Dom Cláudio Hummes – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Sun, 27 Oct 2019 02:19:21 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Dom Cláudio Hummes – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Presidência da REPAM lança mensagem final sobre o Sínodo https://observatoriodaevangelizacao.com/presidencia-da-repam-lanca-mensagem-final-sobre-o-sinodo/ Sun, 27 Oct 2019 02:19:21 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32742 [Leia mais...]]]> A presidência da Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM lançou na manhã deste sábado, 26/10/2019, uma mensagem final sobre o Sínodo Amazônico. Assinado pelo presidente, cardeal Cláudio Hummes, pelo vice-presidente, o cardeal Pedro Barreto, e pelo secretário executivo, Maurício López, o texto destaca alguns dos pontos importantes que foram discutidos na assembleia de Roma, retomando o processo realizado ao longo de quase dois anos, e aponta alguns caminhos a partir da Assembleia Sinodal.

Confira o texto na íntegra:

A ESPERANÇA NESTA NAVEGAÇÃO PELAS ÁGUAS DO RIO SINODAL AMAZÔNICO: FONTE DE VIDA, CONVERSÃO E ORIENTAÇÃO PARA NOVOS CAMINHOS PARA A IGREJA DIANTE DE UM MUNDO EM CRISE SOCIOAMBIENTAL

Sínodo Especial para a Região Amazônica 

Roma, 26 de outubro de 2019

I. Nossa esperança no Cristo encarnado na Amazônia e nos novos caminhos:

A experiência de conversão eclesial trazida pela “periferia” da Amazônia e de seus povos produziu o caminho de novidade sinodal que SEGUE e que ainda está em processo, ajudando o centro a ser reformado. Portanto, devemos trabalhar intensamente, e juntos (as), para continuar navegando nessas águas vivas de diversidade cultural e do compromisso de cuidar da nossa casa comum para criar um amanhã melhor (o Reino para o qual Cristo nos chama a trabalhar) diante de uma Amazônia e de um mundo que ainda está em chamas materiais e existenciais por conta das injustiças e desejos de acumulações. É tempo de mudança, o momento é agora e será por meio da sinodalidade.

II. O caminho da nossa navegação: 

  1. A experiência de conversão, ou seja, o ser transformado pela e para a Amazônia como um território vivo e diversificado e por e para seus povos e comunidades, é, ao mesmo tempo, o modo como o próprio Deus nos mostra o caminho que devemos seguir como Igreja a serviço da vida. Confiar que Deus caminha conosco, que Ele está e esteve presente nesse processo e que ele nos convida a ser verdadeiros co-criadores de novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral.
  2. O caminho é algo permanente e é um processo contínuo (não termina). Este Sínodo já é uma experiência inédita de caminhar juntos e transformou a Igreja desde a periferia, anteriormente considerada indesejável, para o centro, ajudando-a em seu próprio processo permanente de reforma. Uma verdadeira conversão liderada pelo Papa Francisco e que é, hoje em dia, irrenunciável, para ser uma Igreja que está em saída missionária, que dialoga com os outros com respeito e igualdade, afirmando-se como uma voz ética, mártir e profética diante da crise socioambiental sem precedentes, e uma Igreja que se posiciona como o próprio Jesus ao lado daqueles que foram considerados descartáveis e que hoje ilustram os Novos caminhos.
  3. O Sínodo teve várias fases que são como os mais diversos afluentes ou rios tributários, que vão se integrando pouco a pouco no majestoso, tumultuado e imparável Amazonas, que é uma fonte de vida no coração da Igreja e do mundo, reconhecendo:

A) a origem histórica do Sínodo, que evidentemente se encontra no caminho do Concílio Vaticano II, em que somos uma Igreja que se abre, de forma progressiva mas sem renunciar ao mundo e a seus gritos e esperanças, fazendo uma opção firme de ser um sinal de vida e irmã de caminhada na realidade do mundo atual. Uma igreja sempre em reforma.

B) o caminho do Magistério da Igreja na América Latina (Medellín 1968; Puebla 1979; Santo Domingo 1992; Aparecida 2007), que fez uma opção preferencial pelos pobres, pelo diálogo com as culturas, pelo reconhecimento de seu chamado à evangelização no respeito às identidades e iluminando a presença de Deus já viva e presente nas povos, e em sua definição de caminhos de discipulado missionário com opção e preferência pela Amazônia como território sociocultural e pelos seus povos e comunidades. Uma Igreja que descobre sua vocação e missão a partir da vida dos povos e também em seu próprio caminho.

C) Os testemunhos de incontáveis mulheres e homens mártires da Amazônia, que mostram a força viva do caminho da entrega para serem sementes a serem plantadas no coração dos povos, na opção pela justiça sendo vida, e vida em abundância para eles. Nesse mesmo sentido, tantos profetas, conhecidos e anônimos, que deram suas vidas por opções particulares, institucionais, de rede, sendo leigos, leigas, missionários, missioárias, religiosas, religiosos, sacerdotes, bispos, entre tantos outros que abriram seus corações para dar vida a esse acontecimento sinodal. Estes testemunhos continuarão sendo levados adiante, ainda mais além desse momento conjuntural e muito importante de Assembleia.

D) A Rede Eclesial Pan Amazônica – REPAM, que nasceu como a confluência de tantas águas vivas e serviu como ponto de encontro, também serviu incansavelmente para que as forças essenciais, porém frágeis e dispersas da Amazônia, pudessem se reunir para responder a esse sistema que descarta, mata e que já não pode mais continuar. Como REPAM, estamos aprendendo e tecendo progressivamente uma sinodalidade que serviu para chegar a este Sínodo, sobretudo em relação à escuta atenta às vozes do território.

Aprendemos a servir de ponte para que muitas pessoas se descubram como uma parte essencial deste Sínodo, dentro e fora da aula sinodal, todos no mesmo espírito que busca criar novas possibilidades para respondermos juntos para nos tornarmos a verdadeira presença que opta pela vida, neste mundo em pedaços, em profunda crise ambiental, da democracia, da rejeição do diferente. Mesmo com as consequências que isso traz, de confrontar e incomodar os poderes que neste mundo desejam servir aos interesses malignos de destruição e morte.

E) A vida dos povos indígenas em geral, e das mulheres em particular, que deram um tom totalmente diferente, mais vivo, renovado e corajoso a este Sínodo. Sua clareza, o testemunho de vida deles, a conexão espiritual com a Amazônia e seu corajoso grito por mudanças já, sua vontade de serem aliados, de responderem diante da urgência e de caminharem com o Papa, deixaram uma marca inapagável neste Sínodo. Tenho certeza de que esta marca permanecerá no coração do Papa, de toda a Igreja e daqueles que participaram neste Sínodo como símbolo da presença da força viva de Deus entre nós. A voz de uma mulher, intercultural e com dedicação corajosa pela vida até às últimas consequências, embora ainda tenhamos um longo caminho a percorrer como Igreja para dar a essas vozes o merecido alcance.

F) e, acima de tudo, saber que o SÍNODO é um PROCESSO em andamento, que é uma navegação de longo prazo e que há muito mais para continuar navegando nessas águas vivas da Amazônia, aprendendo com os povos e comunidades, fazendo sua opção inculturada e intercultural com eles, mas sabendo que o MELHOR VINHO ainda está por vir. A fase pós-assembleia do Sínodo é a mais importante. Nela, como Igreja no território, como REPAM, e com os povos e comunidades, somos os principais atores, e DEVEMOS retornar àqueles que vivem e esperam no território. Trazer de volta o que eles nos confiaram com suas vidas, esperanças, gritos e alegrias, para continuar tecendo juntos neste momento em que o mais importante começa. A fase final, que é a mais importante do Sínodo, está apenas começando agora e cabe a todos nós, juntos, levá-la adiante.

É o vinho novo que exige novos odres para que possa amadurecer aos poucos e saber que o Reino e a possibilidade de outro mundo estão ali, que devemos lutar por ele, e que a morte não tem, nem nunca terá, a última palavra. É uma verdadeira experiência a caminho da Páscoa, da ressurreição. Trata-se de assumir os fogos vivos e esperançosos de nossos povos e comunidades, que podem extinguir e sufocar os outros fogos destrutivos do desejo de acumular, do desejo de destruir, da rejeição de outros modos de vida. Devemos descobrir nos povos amazônicos, com suas próprias fragilidades, os ensinamentos para um caminho que possa nos levar a uma vida melhor e a relacionamentos mais harmoniosos com todos e com o cosmos.

III. Os horizontes do caminho sinodal

O Sínodo expressa 4 conversões essenciais que serão os NOVOS CAMINHOS para a reforma e a nova etapa para a Igreja na Amazônia e talvez também para a Igreja como um todo.

  • Novos caminhos de Conversão Pastoral.
    • Igreja em Saída Missionária
    • Discípulos Missionários na Amazônia
  • Novos caminhos de Conversão Cultural – inculturada e intercultural.
    • O rosto da Igreja nos povos e comunidades amazônicas e indígenas
    • Caminhos para uma Igreja Inculturada e Intercultural
  • Novos Caminhos de Conversão Ecológica – Socioambiental.
    • Em direção a uma ecologia integral a partir da Encíclica Laudato Si´
    • Igreja que cuida da casa comum na Amazônia
  • Novos Caminhos de Conversão Sinodal.
    • A sinodalidade missionária na Igreja Amazônica
    • Novos caminhos para a ministerialidade eclesial
    • Novos caminhos para a sinodalidade eclesial

IV. Em comunhão e caminhando junto com nosso irmão o papa Francisco, a Igreja e a Amazônia

Como o CAMINHO é realmente a própria EXPERIÊNCIA, e que Jesus e seu chamado a sermos co-criadores do Reino nos indicam um rumo, é importante saber que esse processo sinodal é um meio privilegiado de acompanhar o Papa Francisco. Neste caminho os povos indígenas da Amazônia chamaram o Papa: de irmão e de um deles, aquele que os entende melhor, aquele que está fazendo uma opção corajosa para defender a vida e seus territórios, seu aliado e aquele que os povos indígenas da Amazônia creem precisar de acompanhamento porque, às vezes, parece estar sozinho. A melhor maneira de navegar nestas águas com ele é assumindo os compromissos deste Sínodo, independentemente do que está no papel, ou seja, olhando o que está em nossa experiência de vida e no que dentro de nós foi transformado e trouxe renovação. São sementes oferecidas, com a certeza de que há muito por ser feito para semear na terra que preparamos, e que outros no futuro haverão de recebe-los como dom.

Reconhecendo esses novos compromissos, nos sentimos convocados a levá-los aos nossos territórios, convocados a participar e transformar nossas realidades eclesiais particulares, colocando a vidas e esperando que o Papa possa discernir tudo o que ouviu de nós durante esses dois anos (e nessas três semanas de Assembleia), para que nos devolva sua palavra e orientações na Exortação Apostólica, se possível, ou em algum outro tipo de documento, o que poderia ocorrer em março do próximo ano. Sejamos pacientes para esperar que nosso irmão Francisco nos brinde com seu ensinamentos depois de nos ouvir.

O documento final deste Sínodo será um instrumento muito importante, mas não é o documento que determinará os novos caminhos. Precisamos ter cuidado com aqueles que não querem mudar nada, que querem que as coisas acabem aqui e também cuidado com os profetas de calamidades que expressam que nada disso faz sentido, porque olham à luz de suas próprias categorias autorreferenciais. Em ambos os casos, eles se negam a ver e impedem que outros o façam, que esse é o momento preciso, um Kairós esperado que continua fluindo como um rio de água viva e que já não pode ser interrompido pelo que já foi e alcançou, o que já é e está determinado como novidade, o novo que inevitavelmente será para abrir novos horizontes do Reino.

“Com os diversos povos da Amazônia, Oh Senhor da encarnação, Jesus da entrega até a morte trágica pela injustiças de ontem e de hoje, e Cristo da certeza da vida nova na ressurreição, que saibamos reconhecer a tua verdade na diversidade de cada cultura nessas terras. Que saibamos discernir a verdade do seu chamado na voz e na vida dos povos e comunidades que vivem uma relação harmoniosa com a terra, com os outros e com a força divina ”.

Fragmento da oração de consagração do Sínodo Amazônico a São Francisco de Assis

Card. Claudio Hummes, OFM

Presidente da REPAM

Card. Pedro Barreto Jimeno, SJ

Vice-presidente da REPAM

Mauricio López O.

Secretário Executivo da REPAM

Fonte:

www.repam.org.br

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Cardeal Hummes: do Sínodo para a Amazônia emerge um forte apelo para que cuidemos e salvemos a nossa Casa comum https://observatoriodaevangelizacao.com/cardeal-hummes-do-sinodo-para-a-amazonia-emerge-um-forte-apelo-para-que-cuidemos-e-salvemos-a-nossa-casa-comum/ Sun, 27 Oct 2019 00:09:30 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32717 [Leia mais...]]]> Os resultados são muito positivos. Acredito que o Sínodo conseguiu mostrar novos caminhos e fazer também uma reflexão sobre que tipo de novos caminhos são necessários neste momento

Cardeal dom Cláudio Hummes

Silvonei José – Cidade do Vaticano

O relator-geral do Sínodo, cardeal Cláudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-amazônica (Repam), conversou com Silvonei José, neste sábado (26/10/2019), a propósito do Documento final do Sínodo para a Amazônia.

Os resultados são muito positivos. Acredito que o Sínodo conseguiu mostrar novos caminhos e fazer também uma reflexão sobre que tipo de novos caminhos são necessários neste momento. O Sínodo corre dentro dessa grande crise socioambiental que o mundo todo, que o planeta todo, está padecendo, está sofrendo, ou seja, uma crise climática, uma crise ecológica e junto disso, a crise da pobreza no mundo, dos pobres. Tudo isso, nós chamamos de uma crise socioambiental.

Segundo dom Cláudio:

“O Documento final deve ser lido não como se fosse um livro escrito por um autor que tem uma linha de pensamento muito conectado, com uma fluência muito grande. Esse é um Documento construído, e esse é o seu grande valor, por toda uma grande assembleia, construído por muitas mãos. O que é importante nesse Documento são os conteúdos. Não tanto se é belo literariamente, enfim. É um Documento pastoral, profundamente pastoral, e devemos ler os conteúdos”.

Depois de um longo caminho sinodal de escuta do Povo de Deus na Igreja da Amazônia, inaugurado pelo papa Francisco durante sua visita à Amazônia, em 19 de janeiro de 2018, o Sínodo foi realizado em Roma, num encontro fraterno de 21 dias, em outubro de 2019.

O clima foi de trocas abertas, livres e respeitosas entre bispos, pastores da Amazônia, missionários e missionárias, leigos e leigas, e representantes dos povos indígenas da Amazônia. Fomos testemunhas participantes de um evento eclesial marcado pela urgência do tema que conclama abrir novos caminhos para a Igreja no território. Se compartilhou um trabalho sério em um clima marcado pela convicção de escutar a voz presente do Espírito Santo.

O Sínodo foi realizado em clima de fraternidade e oração

Sim, o Sínodo para a Amazônia foi realizado em clima de fraternidade e oração. Várias vezes as intervenções foram acompanhadas por aplausos, cantos e com intervalos de silêncio contemplativo. Fora da sala sinodal, houve uma presença notável de pessoas vindas do mundo amazônico que organizaram atos de apoio em diferentes atividades, procissões, como a abertura com cantos e danças acompanhando o papa Francisco, do túmulo de Pedro à sala sinodal. Destacou-se a Via Sacra dos mártires da Amazônia, assim como uma presença maciça da mídia internacional.

Todos os participantes expressaram uma profunda consciência da dramática situação de destruição que afeta a Amazônia. Isso significa o desaparecimento do território e de seus habitantes, especialmente dos povos indígenas. A floresta amazônica é um “coração biológico” para a terra cada vez mais ameaçada. Se encontra em uma corrida desenfreada para a morte. Requer mudanças radicais de suma urgência e um novo direcionamento que permita salvá-la.  Está cientificamente comprovado que o desaparecimento do bioma Amazônia trará um impacto catastrófico para o planeta!

O caminho sinodal do Povo de Deus na fase preparatória envolveu toda a Igreja no território, os Bispos, os missionários e missionárias, os membros das Igrejas de outras confissões cristãs, os leigos e leigas, e muitos representantes dos povos indígenas, em torno do documento de consulta que inspirou o Instrumentum Laboris. Enfatiza a importância de escutar a voz da Amazônia, movida pelo sopro maior do Espírito Santo no grito da terra ferida e de seus habitantes. Foi registrada a participação ativa de mais de 87.000 pessoas, de diferentes cidades e culturas, assim como de numerosos grupos de outros setores eclesiais e as contribuições acadêmicas e organizações da sociedade civil nos temas centrais específicos.

A celebração do Sínodo conseguiu destacar a integração da voz da Amazônia com a voz e o sentimento dos pastores participantes. Foi uma nova experiência de escuta para discernir a voz do Espírito Santo que conduz a Igreja a novos caminhos de presença, evangelização e diálogo intercultural na Amazônia. A afirmação, que surgiu no processo preparatório, de que a Igreja era aliada do mundo amazônico, foi fortemente confirmada. A celebração termina com grande alegria e esperança de abraçar e praticar o novo paradigma da ecologia integral, o cuidado da “casa comum” e a defesa da Amazônia.

Fonte:

www.vaticannews.va

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“Igreja em saída… Para acender luzes e aquecer corações, que ajudem as pessoas, as comunidades, os países e a humanidade global a encontrar o sentido da vida e da história”, com a palavra o cardeal Cláudio Hummes https://observatoriodaevangelizacao.com/igreja-em-saida-para-que-sair-para-acender-luzes-e-aquecer-coracoes-que-ajudem-as-pessoas-as-comunidades-os-paises-e-a-humanidade-global-a-encontrar-o-sentido-da-vida-e-da-his/ Mon, 07 Oct 2019 19:26:21 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32163 [Leia mais...]]]>

Segundo o pronunciamento do relator-geral do Sínodo para a Amazônia, cardeal Cláudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM), na abertura do Sínodo, nesta segunda-feira (07/10/2019):

O tema do Sínodo – Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral – ressoa as grandes linhas pastorais características do papa Francisco. Definir novos caminhos. Desde o início de seu ministério papal, ele sublinha a necessidade de a Igreja caminhar“.

Cidade do Vaticano

Segue a íntegra do texto.

O tema do Sínodo, que ora iniciamos, é o seguinte: “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. O tema ressoa as grandes linhas pastorais características do papa Francisco. Definir novos caminhos. Desde o início de seu ministério papal, ele sublinha a necessidade de a Igreja caminhar. Ela não pode ficar sentada em casa, cuidando de si mesma, cercada de muros de proteção. Muito menos ainda, olhando para trás com certa nostalgia de tempos passados. Ela precisa abrir as portas, derrubar muros que a cercam e construir pontes, sair e pôr-se a caminho na história, nos tempos atuais de mudança de época, caminhando sempre próxima de todos, principalmente de quem vive nas periferias da humanidade.  Igreja “em saída”. Para que sair? Para acender luzes e aquecer corações, que ajudem as pessoas, as comunidades, os países e a humanidade global a encontrar o sentido da vida e da história. Essas luzes são principalmente o anúncio da pessoa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado e seu reino, bem como a prática da misericórdia, da caridade e da solidariedade sobretudo para com os pobres, os sofridos, os esquecidos e descartados do mundo de hoje, os migrantes e os indígenas. 

Esse caminhar a torna fiel à verdadeira tradição. Uma coisa é o tradicionalismo que fica preso no passado, outra é a verdadeira tradição que é a história viva da Igreja, em que cada geração, acolhendo o que lhe é entregue pelas gerações anteriores como compreensão e vivência da fé em Jesus Cristo, enriquece esta tradição com sua própria vivência e compreensão desta mesma fé em Jesus Cristo no tempo atual.

Essas luzes: o anúncio de Jesus Cristo e a prática incansável da misericórdia, na tradição viva da Igreja, indicam o caminho a seguir num caminhar inclusivo que convida, acolhe e encoraja a todos, sem exceção, a caminharem juntos como amigos e como irmãos, respeitando as nossas diferenças, rumo ao futuro.

“Novos caminhos”. Novos. Não ter medo do novo. Na homilia de Pentecostes de 2013, o papa Francisco já afirmava:

A novidade causa sempre um pouco de medo, porque nos sentimos mais seguros se temos tudo sob controle, se somos nós a construir, programar, projetar a nossa vida de acordo com os nossos esquemas, as nossas seguranças, os nossos gostos. (…) Temos medo de que Deus nos faça seguir novos caminhos, nos faça sair de nosso horizonte muitas vezes limitado, fechado, egoísta, para nos abrir aos seus horizontes. Mas, em toda história da salvação, quando Deus se revela, traz novidade – Deus traz sempre novidade -, transforma e pede para confiar nele”.

Na Evangelii Gaudium (n. 11), o Papa mostra Jesus Cristo como “a eterna novidade”. Ele é sempre o novo. Ele é sempre o mesmo, o novo, “ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8) o novo. Por isso, a Igreja reza: “Enviai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra”. Então, não tenhamos medo do novo. Não tenhamos medo de Cristo, o novo. Este sínodo procura novos caminhos. 

No seu discurso aos bispos brasileiros, durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em 2013,  ao falar da Amazônia como “teste decisivo, banco de prova para a Igreja e a sociedade brasileiras”, o Papa propõe “relançar [ali, na Amazônia] a obra da Igreja”, “consolidar o rosto amazônico da Igreja” e “formar clero autóctone”, acrescentando: “Sobre isso, peço, por favor, para serem corajosos, para terem ousadia”. Isso nos remete necessariamente à história da Igreja na região. Desde os primórdios da colonização da Amazônia, ali também estiveram missionários católicos, seja para dar assistência aos colonizadores, seja para evangelizar os indígenas, na época. 

Assim começava a missão evangelizadora da Igreja na região. Entre luzes e sombras – mas certamente com prevalência das luzes – gerações subsequentes de missionários e missionárias, principalmente de Ordens e Congregações religiosas, mas também de padres diocesanos e de leigos – com destaque para as mulheres –  procuraram levar Jesus Cristo aos povos do território e constituir comunidades católicas. É justo recordar, reconhecer e enaltecer, neste sínodo, a história heroica – e muitas vezes mártir – de todos os missionários e missionárias do passado e também daqueles e daquelas de hoje na Pan-amazônia.

Ao lado dos missionários, houve também sempre numerosas lideranças leigas e indígenas que deram testemunho heroico e por isso muitas vezes foram e ainda continuam a ser assassinadas. Deve-se ter presente também que a Igreja missionária da Amazônia se destacou  através de sua história – e ainda hoje se destaca – com grandes e fundamentais serviços para a população local na área da escolarização, da saúde, do combate à pobreza e à violação dos direitos humanos.  Por outro lado, a história da Igreja na Pan-amazônia mostra que sempre houve grande carência de recursos materiais e de missionários para um desenvolvimento pleno das comunidades, destacando-se a ausência quase total da Eucaristia e de outros sacramentos essenciais para a vivência cristã cotidiana.

O rosto amazônico da Igreja local deve ser consolidado, como disse o papa Francisco no já citado discurso aos bispos brasileiros e mesmo seu rosto indígena nas comunidades indígenas, como exortou o Papa em Puerto Maldonado (19.01.2018). Desde o anúncio do sínodo, o Papa deixou claro que a relação da Igreja com os povos indígenas e com a floresta na Amazônia, é um de seus temas centrais. De fato, anunciando o sínodo e indicando sua finalidade, Francisco disse: 

Finalidade principal desta convocação é encontrar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, sobretudo dos indígenas, muitas vezes esquecidos e sem perspectiva de um futuro sereno, também por causa da floresta amazônica, pulmão de importância fundamental para o nosso planeta (Vaticano, 15/10/17).

E em Puerto Maldonado, disse aos povos indígenas: 

Quis vir visitar-vos e escutar-vos, para estarmos juntos no coração da Igreja, solidarizarmo-nos com os vossos desafios e, convosco, reafirmarmos uma opção sincera em prol da defesa da vida, defesa da terra e defesa das culturas”. 

Na fase da escuta sinodal, os povos indígenas tem manifestado de muitos modos que querem o apoio da Igreja na defesa e promoção de seus direitos, na construção de seu futuro e pedem que a Igreja seja uma aliada constante.

De fato, a humanidade tem uma grande dívida para com os povos indígenas nos diferentes continentes da terra e também na Amazônia. É preciso que aos povos indígenas seja devolvido e garantido o direito de serem sujeitos de sua história, protagonistas e não objetos do espírito e prática de colonialismo de quem quer que seja. Suas culturas, línguas, história, identidade, espiritualidade constituem riquezas da humanidade e devem ser respeitadas, preservadas e incluídas na cultura mundial.

A missão da Igreja hoje na Amazônia é o núcleo central do sínodo. É um sínodo da Igreja e para a Igreja. Não uma Igreja cerrada em si mesma, mas integrada na história e na realidade do território – no caso, a Amazônia – atenta aos gritos de socorro e às aspirações da população e da “casa comum” [a criação],  aberta ao diálogo, sobretudo ao diálogo inter-religioso e intercultural, acolhedora e desejosa de  compartilhar um caminho sinodal com as outras Igrejas, religiões, ciência, governos, instituições, povos, comunidades e pessoas, respeitando as nossas diferenças,  no intuito de defender e promover a vida das populações da área, especialmente dos povos originários e a biodiversidade do território na região amazônica.

Uma Igreja atualizada, “semper reformanda”,  segundo a Evangelii Gaudium, isto é, uma Igreja em saída, missionária, com anúncio explícito de Jesus Cristo, dialogante e acolhedora, que caminha junto e próxima das pessoas e comunidades, misericordiosa, pobre e para os pobres e com os pobres, e em consequência com uma opção preferencial pelos pobres, inculturada, intercultural e sempre mais sinodal. Uma Igreja de dimensão mariana, alimentada com a devoção a Maria Santíssima, segundo muitos títulos locais, em especial o de Maria de Nazaré, cuja festa em Belém do Pará reúne todos os anos milhões de devotos e romeiros. A inculturação da fé cristã nas várias culturas dos povos se impõe, como disse São João Paulo II: “Esta [a inculturação] constitui uma exigência que marcou todo o seu [da Igreja] caminho histórico, mas hoje é particularmente aguda e urgente” (Redemptoris Missio, 52). Junto com a inculturação, a evangelização dos povos amazônicos exige também atenção a interculturalidade, pois ali são muitas e diversificadas as culturas, que contudo mantém algumas raízes comuns. A tarefa da inculturação e da interculturalidade se realiza particularmente na liturgia, no diálogo inter-religioso e ecumênico, na piedade popular, na catequese, na convivência dialogal quotidiana com as populações autóctones, nas obras sociais e caritativas, na vida consagrada, na pastoral urbana.

Mas não se pode esquecer, entretanto, que hoje e há bastante tempo já a Igreja na Amazônia sofre de muita carência de recursos materiais necessários para sua missão e com necessidade de aumentar seu potencial de comunicação (rádio e Tv). 

Neste amplo contexto,  Igreja e ecologia integral no território estão interligados. Trata-se de uma Igreja consciente de que sua missão religiosa, em coerência com sua fé em Jesus Cristo, inclui necessariamente “o cuidado da casa comum”. Tal interligação demonstra também que o grito da terra e o grito dos pobres na região é o mesmo grito.

A vida na Amazônia talvez nunca tenha estado tão ameaçada como hoje, “pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazônica, de modo especial, a violação dos direitos dos povos indígenas, como o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios e à consulta e ao consentimento prévios” (IL,14).

Segundo o processo de escuta sinodal da população, na Amazônia a ameaça à vida deriva de interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade atual, de maneira especial de empresas que extraem de modo predatório e irresponsável [legal ou ilegalmente] as riquezas do subsolo e da biodiversidade, muitas vezes em conivência ou com permissividade dos governos locais e nacionais e por vezes até com o consenso de alguma autoridade indígena.

A consulta sinodal ainda registra que as comunidades consideram que a vida na Amazônia está ameaçada:

  • a) pela criminalização e assassinato de líderes e defensores do território;
  • b) pela apropriação e privatização de bens da natureza, como a própria água;
  • c) por concessões madeireiras legais e pela entrada de madeireiras ilegais;
  • d) pela caça e pesca predatórias, principalmente nos rios;
  • e) por megaprojetos: hidrelétricas, concessões florestais, desmatamento para produzir monoculturas, estradas e ferrovias, projetos mineiros e petroleiros;
  • f) pela contaminação ocasionada por todas as indústrias extrativistas que causam problemas e enfermidades, principalmente para crianças e jovens;
  • g) pelo narcotráfico;
  • h) pelos consequentes problemas sociais associados a tais ameaças, como alcoolismo, violência contra a mulher, prostituição de menores, tráfico de pessoas, perda de sua cultura originária e de sua identidade (idioma, práticas espirituais e costumes) e de todas as condições de pobreza às quais estão condenados os povos da Amazônia” (IL,15).

A ecologia integral nos manifesta que tudo está interligado, os seres humanos e a natureza. Todos os seres vivos do Planeta são filhos da terra. O corpo humano é feito do “barro da terra”, no qual Deus “soprou” o espírito de vida, como diz a Bíblia (cf. Gn 2,7). Em consequência, tudo o que se faz em prejuízo da terra, se faz em prejuízo dos seres humanos e de todos os outros seres vivos da terra. Isso mostra que não se pode tratar separadamente ecologia, economia, cultura etc. A Laudato si’ afirma que precisam ser pensadas juntas: uma ecologia ambiental, econômica, social, cultural (cf. LS, cap. V). O próprio Filho de Deus se encarnou e seu corpo humano vem da terra. Neste corpo, Jesus morreu por nós na cruz pIara vencer o mal e a morte, ressuscitou dos mortos e está sentado à direita de Deus Pai na glória eterna e imortal. Diz o apóstolo Paulo: “Foi n’Ele [em Jesus ressuscitado] que aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude, por Ele e para Ele, reconciliar todas as coisas (…) tanto as que estão na terra como as que estão nos céus”(Cl 1,19-20). A Laudato si’ acrescenta, dizendo: “Isto lança-nos para o fim dos tempos, quando o Filho entregar ao Pai todas as coisas “a fim de que Deus seja tudo em todos (1Cor 15,28). Assim, as criaturas deste mundo já não nos aparecem como realidade meramente natural, porque o Ressuscitado as envolve misteriosamente e as guia para um destino de plenitude” (LS, 100). Assim, o próprio Deus se interligou definitivamente com toda sua criação. Este mistério se torna também presente sacramentalmente na Eucaristia.

O  Sínodo se realiza num contexto de uma grave e urgente crise climática e ecológica que atinge todo o nosso planeta. O aquecimento global do planeta pelo efeito estufa gerou uma crise climática sem precedentes, grave e urgente, como mostrou a Laudato si’ e a COP21 de Paris, na qual foi assinado por praticamente todos os países do mundo o Acordo Climático até hoje pouco implementado, apesar da urgência. Ao mesmo tempo, ocorre no planeta uma devastação, depredação e degradação galopante dos recursos da terra, promovidas por um paradigma tecnocrático globalizado, predatório e devastador, denunciado pela Laudato si’. A terra não aguenta mais. 

A vasta realidade urbana da Amazônia, em parte consequência das migrações internas, e a presença da Igreja nas cidades é outro tema central deste sínodo, pois também a Igreja na cidade deve desenvolver e consolidar seu rosto amazônico.  Ela não pode ser uma reprodução da Igreja urbana de outras regiões. Sua missão na Amazônia inclui o cuidado e a defesa da floresta amazônica e de seus povos: indígenas, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, pobres de todo tipo, pequenos agricultores, pescadores, seringueiros, quebradeiras de coco e outros, conforme a região. Esta missão não será certamente um peso, mas uma alegria que só o Evangelho oferece.

As migrações, fenômeno mundial hoje, também marcaram os tempos atuais da Pan-amazônia, entre elas, tempos atrás, a migração dos haitianos, hoje a dos venezuelanos, mas sobretudo dos próprios indígenas e outros segmentos pobres do interior da região. 

A Igreja tem feito um enorme esforço de acolhimento. Mas é preciso destacar a migração de indígenas à cidade. Milhares e milhares. Eles  necessitam de uma lúcida e misericordiosa atenção para não perecerem culturalmente e mesmo humanamente na cidade, enfrentando miséria, descaso, desprezo e rejeição e consequentemente provando um vazio interior desesperador. “Na cidade o indígena é um migrante, um ser humano sem-terra e o sobrevivente de uma batalha histórica pela demarcação de sua terra, com sua identidade cultural em crise” (IL, 132). De muitas formas ele é forçado à invisibilidade. 

O grito muitas vezes silencioso, porém não menos real e pungente, dos indígenas urbanos precisa ser escutado. A Igreja na cidade enfrenta também toda a problemática social e religiosa de suas periferias pobres e da evangelização de todos os segmentos da população urbana.

Outra questão é a carência de presbíteros a serviço das comunidades locais no território, com a consequente falta da Eucaristia ao menos dominical e de outros sacramentos, bem como a falta de presença dos padres encarregados, que resulta numa pastoral de visitas esporádicas e não de uma adequada pastoral de presença quotidiana. Ora, a Igreja vive da Eucaristia e a Eucaristia edifica a Igreja (S. João Paulo II). A participação na celebração da Eucaristia, ao menos aos domingos, é decisiva para o desenvolvimento progressivo e pleno  das comunidades cristãs e para a vivência concreta da Palavra de Deus na vida das pessoas. Será necessário definir novos caminhos para o futuro. Na fase da escuta, as comunidades locais, missionários e comunidades indígenas pediram que, reafirmando o grande valor do carisma do celibato na Igreja, contudo, diante da gritante necessidade da imensa maioria das comunidades católicas na Amazônia, ali se abra caminho para ordenação presbiteral de homens casados, que residam nas comunidades. Ao mesmo tempo, diante do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia, se reconheça este serviço e se procure consolidá-lo com um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade.

Outro capítulo importante é a questão da água, “porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos (LS 28). A escassez de água potável e segura é uma ameaça crescente em todo o planeta. “A questão não é marginal, mas fundamental e urgente (…). Toda pessoa humana tem direito ao acesso de água potável e segura; este é um direito humano básico, e uma das questões nodais no mundo atual”, afirmou o papa Francisco em discurso de 24 de fevereiro de 2017. A Amazônia é  uma das mais volumosas reservas de água doce do planeta. “A bacia do rio Amazonas e as florestas tropicais que a circundam nutrem os solos e, através da reciclagem de umidade, regulam os ciclos de água, energia e carbono a nível planetário. O rio Amazonas sozinho lança no oceano (…) 15% do total de água doce do planeta. Por isso, a Amazônia é essencial para a distribuição das chuvas em outras regiões remotas da América do Sul e contribui para os grandes movimentos de ar ao redor do planeta. Além disso, alimenta a natureza, a vida e as culturas de milhares de comunidades indígenas, camponesas, afrodescendentes, tanto ribeirinhas como urbanas (…). A superabundância natural de água, calor e umidade faz com que os ecossistemas da Amazônia abriguem cerca de 10 a 15% da biodiversidade terrestre” (IL, 9). Entra aqui também a função da floresta e dos povos indígenas. De fato, na Amazônia a floresta cuida da água, a água cuida da floresta e juntas produzem a biodiversidade, sendo os povos indígenas os milenares guardiões deste sistema. Por isso, a Igreja sente-se também chamada a cuidar da água da “casa comum”, ameaçada na Amazônia principalmente pelo aquecimento climático, pelo desmatamento e pela contaminação causada pela mineração e agrotóxicos.

Finalizando, proponho para a dinâmica dos trabalhos desta assembleia sinodal alguns núcleos generativos:

  • a) Igreja em saída na Amazônia e seus novos caminhos;
  • b) O rosto amazônico da Igreja: inculturação e interculturalidade em âmbito missionário-eclesial;
  • c) A ministerialidade da Igreja na Amazônia: presbiterado, diaconato, ministérios, o papel da mulher;
  • d) A ação da Igreja no cuidado com a Casa Comum: a escuta da Terra e dos pobres; ecologia integral ambiental, econômica, social e cultural;
  • e) A Igreja amazônica na realidade urbana;
  • f) A questão da água;
  • g) outros.

Termino, convidando a todos para deixarem-se guiar pelo Espírito Santo nestes dias do Sínodo. Deixem-se envolver no manto da Mãe de Deus e Rainha da Amazônia. Não deixemos que nos vença a auto-referencialidade, mas sim a misericórdia diante do grito dos pobres e da terra. Será necessária muita oração, meditação e discernimento, além de uma prática concreta de comunhão eclesial e espírito sinodal. Este Sínodo é como uma mesa que Deus preparou para os seus pobres e nos pede a nós que sejamos aqueles que servem à mesa.

Pronunciamento de dom Cláudio Hummes

Fonte:

www.vaticannews.va

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Sínodo amazônico: dimensão regional e universal em debate no Vaticano https://observatoriodaevangelizacao.com/sinodo-amazonico-dimensao-regional-e-universal-em-debate-no-vaticano/ Mon, 25 Feb 2019 19:27:37 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=29962 [Leia mais...]]]> O presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM, Cardeal Cláudio Hummes, participa do seminário no Vaticano e foi recebido pelo Papa Francisco na manhã desta segunda-feira.

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

“Rumo ao Sínodo especial para a Amazônia: dimensão regional e universal”: este é o título do seminário de três dias que teve início esta manhã (25/02) em Roma.

Organizado pelo Secretaria Geral do Sínodo, o evento se realiza no Instituto Maria Bambina, ao lado da colunata de Bernini, com a participação dos presidentes das Conferências Episcopais da região amazônica, bispos e especialistas provenientes também de outras áreas geográficas.

Com a presença de representantes de outros países, será possível evidenciar a relação entre a situação eclesial e ambiental específica da Amazônica e outros contextos territoriais semelhantes.

No primeiro dia, serão examinados alguns aspectos eclesiais e pastorais à luz da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium; no segundo dia, serão debatidas questões relacionadas com a promoção da ecologia integral no horizonte da Encíclica Laudato si’; no último dia, será feita uma síntese das perspectivas emergidas e uma comunicação sobre o caminho de preparação ao Sínodo de outubro.

O tema do seminário, “dimensão regional e universal”, foi o aspecto ressaltado pelo presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), Cardeal Cláudio Hummes, entrevistado por Cristiane Murray:

Eu creio que realmente é muito importante porque estamos preparando agora já mais de perto o Sínodo. Já terminou a fase da consulta, já fizemos as sínteses e agora se trata de aprofundar. E como sabemos que o Papa acentuava, é necessário fundamentar bem cientificamente, teologicamente, biblicamente, culturalmente. Então este seminário aqui é realmente especializado para isso. Creio que será um bom contributo e também universaliza cada vez mais o próprio Sínodo, que deve ser também universal, mas em primeiro lugar diretamente para a Pan-amazônia, e tem sua repercussão universal.

Audiência e data

Esta manhã, Dom Cláudio e os membros da Repam foram recebidos em audiência pelo papa Francisco. No final da manhã, foi divulgada a data do evento em outubro:

A Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos comunica que o Santo Padre Francisco convocou a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica de domingo 6 a domingo 27 de outubro de 2019, para refletir sobre o tema ‘Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral’.

Fonte:

www.vaticannews.va

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Um exemplo de concretização eclesial da opção pelos pobres que nos vem da região amazônica https://observatoriodaevangelizacao.com/um-exemplo-de-concretizacao-eclesial-da-opcao-pelos-pobres-que-nos-vem-da-regiao-amazonica/ Wed, 17 May 2017 17:38:06 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=17780 [Leia mais...]]]> Concretizar a opção pelos pobres não é tarefa simples e conjuntural passageira. Trata-se de uma orientação contínua, a partir do núcleo do Evangelho, capaz de afetar e mudar concretamente a dimensão estrutural da Igreja, como também fermentar profeticamente a transformação da sociedade. Tudo parte do cultivo daquela sensibilidade humana que nos torna atentos e antenados na escuta dos clamores dos pobres que emergem das realidades sociais (grito dos excluídos) e ambiental (grito da Casa comum).

Fazer a opção pelos pobres exige colocar no centro determinadas situações concretas como urgência e para elas destinar investimentos substanciais para que a opção tenha condições materiais para se concretizar de fato.

Veja que exemplo bonito da Igreja da Amazônia:

“Repam fez uma opção pelos pobres”, afirma dom Claudio Hummes

A Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) – provocadas e iluminadas pela Encíclica Laudato Sí do papa Francisco –, vêm promovendo Seminários sobre a Encíclica nos regionais da CNBB, na Amazônia Legal.

Em 2016 ocorreram seis Seminários. Para 2017 estão previstos dez. Os próximos ocorrerão em Castanhal (PA), de 19 a 21 de maio; Santarém (PA), de 22 a 24 de maio e Altamira (PA), de 26 a 28 de maio.

A proposta é identificar e fortalecer inciativas socioambientais da Igreja e da sociedade na Amazônia, possibilitando o intercâmbio de saberes e ações caracterizando o trabalho em rede, e assim responder ao desafio de proteger a Casa Comum na busca de um desenvolvimento sustentável e integral.

Confira, abaixo, o vídeo que conta com a participação de lideranças comunitárias e pesquisadores, a respeito do projeto.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=GQ06Xpc_sJQ]

Fonte:

CNBB

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Rede Eclesial Pan-Amazônica e do Acre -Repam apresenta casos de violações de direitos à Comissão Interamericana de Direitos Humanos https://observatoriodaevangelizacao.com/rede-eclesial-pan-amazonica-e-do-acre-repam-apresenta-casos-de-violacoes-de-direitos-a-comissao-interamericana-de-direitos-humanos/ Thu, 23 Mar 2017 10:00:24 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=14655 [Leia mais...]]]> REPAM-D-340x226.png

O arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), cardeal Cláudio Hummes, apresentou na última sexta-feira (17/03/2017), em Washington, nos Estados Unidos, casos de violações direitos humanos e de degradação da natureza em uma audiência sobre o Direito do Território de Comunidades Indígenas e Comunidades Rurais da Pan-Amazônia.

A audiência foi solicitada pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), Confederação Latino-Americana de Religiosos (CLAR), Caritas da América Latina e do Caribe, Conferência Episcopal dos Estados Unidos, lideranças indígenas e campesinas.

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Entre os dias 21 e 24 de março de 2017, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) representada pelo seu presidente, dom Cláudio Cardeal Hummes, também presidente Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), terá uma reunião com membros da Comissão Interamericana de Direitos Humanos -CIDH para dialogar sobre os casos de violações dos direitos humanos ocorridos na Pan-Amazônia. Na ocasião da viagem, o cardeal também participará de encontros e reuniões com o Episcopado Norte Americano, políticos, universidades e a sociedade civil dos EUA.

CASOS APRESENTADOS

Ocorrências foram nos estados brasileiros do Maranhão, do Amazonas e do Acre e no vizinho Equador. À Comissão Interamericana de Direitos Humanos foram apresentados quatro casos:

1. O “caso da mineração” da comunidade Rural de Vila União, município de Buriticupu, no Maranhão, que vem sofrendo impactos pela concessão de suas terras à atividade ferroviária e à extração de minerais. Do Brasil participaram do encontro representantes da comunidade campesina de Buriticupú, no Maranhão, afetada pela concessão de suas terras à atividade ferroviária e para a extração de minerais, o que produz uma grave deterioração de suas condições de vida.

José Horlando da Silva Araújo, liderança da comunidade Rural Vila União, em Buriticupu no Maranhão, relata a criminalização das comunidades ou lideranças que se posicionam contra os impactos sofridos pela exploração de minério na região:

“Hoje a gente não pode fazer reivindicação reclamando dos impactos em nossas vidas, casas, rios, estradas. A justiça deles é muito forte, logo os advogados vão para cima da de quem reivindica e aí as pessoas ficam com medo e se calam… O Rio está seriamente assoreado e com suas margens destruídas, em consequência da exploração da mineradora e a duplicação dos trilhos e do desmatamento desenfreado”.

2. O “caso do Acre” do povo indígena Jaminawa Arara, que vem sendo impactados pela não demarcação de suas terras, invasões e exploração de madeira, projetos de exploração de petróleo e gás natural e constante presença de narcotraficantes na fronteira com o Peru.

A liderança indígena Rosildo da Silva, do povo indígena Jaminawa Arara, pede urgência na demarcação de seus territórios, no estado do Acre.

“Nós estamos sendo violados em nossos direitos como um todo, sobretudo, pela não demarcação de nossas terras e dos companheiros indígenas que são isolados e que se ouve proposta de alguns órgãos para serem contatados. Não tomaram conta nem de nós que fomos ‘civilizados’ há tantos anos”.

Lindomar Padilha, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), do Acre, detalha o caso do povo Jaminawa Arara:

“As terras indígenas do Acre estão com os processos de demarcação paralisados, assim como a terra dos povos isolados. Com isso, eles sofrem constantes invasões por parte de fazendeiros. Existe, também a questão das terras indígenas nas fronteiras em que há uma forte presença de narcotraficantes e madeireiros. Além dos projetos de exploração de petróleo e gás natural no Cale do Juruá, essa é uma área de nascedouro de grandes rios que compõem a bacia Amazônica, a maior bacia hidrográfica de água doce da superfície do mundo”.

3. O “caso da Amazônia Equatoriana, indígenas e comunidades rurais de Tundayme”, que vêm sendo afetados pela exploração de mineradoras na extração de ouro e cobre em suas terras. Essa realidade causa a poluição de rios e força a expulsão de seus lugares de habitação.

4. O “caso das comunidades indígenas do departamento de Wampis e Awajún Amazonas”, no Peru, que vem sendo impactados pela alienação ou concessão de suas terras para fins de exploração de minérios.

O Cardeal Hummes ressalta que essa ação junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos – CIDH faz parte de um dos eixos de atuação da Repam: Direitos Humanos e Igreja de Fronteira. Segundo Dom Cláudio:

“Esse eixo é uma espécie de escola em que trabalha na formação e conscientização das pessoas. E assim vão aparecendo casos de violação dos direitos humanos, seja das comunidades ou de lideranças. São mais de dez casos apresentados à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, e praticamente todos, ligados à questão da mineração”.

O cardeal ainda lembra de ter a Repam, um espaço de cooperação junto à CIDH. A audiência na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) faz parte de um processo de formação, promoção, defesa e exigência de Direitos Humanos que a Repam acompanha nos países amazônicos. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) é uma das entidades do sistema interamericano encarregado da promoção e proteção dos direitos humanos no continente americano.

COOPERAÇÃO

Em agosto de 2016 foi assinado um acordo de cooperação mútua com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), o que torna possível à Repam expressar a problemática delicada e urgente que as populações indígenas e a própria Amazônia estão sofrendo. Segundo Dom Pedro Ricardo Barreto Jimento, arcebispo de Huancayo, no Peru, e referencial da Repam no Conselho Episcopal Latino-Americano – Celam:

“Este acordo propicia a ambas as partes não interesses institucionais, mas o interesse de poder defender a vida e os direitos humanos das pessoas, especialmente dos pobres e das comunidades indígenas da Amazônia”. 

O acordo busca a promoção, a defesa e a exigência de respeitar os direitos humanos na Pan-Amazônia, além de representar um incremento no acompanhamento eclesial no presente e no futuro de territórios e comunidades dos nove países da área.

Fonte:

CNBB

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