Dom João Justino – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Sat, 15 Aug 2020 19:01:13 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Dom João Justino – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Fique do lado dos pobres https://observatoriodaevangelizacao.com/fique-do-lado-dos-pobres/ Sat, 15 Aug 2020 19:01:13 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=35384 [Leia mais...]]]> Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era Pedro Casaldáliga. Nascido na Espanha, respondeu seu chamado ao seguimento radical de Jesus na pobreza, na castidade e na obediência entre os religiosos claretianos. Acolheu o mandato missionário e se dirigiu ao Brasil central na conflitiva região do Araguaia. Disse sim à missão episcopal e viveu um longo ministério à frente da Prelazia de São Félix do Araguaia, servindo aos mais pobres. Talvez tenha amado a Amazônia e os indígenas como nenhum brasileiro.

Somente a mística, fruto de uma adesão de todo seu ser ao evangelho, poderia sustentar um estilo de vida de simplicidade, sobriedade, pobreza. Somente a mística poderia nos fazer compreender a firmeza de quem nunca titubeou diante de seus opositores, mesmo no interior da Igreja. Somente a mística, alimentada no silêncio das constantes vigílias noturnas, para dar-lhe a palavra profética e talhá-lo como poeta.

Na Igreja do Brasil, Pedro Casaldáliga foi um patriarca na recepção das conclusões da Conferência de Medellín (1968). É preciso retomar o que disseram os bispos em Medellín para a compreensão do modo de ser e de agir desse bispo-prelado que se tornou conhecido no mundo inteiro por sua defesa dos pobres:

Cristo Nosso Salvador não apenas amou os pobres, mas, ‘sendo rico se fez pobre’, viveu na pobreza, concentrou sua missão no anúncio da libertação dos pobres e fundou sua Igreja como sinal dessa pobreza entre os homens… Os bispos queremos aproximar-nos cada vez mais com simplicidade e sincera fraternidade dos pobres, possibilitando-lhes um acesso acolhedor junto a nós. Devemos tornar mais aguda a consciência do dever de solidariedade para com os pobres. Esta solidariedade significará fazer nossos seus problemas e lutas e saber falar por eles. Isto se concretizará na denúncia da injustiça e opressão, na luta contra a intolerável situação em que se encontra, frequentes vezes, o pobre e na disposição de dialogar com os grupos responsáveis por esta situação, a fim de fazê-los compreender suas obrigações… A promoção humana será a linha de nossa ação em favor do pobre, respeitando sua dignidade pessoal e ensinando-lhe a ajudar-se a si mesmo… Desejamos que nossa morada e modo de vida sejam modestos, nosso modo de vestir simples e nossas obras e instituições funcionais, sem aparato nem ostentação (Medellín, Pobreza da Igreja).

A opção de seguir Jesus pobre ficou estampada em seus funerais. Seu corpo estava envolto por uma simples túnica branca e com a estola sacerdotal de artesanato nicaraguense. Uma cruz singela de madeira feita pelos indígenas. Trazia o anel de tucum em uma de suas mãos. Também nas mãos o rosário de Nossa Senhora. Os pés estavam descalços, tendo acima deles a bíblia aberta. Nada na cabeça. Essas imagens correram o mundo. A forma de depositar o corpo na urna causou estranheza em algumas pessoas. Creio que a estranheza é a reação à interpelação que Dom Pedro continuou a nos fazer.

Ao saber de sua morte, ocorrida no último dia 8 de agosto de 2020, orei com estas palavras:

Ó Deus, como Eliseu pediu o dobro do espírito do profeta Elias, dá-nos como bispos da tua Igreja uma porção do espírito, da mística e da profecia de dom Pedro Casaldáliga. Que ele descanse em paz.

Amém.

+ João Justino de Medeiros Silva

Arcebispo Metropolitano de Montes Claros

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Jesus vulnerável https://observatoriodaevangelizacao.com/jesus-vulneravel/ Mon, 06 Jul 2020 19:21:20 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=34979 [Leia mais...]]]> A história de Jesus de Nazaré deixa muitas interrogações para aqueles que têm em suas mentes e corações a imagem de um Deus revestido de glórias, senhor de exércitos, sentado em trono glorioso, com vestes luxuosas, com coroa de ouro e pedras preciosas, cercado de servidores… Ao contrário disso, Deus se fez homem no ventre de uma jovem, foi dado à luz numa estrebaria, deitado em uma manjedoura. Quando criança foi perseguido por Herodes e foi, com seus pais, um refugiado. Nasceu como pobre e cresceu entre os pobres da Galileia. Foi vítima do preconceito por ser filho de carpinteiro. Ao iniciar seu ministério, depois de ser batizado por João, chamou seus primeiros discípulos entre rudes pescadores. Não tinha sequer onde reclinar a cabeça. Quase nada possuía. Inclinou-se para lavar os pés de seus discípulos. Condenado à morte de cruz, foi despojado de suas vestes, coroado de espinhos. Até o túmulo onde foi sepultado era emprestado.

A Igreja nascente fez caminho parecido. Os apóstolos foram perseguidos e martirizados. Um número incontável de cristãos derramou seu sangue, “semente de novos cristãos” no dizer de Tertuliano. Ultrapassando séculos e milênios, houve períodos em que muitos na Igreja se distanciaram do projeto de Jesus: pobreza, profecia, diaconia. No entanto, nunca faltaram verdadeiros ícones para lembrar do caminho ensinado por Jesus de Nazaré, o Filho do Deus vivo. Francisco de Assis, Vicente de Paulo, Charles de Foulcaud, Teresa de Calcutá, Dulce dos Pobres, Hélder Câmara, Luciano Mendes, Jean Vanier, Júlio Lancellotti… são alguns entre uma multidão daqueles que compreenderam Jesus e sua mensagem e abraçaram a vulnerabilidade humana como lugar da experiência do amor de Deus.

Sim. Custa-nos muito contemplar Jesus vulnerável. Melhor seria tê-lo sempre glorioso. Custa-nos mais ainda contemplá-lo vivo nos vulneráveis da história. As palavras do Senhor, no capítulo 25 do evangelho de Mateus, parecem não nos convencer de que ele está nos pequeninos e pobres, nos enfraquecidos e marginalizados, nos descartados e oprimidos. Quando se trata de estar com os pobres e experimentar a mesma sorte deles são poucos os que se arriscam.

Numa sociedade que exalta o sucesso a todo custo, que elege o luxo como expressão do belo, que gasta quantias milionárias em esportes caríssimos, que cultua o conforto como objetivo de vida, que cria todos os dias sonhos de consumo, urge o resgate da espiritualidade cristã, da vulnerabilidade. Jesus apontou que o essencial está no amor e, por isso, seu mandamento novo é a ordem de amar como ele amou, isto é, entregando a própria vida, derramando-a cotidianamente em favor da vida ameaçada e ferida.

Para os cristãos, não há outro caminho senão amar como Jesus amou e abraçar a sua cruz e com ela os crucificados. Para isso é necessário purificar o olhar, a mente e o coração das visões de um Deus cujo poder se confunde com as forças deste mundo. Como Jesus, é preciso viver a “kenosis”, isto é, o esvaziamento, o despojamento para dar espaço ao verdadeiro amor que será sempre vulnerável.

Os místicos e os profetas compreenderam bem isso. Eles encontraram nas chagas de Jesus crucificado a expressão de um Deus ferido de amor, de um Deus vulnerável. E é esta a força revolucionária da fé cristã.

Sobre o autor:

Dom João Justino

Dom João Justino de Medeiros Silva é doutor em Teologia pela PUG de Roma (2003), é o atual arcebispo de Montes Claros e o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Fonte:

www.cnbb.org.br

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Você sabe o que pensa o Papa Francisco sobre educação? https://observatoriodaevangelizacao.com/voce-sabe-o-que-pensa-o-papa-francisco-sobre-educacao/ Wed, 17 Aug 2016 15:59:12 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=9599 [Leia mais...]]]> 29nov2015--papa-francisco-abencoa-criancas-durante-sua-visita-a-um-campo-de-refugiados-em-bangui-na-republica-centro-africana-o-pontifice-pediuao-governo-de-transicao-e-a-seus-cidadaos-que-se-inspirem-1448806051958_956x5

O PENSAMENTO DE PAPA FRANCISCO SOBRE EDUCAÇÃO

Torna-se necessária uma educação que ensine a pensar criticamente e ofereça um caminho de amadurecimento nos valores.

(Papa Francisco, EG 64)

Introdução

Saúdo a todos os organizadores e participantes do 24º Congresso Interamericano de Educação Católica. Agradeço o convite para esta conferência de abertura. Compreendo que a escolha de meu nome é, antes de tudo, um reconhecimento do compromisso com a “educação católica” da parte da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação na efetiva parceria com a ANEC.

Considerar “o pensamento do papa Francisco sobre educação” é  tema muito oportuno para a reflexão sobre “A Escola Católica no século XXI”, tema geral deste Congresso. O horizonte eclesial do momento tem a marca da esperança. Papa Francisco, desde o início de seu ministério como bispo de Roma e papa, tem provocado em todos os setores eclesiais e, acredito, em cada um de nós, o desejo mais intenso de conversão pessoal, eclesial e pastoral. Penso ser legítimo considerar que há espaço para falar também de conversão da “educação católica”. Papa Francisco pontuou no recente Congresso Mundial de Educação Católica que a maior crise da educação na perspectiva cristã é o fechamento à transcendência. É estranho e paradoxal, mas há situações em que a escola católica ou a universidade católica se fecham à transcendência. Lembremos que o Documento de Aparecida também explicita que “a escola católica é chamada a uma profunda renovação” (337).

A novidade eclesial desses tempos veio pelo resgate da esperança já estampada no sorriso de Francisco. Veio ainda pelo seu compromisso efetivo de construir novas respostas, elaboradas com os ouvidos e o coração atentos à Palavra de Deus e à realidade que nos circunda. Assim, seu modo de pastorear a Igreja reafirma mais uma vez que “nada do que é humano é estranho à missão da Igreja” (cf. Paulo VI). Nesse sentido, a educação é objeto de especial interesse para nós, homens e mulheres atravessados pelo Palavra do Evangelho. Por isso, estamos aqui.

Entendi que não me caberia aqui recuperar a história de Jorge Maria Bergoglio como educador. Em sua trajetória como membro da Companhia de Jesus, ele exerceu diferentes funções como educador, professor e formador. Tomei, então, como referência o período de seu pontificado. Para esse trabalho fiz um recorte orientado pela pergunta: a partir de seus pronunciamentos, como Papa Francisco compreende a educação? Portanto, o caminho foi recorrer à palavra dele, escutá-la atentamente e aí descobrir as grandes linhas de seu modo de pensar a educação. Meu trabalho não é outro senão deixar falar o próprio Papa Francisco. E exorto a todos os senhores que se deixem interpelar por suas palavras. Ele próprio, na Exortação Evangelii gaudium, nos apresenta um desafio, dizendo explicitamente: “torna-se necessária uma educação que ensine a pensar criticamente e ofereça um caminho de amadurecimento nos valores” (EG 64).

É importante observar não apenas a capacidade pessoal do Papa Francisco de ensinar com muita clareza, de modo direto e breve, sempre com o recurso de imagens, mas também os seus gestos que captados pela mídia se tornam logo “virais”. Aqui vale um princípio: o Papa nos ensina por palavras e por gestos.

Nesta apresentação não vou citar a fonte das citações encontradas. Seria por demais enfadonho. No texto que será disponibilizado poderão ser encontradas as respectivas citações.

Uma indicação

Considero importante a seguinte indicação. O modo como Papa Francisco pensa a educação não está dissociado de sua experiência pessoal como homem cristão e nem de sua compreensão acerca da identidade e missão da Igreja. Portanto, há uma articulação interna e implícita entre cristologia-antropologia-eclesiologia-pedagogia. Essa articulação não pode ser negligenciada. Em outras palavras, a experiência de fé em Jesus Cristo lhe dá uma compreensão do ser humano e da missão da Igreja que ilumina decididamente seu modo de pensar a educação. Compreendo que isso é fundamental para pensar a educação católica, ou seja, articular a proposta de educação católica na relação com as verdades fundamentais da fé cristã.

Desse modo, os grandes temas do ensino do Papa Francisco desdobram-se também no seu pensamento sobre educação. Vamos poder observar como esses temas ressoam e indicam caminhos para a escola católica que busca se renovar.

Oxalá, todos que aqui estamos, tenhamos o mesmo sentimento do Papa Francisco, assim expresso:

Nós estamos aqui porque amamos a escola. E digo “nós” porque eu amo a escola, eu amei a escola como aluno, como estudante e como professor. E depois como bispo (Discurso aos estudantes e professores das Escolas Italianas, 10.05.14).

 A apresentação está organizada em cinco grandes temas, a saber:

  1. Importância da educação;
  2. A escola;
  3. Os educadores;
  4. O pacto educacional;
  5. Horizontes da educação segundo Francisco. 

(Atenção: Clique em cima de cada item para abrir cada um dos temas desenvolvidos.)

Conclusão

A capacidade de incluir sempre o outro é um traço extraordinário na pessoa do Papa Francisco. Vejam como ele encerrou seu diálogo com os jovens em Cuba:

E peço que rezeis por mim. E se algum de vós não for crente – e não pode rezar, porque não é crente – que ao menos que me deseje coisas boas. (Saudação aos jovens do Centro Cultural Padre Félix Varela, Cuba, 20.09.15).

Se Papa Francisco estivesse aqui estou certo de que pediria que rezássemos por ele. Assim, tomo a liberdade de pedir aos senhores que rezem pelo Papa Francisco.

E concluo com um convite. Releia os extratos dos pronunciamentos do Papa Francisco que aqui apresentamos. Deixe, mais uma vez, interpelar-se pela palavra do Santo Padre. Tenho esperança de encontrarmos em suas palavras preciosas indicações para pensar “A escola católica no século XXI”.

Muito obrigado!

 

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+ Dom João Justino de Medeiros Silva

Bispo Auxiliar de Belo Horizonte

Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação

Coordenador do Observatório da Evangelização – PUC Minas

 

 

Ps. 1. Acesse ao Power Point A EDUCAÇÃO SEGUNDO PAPA FRANCISCO, carinhosamente disponibilizado pelo autor.

Ps. 2. Este texto apresentado no 24º Congresso Interamericano de Educação Católica – “A Escola Católica do século XXI”.

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