diálogo – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Wed, 24 Apr 2024 12:44:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 diálogo – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Para a SOUC – Semana de Oração pela Unidade Cristã https://observatoriodaevangelizacao.com/para-a-souc-semana-de-oracao-pela-unidade-crista/ Wed, 24 Apr 2024 12:44:05 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49733 [Leia mais...]]]>
A busca da unidade ao longo de todo o ano

Promovida mundialmente pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas, a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) acontece em períodos diferentes nos dois hemisférios.

No hemisfério Norte, o período tradicional para a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) é de 18 a 25 de janeiro. Essas datas foram propostas em 1908, por Paul Watson, pois cobriam o tempo entre as festas de São Pedro e São Paulo, e tinham, portanto, um significado simbólico.


No hemisfério Sul, por sua vez, as Igrejas geralmente celebram a Semana de Oração no período de Pentecostes (como foi sugerido pelo movimento Fé e Ordem, em 1926), que também é um momento simbólico para a unidade da Igreja. No Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) lidera e coordena as iniciativas para a celebração da Semana em diversos estados.

Levando em conta essa flexibilidade no que diz respeito à data, estimulamos a todos os cristãos, ao longo do ano, a expressar o grau de comunhão que as Igrejas já atingiram e a orar juntos por uma unidade cada vez mais plena, que é desejo do próprio Cristo (Jo 17:21). Clique aqui e baixe a logomarca da Semana.
Semana de Oração (SOUC), edição 2024

▶ PERÍODO
De 12 a 19 de maio.

▶ TEMA

“Amarás a Deus e a pessoa próxima como a ti mesmo.” (cf Lc 10,27)

▶ ORAÇÃO OFICIAL

Clique aqui e confira a Oração oficial da SOUC para 2024.

▶ E-BOOK DA SOUC 2024
Desde o ano de 2021, os materiais alusivos à SOUC passaram a ser exclusivamente virtuais.
Clique aqui e baixe o Caderno de Celebração (e-book da SOUC 2024).
Clique aqui e baixe Rodas de Conversa (com temas bíblicos) que preparamos como material complementar.

▶ VÍDEOS DA SOUC
Preparamos uma série de vídeos para animar a Semana de Oração 2024. Clique aqui para assistir.

▶ PLAYLIST (VÍDEOS) E PARTITURAS
Clique aqui e acesse a playlist de cantos preparada pela Comunidade Taizé de Alagoinhas.
Clique aqui e baixe as partituras (também preparadas prla Comunidade Taizé de Alagoinhas).

▶ CARTAZ

A arte escolhida foi enviada por Larissa Bichuete.

Clique aqui e leia a explicação do autor para a arte.
Clique aqui para baixar o cartaz em alta resolução.

▶ INTRODUÇÃO AO TEMA PARA O ANO DE 2024
Amarás a Deus e a pessoa próxima como a ti mesmo (cf. Lc 10, 27) é o tema da Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC).
Os materiais da Semana de Oração pela Unidade Cristã de 2024 foram preparados por uma equipe ecumênica de Burkina Faso, coordenada pela Comunidade Chemin Neuf (CCN). A CCN é uma comunidade católica com vocação ecumênica, nascida em Lyon, França, em 1973. Sua inspiração é a dinâmica do Vaticano II, a tradição inaciana e a experiência da Renovação Carismática. Para elaborar o material da SOUC 2024, a Comunidade Chemin Neuf convidou pessoas da Arquidiocese Católica de Uagadugu, das igrejas protestantes, dos órgãos ecumênicos e da CCN de Burkina Faso.
No Brasil, o CONIC convidou a Comunidade de Taizé de Alagoinhas/Ba para realizarem a adaptação dos subsídios. Para a nossa felicidade, a Comunidade de Taizé aceitou o convite e adaptou, com espírito ecumênico e comunitário, o material proposto pelas igrejas de Burkina Faso. Agradecemos profundamente a generosidade e a disposição dos irmãos e irmãs da Comunidade de Taizé de Alagoinha. O caderno apresenta três roteiros celebrativos, que formam um caminho com três paradas. Primeira: somos um; segunda: oração da cruz e terceira: oração da luz.
A escolha pelo versículo bíblico do Evangelho de Lc 10,27 brota do contexto permanente de tensão e perseguição experimentados pelas comunidades cristãs de Burkina Faso, um país cultural e religiosamente plural, em que aproximadamente 64% da população é muçulmana, 9% adere às religiões tradicionais africanas e 26% é cristã, sendo 20% católica e 6% protestante. Esses três grupos religiosos estão presentes em todas as regiões do país e em praticamente todas as famílias.
Nossos irmãos e irmãs de Burkina Faso nos contam que todas as comunidades religiosas são impactadas pela profunda crise de segurança vivida pelo país, em consequência de um grande ataque jihadista, organizado fora do país, ocorrido no ano de 2016. Burkina Faso enfrenta uma proliferação de ataques violentos promovidos por grupos extremistas, de ilegalidade e o tráfico de pessoas. Inúmeras escolas, centros de saúde e prefeituras foram fechados e grande parte da infraestrutura socioeconômica e de transporte foi destruída. Os ataques direcionados a grupos étnicos específicos aumentam o risco de conflitos intercomunitários.
As igrejas cristãs têm sido alvo específico de ataques armados. Sacerdotes, pastores e catequistas foram mortos durante celebrações e muitos foram sequestrados e seus paradeiros são desconhecidos.  Comunidades cristãs no norte, leste e noroeste do país foram fechadas por causa das ameaças extremistas. Não há mais culto cristão público em muitas dessas áreas. Em poucos locais somente é possível celebrar sob proteção policial, desde que os cultos e missas sejam breves.
Amarás a Deus e a pessoa próxima é um convite para refletir sobre os extremismos e exclusivismos religiosos. Deus jamais é a favor de perseguições, guerras e intolerâncias religiosas.
No Brasil, nós, pessoas cristãs, podemos celebrar e orar em liberdade e segurança. No entanto, isso não significa que a violência em nome de Deus esteja ausente. Se em Burkina Fasso há comunidades cristãs perseguidas, aqui, no Brasil, pessoas indígenas que praticam as espiritualidades ancestrais e pessoas afro-brasileiras, adeptas das inúmeras tradições religiosas aprendidas com seus antepassados são perseguidas por grupos cristãos extremistas.
Burkina Faso nos diz que a única possibilidade que a fé em Jesus Cristo nos oferece é expressar o amor a Deus amando a pessoa próxima, isso significa, respeitar e amar pessoas com práticas religiosas diferentes das nossas, pois o convívio e a unidade são a melhor forma de comprometimento com o amor gratuito de Deus pela humanidade.
Este ano, vamos fazer da Semana de Oração pela Unidade Cristã uma Semana com forte apelo Ecumênico. Vamos nos dar a oportunidade de ir ao encontro de nossos irmãos e irmãs que vivem a sua fé de maneira diferente da nossa. Experimentar o amor em diversidade é encontrar Deus revelado na pessoa próxima. Estes encontros nos tornam pessoas melhores, menos conflitivas e mais amorosas.
▶ OFERTA DA SEMANA DE ORAÇÃO
A oferta da SOUC simboliza o comprometimento das pessoas com o ecumenismo. É uma forma concreta de mostrar que acreditamos realmente na unidade dos cristãos (João 17:21). Os frutos das ofertas doadas ao longo da Semana são distribuídos, anualmente, da seguinte maneira: 40% para a representação regional do CONIC (onde houver), que é destinado a subsidiar reuniões e atividades ecumênicas locais, e 60% para o CONIC Nacional, para projetos de maior alcance.
Vale lembrar que a oferta faz parte da celebração, logo, reserve um momento da liturgia para realizá-la. É um momento de gratidão pelas coisas boas que recebemos de Deus. Ofertas também poderão ser recolhidas nos encontros temáticos, durante a Semana.
Faça sua oferta ou doação por esse QR Code:

Ou faça um Pix:
conic@conic.org.br

 

 

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Guerras e armas são satânicas https://observatoriodaevangelizacao.com/guerras-e-armas-sao-satanicas/ https://observatoriodaevangelizacao.com/guerras-e-armas-sao-satanicas/#comments Sun, 27 Mar 2022 21:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44584 [Leia mais...]]]> A guerra não é um monstro do passado. O conflito entre Rússia e Ucrânia ocupa as manchetes dos principais veículos de comunicação em todo o mundo. Centenas de inocentes, civis, crianças e idosos já morreram! Cerca de 4 milhões podem deixar suas casas e o país para escapar da morte. O mundo já tem mais de 82 milhões de deslocados (Acnur-Agência das Nações Unidas para refugiados).

A Ucrânia vive uma tragédia humanitária. Os bombardeios aéreos na Síria e no Iraque provocaram a morte de milhares de civis. Contudo, há milhares de mortos e muito sofrimento em dezenas de conflitos em outras regiões do mundo. Mais de 28 países estão em guerra por territórios, por independência, por questões religiosas, por recursos naturais, etc. (Para ver outros conflitos em meio à guerra na Ucrânia, acesse mixvale.com.br)

Fome, destruição de cidades, miséria, doenças, desemprego. Os prejuízos humanos, econômicos e sociais são incalculáveis. Não há justificativa moral para a guerra. A defesa da paz exige a condenação da guerra. Quem está ganhando com as guerras? A indústria armamentista. Os fabricantes de armas aumentaram suas vendas. As maiores são dos Estados Unidos.

Enquanto líderes mundiais enviam jovens para morte, Francisco quer ouvir suas aflições, frustrações e, principalmente, suas soluções para problemas reais. O Papa acredita que a missão dos jovens é deixar, para as próximas gerações, um mundo melhor do que aquele que encontraram: “que as perguntas que a vida nos faz, que a cultura nos pede, que os problemas humanos nos pedem, sejam recebidos com a mente e com o coração, e que as respostas também sejam inteligentes, cordiais com o coração e pragmáticas com as mãos” disse o papa a estudantes católicos. “Essa é a vocação dos cristãos, construir pontes”!

Sim! Construir Pontes! O diálogo é um dos principais legados dos nove anos de pontificados de Jorge Bergoglio, completados em 13 de março. Quando se tornou o primeiro Papa jesuíta e latino-americano, recebeu uma difícil herança: escândalos de pedofilia no clero, dívidas, corrupção e tráfico de influência, e divisões na Igreja. Aos poucos, Francisco está conseguindo modificar algumas situações. Com seu olhar atento, e o desejo de promover a paz, enfrenta os grandes desafios das diversas realidades promovendo a cultura do encontro: “Somente esta cultura pode levar a uma justiça sustentável e à paz para todos, bem como a um autêntico cuidado por nossa casa comum.”

Argentino filho de imigrante italianos, é carismático e acessível, porém discreto. Mantem hábitos simples, carregando a alegria do Evangelho. Firme defensor da ecologia e da dignidade dos pobres, descartados e discriminados, Papa Francisco não escapa às críticas de conservadores e progressistas. Quer fazer da Igreja uma comunidade participativa através da sinodalidade, onde “todos são protagonistas”. É preciso deixar-se mover pelo Espírito Santo para “descobrir a geografia da salvação divina, abrindo portas e janelas, derrubando muros, rompendo correntes, libertando fronteiras”.

Em Fratelli tutti, Francisco ressalta a importância de se restaurar a fraternidade entre os povos. Para que haja paz e respeito, é fundamental a democracia, a liberdade e a justiça. O documento afirma que “somos todos chamados a estar próximos uns dos outros, superando preconceitos e interesses pessoais. O amor constrói pontes e nós somos feitos para o amor”. “A melhor política” é aquela que se traduz na caridade e no amor social a serviço do bem comum.

A guerra é a pior das políticas. Francisco é promotor incansável da paz. A verdadeira paz “só se pode alcançar quando lutamos pela justiça através do diálogo, buscando a reconciliação e o desenvolvimento mútuo”. Para ele, “a guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal. Não fiquemos em discussões teóricas, tomemos contato com as feridas, toquemos a carne de quem paga os danos” (Fratelli tutti, 261).

Em meio a tantas guerras, Papa Francisco levanta sua voz: “Ouça o grito de quem sofre, e se ponha fim aos bombardeios e aos ataques…parem este massacre!” … “Quem faz a guerra esquece a humanidade. Não parte do povo, não olha para a vida concreta das pessoas, mas coloca diante de tudo os interesses de poder. Baseia-se na lógica diabólica e perversa das armas, que é a mais distante da vontade de Deus. E se distancia das pessoas comuns, que desejam a paz; e que em cada conflito – pessoas comuns – são as verdadeiras vítimas, que pagam as loucuras da guerra com a própria pele”.

Desejemos a paz. Lutemos pela paz todos os dias. O diálogo é a única forma racional para a paz. Que o dinheiro usado em armas seja revertido para acabar de vez com a fome no mundo.

“Nunca mais a guerra!”

/*! elementor – v3.5.6 – 17-03-2022 */
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pe. Élio Gasda, SJ
É jesuíta, doutor em Teologia, autor, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). 

Fonte: https://faculdadejesuita.edu.br/fajeonline/palavra-presenca/guerras-e-armas-sao-satanicas-papa-nicolau/

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https://observatoriodaevangelizacao.com/guerras-e-armas-sao-satanicas/feed/ 1 44584
Formação da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo inter-religioso da CNBB Leste 2 https://observatoriodaevangelizacao.com/formacao-da-comissao-para-o-ecumenismo-e-o-dialogo-inter-religioso-da-cnbb-leste-2/ Wed, 16 Mar 2022 12:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44370 [Leia mais...]]]> À luz do tema ”Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso: conhecer e avançar na prática pastoral” a Regional Leste 2 da CNBB promoverá, no dia 17 de Março, às 19h30, uma formação assessorada por Dom Francisco Costa, Bispo Diocesano de Sete Lagoas e referencial da Comissão, e pelo Prof. Edward Guimarães, Assessor Teológico da Comissão e membro da Equipe Executiva do Observatório da Evangelização.

O momento será conduzido virtualmente através da plataforma ZOOM.

Faça sua inscrição no link ➡ https://www.encurtador.com.br/ehnzA

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“A guerra é a derrota do ecumenismo”. Entrevista com Andrea Riccardi. https://observatoriodaevangelizacao.com/a-guerra-e-a-derrota-do-ecumenismo-entrevista-com-andrea-riccardi/ Mon, 07 Mar 2022 21:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44179 [Leia mais...]]]> A divisão do cristianismo está fundada na falta de diálogo, escuta e entendimento de seus elementos humanos, bem como uma teologia atenta ao momento histórico. O diálogo inter-religioso se mostra como caminho urgente, mas pouco ainda desenvolvido em contextos iminentes ao conflito. A guerra na Ucrânia se torna o novo ponto de inflexão deste diálogo mais que necessário, urgente. Acompanhe a opinião de Andrea Riccardi, historiador italiano, fundador da comunidade de Santo Egídio, na entrevista originalmente publicada por Paolo Viana no portal Avvenire e traduzida para o portugês por Luisa Rabolini:


♦ Professor Riccardi, há seis dias, a comunidade de Santo Egídio propôs fazer de Kiev uma “cidade aberta” e, em vez disso, a capital ucraniana ainda está sob ameaça das bombas e tanques de Moscou. É realista imaginar esta solução?

Ainda é possível salvar Kiev da destruição – responde Andrea Riccardi, historiador, fundador da comunidade de Santo Egídio e ministro do governo Monti -, na luta casa por casa, rua por rua, e é preciso fazer isso para salvar vidas humanas, pelo valor da cidade – Kiev é a Jerusalém da ortodoxia da Rus’ e, portanto, para a ortodoxia bielorrussa russa e ucraniana -, e porque tirar Kiev da guerra significa tirar espaço do confronto armado. Kiev não deve se tornar Aleppo.

♦ O que você acha da proposta russa de abrir corredores humanitários?

Os corredores humanitários são sempre um objetivo de quem quer a paz, mas em geral são algo diferente das propostas russas de hoje. Sem falar que os corredores para fugir já existem e os ucranianos os estão usando.

♦ Os ucranianos, no entanto, gostariam de estar mais protegidos nesta fuga. A decisão da OTAN de não declarar a Zona de exclusão aérea é um ato de fraqueza e causará um massacre, como afirma Zelensky?

Entendo o presidente ucraniano, mas o Ocidente tem duas responsabilidades: com a Ucrânia e com o Ocidente. Li a decisão de não declarar a Zona de exclusão aérea, que também poderia levar a uma escalada do conflito com a Rússia, como um ato de responsabilidade e não de fraqueza.

♦ Como lê a resistência ucraniana?

É uma guerra estranha, que não esperávamos e que Putin também não esperava. No entanto, era evidente que o envio de jovens russos criados em tempos de paz e jovens ucranianos que eram irmãos dos russos há anos – estou pensando nos laços criados por viagens, comércio e especialmente mídias sociais – teria provocado diferenças. Surge a grande contradição dos laços globais que vão além das fronteiras. Cada um pertence ao seu próprio país e a muito mais, e cada um sente que a guerra está rompendo laços importantes. A leitura russa de que a Ucrânia teria caído facilmente se mostrou muito errada: vi personalidades pró-Rússia e de língua russa se posicionarem contra esse conflito. Li o metropolita chefe da Igreja Ortodoxa ucraniana dirigindo-se ao Patriarca Kirill e Putin defendendo os argumentos ucranianos.

♦ Há igrejas ortodoxas em guerra, há católicos russos e católicos ucranianos em guerra, sem falar nas diferenças entre católicos e ortodoxos nos países vizinhos. A teologia muda com base em onde a pessoa está?

O catolicismo é uma grande “internacional” e para a Igreja Católica a guerra é um terreno impossível porque os católicos estão sempre deste lado e do outro. Somos uma minoria nos dois países em guerra e o verdadeiro drama, quero lembrá-los, é precisamente aquele dos ortodoxos, para não falar da difícil situação dos greco-católicos. As igrejas ortodoxas têm um problema muito sério: a Ortodoxia de Moscou está dividida entre a Rússia e a Ucrânia e o Patriarcado de Moscou está na posição em que Pio XII estava quando foi criticado pelos “silêncios” diante da guerra mundial.

♦ A guerra silenciará o ecumenismo?

O ecumenismo significa paz e a guerra é a derrota das Igrejas. O Patriarca Atenágoras dizia “Igrejas irmãs, povos irmãos”. Esta guerra é objetivamente a derrota do ecumenismo cristão: a ortodoxia já está dividida e neste momento devemos acreditar que a paz será o desafio da Igreja para todo o século que vivemos.

A paz será o desafio da Igreja para todo o século que vivemos.
(Andrea Riccardi)

♦ O mundo católico está fazendo a sua parte?

Surpreende-me até a vitalidade da reflexão em curso no mundo católico, que redescobriu o tema da paz. Como todos os papas, Francisco falou claramente contra a guerra. É claro que, para ser honesto, eu esperava das Igrejas europeias uma resposta mais ativa às palavras do Pontífice. Assim como, da Igreja alemã, um debate sobre o rearmamento da Alemanha. Vejam bem, este não é o tema “usual” para uma discussão eclesial. Aqui não se trata de concordar com as palavras de um documento, mas de tomar partido entre a vida e a morte.

♦ Na Itália ainda haverá divisão sobre a guerra “justa”?

Estou muito angustiado ao ver pessoas fugir e morrer para me preocupar com a “guerra justa”.

♦ Putin é acusado de ser o novo Hitler: historicamente, qual é a diferença entre a Polônia de 1939 e a Ucrânia de 2022?

A história deve esclarecer-nos, mas a história não é aquela dos cartões postais, a história não julga, a história compreende. A Rússia foi humilhada e cercada pela OTAN e está se relançando através de uma presença imperial não apenas na Ucrânia. Não sou o defensor de Putin, mas existem dinâmicas e existe um cenário. A cada dia que passa fica mais difícil, mas devemos sair dessa guerra deixando uma rota de fuga não apenas para os refugiados, mas também para o líder russo.

♦ O que você acha dos diálogos de Brest?

Que está faltando um mediador.

♦ Quem poderia ser?

Angela Merkel. Os governos europeus deveriam procurá-la. E rápido.

♦ A famosa “diplomacia paralela” de Santo Egídio caminha nessa direção?

Santo Egídio está se movendo para oferecer solidariedade aos ucranianos, as nossas comunidades na Polônia, Hungria e Eslováquia estão trabalhando. E trabalhamos para Kiev ser uma cidade aberta.

♦ O senhor foi Ministro da Cooperação Internacional e Integração. Como avalia este tsunami humanitário que está assolando a Europa?

Nestas horas, lembro-me das divergências entre os países orientais e ocidentais sobre a gestão dos refugiados sírios. Agora não há mais divisões e isso é bom. Espero que a Polônia peça aos outros parceiros europeus que assumam quotas de refugiados e espero uma resposta rápida e positiva. Estamos falando de seis milhões de pessoas, uma maré difícil de administrar. Quando temos medo de tantas pessoasem fuga, precisamos lembrar que eles estão fugindo da morte e que são as cuidadoras que cuidam de nossas mães e os caminhoneiros que abastecem as nossas lojas… pessoas como nós. Também desta vez.

♦ Esta guerra mudará a Europa?

Espero que sim e acredito que seja inevitável. O rearmamento alemão deveria ocorrer no quadro de um instrumento de defesa europeu que se torna urgente e necessário, bem como de uma política externa comum. Acredito que a guerra ucraniana tenha compactado ainda mais os europeus, depois que a pandemia os convenceu de que só podemos nos salvar juntos. Mas, repito, agora devemos parar a guerra, porque as guerras do nosso século são intermináveis. Que o diga a Síria.

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Andrea Riccardi
É um historiador e acadêmico italiano. Graduado em História Contemporânea pela Universidade de Estudos de Roma III, é notável estudioso da Igreja na Idade Moderna e Contemporânea, bem como fundador da Comunidade de Santo Egídio.

Paolo Viana
É repórter enviado especial do portal italiano Avvenire. Graduado em Ciências Políticas pela Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão.

Luisa Rabolini
Possui graduação em Biologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e graduação em Letras – Tradutor e Intérprete pela mesma instituição. Atualmente é tradutora de italiano para o Instituto Humanitas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/616667-kiev-nao-pode-ser-a-nova-aleppo-a-guerra-derrotada-do-ecumenismo-entrevista-com-andrea-riccardi

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“Para ser ouvida, a Igreja precisa mudar de método.” Entrevista com Jean-Claude Hollerich, relator do próximo Sínodo. https://observatoriodaevangelizacao.com/para-ser-ouvida-a-igreja-precisa-mudar-de-metodo-entrevista-com-jean-claude-hollerich-relator-do-proximo-sinodo/ Mon, 28 Feb 2022 12:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44036 [Leia mais...]]]>

O jesuíta, Jean-Claude Hollerich, cardeal responsável por ser o relator do próximo sínodo. mostra-se uma figura de abertura e diálogo com os principais temas da contemporaneidade. Numa entrevista permeada pela franqueza e a humildade de um homem experimentado pela missão e por um olhar agudo às mudanças de nosso tempo, o cardeal oferece um panorama de possibilidades e reflexões que devem iluminar a Igreja em um processo de verdadeira conversão institucional. A entrevista foi conduzida por Loup Besmond de Senneville, da revista La Croix, e traduzida por Moisés Sbardelotto, do IHU. Leia a seguir:

♦ O senhor foi missionário no Japão, é jesuíta, arcebispo de Luxemburgo, cardeal… Sempre buscou a Deus do mesmo modo?

Quando eu cheguei ao Japão como jovem padre, foi um grande choque. Na época, eu era um jovem impregnado do catolicismo popular de Luxemburgo. Com outros jesuítas, cada um proveniente de um ambiente católico diferente, vimos muito cedo que os nossos modelos de catolicismo não correspondiam à expectativa do Japão. Para mim, isso foi uma crise. Eu tive que me abstrair de todas as devoções que até então constituíam as riquezas da minha fé, renunciar às formas que eu amava. Fui confrontado com uma escolha: ou renunciava à minha fé porque não encontrava as formas que eu conhecia, ou iniciava uma jornada interior. Eu escolhi a segunda opção. Antes que pudesse proclamá-la, eu tive que me tornar um buscador de Deus. Eu dizia insistentemente: “Deus, onde estás? Onde estás na cultura tradicional e na cultura do Japão pós-moderno?”. De volta à Europa depois de 10 anos, eu tive que recomeçar. Achei que encontraria ali o catolicismo que eu havia deixado na minha juventude. Mas aquele mundo não existia mais… Hoje, nesta Europa secularizada, tenho que fazer o mesmo exercício: buscar a Deus.

♦ A Europa hoje voltou a ser uma terra de missão?

Sim. Há muito tempo. O Luxemburgo da minha juventude se assemelhava um pouco à Irlanda, com grandes procissões, uma forte piedade popular… Quando eu era pequeno, todas as crianças iam à igreja. Meus pais não iam, mas me mandavam, porque era normal fazer isso. Lembro que na escola uma criança da minha turma não tinha feito a primeira comunhão, e foi um escândalo. Agora, o que provoca escândalo, em vez disso, é que uma criança a faça. Mas, refletindo, dou-me conta de que aquele passado não era tão glorioso. Evidentemente, eu não percebia isso quando era criança, mas percebo hoje que, já naquela época, havia muitas fissuras e muita hipocrisia naquela sociedade. No fundo, as pessoas não acreditavam mais do que acreditam hoje, mesmo que fossem à igreja. Elas tinham uma espécie de prática dominical cultural, mas sem que isso se inspirasse na morte e ressurreição de Cristo.

♦ Na sua opinião, essa prática cultural do catolicismo acabou?

Ainda não totalmente. Isso varia de acordo com as regiões do mundo. Mas estou convencido de que a Covid vai acelerar esse processo. Em Luxemburgo, temos um terço de praticantes a menos. Tenho certeza de que não vão voltar. Entre eles, encontram-se pessoas de uma certa idade que acharão difícil e cansativo retomar a prática religiosa, deslocar-se para ir à igreja. Mas há também aqueles católicos para os quais a missa dominical se resumia a um rito importante, que assegurava uma estabilidade na sua vida. Para muitos, dizer-se católico ainda é uma espécie de hábito ligado a uma moral geral. Segundo eles, isso contribui para dar uma certa solidez à sociedade, para ser “bons cristãos”, mas sem definir verdadeiramente o que isso significa. Mas essa época tem que acabar. Agora, temos que construir uma Igreja sobre a fé. Já sabemos que somos e seremos uma minoria. Não devemos nem nos surpreender nem lamentar. Tenho a doce certeza de que o Senhor está presente na Europa atual.

♦ Não tem dúvidas sobre isso?

Não, nenhuma. Essa não é mais uma questão que me obceca. Quando eu era mais jovem, eu tinha medo de não o encontrar, eu era meio que obcecado por esse temor. Eu tinha que o descobrir ou afundaria. Agora estou muito mais tranquilo.

♦ É a sabedoria da idade?

Não sei se existe uma sabedoria da idade (risos). Eu ficaria feliz se ela existisse! Mas, no fundo, sempre fazemos as mesmas tolices e esbarramos sempre no mesmo muro. Pelo menos, sabemos que o muro está lá e que vai doer. Também já sei que não sou nada mais do que um instrumento do Senhor. Existem muitos outros. Essa consciência me leva a ter sempre um pouco de desconfiança em relação a todos aqueles que dizem ter a receita certa para anunciar Deus.

♦ Não existe uma receita mágica?

Não, há apenas a humildade do Evangelho.

♦ E, quando era mais jovem, o senhor acreditava em receitas mágicas?

Sim, claro, eu acreditava. Mas é um pecado da juventude. Evidencia o entusiasmo dos jovens…

♦ A mensagem do cristianismo continua sendo pertinente hoje?

Sim, porque o ser humano não mudou depois de 2.000 anos. Está sempre em busca da felicidade e não a encontra. Está sempre sedento de infinito e se depara com seus próprios limites. Comete injustiças que têm graves consequências para outras pessoas, o que nós chamamos de pecado. Mas agora vivemos em uma cultura que tende a reprimir o que é humano. Essa cultura do consumismo promete satisfazer os desejos do ser humano, mas não consegue. No entanto, nos momentos de crise, de choque, as pessoas se dão conta de que muitíssimas questões dormem no fundo dos seus corações. A mensagem do Evangelho é de um frescor excepcional para responder a essa busca de sentido e de felicidade. A mensagem é sempre pertinente, mas os mensageiros às vezes aparecem em uma veste de tempos passados, e esse não é o melhor serviço prestado à própria mensagem… Por esse motivo, devemos nos adaptar. Não para mudar a mensagem, evidentemente, mas para que ela possa ser compreendida, mesmo que sejamos nós que a anunciamos. O mundo está sempre em busca, mas não vem mais ao nosso encontro para procurar, e isso dói. Devemos apresentar a mensagem do Evangelho de modo que as pessoas possam se orientar para Cristo.

♦ Precisamente por isso, o Papa Francisco lançou em outubro passado um Sínodo sobre a sinodalidade, do qual o senhor é uma referência geral. O senhor afirmou recentemente que não sabe o que vai escrever no relatório…

Eu devo ser aquele que deve escutar. Se eu fizer muitas propostas, isso desencorajará as pessoas que têm outro ponto de vista. Então, são as pessoas que devem “encher” a minha cabeça e as páginas. O Sínodo é isso. Ele deve ser aberto. Como diz o papa, o “mestre de obras” é o Espírito Santo. Portanto, nós devemos lhe dar espaço. Se esse método é importante é porque hoje não podemos mais nos contentar em dar ordens de cima para baixo. Em todas as sociedades, na política, nas empresas, o que importa agora é fazer rede. Essa mudança na tomada de decisões anda de mãos dadas com uma verdadeira mudança de civilização que devemos enfrentar. E a Igreja, como sempre fez ao longo da história, deve se adaptar a ela. A diferença é que, desta vez, a mudança de civilização tem uma força inédita. Temos uma teologia que ninguém mais compreenderá daqui a 20 ou 30 anos. Essa civilização passará. É por isso que precisamos de uma nova linguagem que deve se fundamentar no Evangelho. E toda a Igreja deve participar no desenvolvimento dessa nova linguagem: esse é o sentido do Sínodo.

♦ Como presidente da Comece [Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia], o senhor participou no início de outubro de uma reunião com os partidos europeus de direita e de centro-direita em Roma. Ao sair, o cardeal Parolin encorajou a não considerar o cristianismo como um supermercado no qual apenas alguns valores podem ser escolhidos. É uma tentação presente nos políticos?

Sim, é claro. A direita toma os símbolos cristãos, mostra terços e crucifixos, mas nem sempre em relação com o mistério de Cristo. Fazem isso em relação à nossa cultura europeia do passado. Querem fazer referência a uma cultura para conservá-la. É um mau uso da religião. Na esquerda, eu também conheço políticos e políticas que se dizem cristãos convictos, que lutam contra as mudanças climáticas, mas votam no Parlamento Europeu para que o aborto seja um direito fundamental e para que a liberdade de consciência dos médicos seja limitada. Isso também é confundir a religião com um supermercado. É possível ser democrata-cristão, socialista, ecologista… e ao mesmo tempo ser cristão. Essa diversidade de formações políticas, além disso, é algo bom para a sociedade. Mas os responsáveis políticos tendem a encerrar as suas preferências religiosas no âmbito privado. Nesse caso, não é mais uma religião, mas uma convicção pessoal. A religião requer um espaço público para se expressar.

♦ Mas assim não é mais difícil para os cristãos se engajarem na política?

Em primeiro lugar, é verdade que há menos cristãos. Além disso, é verdade que eles estão cada vez menos engajados na política. É possível ver isso depois de cada eleição. Além disso, é evidente que a mensagem dos bispos não chega mais à sociedade. Vocês experimentam isso na França há vários anos. Essa experiência é a consequência da nossa minoridade. Para fazermos com que se compreenda aquilo que queremos, devemos iniciar um longo diálogo com aqueles que não são mais cristãos ou que o são apenas marginalmente. Se temos certas posições, não é porque somos conservadores, mas porque pensamos que a vida e a pessoa humana devem estar no centro. Para poder dizer isso, eu acho que devemos estabelecer diálogos e amizades com os tomadores de decisão e os responsáveis políticos que pensam diferente. Mesmo que não sejam cristãos, nós compartilhamos com eles uma preocupação honesta de colaborar para o bem da sociedade. Se não queremos viver em uma sociedade fragmentada, precisamos ser capazes de escutar o pensamento de uns e de outros.

♦ Isso significa que a Igreja deve renunciar a defender as suas ideias?

Não, não se trata disso. É preciso tentar compreender o outro, para estabelecer pontes com a sociedade. Para falar da antropologia cristã, devemos nos basear na experiência humana do nosso interlocutor. Mesmo que a antropologia cristã seja maravilhosa, logo ela não será mais compreendida, se não mudarmos o método. E de que adiantaria tomarmos a palavra se não somos ouvidos? Falamos para nós mesmos, para nos assegurar de que estamos do lado certo? Para tranquilizar os nossos próprios fiéis? Ou falamos para sermos entendidos?

♦ Quais são as condições para sermos ouvidos?

Em primeiro lugar, a humildade. Acho que, mesmo que não seja necessariamente consciente disso, a Igreja passa a imagem de uma instituição que sabe tudo melhor do que os outros. Portanto, ela precisa de uma grande humildade, sem a qual não pode entrar em um diálogo. Isso também significa que precisamos mostrar que queremos aprender com os outros. Um exemplo: sou absolutamente contrário ao aborto. E, como cristão, não posso ter uma posição diferente. Mas também compreendo que há uma preocupação com a dignidade das mulheres, e que o discurso que tínhamos no passado para nos opormos à lei do aborto não é mais audível hoje. Nesse ponto, que outra medida podemos tomar para defender a vida? Quando um discurso não se sustenta mais, não devemos nos obstinar, mas procurar outros caminhos.

♦ Na França, muitos acreditam que a Igreja perdeu uma grande parte da sua credibilidade devido aos crimes sexuais cometidos em seu interior. Como o senhor encara essa crise?

Em primeiro lugar, quero dizer que esses abusos são um escândalo. E, quando vemos os dados do relatório Sauvé, fica claro que não se trata de um erro de alguns. Há uma falha sistêmica em algum lugar, que deve ser detectada. Não devemos ter medo das feridas que isso pode nos infligir, que, aliás, não são absolutamente nada em comparação com as das vítimas. Consequentemente, devemos demonstrar uma enorme honestidade e estar prontos para receber ataques. Algumas semanas atrás, eu estive em Portugal e estava celebrando a missa. Havia ali um menino que estava servindo a missa e me olhava como se eu fosse o bom Deus. Eu percebia que ele via em mim um representante de Deus, o que, aliás, eu era na liturgia.

Abusar de tais crianças é um verdadeiro crime. É uma culpa muito mais grave do que a de um professor ou de um treinador esportivo que comete esses atos. O fato de que isso tenha sido tolerado para proteger a Igreja é muito ruim. Nós fechamos os olhos! É quase irreparável. Agora, eu respondo à sua pergunta. Alguns perderam a confiança. Para reconquistá-la, quando possível, é preciso ter uma grande humildade. Quando se acompanha uma comunidade ou uma pessoa, é preciso ter sempre em mente o princípio do respeito absoluto por quem é acompanhado. Eu não posso dispor de uma pessoa. Parece-me evidente que essas questões estarão na cabeça e no coração de todos durante o processo do Sínodo. Devemos fazer mudanças.

♦ Se há uma culpa sistêmica, na sua opinião, são necessárias mudanças sistêmicas?

Sim. Evidentemente, na minha diocese, como em muitas outras, temos uma “carta” de boa conduta que deve ser assinada por todos, padres e leigos que trabalham para a Igreja. Antes da ordenação, também submetemos os seminaristas a oito sessões psicológicas destinadas a detectar a pedofilia. Fazemos tudo o que podemos, mas não é o suficiente. Precisamos de uma Igreja estruturada de tal maneira que essas coisas não sejam mais possíveis.

♦ Ou seja…

Se déssemos mais voz às mulheres e aos jovens, essas coisas teriam sido descobertas muito antes. É preciso parar de agir como se as mulheres fossem um grupo marginal na Igreja. Elas não estão na periferia da Igreja, estão no centro. E, se não dermos a palavra a quem está no centro da Igreja, teremos um grande problema. Não quero ser mais preciso: essa questão certamente será levantada no Sínodo em diferentes culturas, em diferentes contextos. Mas as mulheres foram ignoradas demais. É preciso ouvi-las, assim como o restante do povo de Deus. Os bispos devem ser como pastores que estão à escuta do seu povo. Isso não significa que eles devam dizer simplesmente: “Sim, eu ouvi, mas isso não me interessa”. Eles devem estar no meio do rebanho.

♦ Que outras mudanças precisam ser feitas?

A formação do clero deve mudar. Ela não deve se centrar unicamente na liturgia, embora eu entenda que os seminaristas lhe atribuem uma grande importância. É preciso que os leigos e as mulheres possam dar a sua opinião na formação dos padres. Formar padres é um dever da Igreja inteira, e, portanto, é preciso que a Igreja inteira acompanhe essa etapa, com homens e mulheres casados e celibatários.

Uma segunda coisa é que devemos mudar o nosso modo de considerar a sexualidade. Até hoje temos uma visão bastante reprimida da sexualidade. Evidentemente, não se trata de dizer às pessoas que elas podem fazer qualquer coisa ou de abolir a moral, mas acho que devemos dizer que a sexualidade é um dom de Deus. Nós sabemos disso, mas o dizemos? Não tenho certeza disso.

Alguns atribuem a multiplicação dos abusos à revolução sexual. Eu penso exatamente o contrário: na minha opinião, os casos mais horríveis ocorreram antes dos anos 1970. Nesse âmbito, é preciso que os padres também possam falar sobre a sua sexualidade e que possam ser ouvidos se tiverem dificuldades em viver o celibato. Eles devem poder falar sobre isso livremente, sem medo de serem repreendidos pelo seu bispo.

Quanto aos padres homossexuais, eles são muitos, e seria bom que pudessem falar disso com o seu bispo, sem que ele os condene.

No que concerne ao celibato, na vida sacerdotal, perguntemo-nos francamente se um padre deve necessariamente ser celibatário. Eu tenho uma opinião muito elevada sobre o celibato, mas ele é indispensável? Na minha diocese, eu tenho diáconos casados que exercem o seu diaconato de forma maravilhosa, que fazem homilias que tocam as pessoas muito mais profundamente do que nós que somos celibatários. Por que não ter também padres casados? E, mesmo que um padre não possa mais viver essa solidão, é preciso compreendê-lo, e não o condenar. Agora eu já estou velho, isso diz menos respeito a mim…

♦ O senhor sentiu essa dificuldade de viver essa solidão?

Sim, certamente. Em certos momentos da minha vida, isso foi muito claro. E também é evidente que todo padre se apaixona de vez em quando. Então, a questão é saber compreender como ele se comporta nesse caso. Acima de tudo, é preciso ter a honestidade de admitir isso a si mesmo e depois agir de tal modo que seja possível viver o próprio sacerdócio.

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Cardeal Jean-Claude Hollerich
Primeiro luxemburguês criado cardeal é o atual presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE).  É membro da Congregação para a Educação Católica e do Pontifício Conselho para Cultura. É jesuíta, tendo vivido muitos anos no Japão onde fez, inclusive, seus votos solenes na Companhia de Jesus. 
 

Loup Besmond de Senneville
É jornalista do La Croix desde 2011 e correspondente permanente no Vaticano desde 2020. Anteriormente chefiou a seção de bioética sediada em Paris e escreveu diversos livros. Graduou-se pela Escola de Jornalismo da Universidade de Estrasburgo onde leciona desde 2015  

Moisés Sbardelotto
É jornalista, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), com estágio doutoral (bolsa PDSE/Capes) na Università di Roma “La Sapienza”, na Itália. É palestrante, tradutor, escritor e consultor em Comunicação para diversos órgãos e instituições civis e religiosas.

Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/616073-para-ser-ouvida-a-igreja-precisa-mudar-de-metodo-entrevista-com-jean-claude-hollerich-relator-do-proximo-sinodo

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CONIC celebra 40 anos de diálogo e ações por direitos entre igrejas evangélicas e católica. https://observatoriodaevangelizacao.com/conic-celebra-40-anos-de-dialogo-e-acoes-por-direitos-entre-igrejas-evangelicas-e-catolica/ https://observatoriodaevangelizacao.com/conic-celebra-40-anos-de-dialogo-e-acoes-por-direitos-entre-igrejas-evangelicas-e-catolica/#comments Tue, 22 Feb 2022 23:38:05 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=43818 [Leia mais...]]]>

Pela passagem dos 40 anos do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), a colunista Magali Cunha elabora um belo memorial da caminhada do movimento ecumênico no Brasil, culminando na criação e atuação do CONIC como importante espaço de comunhão e diálogo. Numa perspectiva de verdadeira esperança cristã, Magali ressalta que a jornada do CONIC e suas proféticas 4 décadas de existência apontam ainda para um projeto de Igreja e nação transformadas pela solidariedade e comunhão. Leia o artigo completo, cuja reprodução foi gentilmente autorizada pela revista Carta Capital:

Celebrar aniversário é uma valiosa oportunidade de recuperar a memória para iluminar o presente e projetar o futuro. Os 40 anos da fundação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), que marcam este 2022, nos chamam a celebrar a existência deste significativo organismo ecumênico e a realizar este exercício de memória, em especial nestes tempos medonhos que o Brasil vive. Afinal, como nos ensinou o teólogo Rubem Alves, “a memória tem uma função subversiva. (…) Talvez que a memória das esperanças já mortas seja capaz de trazê-las de novo à vida, de forma que o passado se transforme em profecia e a visão do paraíso perdido dê à luz a expectativa de uma utopia a ser conquistada” (em Dogmatismo e Tolerância, Ed. Loyola, 2004).

“Talvez que a memória das esperanças já mortas seja capaz de trazê-las de novo à vida, de forma que o passado se transforme em profecia e a visão do paraíso perdido dê à luz a expectativa de uma utopia a ser conquistada”
(Rubem Alves)
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O CONIC é expressão do movimento ecumênico nacional e de um momento de reconstrução democrática do Brasil (como a que é urgente no presente!). Naquele 1982, o País ainda vivia uma ditadura (194-1985), sob a liderança do presidente general João Batista Figueiredo. As pressões nacionais e internacionais por um retorno à democracia, depois de muita perseguição, tortura e morte de opositores do regime, havia tornado possível um período denominado de “abertura democrática”. Os efeitos da ditadura haviam sido terríveis sobre o movimento ecumênico.

Uma das expressões evangélicas mais significativas no mundo, no século 20, o ecumenismo, do grego oikoumene (ecumene, “mundo habitado”, “casa comum”) nasceu de pessoas sensíveis à necessidade da construção de pontes, da rejeição da competição entre os diferentes segmentos religiosos, inspiradas nos ventos dos humanismos que sopravam entre cristãos desde o século 19.

Os ventos levaram essas pessoas a retornarem às bases cristãs do respeito, da misericórdia, do diálogo, do entendimento. Surgiu então o movimento ecumênico, alicerçado no respeito às diferenças, na superação das tensões em torno de divergências e na busca de diálogo, na comunhão e na cooperação entre os diferentes cristãos e as distintas religiões em ações em prol da paz e da justiça. A ênfase no relacionamento entre os diferentes grupos passava a se assentar nas bases da fé que unem e não no que divide.

Recuperava-se a compreensão de fé sobre a casa comum, de todas as pessoas e povos, o mundo criado por Deus que precisa ser cuidado, para que tudo e todos que nele existem vivam em harmonia, comunhão, justiça e paz.

O movimento ecumênico brotou de ações de evangélicos que se uniam em muitas frentes desde o século 19: movimentos de jovens, de missionários, de educadores, de mulheres, de pacifistas, de grupos que atuavam na restauração de pessoas e povos nas guerras mundiais, de pessoas que se uniam em torno de práticas de oração e de estudo da Bíblia. Gente sensível que enfatizava os elementos do Cristianismo que chamavam à aproximação e à cooperação incondicionais em nome da justiça e da paz.

No Brasil, além dos movimentos estudantis cristãos desde os anos 1920, a Confederação Evangélica do Brasil (CEB), fundada em 1934, marcou a história das igrejas evangélicas no País. Fez diferença no espaço público com atividades como o Setor de Responsabilidade Social da Igreja (Departamento de Estudos), o Departamento de Ação Social (com o importante trabalho relacionado à imigração), o Departamento da Mocidade (ações com a Juventude), prestação de serviços à imprensa (para uma digna cobertura das atividades das igrejas evangélicas), entre outras.

A ditadura civil-militar teve ação repressiva devastadora sobre os organismos ecumênicos brasileiros. Centenas de líderes de igrejas, católica romana e evangélicas (pastores, padres, homens e mulheres leigos, adultos e jovens), foram perseguidos, presos de forma arbitrária, torturados, desaparecidos forçosamente, assassinados, expulsos e banidos, exilados. A CEB foi invadida e fechada. Os ideais cristãos, calcados na justiça e na paz, sobreviveram à custa de muita perseverança em tornos do princípio do ecumenismo e de ações subversivas para manter vivo o compromisso que unia fé e democracia.

Isso tornou possível que o movimento ecumênico brasileiro continuasse vivo na forma de muitas associações de igrejas, de jovens, de promoção da vida em todas as dimensões, de estudos. E, com a abertura democrática, nasceu o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), em 1982, resultado de conversações, ao longo de sete anos, entre as igrejas Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Episcopal Anglicana do Brasil, Metodista, que compunham a CEB, e a Igreja Católica Romana.

Desde então, por 40 anos desse marco, o CONIC tem buscado promover relações ecumênicas entre as igrejas-membro, seus membros fraternos e as demais igrejas e expressões religiosas do Brasil. Atua também no fortalecimento do testemunho conjunto na defesa dos direitos humanos, como forma de fidelidade à mensagem de justiça e paz contida no Evangelho de Jesus, que alimenta os princípios cristãos. Com sede em Brasília (DF), as ações do CONIC são conduzidas pela diretoria em conjunto com a secretária-geral, a pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana Romi Bencke.

As quatro décadas de existência do CONIC não foram isentas de turbulências e crises. Há, historicamente, muita reação ao ecumenismo por conta de exclusivismos, do divisionismo, de competição e de indiferença, em especial de lideranças religiosas, com as possibilidades de encontro e cooperação, especialmente entre os segmentos evangélicos brasileiros. No entanto, ainda que tenha expressão minoritária de membros associados, o CONIC dá continuidade no Brasil, ao histórico desafio de se derrubar muros e construir pontes, que aproximem não apenas cristãos e outros grupos religiosos, mas também as outras tantas parcelas de um mundo cada vez mais dividido.

O número 40, registrado nos textos da tradição judaico-cristã, tem um significado importante para a memória do CONIC. Da conhecida história do dilúvio (os 40 dias em que a terra ficou submersa), passando pelo tempo do êxodo do povo hebreu no deserto, do Egito à Terra Prometida (40 anos), ao número de dias que Jesus passou no deserto antes de iniciar sua intensa vida pública (40 dias), são muitas as referências ao número 40 nas narrativas da Bíblia. Em todas elas, este número indica não um tempo cronológico exato, mas, de acordo com a cultura e visão do mundo dos povos do Oriente Médio, um momento vivido na sua completude, que, frequentemente, marca a realização de um tempo significativo de decisões e mudanças.

Que o novo tempo do CONIC, ainda que viva um contexto de crises (inundações, mudanças forçadas, desertos), dentro e fora das igrejas, seja vivido em completude e represente oportunidade, com esta memória tão rica, de transformações e renovação para a necessária reconstrução do Brasil, como há 40 anos. ♦

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Magali Cunha
Jornalista e doutora em Ciências da Comunicação. É pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER) e colaboradora do Conselho Mundial de Igrejas. É colunista na seção Diálogos da Fé, da revista Carta Capital. 

Fonte: https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/conic-celebra-40-anos-de-dialogo-e-acoes-por-direitos-entre-igrejas-evangelicas-e-catolica/

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Cultura do Encontro: Pastoral Universitária em foco https://observatoriodaevangelizacao.com/cultura-do-encontro-pastoral-universitaria-em-foco/ Fri, 20 Apr 2018 03:03:10 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27845 [Leia mais...]]]> “O verdadeiro diálogo derruba muros”

“Hoje, ou se aposta na cultura do encontro, ou todos perdem; percorrer a estrada justa torna o caminho fecundo e seguro.” (Papa Francisco)

Em discurso a líderes civis do Brasil, em 2013, o Papa Francisco afirma: “além do humanismo integral, que respeite a cultura original, e da responsabilidade solidária, termino indicando o que tenho como fundamental para enfrentar o presente: o diálogo construtivo.”

exemplo 2

Naquela ocasião – e sempre! – Francisco apresenta o diálogo como opção. “O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade.” Entre pessoas, povos e culturas, o diálogo construtivo gera crescimento. Há que acontecer a dimensão dialogal entre “cultura popular, cultura universitária, cultura juvenil, cultura artística e tecnológica, cultura econômica e cultura familiar e cultura da mídia”, apresenta o Papa. “É impossível imaginar um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura lógica da representação dos interesses constituídos.”

Nessa perspectiva, uma pontifícia universidade católica, que pauta sua pastoral a partir do diálogo, pode contribuir para desempenhar seu papel não somente no interior da própria instituição, mas na vida da sociedade.

“Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo”, continua Francisco. “A única maneira para uma pessoa, uma família, uma sociedade crescer, a única maneira para fazer avançar a vida dos povos é a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual todos têm algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom.”

Em consonância ao apelo de Francisco, o diálogo será uma das dimensões pastorais propostas pela CNBB, ao lado do serviço, anúncio e testemunho. Partindo sempre da práxis libertadora de Jesus. E é assim, alicerçada nessas quatro linhas, que a Pastoral Universitária PUC Minas estrutura seu agir. Sobre o diálogo, lemos em suas diretrizes que o mesmo “se realiza no contexto do pluralismo religioso e cultural da sociedade contemporânea. Esta característica recebe uma atenção toda especial dentro da Universidade, justamente por ser este um lugar onde esta pluralidade se manifesta com clara evidência”.

Nos âmbitos interno e externo a Pastoral Universitária PUC Minas consolida seus espaços criativos de evangelização dialogicamente. Confira abaixo.

Professora Tânia Jordão

 

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