Denilson Mariano – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 25 Apr 2024 18:54:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Denilson Mariano – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 X Assembleia Nacional dos Organismos do Povo de Deus: um caminho de sinodalidade https://observatoriodaevangelizacao.com/x-assembleia-nacional-dos-organismos-do-povo-de-deus-um-caminho-de-sinodalidade/ Wed, 19 Oct 2022 16:49:15 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46247 [Leia mais...]]]>  

Igreja do Brasil reúne representantes da totalidade do Povo de Deus.

Com o tema “Comunhão e Missão: caminho para a Igreja do Brasil”, aconteceu em Brasília-DF, a X Assembleia Nacional dos Organismos do Povo de Deus. Encontro que reúne representantes da totalidade do povo de Deus: cristãos leigos e leigas, membros dos Institutos Seculares, da Vida Religiosa Consagrada, representantes dos diáconos, dos presbíteros e dos bispos. Um encontro que expressa a busca da “sinodalidade” na Igreja do Brasil, desde a sua primeira assembleia, em 1991. Esta aconteceu entre os dias 14 a 16 de outubro e lema que animou o caminho a ser feito foi “Preservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (cf. Ef. 4,5).

A caminho de uma Igreja mais sinodal

Dois acontecimentos importantes marcaram o primeiro dia da Assembleia: a celebração dos 70 anos da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, presidida pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambatistta Diquattro e concelebrada por Dom Jaime e Dom Joel, membros da Diretoria da CNBB. Outro acontecimento importante foi a abertura da X Assembleia dos Organismos do Povo de Deus. Dom Walmor de Oliveira Azevedo, atual Presidente da CNBB, por motivos de saúde, não pode estar presente e enviou uma vídeo mensagem para os participantes. Ele destacou que vivemos tempos de grandes dificuldades, mas também de riquezas e entre elas, uma grande riqueza e representada pelos Organismos do Povo de Deus. Assim, de corações abertos à graça de Deus, no amor fraterno e sororal desejou que seja reforçada a comunhão na Igreja do Brasil.

Cada representante dos vários Organismos teve oportunidade de fazer uso da palavra no momento de abertura da Assembleia. Nas falas sobressaíram os temas da sinodalidade, a colegialidade, da busca de caminhar juntos, o cuidado com a Casa Comum,  a missão da Igreja diante da crise civilizatória que vivemos, a necessidade de discernir os sinais dos tempos. Olhando para a SSma. Trindade, somos todos iguais, precisamos caminhar juntos para dar respostas urgentes aos clamores do povo, nas periferias geográficas e existenciais. Para isso é preciso vencer o clericalismo, em todas as suas formas e dimensões, pois este vem sendo empecilho para a missão da Igreja.

Depois das falas de abertura, Laudelino fez uma memória das Assembleias anteriores por meio de uma contextualização eclesial e social da caminhada dos Organismos do Povo de Deus. Fundamentando-se nos documentos da Igreja lembrou que as raízes desta caminhada encontram-se no Vaticano II, de modo especial na Constituição Dogmática Lumen Gentiun e que, mesmo antes de tratarmos da sinodalidade, já a experimentamos nessa caminhada das Assembleias dos Organismos do povo de Deus. E com boa fundamentação bíblica  expressou, com clareza, a contextualização social e, diante do quadro político atual, cheio de tantas contradições e ameaças, não dá para ficar do lado de quem apoia a morte, a violência, o ódio, a mentira e finalizou citando Charles de Foucauld: pergunte o que Jesus faria neste contexto e faça.

Anseio por uma Conferência Eclesial do Brasil

O segundo dia da Assembleia dos Organismos do Povo de Deus foi dedicado a uma retomada  do processo sinodal na Igreja do Brasil. Dom Joel enfatizou a caminhada feita até o momento, a experiência pessoal de cada um e a síntese nacional enviada a Roma. Das sínteses enviadas à CNBB, ressaltou o desafio da síntese final organizada em três eixos: Valores, Preocupações e Sugestões. Para o trabalho da manhã focou-se nos dois primeiros eixos deixando as sugestões para serem apresentadas na parte da tarde em outro momento de trabalho em grupos. Formaram-se quatro grupos: 1. Ministerialidade; 2. Ação Sócio-Transformadora; 3. Solidariedade aos vulneráveis; 4. Cuidado com a Casa Comum. Na parte da tarde o trabalho das oficinas ocupou-se na busca de sugestões a serem apresentadas para as próximas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil.

Em dois momentos, um pela parte da manhã e outro pela parte da tarde, ocorreram partilhas de vida, com testemunhos de representantes de cada um dos Organismos do Povo de Deus. Cada testemunho procurava identificar como a sinodalidade está sendo vivida em diferentes regiões. Foi um momento enriquecedor sinalizando o Evangelho transformado em ação diante de realidades desafiantes,  na busca da justiça, da solidariedade e na promoção da vida. Foram destacadas ações e projetos desenvolvidos com a juventude, iniciativas de geração de renda, defesa dos povos originários e da Casa Comum, empoderamento da mulher, acolhida e amparo de crianças em situação de vulnerabilidade,  participação nas lutas populares e na promoção humana, entre outras.

Na parte da tarde, houve a apresentação de uma minuta da “carta compromisso” da Assembleia e uma breve “fila do povo” na qual sobressaiu o anseio de uma maior participação dos organismos na vida eclesial salientando que os eixos sinodais “Comunhão, Participação e Missão”, pois formam um conjunto e devem ser tomados sem uma hierarquização de um sobre os demais. Com isso manifestou-se o anseio da criação de mecanismos que garantam maior participação efetiva de todos. Também retomou-se o anseio pela criação de uma Conferência Eclesial do Brasil, apelo que vem desde a Assembleia do Conselho Nacional do Laicato, celebrada em agosto deste ano. Outro anseio apresentado foi a manutenção da denominação CEBs: “Comunidades Eclesiais de Base”, por sua raiz na história e teologia latino-americanas. Os Intereclesiais expressam o encontro e o trabalho conjunto de comunidades, Igreja viva,  e, desde às suas origens, são expressão viva de sinodalidade no seio da Igreja.

Pistas de ação para a Igreja no Brasil

Nos dois primeiros dias da Assembleia, a dinâmica dos trabalhos voltou-se para um olhar a realidade e para uma iluminação bíblica à luz do lema: “preservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (cf. Ef 4,5). O terceiro dia, domingo, foi dedicado a reunir as pistas de ação, fruto das oficinas de trabalho realizadas no sábado, à apresentação da carta da Assembleia e à celebração festiva de encerramento.

Entre as pistas de ação, fruto das oficinas de trabalho, destacam-se: que as Assembleias dos Organismos do povo de Deus sejam realizadas antes das Assembleias da CNBB, afim de poder oferecer eventuais contribuições para as Diretrizes de Ação Evangelizadora ; resgate do uso do termo CEBs, com maior valorização das Comunidades Eclesiais de Base; dar passos para a construção da Assembleia Eclesial do Brasil; propiciar mais espaços de formação sobre a Doutrina Social da Igreja e sobre a Ecologia Integral; fortalecer as pastorais sociais e assumir com maior ênfase a Semana Social Brasileira; dar maior importância às notas oficiais da CNBB em nossas paróquias e comunidades; cultivar a ecologia integral como uma dimensão da nossa espiritualidade, capaz de nos irmanar com a Criação de Deus; assumir, como Igreja, maior cuidado e defesa efetiva dos povos originários e da Amazônia; recuperar a voz profética da Igreja diante das ameaças à vida humana e à nossa Casa Comum; criar a “Semana da Ecologia Integral” a ser realizada na 1ª semana de setembro; realizar uma Assembleia das juventudes a nível diocesano, regional e nacional, com vistas a recuperar a presença dos jovens na Igreja; buscar o resgate da eclesialidade fortalecendo o “grito dos excluídos”, a Campanha da Fraternidade, as CEBs e os sonhos de Francisco no documento Querida Amazônia.

Dom Severino, fazendo uso da “fila do povo” destacou a necessidade de se fortalecer ainda mais a participação dos Organismos do Povo de Deus e reforçou a necessidade de se dar passos para uma Assembleia Eclesial do Brasil por ser mais representativa da totalidade dos batizados. Ela poderá fazer com que as decisões, documentos e diretrizes da Igreja cheguem mais rapidamente às nossas paróquias e comunidades e sejam abraçadas com maior ênfase e colocadas em prática.

Fez-se também o anúncio e pediu-se empenho para o III Ano Vocacional que será aberto no dia 20 de novembro de 2022, na festa de Cristo Rei,  encerrando-se em 26 de novembro do próximo ano. Este Ano Vocacional foi inspirado no Documento Final do Sínodo dos Bispos sobre Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Ele tem como tema: “Vocação: Graça e Missão” e o lema é Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24, 32-33). 

Depois disto foi apresentada a Carta Mensagem da X Assembleia dos Organismos do povo de Deus.

A Conclusão da Assembleia se deu de forma solene com uma missa celebrada na Catedral de Brasília, contando com a presença dos membros da Assembleia e da comunidade presente. A missa foi presidida por Dom Joel e concelebrada pelos demais bispos e presbíteros presentes.

O secretário-geral da CNBB, ao comentar o Evangelho (Lc 18,1-8) ressaltou: “somos uma Igreja rica em sua diversidade, de muitos dons e carismas, muitas formas de ser. Mas nunca poderemos ser uma Igreja como o homem do Evangelho, que só pensa em si, nos seus interesses, de costas e de olhos fechados para as dores de tantas pessoas. Aquele homem significa tudo o que nós, como Igreja, não podemos ser”.

Que esta X Assembleia dos Organismos do Povo de Deus fecunde a sinodalidade na Igreja do Brasil, que Comunhão, participação e Missão, sejam, verdadeiramente, o caminho para a Igreja envolvendo, efetivamente a totalidade dos batizados e batizadas. Como bem expressa a mensagem final: “Em sintonia com a Igreja no mundo inteiro, atentos aos apelos do Papa Francisco, vivemos a feliz expectativa pelo Sínodo em 2023, dispondo-nos a “caminhar juntos”, na fidelidade ao Evangelho”.

Crédito da Foto: Marcus Tullius

Denilson Mariano – Doutor em teologia, membro do grupo de pesquisa de Teologia Pastoral (FAJE) e da SOTER- Sociedade de Teologia e Ciências da Religião. Redator da Revista O Lutador, Integrante do MOBON – Movimento da Boa Nova. Membro do Observatório de Evangelização – PUC Minas.

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Lives Por uma Igreja Sinodal – Anima PUC Minas https://observatoriodaevangelizacao.com/lives-por-uma-igreja-sinodal-anima-puc-minas/ Wed, 22 Dec 2021 14:26:43 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=43288 [Leia mais...]]]>

  1. História da Sinodalidade, com o prof. Frei Luiz Antônio

2. Experiências sinodais, com o prof. pe. Manoel Godoy

3. Francisco e a sinodalidade, com a profª. Alzirinha

4. Experiências sinodais da Igreja, com o prof. pe. Geraldo De Mori

Fonte:

Anima PUC Minas

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Parturientes do novo: acenos do I Congresso de Teologia Pastoral do Brasil https://observatoriodaevangelizacao.com/oxala-estejamos-vivendo-as-dores-de-parto-de-um-algo-novo-engendrado-pelo-espirito-no-seio-da-igreja-e-da-sociedade-e-que-nos-como-membros-do-povo-com-solicitude-e-presteza-eva/ Fri, 07 May 2021 14:08:55 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=39397 [Leia mais...]]]> Oxalá estejamos vivendo as dores de parto, de algo novo engendrado pelo Espírito no seio da Igreja e da sociedade. E que nós, como membros do Povo de Deus, com solicitude e presteza evangélicas, de ouvidos atentos, olhos abertos e mãos operosas, sejamos todos parturientes…

Confira a reflexão do prof. dr. ir. Denilson Mariano, SDN:

Parturientes do novo: acenos do I Congresso de Teologia Pastoral do Brasil

Findo o 1º Congresso de Teologia Pastoral no Brasil, totalmente online, devido às exigências de isolamento social, buscamos captar percepções reveladas por meio dos participantes e perspectivas que se abrem a partir deste acontecimento.

Para uma breve ideia do alcance imediato deste Congresso vale notar de 1.714 pessoas participaram das conferências, 639 dos seminários, 503 nos painéis, 98 comunicações foram apresentadas e as visualizações das conferências e painéis, no Youtube, alcançaram cerca de 10 mil visualizações. A articulação do grupo de pesquisa teologia pastoral da FAJE, juntamente com as várias entidades organizadoras deste Congresso, permitiu a criação de um ambiente virtual de profunda reflexão teológico-pastoral e de fecundas pistas para engajamento em variadas realidades eclesiais e sociais.

Registro do momento de encerramento do I CBTP, no qual foi apresentado um balanço prospectivo do evento, na noite do dia 06/05/2021.

Em acenos vindos dos participantes, sobretudo por meio da comunicação via “chat”, captamos algumas percepções: “Este congresso não apenas leva a refletir, leva a nos reencantar com a pastoral, com a catequese”. Este foi um dos reflexos que permearam o “chat” da conferência de encerramento deste congresso. Evidentes sinais de um reencantamento pastoral em que a teologia se mostrou próxima, acessível, iluminadora. Víctor Codina sempre nos recorda que Espírito atua a partir de baixo, a partir dos simples. Desde modo, se o olhar a partir das conferências e painéis nos leva a vislumbrar as questões maiores e os aprofundamentos necessários, a partir de baixo, a partir dos participantes, captamos um reencantamento, uma nova presença do Espírito que continua a conduzir a Igreja. O Congresso propiciou um ambiente que possibilitou saciar um pouco da sede teológico-pastoral dos que dele participaram. E esta “brisa suave”, esse saciar da sede nele experimentada há de ser prolongada em novas reflexões teológicas e em novas ações pastorais pela ação do Espírito, desde que nos abramos às suas moções e ouçamos os Seus clamores.

Outro aceno vem a partir do formato virtual assumido pelo congresso. “As próximas edições dos Congressos de Teologia manterão a participação online?”. Se, por um lado sentimos falta de encontro presencial, de estar com as pessoas, com os participantes, com os conferencistas, com os teólogos, pastoralistas, autoridades religiosas, por outro, o ambiente virtual favoreceu a uma participação mais ampla e gratuita. O formato online quebrou certas dificuldades impostas pelas distâncias geográficas, por questões econômicas, limitações de tempo na agenda e parecem apontar para a criação de outros espaços virtuais que favoreçam a reflexão e a prática teológico-pastorais de maneiras mais acessíveis a todos. Talvez apontem para eventuais modelos híbridos, que sejam capazes de conjugar momentos presenciais com interações e participações virtuais. Diante disso é preciso acolher a pergunta: o que o Espírito quer dizer às entidades e instituições que se encarregam do ensino e da reflexão teológica? Por onde o Espírito quer nos conduzir nestes novos e desafiantes tempos que vivemos?

Seguindo as pistas do pontificado de Francisco, o Congresso firma os passos e se compromete com uma perspectiva de uma Igreja em “saída missionária”, saída na direção das periferias geográficas e existenciais, próxima e solidária aos mais sofridos. Há de seguir na linha de uma reflexão teológico-pastoral que nasça do encontro com o povo, da escuta de seus dramas e sonhos. Uma teologia que tenha “cheiro das ovelhas”, que conheça de perto a realidade do povo e com ele – e não para ele, e muito menos sem ele – busque alternativas pastorais. Uma teologia que tenha, de fato, na pastoral o seu momento primeiro e cujo momento segundo, o da reflexão, seja iluminador para vida e a realidade do povo, que favoreça reconhecer que Deus caminha ao lado de seu povo e faz história com ele.

A sinodalidade, o caminhar juntos, é outra luz que brilhou forte em todo o Congresso. Ela como que pede cadeira permanente no seio da Igreja, em todas as suas instâncias, desde as decisões mais simples e cotidianas, até às mais delicadas e difíceis. Fazer valer a comum dignidade dos batizados, em que os diferentes ministérios, e a variadas funções não sejam mais que formas variadas de um mesmo e comum serviço ao Reino de Deus. Nesta linha vai o compromisso e empenho para a realização da Conferência Eclesial Latino-americana, marcada para o final deste ano no México, bem como o anseio, manifestado em diferentes oportunidades no Congresso, de que a CNBB possa dar passos e colocar em sua pauta a criação de uma Conferência Eclesial da Igreja do Brasil. Uma Conferência com representantes de todo o povo de Deus, no anseio de caminhar juntos, valorizando cada vez mais a “comum dignidade dos filhos e filhas de Deus”.

Reforçar e apoiar as Comunidades Eclesiais de Base, o núcleo primeiro da Igreja. Comunidades em que a Palavra de Deus seja, de fato, a fonte de animação de toda a sua vida e pastoral. Comunidades que se convertam em ninhos acolhedores para a devida iniciação à vida cristã, propiciando a formação de discípulos missionários que voltem a Jesus recriando suas opções no hoje de nossa história. Comunidades vivas que recuperem a sua força de fermento transformador da sociedade. Esse foi outro aceno surgido no Congresso. Uma Igreja povo, organizada a partir de baixo, de olhos abertos, em que a emoção, os apelos do coração, não levem a fechar os olhos, nem caiam no emocionalismo que sacrifica a teologia e a racionalidade. Uma Igreja rede de comunidades, que procure somar forças e cultive a unidade na diversidade, recuperando a importância do diálogo respeitoso, maduro e fecundo.

Esse anseio vem amparado pelo desejo de se fazer uma segunda recepção de Vaticano II e de Medellín, recuperando seu espírito de diálogo com o mundo e de sensibilidade aos dramas que afetam os nossos povos. Nesta direção a presença da Igreja da Amazônia, com as bases firmadas com o último Sínodo dos bispos, levam a busca de novos caminhos pastorais ancorados, também em uma ecologia integral e em uma fraternidade universal e social, como ensejados por Francisco.

Outro aceno vem ainda na busca efetiva de melhorias de condições de vida, como indicado por Tânia Bacelar. A necessidade e o empenho para “distribuir os ativos”: terra e conhecimento. Esse é o caminho para que o Brasil possa avançar para dias melhores de maior dignidade e inclusão de todos. O que está em sintonia pela defesa da tríade de “T” lembrada por Francisco no encontro com os Movimentos Populares: Terra, Teto e Trabalho para todos.

Enfim, se a proposta deste Congresso era “Discernir a pastoral em tempos de crise: realidade, desafios e tarefas”, podemos concluir que esse objetivo foi alcançado. O Congresso favoreceu o encontro com diferentes realidades, a partilha de muitas experiências pastorais, permitiu uma aproximação a variados desafios e propiciou o surgimento de novos anseios, alguns deles aqui sinalizados, e que permanecem como tarefas a serem levadas adiante. Notadamente a crise pandêmica e a dura realidade experimentadas, nestes tempos turbulentos, de inseguranças, de frágil democracia e exagerada violência, revelam-se como momentos fecundos, propícios a novas iniciativas pastorais, a novas reflexões teológicas. Oxalá estejamos vivendo as “dores de parto” de um algo novo engendrado pelo Espírito no seio da Igreja e da sociedade. E que nós, como membros do povo, com solicitude e presteza evangélicas, de ouvidos atentos, olhos abertos e mãos operosas, sejamos todos parturientes…

Prof. Dr. Ir. Denilson Mariano, SDN

Denilson Mariano é missionário sacramento e tem se dedicado decisivamente à formação de um laicato com fé adulta e consciência crítica-autocrítica na Igreja e na sociedade. Alinhado com o magistério do papa Francisco, sonha em mutirão com uma Igreja Povo de Deus e sacramento do Reino do Evangelho, que se coloca a serviço e participa da construção de outra humanidade possível. A partir da centralidade da Palavra de Deus, fonte da experiência da proximidade amorosa do Deus que se revela estradeiro conosco, e de iluminação para o discernimento e compromisso com os pobres nas lutas em defesa da dignidade da vida e do cuidado com a nossa Casa Comum. Ele é doutor em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), onde fez as graduações em Filosofia e Teologia e o mestrado em Teologia. Denilson Mariano é o atual diretor da Revista de Evangelização O Lutador, participa da equipe missionária do Movimento da Boa Nova (MOBON), é assesssor das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), da CNBB, e é colaborador do Observatório da Evangelização.

Fonte:

revista.olutador.org.br

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Como reagir aos ‘fariseus’ que atacam a Campanha da Fraternidade 2021 https://observatoriodaevangelizacao.com/como-reagir-aos-fariseus-que-atacam-a-campanha-da-fraternidade-2021/ Wed, 24 Feb 2021 18:40:55 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=38357 [Leia mais...]]]> Fariseus ‘de hoje’ se julgam defensores da Igreja, da reta doutrina, da liturgia e da tradição. Se julgam superiores aos demais, até como mais próximos de Deus

Sigamos firmes no serviço à vida contra a violência, a serviço da paz e no compromisso do diálogo fraterno (Divulgação)

Denilson Mariano

Temos presenciado, sobretudo nas redes sociais, uma investida contra a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021. Pessoas e grupos religiosos, com pretensa atitude de defesa da fé e da Igreja, têm feito uma leitura superficial, tendenciosa e distorcida do Texto-base da Campanha e têm disseminado uma série de posts, vídeos, artigos e mensagens nas redes sociais. Fazem uma contra propaganda à CFE 2021 e à coleta solidária feita anualmente pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Nosso anseio não é colocar mais lenha na fogueira, mas encontrar uma base bíblica que nos ajude a compreender melhor a situação e permita abrir caminhos para um diálogo fecundo e uma eventual superação desse impasse pastoral.

Convido a revisitarmos juntos algumas práticas, atitudes e procedimentos dos fariseus, tal como são apresentados nas Escrituras, para iluminar a desafiante situação que se coloca à nossa frente: a controvérsia sobre esta Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021. E fazemos a devida ressalva, pois, não identificamos os seguidores do judaísmo, por si só, como opositores a Jesus e aos cristãos. Ressaltamos nossa abertura ao diálogo ecumênico e inter-religioso. Restringimos-nos a indicar as oposições enfrentadas por Jesus e, por meio delas, buscar maior compreensão para as oposições à Campanha da Fraternidade em nossos dias.

O que significa ‘fariseu’

O termo ‘fariseus’ indica os ‘separados’ ou ‘separadores’. Um grupo, partido ou seita de defensores da Lei, da Tradição, da religião que se julgavam acima e mais importantes que os demais. Os fariseus eram um grupo de leigos, submissos ao poder romano, que se orgulhavam de defender a Lei (cf. Mt 9,9-17; Mc 2,13-17; Lc 5,27-32; Lc 18,9-14; Jo 7,49). Nos Evangelhos, em geral, os fariseus aparecem sempre em oposição a Jesus e se revelam hostis à sua pessoa, a seu ensinamento e atitudes. Eles temiam que o novo ensinamento trazido por Jesus ameaçasse a sua posição e prestígio de líderes espirituais. João Batista denuncia os fariseus como ‘raça de cobra venenosas’, pois eles se apresentavam como seguidores da Lei, mas não se abriam à conversão (Mt 3,7-10; Lc 3,7-9).

Como agiam os fariseus?

Nos relatos evangélicos, os fariseus estão sempre vigiando Jesus para encontrar n’Ele alguma falha (cf. Jo 4,1). Eles tentam armar laços para surpreenderem Jesus em alguma resposta errada (cf. Mt 20,15; Mc 12,13; Lc 20,20s); questionam Jesus a respeito da Lei (cf. Mt 22,34) e ficam escandalizados quando Ele se junta e come com os cobradores de impostos e pecadores (cf. Mt 9,9-13; Mc 2,13-17; Lc 5,27-32). Eles questionam por que Jesus não obedece ao descanso do sábado (Mt 12,2s; LC 6,2s); por que faz curas (Lc 24,1-3) e não exige dos discípulos o preceito de lavar as mãos antes das refeições (Mt 15,1s; Mc 7,1s). Eles duvidam que Jesus possa perdoar os pecados (Lc 5,17) e quando Jesus expulsa demônios, eles o acusam de ter um pacto com Belzebu (Mt 12,24s). Definitivamente, sentem-se muito incomodados com jeito de ser, de agir e com os ensinamentos de Jesus.

Incomodados, conspiravam contra a vida de Jesus (Mt 12,14; Mc 3,6), eram também avarentos e se colocavam na contramão do Reino anunciado por Jesus (Lc 16,14; 7, 30). Jesus denuncia o apego dos fariseus às leis e costumes para fugir de suas obrigações sociais e fraternas (Mt 15,1s; Mc 7,1s).

Em síntese, muitos dos traços presentes no perfil destes fariseus revelado nos Evangelhos parecem estar presentes no perfil dos que hoje se opõem ao Vaticano II, às Conferências do Episcopado Latino Americano, ao papa Francisco, à Campanha da Fraternidade e ao Ecumenismo.

Os opositores à CFE 2021

Em certo sentido, os opositores à Campanha da Fraternidade podem ser identificados como os ‘fariseus de hoje’. São pessoas que se julgam defensores da Igreja, da reta doutrina, da liturgia e da tradição. Conscientemente ou não, se julgam superiores aos demais, até como mais próximos de Deus. Rezam o terço, participam de palestras sobre as Cruzadas, sobre a busca de santidade e participam das missas em latim, tendo o padre de costas para o povo (Missa Tridentina)[1]. Entendem que têm a missão de “recristianizar” o Brasil. Julgam-se como já convertidos e se veem na obrigação de purificar a fé dos demais.

Assim como os fariseus temiam Jesus, esse grupo de hoje tem medo e aversão à Igreja do Vaticano II, no fundo à Igreja de Jesus formada pelo povo simples. Tem horror à Igreja comunidade de fé comprometida com a vida. Ignoram Concílio Vaticano II, o papa Francisco, os Documentos das Conferências Episcopais, da CNBB e a palavra profética de muitos bispos e padres. Alimentados por essa falsa ideia de ‘superioridade’ fazem uma oposição aberta e até pouco honesta a quem pensa e age de forma diferente. Os fariseus de hoje se veem como os únicos ‘donos da verdade’, daí a dificuldade de um diálogo sincero, maduro e fecundo.

Sempre em busca de um deslize

A exemplo da atitude dos fariseus com Jesus, os ‘fariseus’ de hoje estão sempre vigiando o papa Francisco, a Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), na busca de algum deslize ou falha. Na pretensa defesa da Tradição e da Igreja, ignoram quem legitimamente a representa. E, quando a Igreja assume as atitudes de Jesus em proximidade com os excluídos, com pobres e pecadores, encontram uma forma de colocá-la em dificuldade.

Ensaiam uma espécie de ‘guerra santa’, o que se comprova com o tom acusatório e fechado ao diálogo verifica-se nas postagens, nos vídeos e nas redes sociais que se assemelham a um confronto de verdades, uma ‘guerra santa’. Não economizam ameaças, xingamentos, expressões pesadas e grotescas que diminuem e desprezam quem não pensa ou interpreta as Escrituras e os Documentos da Igreja do mesmo jeito. Não há diálogo, buscam semear confusão na mente e no coração dos mais simples.

Como agir e reagir?

Não cabe aos verdadeiros cristãos rebaixar-se revidando afrontas, provocações, baixarias. A atitude mais correta é ter clareza dos fatos, não seguir os ‘boatos’. Estudar de fato as questões. Conhecer melhor as Escrituras. Buscar conhecer os documentos do Magistério, do Vaticano II, do papa Francisco, das Conferências Episcopais, da CNBB…

No caso concreto desta CFE 2021, só para citar uma das polêmicas levantadas, ela é acusada de fazer apologia à ideologia de gênero, enquanto na verdade em três números do documento o que é denunciado é a violência e morte de ‘minorias’ mulheres, negros, e pessoas LGBTQI+ (cf. Texto Base CFE 2021 nª 31,58 e 68). Com um mínimo de leitura do Texto Base, percebe-se a falsidade do argumento apresentado. Da mesma forma, o texto base não faz apologia ao aborto, como erroneamente se denuncia. Cobram que o texto não contenha elementos catequéticos católicos ou referências à Maria, pois, sendo ecumênico foca-se ao conteúdo da Campanha e procura criar pontes de diálogo e ações conjuntas entre as igrejas.

Assim como Jesus se manteve aberto ao pensar diferente, aberto à dor dos sofredores, aberto à inclusão, como no diálogo com a mulher Cananéia (Mt 15,21-28), sigamos os seus passos, a nossa fé é em Cristo, que foi violentado, mas que não usou de violência. Por outro lado, nunca se distanciou da defesa da vida em abundância para todos (Jo 10,10). Sigamos firmes no serviço à vida contra a violência, a serviço da paz e no compromisso do diálogo fraterno e ecumênico. Abrace com carinho esta Campanha do diálogo, da fraternidade, pois ?Cristo é a nossa paz, do que era dividido fez uma unidade? (Ef 2,14c).

[1] Cf. OLIVEIRA, Thais Reis. Os católicos ultraconservadores que querem ?recristianizar? o Brasil. Disponível em: <https://vermelho.org.br/2020/01/20/os-catolicos-ultraconservadores-que-querem-recristianizar-o-brasil>. Acesso em 20 fev. 2021.

Sobre o autor:

Dr. Denilson Mariano

Denilson Mariano é missionário Sacramentino de Nossa Senhora, é o redator de O Lutador-BH e doutor em Teologia pela FAJE-BH. Trabalha na formação de lideranças por meio do MOBON – Movimento da Boa Nova. Membro da Equipe dos Círculos Bíblicos da Arquidiocese de BH. E-mail: marianosdn@yahoo.com.br

Fonte:

www.domtotal.com

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Movimento da Boa Nova – MOBON: 40 anos a serviço da evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com/movimento-da-boa-nova-mobon-40-anos-a-servico-da-evangelizacao/ https://observatoriodaevangelizacao.com/movimento-da-boa-nova-mobon-40-anos-a-servico-da-evangelizacao/#comments Tue, 12 Mar 2019 15:20:15 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=30057 [Leia mais...]]]>

O trabalho de evangelização do Movimento da Boa Nova (MOBON) antecede em muito a criação da Casa do MOBON, em Dom Cavati-MG e, ao mesmo tempo, extrapola o alcance da visibilidade que esta casa lhe confere. Ao celebrar os 40 anos da Casa do MOBON, temos uma boa oportunidade para resgatar a sua importância e procurar divulgar um pouco de sua contribuição para a caminhada de evangelização em Minas Gerais e em outros Estados do Brasil.
A construção deste centro de evangelização aconteceu durante o ano de 1978, com doações vindas das várias paróquias da região e mediante o trabalho de mutirão da parte do povo das comunidades. Foi um ano de intenso trabalho e logo veio a sua inauguração no dia 11 de março de 1979. Ano em aconteceu também a importante Conferência dos bispos latinoamericanos em Puebla, no México. A Casa do MOBON foi construída com o objetivo de formar animadores de comunidades. Um espaço que favorecesse o encontro do povo com a Palavra de Deus, em um ambiente acolhedor e fraterno. Nesses 40 anos, a Casa do MOBON prestou relevantes serviços à Diocese de Caratinga e região. Promoveu encontros de formação bíblico catequética e pastoral, sempre sintonizada com a caminhada da Igreja, na busca de promover a conscientização dos leigos e leigas para um maior engajamento na vida eclesial e social.

As raízes do MOBON

O começo do trabalho aconteceu a partir de uma iniciativa do Pe. Geraldo Silva, Missionário Sacramentino de Nossa Senhora, em Alto Jequitibá-MG, alguns anos antes do Concílio Vaticano II. Diante da carência do povo no conhecimento da doutrina e da Palavra de Deus, ele intuiu a necessidade de formação bíblica e iniciou as “escolas bíblicas”, sobretudo para responder às polêmicas protestantes. Este trabalho bíblico com grupos de leigos clareava as questões de fé, doutrina cristã e amor à Igreja. O grupo começado por ele ganhou o nome de “Pioneiros do Evangelho” e fazia parte de uma organização recebeu o nome de MAPE “Movimento de Apostolado dos Pioneiros do Evangelho”. 

O Movimento do Boa Nova

Com o Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII, abriram-se novos horizontes para a vida e a caminhada da Igreja, agora com uma postura mais aberta aos leigos e com propostas mais ecumênicas. Alípio Jacintho da Costa, na época ainda um jovem religioso sacramentino, depois de um curso no Chile, em meados de 1966, dá uma nova configuração ao trabalho de evangelização. Assim ele destaca:

“Os encontros e reflexões acontecidos no pós Concílio nos levaram a ampliar a visão e passamos a seguir o caminho da renovação da vida pessoal e da formação para a vida em comunidade. O trabalho bíblico foi descolando-se da linha apologética e assumindo a linha do compromisso com a vida familiar, a organização de comunidades e o fortalecimento do culto dominical e da catequese.”


Alípio relata que o trabalho de conclusão do seu curso no Chile passou a se constituir o esquema dos cursos de formação para as lideranças leigas nas comunidades. Tratava-se de apresentar Jesus como a grande Boa Nova do Reino de Deus. Basicamente, dois cursos mais centrais: o “Pré Boa Nova” que era um despertar para o engajamento na vida de comunidade, e o “Boa Nova” que tinha o objetivo de fazer a pessoa assumir um ofício de liderança na comunidade e até ajudar na aplicação de outros cursos. Os dirigentes que aplicavam os cursos começaram a ser chamados de “Turma da Boa Nova” e, posteriormente, veio a ser o motivo da mudança do nome para “Movimento da Boa Nova. 
Alípio destaca ainda que, com o entusiasmo gerado pelo estudo bíblico, começaram a surgir os grupos de reflexão. Inicialmente era a indicação de um texto bíblico para cada semana acompanhado de uma pergunta motivadora. A resposta desta pergunta era partilhada entre os grupos, no final do mês, o que veio a configurar-se como “plenário”. Um espaço de troca de ideias e elemento importante para socialização e clareamento das ideias. Aos poucos se vai evoluindo até chegar à publicação dos “roteiros de grupo de reflexão” assumidos posteriormente pela Diocese de Caratinga. Esses grupos foram se aperfeiçoando e tomando corpo em nossa Diocese e em muitas outras aonde o trabalho da Boa Nova ia atingindo. 

MOBON 40 anos:

A casa do MOBON foi construída pelo povo simples. Foi edificada com recursos vindos de doações das comunidades, foi edificada por eles e para eles, em função de favorecer a formação dos pobres para o discipulado missionário. É preciso que ela continue sendo deles, acessível, acolhedora, um lugar onde o pequeno se descubra em sua dignidade, como gente, como filho de Deus e com uma grande missão a realizar na Igreja e na sociedade. É diante disso que João Resende afirma que esses 40 anos da Casa do MOBON é, na verdade, um “tributo ao leigo”.

Alípio, Denilson Mariano e João Resende

E, em uma conversa bastante espontânea com Alípio e João Resende no mês de janeiro deste ano, pedimos que destacassem o que eles veem de mais importante nestes 40 anos do MOBON e qual o grande desejo que alentam em seu coração. Eis o que eles dizem:

Alípio:

O que eu estou vendo hoje de mais importante são os novos missionários que estão aparecendo. O João e eu já fizemos muitos trabalhos, estamos ficando velhos. Hoje vemos um grupo bom de gente, leigos e leigas conscientes, jovens de pé no chão e que anunciam a Palavra com aquele entusiasmo. Pessoas capazes de provocar um novo entusiasmo em outros. […] Pra mim, o mais importante são esses novos discípulos de Jesus que estão crescendo. Os jovens de hoje com suas ideias, uma nova geração que está a serviço da Igreja com entusiasmo e alegria. A família cresceu… mas, essa nova geração de discípulos surge para levar o trabalho adiante.

João Resende:

Nós estamos num ano jubilar, ocasião para fazer uma memória prospectiva. A memória tem maior valor quando se alimenta do que aconteceu e faz uma prospectiva de continuidade da caminhada. O que faz esse Movimento da Boa Nova ir pra frente é a fidelidade à formação de leigos como discípulos missionários. Esse é um grande desafio, pois o leigo não é tanto o pregador, mas aquele que se torna discípulo e se dispõe a também formar novos discípulos. Constituindo-se ‘discípulos missionários’. Há pelo menos duas urgências neste pós-jubileu: desenvolver a contemplação entre os leigos, ser contemplativo, para alimentar a mística que vai nos dar forças para ir pra frente. Não tem como caminhar sem essa mística do Evangelho. […] Outra é o caminhar ‘sentindo com a Igreja’ fazendo eco com o que Ela nos propõe, hoje. É preciso que o MOBON desenvolva em nós um sentido poético, não de versar, mas de ler a realidade de uma maneira agradável, mais simpática, mais leve, mais simples, isso vai nos puxar, cada vez mais, pra frente até no próximo jubileu, se Deus quiser.

Alípio:

Meu desejo e esperança é que esse trabalho do MOBON não morra. É o que eu peço todos os dias. Assim como Maria, nas Bodas de Caná, sentiu a falta do vinho, faço a prece para que Nossa Senhora fale com Jesus desta falta de vinho que é de gente com vontade, com disposição e seriedade, que queira trabalhar na evangelização. Tenho fé e esperança de que esse trabalho vai crescer ainda mais e vai aparecer essa gente nova. […] Que esse Movimento não pare! Que esse ‘fazer discípulos’ faça do MOBON um grande lutador nesse sentido, como Santa Terezinha: ‘ vamos continuar fazendo o bem do céu aqui na terra’. Que este trabalho de evangelização não pare, seja da forma como acontece hoje, seja em novos meios ou em novos espaços como pela internet, nas redes sociais, mas que não pare.

João Resende:

Uai, esses 40 anos diz muitas coisas. Entre elas, diz que a gente deve juntar: leigo e Bíblia – Bíblia e leigo. Quando essa dupla dá as mãos, nada embarranca. Quando o leigo assume a Bíblia e ela é vivida, interpretada, relida pelo leigo, a partir de sua realidade, gera uma força tão grande que garante o futuro de um bom trabalho de evangelização. É o leigo abraçando a Bíblia e a Bíblia abraçando o leigo, o meu sonho é que essa dinâmica perdure até à eternidade.

Ir.-Denilson-O-lutador

Denilson Mariano é capixaba de Iúna. É doutorando em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE. Nesta instituição, fez a graduação em Filosofia e Teologia e o mestrado em Teologia. É religioso do Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora. É o atual diretor executivo da Revista O Lutador. É membro da equipe missionária de assessores do Movimento da Boa Nova – MOBON.

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Bom Samaritano – Apelo a Iniciação à vida cristã https://observatoriodaevangelizacao.com/bom-samaritano-apelo-a-iniciacao-a-vida-crista/ https://observatoriodaevangelizacao.com/bom-samaritano-apelo-a-iniciacao-a-vida-crista/#comments Tue, 22 Jan 2019 19:03:29 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=29764 [Leia mais...]]]> Por Denilson Mariano da Silva  & Wilson Augusto Costa Cabral 

Presente somente no Evangelho de Lucas, a Parábola do Bom Samaritano constitui-se em um dos mais importantes ícones da caridade e do amor ligados à Boa Nova de Jesus. Motivada por um questionamento de um doutor da Lei, esta parábola serve de exemplo para nossa catequese como itinerário de Iniciação à Vida Cristã (IVC). De modo simples e instigador, Jesus leva seus ouvintes à constatação, por eles mesmos, de quem de fato é o nosso próximo. 

O texto da parábola do Bom Samaritano encontra-se localizado no Evangelho de Lucas. Sua teologia nos coloca, de modo especial, diante do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. A própria estrutura do Evangelho prepara esse momento. Depois de um breve prólogo (Lc 1, 1-4), dos evangelhos da infância (Lc 1, 5 – 2, 52), da pregação de João (Lc 3, 1 – 4, 13) e do ministério público de Jesus na Galiléia (Lc 4, 14 – 9, 50), inicia-se a viagem de Jesus para Jerusalém (Lc 9, 51 – 19, 27). 

A viagem a Jerusalém representa o centro do projeto teológico de Lucas. Com um tom solene, o texto de Lc 9, 51 afirma que “quando se ia completando o tempo de ser elevado ao céu  –  expressão que significa que estava chegando o tempo da paixão, morte e ressurreição de Jesus,  –  ele decide ir a Jerusalém.” Para Jesus, essa não era uma decisão qualquer, era sim o momento de cumprir sua missão, assumindo as consequências da incompreensão de suas palavras e ações. 

É no contexto desta viagem a Jerusalém que se pode compreender a parábola do Bom Samaritano. O texto é precedido por três seções que são muito importantes. Primeiro, como sinal de que o caminho não é nada fácil, os discípulos enviados para  preparar hospedagem para Jesus em uma aldeia samaritana são mal recebidos (Lc 9, 51-55). Aqui já se prepara a percepção do leitor para a compreensão do papel do personagem  principal da parábola que será narrada mais adiante. Ademais sinaliza que a Boa Nova de Jesus não será acolhida com tanta facilidade. 

Em seguida temos a seção da missão dos discípulos. Tal missão é preparada  por ensinamentos sobre o seguimento de Jesus. Ser discípulo de Jesus não é tarefa simples. Exige renúncias, a atitude de se colocar no seguimento do Mestre (Lc 9, 57-58) e a entrega incondicional diante das exigências do Reino (Lc 9, 59-62). Os setenta e dois discípulos são então enviados em missão. Não são apenas os doze – referência às doze tribos de Israel –, mas os setenta e dois – referência a todas as nações pagãs. É importante perceber neste texto e nos ensinamentos de Jesus as orientações dadas aos discípulos que deveriam ir aonde Ele próprio deveria ir. Ou seja, aonde o discípulo missionário for, ele vai em nome d´Aquele que o enviou. Isso exige responsabilidade e comprometimento.

A missão gera alegria nos discípulos (Lc 10, 17-20), como também em Jesus (Lc 10, 21-24). Esta é a mais declarada manifestação de alegria de Jesus em todo o Novo Testamento. Nela podemos ver a alegria de Jesus pela missão dos setenta e dois, mas também pela missão de toda Igreja chamada a anunciar o Evangelho. Verdadeiramente muitos quiseram anteriormente ver o que os discípulos viram e ouviram, porém não  puderam (Lc 10, 23-24). O que os discípulos viram e ouviram é o mistério da íntima união entre o Pai e o Filho, manifestada na missão realizada por aqueles que o Filho enviou (Lc 10, 22). É este poder que elimina todas as formas do mal (Lc 10, 18-19). Este texto tem uma importância cristológica e eclesiológica muito grande.

1. Um questionamento: “E quem é meu próximo”? (Lc 10, 29). 

Depois de um momento no qual se percebeu a forte comunhão de Jesus com os discípulos enviados por ele vem uma interrupção, um questionamento. O evangelista em sua narração alerta já de início que não se trata de uma intervenção qualquer. Trata-se de um mestre da Lei, conhecedor dos ensinamentos da Torá. Mais ainda, Lucas revela a intenção do interlocutor. Ele aborda Jesus com a intenção de testá-lo, de colocar uma armadilha para ele. A pergunta é direta: “Mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?” (Lc 10, 25). Na pergunta já temos um elemento que indica a qual grupo este mestre da Lei pertence, pois somente os fariseus e depois os cristãos tinham a crença na vida após a morte. O mestre então era um fariseu com intenção de deixar Jesus em má situação. 

Jesus responde ao mestre da lei com duas perguntas. O que está escrito na Lei? Como lês? Jesus havia percebido a intenção daquele homem e, justamente por isso, o devolve-lhe o questionamento. Em suas perguntas Jesus vai além da literalidade das Escrituras. Ao acrescentar à pergunta sobre o que está escrito a questão de como o homem a lê, ele coloca a questão da interpretação que se dá ao texto. A Palavra de Deus não deve ser apenas lida como o fazem os fundamentalistas. Ela deve passar também pelo crivo da interpretação. 

Diante do questionamento de Jesus, o mestre da Lei vai ao cerne da Lei, da Torá dos judeus, o “Escuta Israel”. Essa é para os judeus a oração mais importante, na qual ao mesmo tempo o povo de Deus da Primeira Aliança professava a sua fé em um único Deus e, em contrapartida, se reconhecia como único herdeiro da aliança: “Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças.” (Dt 6, 4-5). O mestre da Lei ainda acrescenta com todo o teu entendimento  –  em alusão à forma como ele interpreta e compreende esse texto, dando a ele inclusive um acento maior. Como mestre da Lei, ele conhecia bem as Escrituras a ponto até de acrescentar também o texto de Lv 19, 18b: “amarás o teu próximo como a ti mesmo.” 

A alusão ao texto do Levítico prepara o problema motivador da parábola. Em Lv 19 encontram-se prescrições morais e cultuais do Código de Santidade  –  grupo de leis e normas presentes no Levítico. O texto é claro quanto ao dever de amar ao próximo. Contudo, a primeira parte do versículo não deixa dúvidas quanto a identidade do próximo em questão: “Não procures vingança nem guardes rancor aos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”. Na realidade toda a seção de Lv 19, 15-18 faz menção ao vínculo fraterno nas relações entre os compatriotas israelitas. Os estrangeiros não estão incluídos nessas normas e nesse amor. 

Diante da resposta do mestre da Lei, Jesus responde fazendo alusão também ao livro do Levítico: “Guardareis minhas leis e meus decretos, pois o homem que os cumprir,  por meio deles viverá.” (Lv 18, 5). Fica claro que o amor a Deus e ao próximo na  perspectiva de Jesus não é uma realidade somente de fé ou de sentimento, mas uma prática de vida, uma realização concreta. 

O doutor da Lei tinha conhecimento de que o amor de Jesus ia além desse amor  presente no Código de Santidade, e justamente por isso queria colocar Jesus em dificuldade. Por isso ele não se dá por vencido. “Tentando se justificar” do embaraço no qual ele mesmo havia se colocado, ele faz nova pergunta a Jesus: “E quem é meu  próximo”? (Lc 10, 29). Jesus então não responde com conceitos e conta a parábola do Samaritano. 

2. A Parábola  –  Ele viu e moveu-se de compaixão (Lc 10, 33) 

Uma parábola se baseia sempre em uma imagem, em um acontecimento do cotidiano, que se expõe de forma simples. Nela, o ouvinte é convidado a entrar em uma busca ativa para descobrir um significado espiritual mais profundo. O discípulo, como ouvinte e crente, não é um receptor passivo do ensinamento, é aquele que tem a tarefa de investigar seu significado em diversos planos, ou seja, ele é convidado a entrar no mistério (LESKE, 2005) Desse modo, ao falar em parábolas, Jesus provoca nos discípulos uma experiência de descoberta do sentido mais profundo de sua Boa Nova. 

A narrativa começa com a realidade de um homem que descia de Jerusalém a Jericó. Era “um caminho de aproximadamente trinta e dois quilômetros com uma descida a partir de cerca de 700 metros acima do nível do mar até cerca de 400 metros abaixo do nível do mar” (ABOGUNRIN, 2005, p. 1279). Esse caminho era cheio de curvas, passando próximo a penhascos e grutas, um ambiente que favorecia a presença de ladrões e salteadores. Jesus parte então de uma realidade bem conhecida de seus ouvintes. Ao narrar a história daquele homem, naquelas circunstâncias, muito facilmente os ouvintes se colocavam em seu lugar. 

Tal homem – embora o texto não fale, mas que era provavelmente um judeu – acaba caindo nas mãos de assaltantes, que além de despojá-lo de seus bens, o espancam e o deixam semimorto no chão (Lc 10, 30). A situação é grave. Todo ouvinte percebe de antemão a necessidade daquele homem ferido, despojado, abandonado à beira do caminho. O fato de ele estar semimorto – palavra que dá a entender que ele estava desacordado, acentua o seu problema. No livro dos Números encontra-se uma restrição para quem toca em um morto. Diz o texto:

Quem tocar qualquer cadáver humano ficará impuro por sete dias. Deverá  purificar-se com esta água no terceiro e no sétimo dia, e ficará puro. Caso não se  purificar no terceiro e no sétimo dia, não ficará puro. Quem tocar um morto, um cadáver humano, e não se purificar, contaminará a morada do Senhor: deverá ser eliminado de Israel. Visto que não foi derramada sobre ele a água purificadora, está impuro, sua impureza continua. (Nm 19, 11-13) 

Percebe-se, portanto, que na situação em que o homem se encontrava – aparentemente morto –, caso confirmada a morte, quem o tocasse ficaria impuro por sete dias. A escolha dos personagens, então, não foi casual. De um lado temos um sacerdote e um levita – ambos ligados ao templo. De outro temos um samaritano. Mais do que simplesmente estrangeiros, eles eram considerados hereges, deturpadores da Lei de Deus. 

O primeiro personagem a ver o homem caído era o sacerdote. Responsáveis  pelo Templo, os Sacerdotes tinham de se manter puros para os sacrifícios e para entrar na Habitação do Senhor. De um lado, então, estava a misericórdia e a compaixão por aquele homem, de outro os deveres da Lei. Correr o risco de ficar sete dias longe do culto foi o que falou mais alto para o sacerdote. Ele passa ao largo. 

O levita, com funções no culto inferiores às funções dos sacerdotes, mas igualmente ligado ao Templo, tem a mesma atitude. Diante do homem caído, ele passa adiante. É importante notar que, embora em situações diversas, muitas vezes é mais fácil se render às obrigações do culto e das normas religiosas do que ir ao encontro do outro para acolhê-lo, ampará-lo, cuidar dele. 

A surpresa vem do terceiro homem que passa pelo caminho: um samaritano. Desde a invasão da Samaria e do reino de Israel (2 Rs 17) e, consequentemente, com a deportação de seu povo de sua terra, a Samaria passou a ser considerada para os judeus, como um local de sincretismo, de junção do culto de seu Deus com outros deuses de outros  povos.  Na tradição judaica, aos judeus era proibido dizer “amém” em uma oração proferida por um samaritano. 

Entretanto será um samaritano que se aproximará do homem ferido. Ele se moveu de compaixão – o que significa que o samaritano participou das dores daquele homem, sentiu com ele sua situação, teve misericórdia, deu àquele homem, em situação de extrema miséria, o seu coração –, dedicou-lhe tempo curando suas feridas, utilizando o que tinha: óleo e vinho. A compaixão fez com que mudasse seus planos, atrasasse sua viagem. Ele coloca o homem ferido em seu próprio animal e o leva a uma hospedaria. 

Amar tem suas consequências. Na hospedaria, o samaritano paga adiantado “dois denários”, assumindo o compromisso de pagar o restante, caso o gasto fosse maior. O amor leva ao comprometimento. Os dois primeiros se desviaram no caminho, o samaritano refaz seu caminho, muda planos, ultrapassa leis, conceitos e preconceitos. 

A parábola termina. Não é difícil imaginar o silêncio e a expectativa gerados  por essa estória. Todos percebiam o alcance de tais acontecimentos, do que representavam seus personagens, seus atos e suas opções. Assim é o uso de Jesus das parábolas em seus ensinamentos. Na maioria delas, Jesus não dá explicações. Elas são claras e provocam a meditação. A Parábola do Samaritano proporciona entrar no cerne do amor ao próximo. Mas Jesus vai além em sua catequese.

3. Uma ordem: “Vai e faze tu a mesma coisa” (Lc 10, 37b) 

Ao concluir a parábola, Jesus não se contenta somente em provocar a reflexão. Jesus provoca o mestre da Lei. Diante da pergunta feita anteriormente por ele, quanto a quem era o seu próximo, Jesus prossegue questionando: Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu na mão dos assaltantes? (Lc 10, 36) A pergunta de Jesus supõe uma troca. A questão não é de quem é o próximo que se deve amar. Quando se tem o amor misericordioso de Jesus, faz-se como o samaritano: aproxima-se de quem está em necessidade, fragilizado, abandonado. Esse amor não respeita barreiras, limites, rótulos, preconceitos… O samaritano acolheu o homem, um judeu. Os cristãos são chamados a tornarem-se próximos de todos os homens. 

O mestre da Lei, no entanto, reluta em dizer que o samaritano foi o próximo daquele homem. Ele simplesmente afirma: “Aquele que usou de misericórdia para com ele” (Lc 10, 37a). Sua resposta está certa, o próximo foi aquele que usou de misericórdia, ou seja, aquele que foi além de suas possibilidades, cuidando do homem, dando-lhe seu coração. Entretanto, a dificuldade de dizer que fora realmente um samaritano, um herege, que havia feito o que se devia fazer, superando em amor a preocupação com a pureza e a pressa do sacerdote e do levita, revela que ele ainda não tinha se deixado tocar pela proposta de Jesus. Mas a provocação de Jesus continua a ecoar nos ouvidos dos discípulos de hoje. 

Jesus então conclui: “Vai e faze tu a mesma coisa” (Lc 10, 37b). Aqui não se trata de uma mera conclusão. Como vimos, em Lucas o caminho para Jerusalém supõe um comprometimento e uma despedida. Ao final da Parábola do Samaritano temos um envio, um “ide” para o mestre da Lei e para todo aquele que a ouvir. Trata-se de uma missão, tornar-se próximo para amar é a missão de todo cristão. 

4. Uma Igreja Samaritana 

O papa Francisco, em vários de seus escritos e pronunciamentos, tem apresentado a necessidade da identidade da Igreja como uma “Igreja Samaritana”. Para ele é missão dos cristãos curar as feridas, construir pontes, estreitar laços, ajudar a carregar os fardos uns dos outros (EG 67). Ainda segundo o Papa, é essa atitude que os feridos das  periferias existenciais aguardam dos discípulos missionários (EG 88). A Igreja Samaritana é aquela que acolhe, que se faz próxima daqueles que estão pelo caminho. É uma Igreja que sabe amar. 

Tendo diante de nós a parábola do Samaritano, somos convidados a desenvolver em todas as nossas comunidades uma catequese, ou melhor, um processo de Iniciação à Vida Cristã que nos leve a recriar em nós algumas das atitudes de Jesus presentes nesta parábola. Vale lembrar que Jesus, ele mesmo, é o grande Samaritano. Cada uma das atitudes do Samaritano na parábola- aproximar-se, ver, ter compaixão, solidarizar-se, partilhar, cuidar – são atitudes que Jesus desenvolve em sua vida pública. Ele continua a ser para nós o Caminho que devemos seguir em nosso itinerário de IVC. 

Aproximar. A proximidade é uma constante na vida missionária de Jesus. Ele estava próximo, de modo especial, dos mais necessitados. Era capaz de interromper uma caminhada, parar, sentir o grito de quem estava à margem da vida. Estamos muito acostumados a ficar “à disposição” das pessoas, na “segurança” de nossas igrejas, casas de encontros ou centros catequéticos, à espera de que as pessoas ou mesmo os jovens venham até nós. No entanto, sem um contato direto com a realidade das pessoas, nós não seremos  provocados a tomar atitudes diante dos desafios que ameaçam a vida hoje. O processo de Iniciação à Vida Cristã nos leva a ser mais ousados: sair de nossas seguranças e nos aproximar das pessoas. Ele quer despertar a consciência e a prática missionária em todas as atividades de nossa comunidade, abrindo-nos às nossas realidades e situações do mundo do hoje, não nos fechando apenas nas atividades dentro das igrejas ou em nossas reuniões. 

Ver. A IVC nos desperta para termos a compaixão de Jesus diante da situação e comportamento de risco de muitas pessoas e de famílias que “estão à beira do caminho”, necessitadas de nossa presença e atuação misericordiosa. Precisamos abrir os olhos e enxergar a necessidade das pessoas e não cortar caminho, abandonando-as com a desculpa que estamos atarefados com as “coisas” da Igreja… Nós e nossas comunidades somos convidados a nos posicionar com maior responsabilidade diante do graves problemas e desafios que nos circundam nos dias de hoje. 

Solidarizar. O bom samaritano se solidarizou com o homem ferido. O  processo de IVC nos convida a ter mais solidariedade com pessoas feridas por situações sociais de exclusão, como desemprego, drogas, saúde precária, direitos violados, falta de  base familiar. Não se trata apenas de um trabalho assistencialista. Precisamos, sobretudo, a partir de uma consciência crítica diante da nossa realidade social, capacitar as pessoas, especialmente os jovens, a serem sujeitos da transformação de que o mundo tanto necessita. 

Partilhar. A partilha da condução entre o samaritano e o homem ferido é sinal de fraternidade manifestada na vida e no uso de bens. A IVC nos lembra da importância de reforçarmos nossas experiências de fraternidade comunitária. Viver em comunidade é uma exigência do Evangelho. Ninguém se salva sozinho. É importante que em nossos grupos paroquiais, sobretudo em nossas ações catequéticas, haja, cada vez mais, um ambiente adequado de partilha de vida e de esperança. Precisamos encontrar formas de envolvimento das pessoas no seguimento a Jesus Cristo e estimular a convivência de grupos fraternos em nossas comunidades, onde as pessoas possam encontrar espaço para um encontro pessoal com o Senhor e com o próximo que ele tanto quer ver bem atendido. 

Levar à hospedaria. Temos aí um símbolo de lugar de tratamento e acolhida em um espaço comum. A comunidade paroquial deve ser um espaço onde as pessoas, sobretudo os catequizandos, se sintam bem como quem está em casa. Se as pessoas não se sentem em casa na Igreja, elas vão procurar outros espaços que as “acolham”. A comunidade precisa ter um clima de leveza, de compreensão. As pessoas vêm, às vezes, feridas, machucadas, marcadas por decepções familiares e sociais. Nossas comunidades precisam ser espaços de cuidado com as pessoas. Elas devem se sentir envolvidas, valorizadas, descobrindo que são amadas por Deus e pela comunidade. Uma atenção especial deve ser dada aos adolescentes e jovens. A comunidade tem a missão de acolher as pessoas e procurar ajudá-las a se encontrarem consigo mesmas, com o próximo e sobretudo com o Senhor… Quando o coração se abre, tudo fica mais fácil! 

Referências: 

ABOGUNRIN. S. O. Lucas. In FARMER, Willian R. (Org.). Comentário Bíblico Internacional. Comentário católico y ecuménico para el siglo XXI. Navarra: Editorial Verbo Divino. 2005. p. 1244-1307. 

LESKE, A. Mateo. In FARMER, Willian R. (Org.). Comentário Bíblico Internacional. Comentário católico y ecuménico para el siglo XXI. Navarra: Editorial Verbo Divino. 2005. p. 1139-1210 

Essa e outras parábolas de Jesus devem ser aplicadas à realidade atual dos catecúmenos. Eles podem até reescrever algumas parábolas situando-as no ambiente em que vivem (Quem são os feridos no caminho hoje? Quem passa adiante e não lhes dá atenção? Quem se dispõe a atendê-los?) E já que é tão importante socorrer os necessitados, os catecúmenos devem ser apresentados aos agentes das pastorais sociais, visitar com eles os que precisam de ajuda e refletir sobre como se construiria uma sociedade onde todos estivessem bem, com seus direitos respeitados. Afinal, a melhor ajuda seria criar condições para que as  pessoas não precisem mais de socorro. 

Publicado In: PERUZZO, José Antônio. E seguiram Jesus: Caminhos bíblicos de Iniciação. Brasília: Edições CNBB, 2018, p. 103-114.

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O Círculo Bíblico desperta e alimenta a consciência batismal (5) https://observatoriodaevangelizacao.com/o-circulo-biblico-desperta-e-alimenta-a-consciencia-batismal/ https://observatoriodaevangelizacao.com/o-circulo-biblico-desperta-e-alimenta-a-consciencia-batismal/#comments Wed, 03 Oct 2018 13:27:47 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=29064 [Leia mais...]]]>

 

Nesta última parte da entrevista, Denilson Mariano fala sobre a importância do despertar e de investir na formação da consciência eclesial dos leigos. Pelo Batismo, somos chamados a acolher a graça de ser, de viver e de conviver como filho ou filha de Deus. Passamos, então, a compreender o sentido maior que nossa vida adquire quando a percebemos enraizada na vida de Jesus de Nazaré. Pela força e luz do Espírito Santo, Deus em nós, acolhemos a missão de cultivar a centralidade do amor de Deus, na prática da justiça, da misericórdia e do amor fraterno vivido em comunidade de fé e na construção diária da sociedade inclusiva e garantidora da vida para todos.

Mariano recorda, no contexto do Ano do Laicato, do Documento 105 da CNBB (Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade) e do magistério do papa Francisco, a beleza e profundidade da experiência da fé cristã que, pelo Batismo, nos consagra sacerdotes, profetas e reis. Somos ungidos pela graça de Deus para amar e servir (sacerdócio), anunciar-testemunhar o projeto do Reino e denunciar as injustiças (profetismo), bem como cuidar, proteger e defender a dignidade da vida de cada pessoa, desde os mais pobres e vulneráveis (reinado de Deus). Destaca que, pela reflexão de vida em torno da Palavra de Deus, como acontece nos Círculos Bíblicos, nós cristãos vamos experimentando o chamado para a missão de colocar-nos a serviço de nossos irmãos e irmãs, na comunidade de fé e na sociedade.

 

1ª parte da entrevista:

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2ª parte da entrevista:

https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/2018/09/10/circulos-biblicos-ajudam-a-palavra-de-deus-se-tornar-sabedoria-para-o-bem-viver/

3ª parte da entrevista:

https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/2018/09/18/os-circulos-biblicos-dinamizam-a-vida-eclesial/

4ª parte da entrevista:

https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/2018/09/25/os-circulos-biblicos-descobrem-na-palavra-de-deus-uma-fonte-para-a-vida-em-comunidade/

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Os Círculos Bíblicos descobrem na Palavra de Deus uma fonte para a vida em comunidade (4) https://observatoriodaevangelizacao.com/os-circulos-biblicos-descobrem-na-palavra-de-deus-uma-fonte-para-a-vida-em-comunidade/ https://observatoriodaevangelizacao.com/os-circulos-biblicos-descobrem-na-palavra-de-deus-uma-fonte-para-a-vida-em-comunidade/#comments Tue, 25 Sep 2018 18:55:57 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=29023 [Leia mais...]]]>  

 

 

Na quarta parte da entrevista, Mariano fala da vida cristã como uma caminhada que exige clareza para onde estamos indo, coragem e disposição para empreendê-la. Para isso ele aponta a relação estreita e indissociável entre a Palavra de Deus e a própria vida cristã vivida em comunidade de fé e partilha de vida. Daí percebemos a importância da dinâmica que os Círculos Bíblicos criam em torno da reflexão da Palavra de Deus e da vida que vai sendo melhor compreendida a partir do cultivo da intimidade com Deus e com os membros do grupo. Os Círculos Bíblicos favorecem a experiência de intimidade com Deus que em Jesus vem ao nosso encontro, bate em nossa porta e provoca a nossa alegria com a gratuidade de seu amor que nos transforma.

Pensando nisso, Denilson fala da importância de aproveitarmos os tempos fortes da caminhada cristã, tais como a Campanha da Fraternidade, o Mês da Bíblia, a Novena do Natal, dentre outros, para fazer nucleação de novos Círculos Bíblicos. Que o entusiasmo e a alegria de quem já participa despertem o interesse em outros irmãos e irmãs da comunidade.

 

1ª parte da entrevista:

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2ª parte da entrevista:

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3ª parte da entrevista:

https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/2018/09/18/os-circulos-biblicos-dinamizam-a-vida-eclesial/

5ª parte de entrevista:

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Os Círculos Bíblicos dinamizam a vida eclesial (3) https://observatoriodaevangelizacao.com/os-circulos-biblicos-dinamizam-a-vida-eclesial/ https://observatoriodaevangelizacao.com/os-circulos-biblicos-dinamizam-a-vida-eclesial/#comments Tue, 18 Sep 2018 20:01:10 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=28990 [Leia mais...]]]>  

 

Na terceira parte da entrevista, Denilson Mariano analisa a importância dos roteiros para que a caminhada dos Círculos Bíblicos seja marcada pela eclesialidade, ou seja, cada grupo, a medida que concretiza seus passos, cresce no sentimento de pertença à Igreja de Jesus Cristo. O roteiro, além de garantir a sintonia e uma certa unidade entre os diversos e diferentes grupos, indica a direção, o norte da caminhada, ao estimular o espírito de comunhão eclesial. Quando mais a nossa vida atual é refletida a luz da caminhada o povo de Deus, da vida de Jesus, de seus ensinamentos e posturas proféticas, e da própria experiência de seguimento dos discípulos e discípulas, mais a pessoas percebem que Deus é estradeiro conosco.

Mariano fala também da rica experiência celebrativa dos plenários, quando, no final de cada mês, as sínteses elaboradas das conversas e discussões recolhidas de cada encontro semanal, aquelas provocadas pelas perguntas-chave do roteiro, pela leitura bíblica e pelos fatos da vida, são aprofundadas e enriquecidas com a grande partilha. O plenário faz com que os Círculos Bíblicos se percebam como elos de uma grande corrente.

Denilson, em seguida, avalia o modo como os Círculos Bíblicos concretizam o seu potencial de dinamizar a vida eclesial. Eles aproximam as pessoas, suscitam e aprofundam relações de amizade, criam vínculos fraternos e aperfeiçoam as relações sociais. Enquanto espaço de evangelização e formação dos leigos e leigas, os Círculos Bíblicos, com profunda simplicidade, a médio e longo prazo, conseguem consolidar uma caminhada formativa capaz de fecundar, enriquecer e revitalizar os horizontes da catequese, da liturgia, das pastorais, dos movimentos e da necessária ação social provocada pela vivência da fé.

 

 

1ª parte da entrevista:

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2ª parte da entrevista:

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4ª parte da entrevista:

https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/2018/09/25/os-circulos-biblicos-descobrem-na-palavra-de-deus-uma-fonte-para-a-vida-em-comunidade/

5ª parte de entrevista:

https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/2018/10/03/o-circulo-biblico-desperta-e-alimenta-a-consciencia-batismal/

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Círculos bíblicos ajudam a Palavra de Deus se tornar sabedoria para o bem viver (2) https://observatoriodaevangelizacao.com/circulos-biblicos-ajudam-a-palavra-de-deus-se-tornar-sabedoria-para-o-bem-viver/ https://observatoriodaevangelizacao.com/circulos-biblicos-ajudam-a-palavra-de-deus-se-tornar-sabedoria-para-o-bem-viver/#comments Mon, 10 Sep 2018 13:03:27 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=28915 [Leia mais...]]]>  

 

Denilson Mariano, na segunda parte da entrevista, destaca como uma das maiores riquezas da dinâmica dos círculos bíblicos o fato dela tornar a Palavra de Deus acessível, próxima da vida da gente e ao alcance de todos, sobretudo dos mais simples. A contribuição dos círculos bíblicos na evangelização é a de tornar a Palavra, de fato, uma luz que alimenta a nossa “fé na caminhada”, que ilumina o nosso jeito de conviver e enfrentar juntos os problemas e desafios do caminho, tendo a pessoa de Jesus como um mestre que é estradeiro sempre conosco e que, com a sua vida, nos ensina o sentido de viver confiantes na presença de Deus.

Mostra que a leitura de fé das Escrituras, sempre em diálogo com os acontecimentos da vida, é uma prática presente desde o início da caminhada do povo de Deus. Ela também pode ser observada na vida de Jesus com seus discípulos e na dinâmica da Igreja desde o início das primeiras comunidades. Para Denilson Mariano, os círculos bíblicos, como o arroz com feijão em nossas refeições, concretizam um método tão simples, acessível e descomplicado que muitos olham com preconceito. Muitos não acreditam no potencial de algo tão básico – pequenas rodas de conversa sobre a Bíblia e as realidades da vida – para formar cristãos adultos na fé, suscitar lideranças cristãs comprometidas com o seguimento de Jesus e com a caminhada das comunidades, pastorais e grupos diversos que surgem na vida eclesial, bem como o de concretizar uma ação evangelizadora profundamente transformadora na vida das pessoas, das famílias e das comunidades cristãs. Muitos ainda não descobriram a riqueza dos círculos bíblicos.

 

1ª parte da entrevista:

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3ª parte da entrevista:

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4ª parte da entrevista:

https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/2018/09/25/os-circulos-biblicos-descobrem-na-palavra-de-deus-uma-fonte-para-a-vida-em-comunidade/

5ª parte de entrevista:

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