Dom Sérgio Eduardo Castriani – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Tue, 17 Sep 2019 10:00:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Dom Sérgio Eduardo Castriani – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 “Sair da sacristia”, precioso artigo de Dom Sérgio Castriani, arcebispo de Manaús, sobre o Sínodo https://observatoriodaevangelizacao.com/sair-da-sacristia-precioso-artigo-de-dom-sergio-castriani-arcebispo-de-manaus-sobre-o-sinodo/ https://observatoriodaevangelizacao.com/sair-da-sacristia-precioso-artigo-de-dom-sergio-castriani-arcebispo-de-manaus-sobre-o-sinodo/#comments Tue, 17 Sep 2019 10:00:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=31658 [Leia mais...]]]> “A nossa fé diz que o Verbo de Deus se encarnou, se fez homem e habitou entre nós. Deus entrou na história humana e está comprometido com ela. Podemos dizer que Deus ao se submeter às leis da natureza em Jesus sofre junto com a humanidade a destruição do meio ambiente que afeta todas as criaturas.”

“É impossível para a Igreja ficar calada diante das injustiças e da opressão a que foram submetidos os povos originários da Amazônia.”

“Uma Igreja de sacristia é sinônimo de uma Igreja voltada sobre si mesma, doente e necessitada de conversão.”

Confira:

Sair da Sacristia

Por Dom Sérgio Castriani

A preparação do Sínodo da Amazônia tem dado muito o que falar. O fato da Igreja estar tocando em assuntos que aparentemente não são de sua alçada, tem levado empresários, generais e políticos a se posicionarem contra o fato das Conferências Episcopais estarem falando de mudanças climáticas, desmatamento, poluição das águas e do ar.

Um general chegou a sugerir que se os bispos quiserem os dados sob o meio ambiente deveriam procurar o governo, que tem instituições competentes para monitorar e implementar medidas eficazes na proteção de nossa biodiversidade e potencial hídrico. Ora, o Papa fez mais que isto ao escrever a Laudato Si, chamando os mais renomados cientistas para colaborar, no documento que é o carro chefe deste pontificado e o verdadeiro pai do Sínodo da Amazônia.

Sentindo-se incomodados pela fala dos que foram constituídos protagonistas do processo sinodal, os povos originários, que denunciaram a onda de destruição e morte que os atuais governantes estão impondo à região, apelaram para o velho chavão de que Igreja boa é aquela que fica na sacristia falando de temas espirituais, como se fé e vida não se tocassem. Religião trata de temas espirituais e morais individuais, mas quando o assunto é sério, sobretudo quando entra a razão do mercado, a religião não tem mais nada a dizer?

O cristianismo não é assim. A nossa fé diz que o Verbo de Deus se encarnou, se fez homem e habitou entre nós. Deus entrou na história humana e está comprometido com ela. Podemos dizer que Deus ao se submeter às leis da natureza em Jesus sofre junto com a humanidade a destruição do meio ambiente que afeta todas as criaturas. E, como Paulo, sabemos que os sofrimentos da humanidade completam os sofrimentos de Jesus. Esta é a razão profunda pela qual a Igreja se coloca como voz dos que não tem voz. Não é só a razão de mercado que tem razão. E a razão é que Deus amou tanto o Mundo que enviou seu Filho para salvá-lo. A encarnação tem a finalidade de recriar o mundo.

É impossível para a Igreja ficar calada diante das injustiças e da opressão a que foram submetidos os povos originários da Amazônia. Enquanto não houver um diálogo sincero e vital com estes povos a nossa história estará incompleta, porque ainda não estaremos vivendo a encarnação. A invasão do Continente Americano, a espoliação das suas riquezas, os massacres e os genocídios foram e são até hoje um grande mal-entendido.

Portanto, quando a Igreja se interessa pelas coisas do mundo e pelos apelos humanos que a realidade impõe como sofrimento e dor, sobretudo a dor dos inocentes, o faz por amor ao mundo que Deus criou e redimiu.

A sacristia é um lugar de passagem para a Liturgia. Uma Igreja de sacristia é sinônimo de uma Igreja voltada sobre si mesma, doente e necessitada de conversão. A Liturgia, em função da qual está a sacristia, como celebração do Mistério Pascal, coloca o povo de Deus no centro da história que foi o derramamento do sangue da Nova Aliança. E a memória deste sangue derramado não permite a indiferença e a omissão.

Dom Sergio Eduardo Castriani – Arcebispo de Manaus

Publicado no Jornal: Amazonas em Tempo, 15.9.2019.

(Os grifos são nossos)

]]>
https://observatoriodaevangelizacao.com/sair-da-sacristia-precioso-artigo-de-dom-sergio-castriani-arcebispo-de-manaus-sobre-o-sinodo/feed/ 1 31658
O sínodo que incomoda https://observatoriodaevangelizacao.com/o-sinodo-que-incomoda/ Fri, 22 Feb 2019 18:35:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=29949 [Leia mais...]]]> Compartilhamos aqui no Observatório da Evangelização este artigo de Dom Sérgio Eduardo Castriani, Arcebispo de Metropolitano de Manaus, publicado no Jornal Em Tempo, no dia 17/02/2019 diante das suspeitas levantadas de espionagem do atual governo sobre as ações da Igreja Católica. Confira o texto:

Fiquei surpreso ao saber que a Igreja Católica em Manaus está sob suspeita de estar preparando uma ofensiva contra o governo no Sínodo que vai acontecer em outubro. Ao que tudo indica, as reuniões preparatórias que aconteceram na nossa cidade foram monitoradas pelos órgãos de informação. A minha primeira reação foi de estranheza pois nada fizemos de secreto. Centenas de textos de trabalho foram distribuídos. O que levou a esta suspeita? Tudo indica que é o medo de críticas e de oposição. Além disto, atribuir a preparação do Sínodo a uma orientação política da Igreja Católica mostra que a Igreja é pouco compreendida. Faço parte da Comissão da Amazônia da CNBB que foi constituída para fazer com que a Igreja no Brasil se solidarizasse com a Igreja na Amazônia, ao mesmo tempo, sendo desta região no conjunto da Igreja. Sei quanto este Sínodo está sendo um sinal de esperança para o nosso povo, sobretudo aqueles que nunca são ouvidos. Vi e testemunhei o encontro de bispos com ribeirinhos e comunidades indígenas. Assisti a reuniões de jovens que puderam se expressar livremente sobre temas antes vistos como tabus em rodas de conversa e escutas que se multiplicaram por todo o território panamazônico.

A preocupação de todos é a evangelização e a maior demanda que se pensa é a Eucaristia que não pode ser celebrada por falta de ministros. São preocupações que vem de longe. A estas se juntam à preocupação com a Casa Comum, numa Ecologia Integral. E neste aspecto os povos originários tem muito a nos ensinar. Também os ribeirinhos adquiriram a arte de viver e conviver na floresta. Os melhores projetos de desenvolvimento sustentável são os que aliam conhecimento científico e sabedoria popular. O Sínodo da Amazônia já é um evento bem-sucedido porque já provocou um grande mutirão de participação nas reflexões nunca visto em Sínodos anteriores. É o Povo de Deus que caminha na história e que quer ser ouvido em questões que são vitais para a humanidade.

Questiona-se a competência da Igreja para tratar destes assuntos. Ela está presente na Amazônia desde o início da sua ocupação pelos europeus. Tem um conhecimento da realidade que vem da convivência dos seus ministros com o povo. Os bispos que participarão da Sínodo são pastores atentos à vida do rebanho e agem sem segundas intenções quando defendem seus direitos e denunciam a violação dos mesmos. Os missionários estiveram entre os primeiros a descrever a região e seus habitantes. A Igreja encara com seriedade a sua missão e sempre procurou o melhor para os seus fiéis. Não jogamos para a plateia e nem visamos o dinheiro fácil e abundante que sempre atraíram os olhares cobiçosos para esta região, fonte inesgotável de riquezas.

Nos meus quarenta anos de convivência com os povos da floresta, aprendi mais que ensinei. Aprendi a respeitar a natureza. Não se brinca com ela. As consequências da destruição do meio ambiente são trágicas. Não é só a religião que afirma isto, mas também a ciência. Falar disto não é um atentado contra a soberania nacional, mas é colocar nossa pátria na vanguarda da defesa da vida no planeta.

Fonte

www.arquidiocesedemanaus.org.br


]]>
29949