhões de dólares que resultam de evasão fiscal, corrupção e lavagem de dinheiro, representam 200 vezes os 100 bilhões que na Conferência de 2015 em Paris se decidiu alocar para as políticas ambientais. Temos grande riqueza de informações sobre cada problema do planeta, os dramas estão localizados e quantificados. E temos também as tecnologias que hoje permitem transitarmos para outras matrizes de transporte, de energia, e dos proprios processos produtivos. Não é, portanto, por falta de meios, e sim pelas profundas deformações políticas de como gerimos as nossas economias. 

Assim, o desafio está no próprio processo decisório, em como definimos, regulamos e orientamos o uso dos nossos recursos. A economia tem de voltar a servir o bem comum. No seminário que nos propomos realizar, não se trata de elencar as nossas desgraças, mas de nos concentrarmos nos desafios organizacionais, de governança, que permitam resgatar os rumos, de parar de destruir o planeta em proveito de uma minoria que acumula capitais improdutivos. 

Os pontos essenciais a discutir seriam os seguintes:

  1. Democracia econômica: trata-se de resgatar a governança corporativa, sistemas transparentes de informação, e de gerar maior equilíbrio entre o Estado, as corporações e as organizações da sociedade civil. Não haverá democracia política sem democracia econômica. 
  2. Democracia participativa: os processos decisórios sobre como definimos as nossas opções, como priorizamos o uso dos nossos recursos, não podem depender apenas de um voto a cada dois ou a cada quatro anos. Com sistemas adequados de informação, gestão descentralizada e ampla participação da sociedade civil organizada precisamos alcançar um outro nível de racionalidade na organização econômica e social. As novas tecnologias abrem imensos potenciais que se trata de explorar. 
  3. Taxação dos fluxos financeiros: essencial para assegurar a informação sobre os capitais especulativos, e para que os recursos financeiros sirvam para financiar tanto a redução da desigualdade como para estimular processos produtivos sustentáveis. Na realidade os sistemas tributários no seu conjunto devem servir ao maior equilíbrio distributivo e à produtividade maior dos recursos.
  4. Renda básica universal: no quadro de uma visão geral de que algumas coisas não podem faltar a ninguém, uma forma simples e direta, em particular com as técnicas modernas de transferência, é assegurar um mínimo para cada família. Não se trata de custos, pois a dinamização do consumo simples na base da sociedade dinamiza a economia. 
  5. Políticas sociais de acesso universal, público e gratuito: o acesso à saúde, educação, cultura, segurança, habitação e outros itens básicos de sobrevivência devem fazer parte das prioridades absolutas. Não se trata de custos, e sim de investimentos nas pessoas, que dinamizam a produtividade e liberam recursos das famílias para outras formas de consumo. 
  6. Desenvolvimento local integrado: somos populações hoje essencialmente urbanizadas, e o essencial das políticas que asseguram o bem-estar da comunidade e o manejo sustentável dos recursos naturais deve ter raízes em cada município, construindo assim o equilíbrio econômico, social e ambiental na própria base da sociedade.
  7. Sistemas financeiros como serviço público: o dinheiro que manejam os sistemas financeiros tem origem nas nossas poupanças e impostos, constituem recursos do público, e neste sentido devem responder às necessidades do desenvolvimento sustentável. Bancos públicos, bancos comunitários, cooperativas de crédito e outras soluções, como moedas virtuais diversificadas, são essenciais para que as nossas opções tenham os recursos correspondentes. 
  8. Economia do conhecimento: o conhecimento hoje constitui o principal fator de produção. Sendo imaterial, e indefinidamente reproduzível, podemos gerar uma sociedade não só devidamente informada, mas com acesso universal e gratuito aos avanços tecnológicos mais avançados. Temos de rever o conjunto das políticas de patentes, copyright, royalties de diversos tipos que travam desnecessariamente o acesso aos avanços. O conhecimento é um fator de produção cujo uso, contrariamente aos bens materiais, não reduze o estoque. 
  9. Democratização dos meios de comunicação: os recentes avanços do populismo de direita e a erosão dos processos democráticos mostram a que ponto o oligopólio dos meios de comunicação gera deformações insustentáveis, climas de acerbamento de divisões e aprofundamento de ódios e preconceitos. Uma sociedade informada é absolutamente essencial para o próprio funcionamento de uma economia a serviço do bem comum. 
  10. Pedagogia da economia: a economia consiste essencialmente em regras do jogo pactuadas pela sociedade ou impostas por grupos de interesse. A democracia econômica depende vitalmente da compreensão generalizada dos mecanismos e das regras. Os currículos obscuros e falsamente científicos têm de ser substituídos por ferramentas de análise do mundo econômico real, de maneira a formar gestores competentes de uma economia voltada para o bem comum. 

Fonte:

www.ecofranbr.org.br

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Encontro Nacional da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco https://observatoriodaevangelizacao.com/encontro-nacional-da-articulacao-brasileira-pela-economia-de-francisco/ Tue, 19 Nov 2019 18:42:55 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=33292 [Leia mais...]]]> Articulação Brasileira pela Economia de Francisco -ABEF

Quem Somos 

Prezados, paz e bem!!!

Somos a Articulação Brasileira para a Economia de Francisco (ABEF), criada a partir do diálogo construído com José Maria de Corral, presidente da Fundação de Direito Pontifício Scholas Ocurrentes, em julho deste ano, a fim de ecoar no Brasil o Encontro Global por uma nova Economia, proposto pelo Papa Francisco chamado Economia de Francisco, que ocorrerá de 26 a 28 de março de 2020, em Assis, Itália.

Nestes últimos meses, temos atraído jovens, ativistas de movimentos populares, intelectuais, economistas e das ciências humanas, e sobretudo, pastorais e organismos ecumênicos nesta articulação. O Papa Francisco possui uma liderança global fenomenal, capaz de reunir diversas forças sociais, outrora dispersas e enfraquecidas, na discussão das raízes da desigualdade e no combate às mesmas. Aderimos a esta luta!

18-19/novembro de 2019: Encontro Nacional 

A ABEF, Articulação Brasileira para a Economia de Francisco, atendendo ao chamamento do papa Francisco, está empenhada em reunir as forças dos movimentos sociais, atualmente desarticuladas, para o enfrentamento da atual conjuntura sócio-político-econômica. Estamos no trabalho de conectar as várias experiências existentes no Brasil, que tem mostrado sucesso em geração de renda e produção sustentável e que podem ser a alternativa bastante viável para o combate da desigualdade cada vez mais acirrada. 

Para tanto, estamos realizando um Encontro Nacional para a Economia de Francisco, nos dias 18 e 19 de novembro de 2019, na PUC-SP. 

O Encontro almeja, em pleno auge dos governos neoliberais e autoritários vigentes em nível nacional e internacional, construir uma ponte das práticas e iniciativas que o Brasil possuí sobre alternativas econômicas, de gestão e autogestão e os apontamentos para crítica à economia política.

O Encontro reune representantes no congresso em Assis, Itália, onde também poderemos encaminhar uma carta firmando os apontamentos do Brasil para a Economia de Francisco. A ABEF pretende também organizar uma delegação para ir a Assis construir um debate e incidências das perspectivas almejadas no país.

A programação do Encontro é composta por mesas e rodas de conversas com o objetivo de provocar reflexões, compartilhar e cartografar experiências, além de sistematizar diretrizes a partir do acúmulo das iniciativas brasileiras para a proposta da Economia de Francisco.

  • Confira aqui a programação
  • Veja as ementas dos temas das rodas de conversa e escolha a delas para participar e contribuir para a construção do documento final.
  • Leia os textos de referência para o encontro.
  • Organize o debate entre suas redes e parceiros institucionais localmente. Acesse as orientações e colabore com o documento final da Carta Brasileira para o Encontro Global de Economia de Francisco.

Participe e divulgue o chamado do papa Francisco que nos convoca a desenhar uma nova economia ou alternativas econômicas ao capitalismo neoliberal.

Local: TUCARENA – PUC SP
Endereço: R. Monte Alegre, 1024 – Perdizes, São Paulo

Juntos por uma nova economia!

Articulação Brasileira para a Economia de Francisco

1º Dia do Encontro Nacional – A Economia de Francisco:

2º Dia do Encontro Nacional – A Economia de Francisco:

Fonte:

www.econfrabr.org.br

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Economia de Francisco: mais de 500 pedidos para participar do evento em março de 2020, em Assis https://observatoriodaevangelizacao.com/economia-de-francisco-mais-de-500-pedidos-para-participar-do-evento-em-marco-de-2020-em-assis/ Wed, 13 Nov 2019 12:54:42 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=33184 [Leia mais...]]]> Jovens economistas, empresários, doutorandos e pesquisadores de até 35 anos vão se reunir por três dias em Assis, cidade da região da Úmbria, na Itália, em março de 2020, para tratar de uma economia que inclui e não exclui. O evento intitulado “Economia de Francisco. Os jovens, um pacto, o futuro”, de 26 a 28 de março, já recebeu a adesão de de 500 mil inscritos. Segundo o VaticanNews, os pedidos chegaram de mais de 45 países entre os quais, Brasil, Angola, Portugal, Cuba, Japão, Arábia Saudita e Estados Unidos. O site do evento: www.francescoeconomy.org já alcançou 2 mil inscritos.

A economia e o desejo de Francisco

A iniciativa – de fazer um pacto com os jovens para uma economia diferente – foi lançada ainda em maio, com a publicação da carta de apelo do Papa Francisco dirigida ao grupo de jovens empreendedores do mundo. No texto, o Pontífice pede aos jovens para “juntos se conhecerem” e, depois, “fazerem um ‘pacto’ para mudar a economia atual e dar uma alma à economia de amanhã”. O Papa, inclusive, deverá participar durante um dia do evento em Assis e, provavelmente, na conclusão dos trabalhos, no dia 28 de março. Confirmando a sua participação, seria a quarta vez de Francisco em Assis. Ao evento em Assis, já confirmaram presença personalidades como Muhammad Yunus, economista bengalês e Prêmio Nobel da Paz de 2006; Amartya Sen, Prêmio Nobel da Economia de 1998; e Carlo Petrini, sociólogo e ativista italiano, fundador da Associação Slow Food.

Trabalhos que antecedem evento internacional

Em preparação ao encontro internacional em Assis, os jovens irão realizar workshops, laboratórios, seminários de estudos e conferências nas suas próprias realidades para fazer emergir o pensamento e o novo agir econômico. As iniciativas, em diferentes partes do mundo, podem ser comunicadas ao site oficial do evento para serem inseridas na programação, como já constam as ações na Itália, na Espanha e em Camarões. Todas as informações e novidades serão disponibilizadas no site e nos canais sociais oficiais do evento no Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e Flickr. No site oficial, ainda é possível solicitar bolsa de estudos para favorecer jovens da África e Ásia; e fazer doações simples ou se tornar parceiro para facilitar a participação de jovens provenientes de áreas ou situações vulneráveis.

Dom Joaquim Mol. Fotos: Camilla Moreira – Observatório da Evangelização

Preparação começa no Brasil

No Brasil, um seminário esperançoso, esclarecedor e inspirador foi realizado na noite dessa segunda-feira, 11 de novembro de 2019, no auditório do Museu da PUC Minas, em Belo Horizonte, sobre a Economia de Francisco. Dezenas de pessoas participaram, entre elas, alunos, religiosos e religiosas, leigos e leigas da Igreja, pastoralistas, professores, padres, seminaristas, funcionários, coordenadores de Institutos, chefes de departamentos da Universidade e demais interessados. Também marcou presença o vice-prefeito de Belo Horizonte, Paulo Lamac.

Pensando na perspectiva de uma economia para o bem comum, dom Joaquim Mol, bispo auxiliar da Arquidiocese de BH e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil participou de uma mesa redonda do seminário. Com ele também participaram da mesa os professores Armindo dos Santos de Sousa Teodósio e Vander Luiz Aguiar, ambos do Instituto de Ciências Econômicas da PUC Minas(ICEG).

O evento promovido pelo Sistema Avançado de Formação ANIMA PUC Minas, em parceria com o ICEG, apresentou uma possível reflexão: “Será que a economia nos dias atuais é integral?”, a partir desse questionamento dom Joaquim Mol deu início à Mesa Redonda acolhendo a todos que estavam presentes no auditório. Ele falou sobre o evento que acontecerá em março de 2020 em Assis, na Itália, a pedido do Papa Francisco.

O bispo mencionou os três jovens que vão representar a PUC Minas no evento na Itália, junto ao papa Francisco, levando a ideia de projetos para uma economia sustentável, social e solidária e que já se tornou realidade em Belo Horizonte e Região Metropolitana. Segundo dom Joaquim na Doutrina Social da Igreja a economia é pensada de maneira integral, com humanismo, lembrando sempre da instância da ética e da moral. “O que for contrário a isso se torna sinônimo de uma economia que mata”, afirmou.

Após a Mesa Redonda, foi aberto um espaço para os três alunos que vão para Assis, na Itália, representar a PUC Minas. Cada um deles falou brevemente sobre seu projeto. Na ocasião também participaram representantes da comunidade indígena Pataxós, situada próximo à cidade de Brumadinho, aldeia que foi fortemente prejudicada pelos rejeitos de minério da empresa Vale, com o rompimento da barragem do Córrego do Feijão no início deste ano.

Os chefes da aldeia fizeram breves depoimentos sobre o desmatamento da região onde moram, além de declararem a difícil inserção social quando há, em uma sociedade capitalista, forte preconceito aos indígenas, desvalorização de suas culturas e artesanatos, frutos de suas rendas.

Dia 18 e 19 de novembro acontece outro encontro importante

Mais de 300 pessoas de todo o País vão participar nos próximos dias 18 e 19 de novembro, em São Paulo, do Encontro Nacional para a Economia de Francisco. O objetivo é reunir intelectuais, estudantes e jovens, movimentos sociais e ativistas das várias experiências do Brasil em geração de renda e produção sustentável como alternativas à economia geradora de desigualdades e delapidadora da natureza. As atividades acontecem no Tucarena, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

O evento é organizado pela Articulação Brasileira para a Economia de Francisco(Abef) que representa 35 entidades, com o Instituto Casa Comum (ICC) e a PUC-SP.

Na programação brasileira, serão realizados mesas, painéis e rodas de conversa, como espaços de reflexões, compartilhamentos e troca de experiências, além de sistematizar diretrizes a partir do acúmulo das iniciativas brasileiras para a proposta da Economia de Francisco.

A abertura, marcada para às 14h, receberá o sociólogo Michael Löwy, diretor de pesquisas do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique) da França, a sacerdotisa Mãe Eleonora, do terreiro Ilê Ase Omo Oya Bagan Odé Ibô e Coordenadora do Ponto de Cultura Caminhos, e Dennis de Oliveira, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e da Rede Quilombação.

Para os debates do 2º dia de evento (19/11), estão marcados painéis de boas práticas que apresentarão as experiências brasileiras de entidades como a Unicopas (União Nacional de Organizações Cooperativas Solidárias), Articulação Nacional de Agroecologia, Fórum Estadual de Orçamento Participativo, entre outras.

Já as seis rodas de conversa, que acontecem nos dois dias, os temas debatidos serão: Economia, Finanças, Desenvolvimento, Educação, Redes e Formas de Organização. A ideia é refletir sobre uma nova economia possível para o enfrentamento da atual conjuntura sócio-político-econômico.

Como resultado, a Articulação Brasileira deve preparar uma delegação para a atividade mundial do ano que vem, além de levar modelos alternativos e experiências de economia do país por meio da Carta Brasileira para a Economia de Francisco.


Entidades podem realizar encontros locais ou regionais com o tema

A Articulação Brasileira para a Economia de Francisco (Abef) recebe até 15 de janeiro de 2020 contribuições com propostas dentro dos três grandes eixos de discussão mundial, sugeridos pelo papa Francisco: bases de uma economia inclusiva, marcada pela ética, justiça social e humanismo; experiências concretas de uma nova economia; e mudanças dos currículos das faculdades de economia.

As propostas podem ser advindas de eventos locais ou regionais, com a mobilização de entidades que tenham modelos econômicos que superem às desigualdades atuais e tenham produções sustentáveis alternativas, de gestão e autogestão, e os apontamentos para crítica à economia política.

Os textos de referência, base das discussões brasileiras, estão no site da Articulação Brasileira.

Com informações do VaticanNews, da CNBB, do IHU e de Janaína Gonçalves da ANIMA PUC Minas

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Economia de Francisco – Seminário PUC Minas https://observatoriodaevangelizacao.com/economia-de-francisco-seminario-puc-minas/ Tue, 12 Nov 2019 16:10:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=33149 [Leia mais...]]]> Um Seminário esperançoso, esclarecedor e inspirador! Assim ficou marcado o encontro na noite dessa segunda-feira, 11 de novembro, no auditório do Museu da PUC Minas, em BH, sobre a Economia de Francisco. Dezenas de pessoas participaram, entre elas, alunos, religiosos e religiosas, leigos e leigas da Igreja, pastoralistas, professores, padres, seminaristas, funcionários, coordenadores de Institutos, chefes de departamentos da Universidade e demais interessados. Também marcou presença o vice-prefeito de Belo Horizonte, Paulo Lamac.

Atendendo à realidade social e na perspectiva de uma economia para o bem comum, dom Joaquim Mol, reitor da PUC Minas, bispo auxiliar da Arquidiocese de BH, referencial da Região Nossa Senhora da Esperança (RENSE) e coordenador do Observatório da Evangelização, esteve presente na mesa redonda do Seminário Economia de Francisco. Com ele também participaram da mesa os professores Armindo dos Santos de Sousa Teodósio e Vander Luiz Aguiar, ambos do Instituto de Ciências Econômicas da PUC Minas (ICEG).

O evento promovido pelo Sistema Avançado de Formação ANIMA PUC Minas, em parceria com o ICEG, teve a palavra inicial do padre Aureo Nogueira, coordenador do ANIMA, que apresentou uma possível reflexão: “Será que a economia nos dias atuais é integral?”, a partir desse questionamento dom Joaquim Mol tomou a palavra e abriu a mesa redonda acolhendo a todos que estavam presentes no auditório, ele falou sobre o evento que acontecerá em março de 2020 em Assis, na Itália, a pedido do papa Francisco, com o intuito de reunir jovens economistas do mundo inteiro.

Seminário Economia de Francisco – ANIMA PUC Minas 2019

Com alegria, dom Joaquim Mol mencionou os três jovens que vão representar a PUC Minas no evento na Itália, junto ao papa Francisco, levando a ideia de projetos para uma economia sustentável, social e solidária e que já se tornou realidade em Belo Horizonte e Região Metropolitana. Ao iniciar sua breve apresentação, dom Mol disse:

Perguntam-me por aí: qual é a economia que mata? Em determinadas situações as pessoas que questionam isso tem uma dificuldade enorme para abrirem a cabeça e pensarem diferente, assim como fazem com os discursos e iniciativas do papa Francisco. Na Doutrina Social da Igreja, a economia é pensada de maneira integral, com humanismo, lembrando sempre da instância da ética e da moral. O que for contrário a isso se torna sinônimo de uma economia que mata.

Após a abertura da mesa foi passada a palavra para o professor Armindo dos Santos, do ICEG, que fez um panorama sobre o crescente capitalismo no mundo, alguns destaques negativos do socialismo e os seus impactos na sociedade.

Por incrível que pareça, por mais difícil que seja acreditar, saibam: nos dias atuais temos muito mais casos de escravidão no trabalho do que na antiga época da escravatura. Temos uma realidade capitalista que resulta no trabalho infantil, que oferece um trabalho precário e que favorece a degradação ambiental”, ressaltou o professor.

Já em seguida teve a fala o professor Vander Luiz Aguiar, também do ICEG, que apresentou um histórico sobre o avanço das políticas neoliberais, a desigualdade social e sobre o Brasil em seus aspectos econômicos. A partir disso, ele apresentou também a proposta das “Empresas Sociais”, que são pequenas empresas que partem de iniciativas dos próprios indivíduos, no intuito de se criar comunidades sustentáveis e produtivas.

Na segunda parte do Seminário, após as falas dos convidados da mesa redonda, foi aberto um espaço para os três alunos que vão para Assis, na Itália, representar a PUC Minas no evento Economia de Francisco. Cada um deles falou brevemente sobre seu projeto. Na ocasião também participaram representantes da comunidade indígena Pataxós, situada próximo à cidade de Brumadinho, aldeia que foi fortemente prejudicada pelos rejeitos de minério da empresa Vale, com o rompimento da barragem do Córrego do Feijão no início deste ano.

Os chefes da aldeia fizeram breves depoimentos sobre o desmatamento da região onde moram, além de declararem a difícil inserção social quando há, em uma sociedade capitalista, forte preconceito aos indígenas, desvalorização de suas culturas e artesanatos, frutos de suas rendas.

O Seminário teve fim logo em seguida, com o agradecimento a todos que estiveram presentes.

(Informações: Comunicação ANIMA PUC Minas /Observatório da Evangelização)

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