Diversidade – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 25 Apr 2024 18:28:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Diversidade – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Leiga católica lança livro sobre a missão de mães cristãs no acolhimento de filhos LGBTQIA+ https://observatoriodaevangelizacao.com/leiga-catolica-lanca-livro-sobre-a-missao-de-maes-cristas-no-acolhimento-de-filhos-lgbtqia/ Thu, 08 Sep 2022 22:53:22 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45900 [Leia mais...]]]> “Se uma pessoa é gay e busca a Deus, tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”, a frase dita em 2013 pelo Papa Francisco em seu voo de retorno da Jornada Mundial da Juventude no Brasil, tornou-se um marco fundamental do trabalho pastoral com pessoas homossexuais na Igreja. De lá pra cá, importantes reflexões, iniciativas e caminhos foram abertos para o cuidado desta parte significativa do povo de Deus que, historicamente, sofre com discriminações sociopolíticas e religiosas que a coloca em situação de vulnerabilidade e sofrimento.

É a partir de seu encontro com essa realidade fronteiriça, que a dentista Sílvia Kreuz escreve seu primeiro livro: “Um café na fronteira”. Trata-se de uma série de relatos de uma mulher, mãe e cristã que, no contato com a realidade da diversidade sexual, soube ressignificar seus valores e espiritualidade a partir da ética do cuidado e do amor incondicional.

Sílvia relata em seu livro as experiências vividas desde a revelação da homossexualidade de uma de suas filhas, passando por sua militância LGBTQIA+ e como estas realidades impactaram seu trabalho pastoral, culminando na fundação do grupo MAMI (Mães do Amor Incondicional). O grupo, iniciado em Curitiba-PR, onde Sílvia atua também como coordenadora da Escola de Fé-Política da dimensão sócio-transformadora da Arquidiocese, tem a missão de acolher, orientar e fortalecer os laços de famílias cristãs que fazem a corajosa opção da não exclusão: querem manter-se como espaços de aceitação, segurança e afeto de seus filhos LGBT+, sem renunciarem às suas vivências nas comunidades de fé as quais pertencem.

Na verdade, “Um café na fronteira” escancara o absurdo, relembrando o óbvio: ter que escolher entre amar e proteger seus filhos e viver coerentemente com sua fé cristã nunca deveriam ser escolhas antagônicas. Como afirma a própria autora, seu desejo é que a obra ajude as famílias para que “após termos feito a experiência do encontro e do abraço, sejamos capazes de trazer nossos filhos para a posição que nunca poderiam ter imaginado perder: a de pessoas dignas, filhos, filhas e filhes de Deus”.

O livro pode ser adquirido pelo site da Editora Metanoia, clicando aqui.

]]>
45900
A fé é plural https://observatoriodaevangelizacao.com/a-fe-e-plural/ Thu, 10 Feb 2022 18:43:45 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=43378 [Leia mais...]]]> Deus está em todas as coisas. Essa afirmação, que por muitos pode ser tomada como panteísta, é defendida por Tomás de Aquino em sua monumental Suma Teológica logo entre suas primeiras questões. É através das coisas – suas obras – , inclusive, que podemos conhecer a Deus, já que para nós, em si, sua existência não é evidente. Do múltiplo, podemos chegar ao uno.

A pluralidade é um dom da criação. Não um defeito, uma degeneração. Mas uma riqueza que nos ajuda a compreender Deus, que é unidade, mas também diversidade. A concepção cristã de Deus, aliás, traz em si um importante ressalte à diversidade que existe no próprio Criador. A noção de Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) expressa um Deus que não é monolítico, mas que manifesta sua unidade a partir de um paradigma relacional, familiar.

Um mundo uniforme, portanto, estaria muito mais distante do Criador do que um mundo de plurais possibilidades, culturas, manifestações. Uma humanidade homogênea em pensamento e espiritualidade não poderia ser chamada “à imagem e semelhança de Deus”. A pluralidade dá testemunho do divino, tanto quanto a unidade, entendida como relação.

Desta realidade teológica, decorre um imperativo pastoral: dialogar com as diferenças, incluí-las e legitimá-las faz parte do caminho do discipulado cristão. Este diálogo, presente desde as primeiras comunidades eclesiais e muito claramente expresso no apostolado de Paulo junto aos pagãos, é, em si, o que chamamos de unidade.

No amor ágape manifesto pelo Pai através de Jesus Cristo, ser uno significa antes uma meta, uma dinâmica de “vir a ser”, do que um dado determinado da realidade eclesial. “Que sejam um” é a oração e o desejo do Bom Pastor para “estes” e “aqueles”, que fazem e que virão a fazer parte do seu redil (Jo 17, 20-21). Este é o caminho de sinodalidade que a Igreja é chamada a percorrer continuamente, não só para testemunhar sua unidade interna, mas sobretudo a encontrar, nutrir e sustentar. O caminhar conjunto dos discípulos missionários é, portanto, numa lógica trinitária, acolhida familiar das diferenças, abertura à diversidade, escuta das vozes que clamam das plurais periferias, tantas vezes silenciadas pelo núcleo duro do poder e da cultura hegemônica.

Nas relações amorosas se diz que os opostos se atraem; talvez aqui, a ideia de oposição seja uma radicalização questionável da atração à diferença. Não se pode negar, porém, que o verdadeiro amor não se manifesta sobre o que lhe é absolutamente igual, mas é parte constitutiva dele justamente o enlace entre as diferenças. A unidade, portanto, se dá no amor, porque é realidade relacional e não solitária.

Deus é amor, porque é plural. Porque aquele que não sabe se reconhecer no múltiplo, não aprende a amar sequer a si mesmo. Torna-se célula avulsa de um corpo orgânico de multiformes relações e interdependências; fadada, portanto, à morte, pois fora da unidade diversa do corpo não há vida.

Crer significa reconhecer, na multiplicidade das coisas, a presença de um Deus Amor. A espiritualidade fecunda é aquela que se reconhece parte, e não todo. E porque aberta à diversidade da vida, aprende a reconhecer o amor, que é força capaz de unir o que está disperso e que faz do que é plural não uma divisão, mas uma unidade viva. 

Matheus Cedric
É professor de Filosofia e Ensino Religioso e autor de material didático para Educação Básica nas mesmas áreas. É cofundador da Oficina de Nazaré. Atualmente estuda Teologia na PUC Minas, onde trabalha como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização.

]]>
43378
Escutar, estar junto, comunhão, empatia, acolhimento. Eis os anseios dos tempos de Francisco! https://observatoriodaevangelizacao.com/escutar-estar-junto-comunhao-empatia-acolhimento-eis-os-anseios-dos-tempos-de-francisco/ Tue, 08 Feb 2022 14:43:55 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=43319 [Leia mais...]]]> Vivemos em um mundo onde tudo está conectado: afetos, pensamentos, amores, ódios, conhecimentos… Também vivemos em um mundo onde tudo está distante: pessoas, sentimentos, vidas reais… Uma época de contradições é a nossa. Temos a chance de mudar o rumo. Pela experiência clínica, vejo que cada vez mais as pessoas correm sem direção, se enganam e se apegam em muletas provisórias, estão ansiosas e próximas à depressão.

Um bom caminho e necessário ao nosso tempo é o da prática da empatia. Precisamos buscar entender o outro. Parece algo fácil e um clichê, mas como devemos iniciar esse processo e por que temos dificuldade de realizá-lo?

Uma resposta possível é que nos apegamos a um modelo único de vida e de mundo, normalmente o nosso mundo. Temos características constitutivas da nossa personalidade que tendem ao narcisismo, então acreditamos que o que é nosso, em diversos âmbitos, é melhor. O contrário também é verdadeiro: muitas vezes achamos que não temos nada de bom e que não podemos assumir nada dos outros, não temos essa condição. Em ambas as situações, o outro e seu mundo estão distantes, como colocados diante de um muro.

Uma atitude que deve ser levada a sério é a da escuta. Parece algo fácil e banal, não é mesmo? Contudo, é algo extremamente raro hoje em dia. Será que a maioria das pessoas hoje consegue escutar o outro (pais e filhos, colegas de trabalho, cônjuges, amigos) durante 10 minutos, atentamente e sem dar alguma opinião direcionando o problema ou a conversa para uma resolução? Escutar implica em silêncio e o mundo em que vivemos tem muito ruído. Somos incapazes de escutar o outro em uma cultura da indiferença. Escutar é um gesto coletivo. Somente a partir da escuta podemos entender a diferença e é pela diferença que avançamos em nossa dimensão humana.

Uma armadilha da escuta é sua característica colonizadora, a partir da ideia de que um sabe e o outro irá aprender.

A escuta é tão necessária e, por vez, complexa, que alguns autores chamam a atenção para sua importância, como o escritor alemão Goethe (1749-1832): “Falar é uma necessidade, escutar é uma arte”. Também Zenão (334-263 a.C.), antes de Cristo afirmou: “A natureza deu-nos somente uma boca, mas duas orelhas, de modo que nós devemos falar menos e escutar mais”.

Uma armadilha da escuta é sua característica colonizadora, a partir da ideia de que um sabe e o outro irá aprender. Nada mais arcaico em nosso meio, apesar de ser extremamente comum. Em um mundo complexo, é preciso fugir às pré-concepções ou compreensões rasas e apressadas.

Não entendemos tudo, não entendemos o outro. Nos resta escutar, pois a fala do outro é o único caminho para mostrar elementos que estavam escondidos e eram estranhos à nossa subjetividade. A ideia de que um está com a razão deve ser superada. Em um diálogo, os dois podem estar equivocados. Não devemos cair em dois monólogos. A essência da comunicação são os resquícios, o que não foi concluído, os mal-entendidos. Uma boa escuta é aquela que consegue suportar a incerteza, que produz, em algum grau, angústia e uma nova experiência, aberta. Escutar o outro é renunciar a si mesmo e perceber que o mundo é maior que nós mesmos. Somente assim, podemos evoluir e alcançarmos um estado de empatia, verdadeiramente.

Grandes violências na história se deram pelo fato do ser humano não saber escutar o outro: culturas, religiões, comportamentos, artes, ciências. A origem da violência está em um mecanismo mimético cultural, no sufocamento do outro em sua subjetividade e consequente existência.

Grandes violências na história se deram pelo fato do ser humano não saber escutar o outro: culturas, religiões, comportamentos, artes, ciências. A origem da violência está em um mecanismo mimético cultural, no sufocamento do outro em sua subjetividade e consequente existência.

O papa Francisco vem insistindo na importância da escuta. No seu documentário recente (“A Sabedoria do Tempo”), enfatiza que não devemos dizer palavras de consolo para que a pessoa saia de uma situação trágica, difícil, como em um passe de mágica. Muitas vezes, não há o que fazer, nem o que dizer, apenas escutar. Escutar é um gesto de estar junto, de dar as mãos. É o ato mais urgente e necessário em momentos desérticos. Entender o outro, descolonizando discursos, é um passo fundamental às nossas atividades pastorais. Uma igreja em saída, em escuta às dores do mundo, aos seus sentidos e seus abismos, uma igreja com o espírito sinodal:

Temos a oportunidade de nos tornarmos uma Igreja da proximidade, que estabeleça, não só por palavras, mas com a presença, maiores laços de amizade com a sociedade e o mundo: uma Igreja que não se alheie da vida, mas cuide das fragilidades e pobrezas do nosso tempo, curando as feridas e sarando os corações dilacerados com o bálsamo de Deus”.

FRANCISCO, outubro de 2021

Antes, em 2020, no início da pandemia, em uma missa matutina na Santa Marta, disse o pontífice: “Neste tempo há tanto silêncio. O silêncio também pode ser ouvido. Que este silêncio, que é um pouco novo em nossos hábitos, nos ensine a escutar, nos faça crescer na capacidade de ouvir”.

Escutar, estar junto, comunhão, empatia, acolhimento. Eis os anseios dos tempos de Francisco!

Prof. René Dentz

René Dentz é leigo, professor do departamento de Filosofia e do curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 7 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020). Pesquisador do Grupo de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia”, na FAJE-BH.

]]>
43319