DomTotal – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 17 Sep 2021 01:18:29 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 DomTotal – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 “Educação, direito de todos e dever do Estado”, com a palavra prof. Élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/educacao-direito-de-todos-e-dever-do-estado-com-a-palavra-prof-elio-gasda-sj/ Fri, 17 Sep 2021 01:18:29 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=41035 [Leia mais...]]]> A educação é o melhor recurso para a construção e desenvolvimento de uma sociedade justa. Forma cidadãos conscientes. O analfabetismo, analfabetismo funcional, a qualidade do ensino público, o ensino inclusivo, baixa remuneração dos professores, falhas na tecnologia, evasão escolar e muitos outros desafios já deveriam ter sido superados[…]. Mas como falar em colaboração, desenvolvimento e promoção diante do desgoverno Bolsonaro?  Ele odeia os professores. A educação agoniza. Destruir a escola pública, a ciência e a universidade é o projeto de um governo que instalou o caos em todos os níveis de ensino. Educação é a área mais atingida pelos cortes orçamentários do presidente.

Confira a reflexão do prof. dr. Élio Gasda, SJ:

Educação é a área mais atingida pelos cortes orçamentários do presidente

A dificuldade em acompanhar as aulas remotamente levou a uma crescente evasão (Jorge Araujo/Fotos Publicas)

Educação, direito de todos e dever do Estado

A pandemia impactou a vida de todos. Quem mais sentiu os efeitos foram as crianças e os adolescentes. Privados do ensino escolar, de atividades culturais, do convívio com os amigos, muitos até da alimentação, pois na escola recebiam a única refeição do dia.

A educação é o melhor recurso para a construção e desenvolvimento de uma sociedade justa. Forma cidadãos conscientes. O analfabetismo, analfabetismo funcional, a qualidade do ensino público, o ensino inclusivo, baixa remuneração dos professores, falhas na tecnologia, evasão escolar e muitos outros desafios já deveriam ter sido superados.

O Artigo 205 da Constituição Federal de 1988 prescreve:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho“.

Não é uma mercadoria.

O Ministério da Educação (MEC) é o setor do governo responsável pela elaboração e execução da Política Nacional de Educação (PNE). Todo o sistema educacional, da educação infantil à profissional e tecnológica, está sob a responsabilidade do MEC. Mas como falar em colaboração, desenvolvimento e promoção diante do desgoverno Bolsonaro?  Ele odeia os professores.

A educação agoniza. Destruir a escola pública, a ciência e a universidade é o projeto de um governo que instalou o caos em todos os níveis de ensino. Educação é a área mais atingida pelos cortes orçamentários do presidente. Em três anos, Milton Ribeiro é o quarto a assumir a pasta. Está mais para ministro da deseducação.

Absurdo! Foram mais de trinta meses em silêncio, nenhum plano ou ação realizada. Municípios e estados decidiram sozinhos os rumos da educação. Sem nenhuma orientação e sem vacinação, a solução foi fechar as escolas e investir em aulas virtuais.

A pandemia ajudou a escancarar a desigualdade na educação. A migração forçada para o ambiente online deixou pais, professores e alunos mais pobres em apuros. Bolsonaro vetou projeto que garantia acesso à internet nas escolas públicas.

Estudo do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Indec) indica a inércia do governo: 47 milhões de brasileiros permanecem desconectados, são mais de 6 milhões de alunos sem acesso à Internet. O número de lares que possuem celulares atinge 89% dos estudantes, mas 38% necessitam compartilhar o aparelho com outras pessoas.

Não basta conectar as escolas! A dificuldade em acompanhar as aulas remotamente levou a uma crescente evasão. Em outubro de 2020, 1,38 milhão de estudantes entre 6 e 17 anos estava sem frequentar a escola, presencial ou remotamente (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios IBGE). Pesquisa Datafolha indica que 30% dos pais ou responsáveis temem que devido à pandemia, seus filhos deixem os estudos. A expectativa para 2021 é de que a evasão escolar chegue a 11 milhões de alunos. O governo não pensa como evitar essa tragédia. “Não há nada mais desolador que a ignorância em ação” (Goethe).

O Enem 2021 é outra prova do descaso. Houve uma queda de 31% nas inscrições em relação ao ano passado. A diferença é basicamente o número de estudantes que pediram isenção do valor da matrícula em 2020 e não compareceram às provas. Esse ano, sem justificativa para a falta, não conseguiram isenção da taxa.  

Sem ações durante a pandemia, o ministro da educação quer o retorno imediato das aulas presenciais: “A presença do professor em classe … é insubstituível… Não podemos privar nossos filhos do aprendizado”. Crianças com algum tipo de deficiência são menosprezadas. Segundo Milton Ribeiro, 12% das crianças com deficiência (cegos, surdos e alguns autistas) nas escolas, tem um grau que “impede dela ter o convívio dentro da sala de aula. “Atrapalha” outras crianças. É urgente vacinar o ministro da educação contra a segregação e a ignorância.

Mesmo com apenas 26% da população totalmente imunizada, estados e municípios estão autorizando o retorno das aulas presenciais. Crianças entre 0 e 12 anos não têm autorização para vacinar. Como frequentarão a escola? A variante Delta pode significar uma nova onda devastadora se as normas sanitárias não forem cumpridas.

Com as aulas presenciais “estamos oferecendo aos estudantes o vírus” (Isaac Schrarstzhaupt). “Se não temos taxa de mortalidade alta entre crianças, é porque elas ficaram isoladas” ressalta o biólogo Lucas Ferrante. São importantes as aulas presenciais, mas num país governado por negacionistas inimigos da educação, todo cuidado é pouco.

“Educar é sempre um ato de esperança que convida à participação, transformando a lógica estéril e paralisadora da indiferença numa lógica capaz de acolher a nossa pertença comum… é um dos caminhos mais eficazes para humanizar o mundo e a história” (Papa Francisco. Pacto Educativo Global).

Educação pública, gratuita e de qualidade para todos!

Educar é humanizar. “Não nascemos humanos, nos tornamos humanos pela educação” (Hannah Arendt).

(Adaptação e grifos, Edward Guimarães, para o Observatório da Evangelização)

Sobre o autor:

Prof. dr. Élio Gásda, SJ

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte:

www.domtotal.com

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Ser voz profética nos ‘desertos’ que ameaçam a dignidade da vida: eis um desafio decisivo para o ser cristão! https://observatoriodaevangelizacao.com/ser-voz-profetica-nos-desertos-que-ameacam-a-dignidade-da-vida-eis-um-desafio-decisivo-para-o-ser-cristao/ Fri, 30 Apr 2021 13:46:15 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=39296 [Leia mais...]]]> Em 1971, em contexto de violenta ditadura militar, dom Helder Câmara expressou em um poema, de forma profética e paradigmática, o imperativo ético da liberdade e da dignidade humana, no qual declarou a beleza de ser um “acendedor de esperanças”:

“Deixa-me acender cem vezes, mil vezes,
um milhão de vezes a esperança
que ventos perversos e fortes teimam em apagar.
Que grande e bela profissão: acendedor de esperança”

Dom Helder Câmara

Nada mais profético do que acender, ainda que frágeis, chamas de esperança para iluminar quem encontra-se mergulhado na escuridão.

Não é tarefa simples, mas necessária, em determinados contextos sombrios – como o que atravessamos na atual conjuntura sociopolítica, econômica e religiosa da cultura brasileira – acender as esperanças de quem se encontra abatido pelo peso das cruzes que carrega ou ébrio por misturar tantos e contínuos copos de diferentes doses de pessimismo.

Em tempos assim, com tanto medo da violência dos poderosos, os profetas gritam: “deixemos o pessimismo para os dias melhores”! Esta frase foi pichada por anônimos e proféticos trabalhadores nos muros de Bogotá, na Colombia, em contexto de intensa violência contra qualquer protesto, grito ou sinal de rebelião popular contra o status quo.

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Quando lemos os capítulos iniciais de Mateus, Marcos, Lucas e João, encontramos a figura singular de João Batista, o filho de Zacarias e Isabel, aquele que entrou para a Tradição cristã como o precursor, o que preparou os caminhos para o advento da práxis libertadora de Jesus. Não é aleatório que os Evangelhos, inspirados pelos escritos do profeta Isaias, apresentem João, o Batista, como uma “voz de quem clama no deserto”, uma voz que simultaneamente anunciava a presença atuante de Deus no meio de nós, como interpelação ética, e denunciava, corajosamente, o que se apresentava como a mais grave entre as ameaças à dignidade da vida humana: as ações injustas dos poderosos que procuravam submeter, abafar e definitivamente silenciar a voz dos marginalizados, o grito dos oprimidos. Por isso João teve, assim como Jesus e quase todos os profetas e profetisas da história, um fim trágico: foi silenciado de forma cruenta. Não obstante a isso, os profetas são acolhidos e lembrados como uma voz incômoda de Deus ou, o que é o mesmo, uma voz eloquente dos sem-voz.

Toda religião – como também cada sociedade, no nível macro, e cada família, no nível micro – se concretiza por meio de relações sociais entre as pessoas envolvidas. E onde há relações humanas, há o exercício do poder. Nesse sentido, pode-se afirmar que não há religião autêntica, o cristianismo não é exceção, sem uma boa política (exercício do poder coletivo como busca e garantia do bem comum); sem acolher e bem cuidar do direito à voz de cada membro, garantindo, desse modo, o espaço de manifestação e, oxalá, de escuta, de sua incômoda dimensão profética.

Incômodo para os poderosos, o profetismo entende e legitima o poder enquanto serviço aos necessitados e garantia do bem comum, e não como forma de domínio do mais forte e do mais esperto sobre os demais. O profeta será sempre, em certa medida, uma voz dos oprimidos e, por isso, inevitavelmente, baterá de frente, e não sem consequências, com os que oprimem o povo.

O primeiro chamado que continuamente emana do desafio diário de ser cristão é o de assumir e cuidar da busca infinda de ser cada vez mais humano. Talvez porque somente quem assume como projeto de vida o processo contínuo de se humanizar, tendo desse modo a sensibilidade aguçada e à flor da pele, consegue discernir-perceber-acolher-responder como necessidade vital o cultivo cotidiano da centralidade do amar.

Amar, o verbo da vida verdadeiramente humana – que no contexto atual infelizmente, apesar de ser realidade crucial, apresenta-se frequentemente como vivência banal sem grandes implicações no modo como se concretizam as relações entre as pessoas – é decisão ética que exige de quem ama, inserido no contexto em que vive, assumir o desafio de responder às urgências vitais ao seu redor:

  • Como garantir que a dignidade de cada pessoa e, hoje percebemos cada vez mais, a vitalidade de cada ecossistema, sejam bem cuidadas e reverenciadas como realidade preciosas na busca do bem viver?
  • Como dizer que amamos uns aos outros, com tamanha desigualdade social e esta cultura da indiferença social, sem um compromisso coletivo de busca contínua do bem-viver e conviver?

Aqui temos que afirmar que só ama verdadeiramente aquele que é livre, acolhe e legitima a igual liberdade e dignidade da/o amada/o. No entanto, só pode ser livre quem, de fato, tem o direito a ter voz reconhecido e garantido. Não há autêntico amor pessoal, familiar e social sem que se concretize a acolhida da liberdade e dignidade do outro, sem diálogo e sem respeito mútuo.

Por isso, que em nossos discernimentos, procuremos dar ouvidos à voz dos profetas e profetisas de nosso tempo. Procuremos, igualmente, dar voz aos silenciados. Cuidemos de escutar o grito dos oprimidos! Cuidemos, como bons “acendedores de esperança”, da educação de nossas filhas e filhos para o diálogo e a defesa da justiça social: não há outro caminho para a paz, para a construção de um tempo novo!

Edward Guimarães

Edward Guimarães é teólogo leigo. Doutor em Ciências da Religião pela PUC Minas e mestre em Teologia pela FAJE. Professor de Teologia do Centro Loyola de Espiritualidade, Fé e Cultura e do Departamento de Ciências da Religião da PUC Minas, onde atua como secretário executivo do Observatório da Evangelização. Assessor das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), movimentos populares, pastorais sociais e membro do Conselho Pastoral Arquidiocesano (CPA) e da atual diretoria da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter).

Fonte:

domtotal.com

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