Desigualdade Social – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Mon, 20 Nov 2017 19:29:03 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Desigualdade Social – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 O ser cristão e a consciência negra https://observatoriodaevangelizacao.com/o-ser-cristao-e-a-consciencia-negra/ Mon, 20 Nov 2017 19:29:03 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=26939 [Leia mais...]]]> Como pode um cristão se posicionar coerentemente no mundo sem conhecer a própria realidade? Porque “ser cristão”, ou seja, realmente buscar pautar a própria vida pela vida do Mestre de Nazaré, supõe buscar agir com os mesmos valores que nortearam a ação de Jesus. E Ele foi extremamente crítico diante das estruturas de seu tempo e viveu e foi assassinado por denunciá-las e tentar modificá-las.

Neste 20 de novembro, vale a pena nos debruçarmos sobre as estatísticas que espelham algo da nossa sociedade enferma, com graves sinais psicóticos.

Seis estatísticas que mostram o abismo racial no Brasil

No Brasil, a população negra é mais atingida pela violência, desemprego e falta de representatividade.

Tory Oliveira*

 

A população negra é a mais afetada pela desigualdade e pela violência no Brasil. É o que alerta a Organização das Nações Unidas (ONU). No mercado de trabalho, pretos e pardos enfrentam mais dificuldades na progressão da carreira, na igualdade salarial e são mais vulneráveis ao assédio moral, afirma o Ministério Público do Trabalho.

De acordo com o Atlas da Violência 2017, a população negra também corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios.

Ao ser confrontado com as estatísticas, o racismo brasileiro, sustentado em três séculos de escravidão e muitas vezes minimizados pela branquitude nativa, revela-se sem meias palavras.

“Esse é um país que convive com uma desigualdade estrutural, especialmente em relação à questão racial”, afirma Kátia Maia, diretora executiva da Oxfam, em entrevista à CartaCapital. 

Oded Grajew, presidente do conselho deliberativo da organização, diz que o preconceito social no País passa também pelo racismo. “Só não concorda quem não acompanha o dia a dia da vida brasileira. Um negro que dirige um carro médio, por exemplo, é parado diversas vezes pela polícia, ou quando vai a um restaurante, avisam a ele que a entrada de serviço é do outro lado. Para curar qualquer doença, é preciso reconhecer a doença”, afirma.

Segundo o IBGE, mais da metade da população brasileira (54%) é de pretos ou pardos, sendo que a cada dez pessoas, três são mulheres negras.

Igualdade salarial só em 2089

Apenas em 2089, daqui a pelo menos 72 anos, brancos e negros terão uma renda equivalente no Brasil. A projeção é da pesquisa “A distância que nos une – Um retrato das Desigualdades Brasileiras” da ONG britânica Oxfam, dedicada a combater a pobreza e promover a justiça social.

Em média, os brasileiros brancos ganhavam, em 2015, o dobro do que os negros: R$1589, ante R$898 mensais.

“Só alcançaremos uma equiparação salarial entre negros e brancos em 2089, 200 anos depois da abolição da escravidão no Brasil. Isso se a desigualdade continuar diminuindo no ritmo que está”, alerta a diretora-executiva da Oxfam.

A conta é feita com base em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), considerando rendimentos como salários, benefícios sociais, aposentadoria, aluguel de imóveis e aplicações financeiras, entre outros.

Ainda segundo o relatório, 67% dos negros no Brasil estão incluídos na parcela dos que recebem até 1,5 salário mínimo (cerca de R$1400). Entre os brancos, o índice fica em 45%.

Feminicídio de mulheres negras aumentou, das brancas caiu

O feminicídio, isto é, o assassinato de mulheres por sua condição de gênero, também tem cor no Brasil: atinge principalmente as mulheres negras. Entre 2003 e 2013, o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54%, ao passo que o índice de feminicídios de brancas caiu 10% no mesmo período de tempo. Os dados são do Mapa da Violência 2015, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais. Uma evidência de que os avanços nas políticas de enfrentamento à violência de gênero não podem fechar os olhos para o componente racial.

As mulheres negras também são mais vitimadas pela violência doméstica: 58,68%, de acordo com informações do Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher, de 2015.

Elas também são mais atingidas pela violência obstétrica (65,4%) e pela mortalidade materna (53,6%), de acordo com dados do Ministério da Saúde e da Fiocruz.

Jovens e negros: as maiores vítimas da violência

Homens, jovens, negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no País. A população negra corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios, de acordo com informações do Atlas da Violência 2017, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Atualmente, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. De acordo com informações do Atlas, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência.

“Jovens e negros do sexo masculino continuam sendo assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra”, compara o estudo.

Maioria dos presos

O Brasil abriga a quarta maior população prisional do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Rússia. Tratam-se de 622 mil brasileiros privados de liberdade, mais de 300 presos para cada 100 mil habitantes. Mais da metade (61,6%) são pretos e pardos, revela o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen).

Na contramão dos demais países, porém, a taxa de aprisionamento no Brasil não está diminuindo. Entre 2004 e 2014, o índice cresceu 67%. A taxa de superlotação por aqui também é maior: 147% no Brasil, ante 102% nos Estados Unidos e 82% na Rússia.

Baixa representatividade no cinema e na literatura

Só 10% dos livros brasileiros publicados entre 1965 e 2014 foram escritos por autores negros, afirma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) que também analisou os personagens retratados pela literatura nacional: 60% dos protagonistas são homens e 80% deles, brancos.

Já a pesquisa “A Cara do Cinema Nacional”, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, revelou que homens negros são só 2% dos diretores de filmes nacionais. Atrás das câmeras, não foi registrada nenhuma mulher negra. O fosso racial permanece entre os roteiristas: só 4% são negros.

O levantamento da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) considerou as produções brasileiras que alcançaram as maiores bilheterias entre 2002 e 2014. Dentre os filmes analisados, 31% tinham no elenco atores negros, quase sempre interpretando papeis associados à pobreza e criminalidade.

Crise e desemprego

A crise e a onda de desemprego também atingiu com mais força a população negra brasileira: eles são 63,7% dos desocupados, o que corresponde a 8,3 milhões de pessoas. Com isso, a taxa de desocupação de pretos e pardos ficou em 14,6% – entre os trabalhadores brancos, o índice é menor: 9,9%.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada nesta sexta-feira 17 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, no terceiro trimestre de 2017 o rendimento médio de trabalhadores negros foi inferior ao dos brancos: 1,5 mil ante 2,7 mil reais.

*Colaboraram Rodrigo Martins e Miguel Martins

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Desigualdade econômica, injustiça social… Podemos percebê-la de modo imediato? É possível superá-la? https://observatoriodaevangelizacao.com/desigualdade-economica-podemos-percebe-la-de-modo-imediato/ Wed, 01 Nov 2017 17:52:53 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=26446 [Leia mais...]]]> O Evangelho é o anúncio de uma boa notícia da parte de Deus para os pobres. Evangelizar exige acolhida e compromisso com esse anúncio concretizado por Jesus Cristo. Evangelizar implica assumir a denúncia profética contra toda forma de injustiça e exclusão dos filhos/as amados/as de Deus da mesa da igual dignidade humana. O culto que agrada a Deus emerge fundamentalmente das ações concretas que promovem a justiça, o direito e dignidade da vida.

 

Quem recebe salário mínimo tem de trabalhar 19 anos para obter mesma renda que um super-rico ganha em um mês

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Paraisópolis Foto: Rivaldo Gomes/Folhapress

A desigualdade é um dos maiores obstáculos para continuar reduzindo a pobreza no país.

Na segunda (25/09/2017), Oxfam Brasil divulgou o relatório “A distância que nos une” sobre a desigualdade socioeconômica brasileira

O debate público sobre a redução das desigualdades no Brasil é urgente e necessário.

  • Hoje, uma pessoa que receba um salário mínimo mensal teria que trabalhar durante 19 anos para ganhar o salário de um mês de um brasileiro que faz parte do privilegiado grupo do 0,1% mais rico do país.
  • E mais: apenas seis pessoas têm uma riqueza equivalente ao patrimônio dos 100 milhões de brasileiros mais pobres, metade da população.
  • Os 5% mais ricos do país ficam com a mesma fatia de renda que os demais 95% da população.

Essa é uma situação insustentável e injusta. Mas também reversível. É o que revela o relatório “A distância que nos une”, lançado hoje pela Oxfam Brasil. O documento apresenta dados sobre a desigualdade socioeconômica brasileira e os caminhos possíveis para se ter um país mais justo e livre de tantos desequilíbrios sociais.

“Precisamos falar sobre nossas desigualdades e os caminhos existentes para reduzi-las”, afirma Katia Maia, diretora da Oxfam Brasil.

Se no mundo a desigualdade já nos causa espanto, no Brasil essa situação é ainda mais dramática. Esse relatório é a nossa contribuição para o importante debate sobre a redução das distâncias em nossa sociedade.”

Ao longo das últimas décadas, o Brasil conseguiu elevar a base da pirâmide social, retirando milhões da pobreza. “Apesar de avanços, nosso país não conseguiu sair da lista dos países mais desiguais do mundo. O ritmo tem sido muito lento e mais de 16 milhões de brasileiros ainda vivem abaixo da linha da pobreza”, explica Katia Maia. E as estimativas para os próximos anos não são nada alentadoras. Segundo o Banco Mundial, só em 2017 até 3,6 milhões de pessoas devem cair outra vez na pobreza.

Para a diretora da Oxfam Brasil, essa situação é inadmissível e precisa ser enfrentada por todos para que realmente seja solucionada.

“Existe uma distância absurda entre a maior parte da população brasileira e o 1% mais rico, não apenas em relação à renda e riqueza, mas também em relação ao acesso a serviços básicos como saúde e educação. Atacar essa questão é responsabilidade de todos. Há inúmeras ideias e propostas circulando, algumas até formam consenso na sociedade. A única coisa que não se pode fazer é ignorar o problema e não fazer nada. Estamos juntos no mesmo barco.”

O debate proposto pelo relatório “A distância que nos une” da Oxfam Brasil é urgente não apenas pela situação de desigualdade extrema mas também pelo recente e preocupante retrocesso em direitos que o país vive, nunca visto desde a reabertura democrática do Brasil. A desigualdade é um dos maiores obstáculos para continuar reduzindo a pobreza no país.

Toda a trajetória de redução de desigualdades que vinha sendo seguida desde a proclamação da Constituição de 1988 foi interrompida, e estamos dando muitos passos para trás na garantia de direitos à população. Enquanto isso, a concentração de renda e patrimônio continua intocável. Se não enfrentarmos essa situação, vai ser ruim para todos no país – mas principalmente para quem pouco ou nada tem para se proteger”, afirma Rafael Georges, Coordenador de Campanhas da Oxfam Brasil.

Nos últimos 20 anos, há vários fatores que explicam as desigualdades no Brasil e pouca dúvida sobre O QUE NÃO DEU CERTO:

  • o sistema tributário regressivo, que pesa muito sobre os mais pobres e a classe média;
  • as discriminações de raça e gênero que promovem violência cotidiana aos mais básicos direitos de mulheres e negros;
  • a falta de espírito democrático e republicano do nosso sistema político, que concentra poder e é altamente propenso à corrupção.

Mas temos também relativa segurança sobre O QUE DÁ CERTO:

  • expansão de políticas públicas, em especial as sociais, para reduzir pobreza e aumentar renda familiar;
  • investimento em educação para reduzir diferenças salariais;
  • ampliação da cobertura de serviços para os mais pobres;
  • política de valorização do salário mínimo, formalização do mercado de trabalho e queda do desemprego.

Com o relatório “A distância que nos une”, a Oxfam Brasil pretende contribuir e apresentar soluções ao debate sobre as desigualdades no Brasil, destacando que todas as pessoas, independentemente de sua classe social, sofrem as consequências. A desigualdade extrema gera conflito social, aumenta a violência e cria instabilidade política.

“O Brasil só poderá dizer que é realmente um Estado democrático de direito se oferecer condições melhores para sua população. E isso não vem acontecendo”, “As desigualdades entre pobres e ricos, negros e brancos, mulheres e homens não são um problema de poucos, mas um problema de todos. Esta é a distância que nos une”, define Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil.

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Paraisópolis Foto Tuca Vieira/Folha Imagem

Outros dados:

  • Uma pessoa que recebe um salário mínimo mensal levaria quatro anos trabalhando para ganhar o mesmo que o 1% mais rico ganha em média, em um mês, e 19 anos para equiparar um mês de renda média do 0,1% mais rico.
  • Mulheres terão equiparação de renda com homens somente em 2047 e negros ganharão o mesmo que brancos somente em 2089, mantida a tendência dos últimos 20 anos.
  • Levaremos 35 anos para alcançarmos o atual nível de desigualdade de renda do Uruguai e 75 anos para chegarmos ao patamar atual do Reino Unido, se mantivermos o ritmo médio de redução anual de desigualdades de renda observado desde 1988.
  • Seis brasileiros possuem a mesma riqueza que a soma do que possui a metade mais pobre da população, mais de 100 milhões de pessoas.
  • O potencial de arrecadação na esfera federal poderia aumentar cerca de R$ 60 bilhões por ano, o equivalente a duas vezes o orçamento federal para o Programa Bolsa Família, quase três vezes o orçamento federal para a educação básica, considerando reversão de isenção sobre lucros e dividendos, sobre lucros e dividendos ao exterior e juros sobre capital próprio.

O relatório da Oxfam Brasil está disponível aqui.

Fonte:

www.observatoriosc.org.br

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