Cristãos leigos – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 23 Jun 2022 20:53:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Cristãos leigos – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 CNLB realiza sua 40ª Assembleia Geral e elege Nova Diretoria https://observatoriodaevangelizacao.com/cnlb-realiza-sua-40a-assembleia-geral-e-elege-nova-diretoria/ Thu, 23 Jun 2022 20:53:27 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45237 [Leia mais...]]]> A última Assembleia o CNLB aconteceu em espírito de Assembleia Eclesial, quer pela forma como foi conduzida, quer pela fala do Assessor (Pe. Aquino Júnior), quer por sua representatividade. Oxalá essa Assembleia seja semente de sinodalidade para a Igreja do Brasil. Vale a pena conferir…

Conduzidos pelo tema “Sinodalidade e Missão: cristãos leigos e leigas em saída para as periferias”, os cristãos leigos e leigas que fazem parte do Conselho Nacional do Laicato no Brasil, encerraram as atividades da 40ª Assembleia do CNLB, na manhã do domingo, 19, após quatro dias reunidos na Casa de Retiros Oásis, em São Luís, Maranhão, com assessoria de padre Francisco Aquino, da diocese de Limoeiro – CE.

O último dia da 40ª Assembleia do CNLB foi iniciado com a Santa Missa, presidida por dom Gilberto Pastana, arcebispo de São Luís, e concelebrada por dom Sebastião Bandeira, bispo da diocese de Coroatá e presidente do Regional Nordeste 5; dom Sebastião Duarte, bispo da diocese de Caxias e referencial para os leigos do Regional Nordeste 5; dom Manoel Bandeira, do Regional Nordeste 2 e dom Giovane Pereira, bispo de Tocantinópolis (Regional Norte 3) e presidente da Comissão Episcopal para o Laicato.

Ao final da celebração, Sônia Oliveira, presidenta do CNLB, entregou uma placa em homenagem aos 70 anos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em agradecimento por sua contribuição com o evangelho da Igreja no Brasil e pelo diálogo com a sociedade por meio dos seus organismos, pastorais comissões e serviços.

Voltando à plenária, a Assembleia acompanhou a apresentação dos indicativos de ação para o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) para o próximo triênio 2022-2025.

Dom Sebastião Bandeira, bispo da diocese de Coroatá e presidente do Regional Nordeste 5, destacou a alegria do Regional para receber esta Assembleia. “É uma alegria e um privilégio podermos acolher esse encontro nacional dos leigos e leigas da Igreja do Brasil. Recentemente em nossa visita Ad Limina, nós ressaltamos a importância dos leigos na vida da Igreja. O leigo que assume um papel tão importante na Igreja e ao mesmo tempo na sociedade porque se nós queremos uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais solidária, é somente quando tivermos leigos preparados para assumir o seu compromisso cristão no mundo de hoje”.

Padre Josimo, Santo da Terra e das Águas

Conceição Silveira, delegada da diocese de Imperatriz-MA, leu a moção de apoio à causa da beatificação de padre Josimo Tavares, presbítero assassinado com dois tiros no dia 10 de maio de 1986, na cidade de Imperatriz.

Confira a Moção na íntegra, aqui.

O documento registra que inúmeras comunidades dentro e fora do Brasil pedem a beatificação de padre Josimo. A moção foi aprovada pelos presentes sem alterações. Padre Josimo também é abordado na Carta Oficial da Assembleia.

Além desta, outras moções foram proferidas como a de apoio à política de cotas e sobre a Amazônia e os povos originários.

Nova Gestão CNLB 2022-2025

Na sexta-feira (17), a Assembleia reunida reelegeu Sônia Gomes de Oliveira como presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) para a Gestão 2022-2025. Compõe ainda esta executiva, Vanda Maria de Carvalho, eleita vice-presidente; Márcio Oliveira, secretário-geral; Patrícia Cabral, secretária-adjunta; tesoureiro-geral, Adriano Massariol e tesoureira-adjunta, Rejane Gaia.

“Tem sido um verdadeiro kairós para nós. Trazer um pouco da reflexão do que essa 40ª Assembleia representa para todos nós é fazer uma síntese daquilo que nós queremos talvez chegar e onde nós queremos chegar. A Assembleia começou na quinta-feira (16), esse momento de empolgação, esse momento de alegria, mas também com uma mística muito grande, uma mística que a cada dia, cada regional tem assumido nas orações tem nos feito pensar o nosso lado espiritual a nossa caminhada”, lembra Sônia Oliveira.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo emite nota aos participantes da 40ª AGO em São Luís do Maranhão. Confira a nota aqui.

A 6° Semana Social Brasileira, através de sua coordenação, também emitiu nota aos cristãos leigos e leigas na ocasião da 40ª Assembleia Geral Ordinária do Laicato do Brasil em São Luís do Maranhão. Confira aqui.

Dom Sebastião Duarte, bispo de Caxias e referencial para os leigos no Regional Nordeste 5, enfatiza a importância de incentivar e motivar a missão da CNLB no Maranhão. “É uma assembleia importante, ela dá suporte para a caminhada e esperamos também que o Regional Nordeste 5 possa continuar o trabalho que já vem sendo desenvolvido, e dá corpo ainda mais a esse trabalho. Esperamos que em nossas dioceses o Conselho Nacional dos Leigos na diocese possa encontrar o suporte melhor para se trabalhar e que as pastorais possam se empenhar, e que nós bispos também possamos animar o serviço do laicato em nossas dioceses”, incentiva.

De acordo com a coordenadora do CNLB no Regional Nordeste 5, Maria José, a expectativa para este momento presencial foi grande e acredita que a partir de agora haverá um fortalecimento do Conselho de Leigos no Maranhão.

“Foi uma expectativa muito grande, um momento de reencontro, depois de dois, praticamente três anos sem nos encontrarmos pessoalmente. Nós nunca paramos, estamos sempre ali em momentos virtuais. Para nós do regional, ela (Assembleia) vai deixar assim um fortalecimento muito grande, acredito, tenho certeza que todo mundo, todos os leigos vão entender e participar do CNLB”, pontua Maria José.

“Vozes das Periferias”

A 40ª AGO do CNLB também foi um espaço para ouvir testemunhos de lideranças sociais que lutam em favor da vida na realidade do Nordeste 5, como a liderança indígena do Tremembé, uma da Missão Sede Sóbrio e outra visa o resgate de mulheres e crianças em vulnerabilidade.

Para a presidenta, Sônia Oliveira, esses depoimentos foram importantes para aprofundar o lema da Assembleia e apontar os caminhos para ações concretas para os leigos e leigas. “Os depoimentos locais que tem sido apresentado aqui, de catadores e catadoras, quebradoras de coco, pessoas em situação de rua, povos indígenas, isso tem ardido o nosso coração e apontado o caminho para nós esse é o caminho que já traz pra nós a nossa iluminação bíblica é pra lá que nós devemos caminhar”, disse.

Lançamento de Livros

Na programação da 40ª Assembleia Geral Ordinária (AGO) do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) aconteceu o lançamento de livros da Membro da Comissão Nacional de Formação, Carlúcia Maria Silva, intitulados “Mulheres e Economia Popular e Solidária” e “Identificados pelo carrinho”.

Além deles, houve também o lançamento das obras da professora Célia Soares de Sousa chamados: “Maria, onde o céu encontra a terra” e “O Perfil Mariano na igreja e a atuação da mulher na igreja”.

A 40ª AGO contou com 178 participantes, destes quatro bispos e quatro presbíteros, os demais participantes foram as leigas e leigos de todas regionais da CNLB, e teve como lema, a iluminação bíblica: “O caminho é este, é por aqui que vocês devem ir!” (Is. 30, 21).

“A gente então parte com essa missão, a partir desses olhares, a partir dessas pistas, caminhando em seguida para a escuta que é aquilo que o papa Francisco nos pede e mais ainda um caminho que o laicato deve fazer, a partir das periferias com os olhos e o coração aberto pra vivenciar o evangelho daqueles que mais precisam, junto aqueles que mais precisam, os pobres”, ressaltou Sônia Oliveira.

Encerrou com a posse da nova diretoria eleita para o triênio 2022-2025 e a “Oração de Envio: Igreja em saída para as periferias”, inspirada no Evangelii Gaudium, 20, conduzida pelo Regional Nordeste I.

Fonte: CNLB NE 5

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Não fossem os migrantes, a Igreja dos Estados Unidos não seria o que é https://observatoriodaevangelizacao.com/nao-fossem-os-migrantes-a-igreja-dos-estados-unidos-nao-seria-o-que-e/ Wed, 09 Feb 2022 14:31:57 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=43361 [Leia mais...]]]> A migração é uma situação forçada pela busca de melhores condições de vida, muitas vezes agravadas por situações de violência, ameaças, perseguições, racismos , divergências ou confrontos religiosos entre outras. A Igreja sempre se mostrou solidária e companheira dos migrantes, quer por suas raízes judaicas que nos faz herdeiros de um povo de migrantes, quer pela trajetória de Jesus que também foi obrigado a migrar. Luis Miguel Modino entrevista Dom Edgar Moreira da Cunha que acompanha os migrantes nos Estados Unidos. Uma experiência que nos enriquece na perspectiva sinodal, no engajamento de leigos e leigas na ação pastoral e aprofunda nossos conhecimentos sobre a realidade dos migrantes e sua caminhada de fé. Confira!!!

Um imigrante que em sua condição de bispo acompanha os imigrantes. Dom Edgar Moreira da Cunha, nascido em Riachão do Jacuípe (Bahia), chegou nos Estados Unidos em 1978, sendo ainda seminarista da congregação dos vocacionistas. Depois de ser bispo auxiliar da Arquidiocese de Newark, atualmente é bispo de Fall River, no estado de Massachusetts.

Dom Edgar faz parte da Comissão para América Latina da Conferência Episcopal dos Estados Unidos e, em visita a alguns regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, partilha a realidade de uma Igreja onde os imigrantes dão muita força. Segundo o bispo, cada vez existe uma relação mais fluída entre a Igreja dos Estados Unidos e as Igrejas da América Latina, reconhecendo a importância de participar dos encontros promovidos pelo CELAM.

Uma Igreja que está bem envolvida no processo sinodal que a Igreja está vivendo, uma Igreja com protagonismo laical, especialmente entre os imigrantes latinos.

Para alguém que chegou nos Estados Unidos em 1978, ainda como seminarista, o que significa ser um bispo brasileiro numa diocese daquele país?

Primeiramente significa ver como os planos de Deus se realizam, aquilo que nós não planejamos e que Deus nos guia em nosso caminho. ´Também a Igreja que acolhe, que se preocupa com os imigrantes. Quando eu fui nomeado bispo, uma das coisas que eu disse para o povo foi que eu sou um imigrante também.

Sempre trabalhei com as comunidades imigrantes. Na Arquidiocese de Newark quando eu fui nomeado bispo tinha muitos imigrantes, essa diocese onde eu estou, Fall River, tem muitos imigrantes. Eu disse para eles, eu sou um de vocês, um com vocês, um para vocês. A Igreja demostra isso, que ela está acolhendo, aberta a aceitar um bispo de fora, do Brasil, para trabalhar com as comunidades nos Estados Unidos. Eu vejo nisso a mão de Deus e a abertura da Igreja.

O senhor fala sobre os imigrantes. A Igreja católica nos Estados Unidos tem uma alta porcentagem de imigrantes, dentre eles os imigrantes latinos. O que significa essa comunidade latina na vida da Igreja dos Estados Unidos?

Significa muito, a Igreja dos Estados Unidos não seria o que ela é, não teria a mesma força, a mesma dinâmica, a mesma participação, quantidade de pessoas, se não fosse os imigrantes. Os imigrantes dão muita vida à Igreja, porque infelizmente os americanos, aqueles descendentes dos antigos imigrantes, porque os Estados Unidos é uma nação feita de migrantes e por imigrantes, os imigrantes que vieram da Europa, não fazem.

Os imigrantes que vieram mais recente da África, da Ásia e das Américas, realmente dão muita força à Igreja. E os latino-americanos, como são uma população de tradição muito católica e com alto número de católicos, realmente eles dão muita força à Igreja. E hoje os católicos dos Estados Unidos a maioria é formada por imigrantes, por latinos especialmente.

O senhor faz parte da Comissão para América Latina da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, que tem como missão administrar a coleta que a Igreja faz desde 1965 para ajudar a Igreja da América Latina. Isso é algo assumido por todas as dioceses, algo que que os católicos dos Estados Unidos vêm como uma realidade que ajuda a Igreja local?

Sim, porque já tem mais de 50 anos, desde 1965, e continua tendo uma resposta positiva, o povo responde, o povo doa, contribui para essa finalidade, eles sabem que estão fazendo uma coisa boa para atender as necessidades dos mais pobres da América.

Nem todas as dioceses respondem do mesmo jeito, tem algumas dioceses que em vez de fazer a coleta, elas simplesmente mandam uma oferta para a Conferência para esse fundo. A gente tem que estar constantemente promovendo, animando, reiterando das necessidades para conscientizar o povo da importância dessa coleta e de contar com a generosidade deles.

Como criar mais pontes de união entre a Igreja da América Latina e a Igreja dos Estados Unidos?

Uma das coisas que a gente tem feito, além dessa ponte de colaboração e apoio financeiro, é um intercâmbio maior entre a Igreja de Estados Unidos e de América Latina, apesar de que eu acho que existe um grande intercâmbio.

Quando existem encontros do CELAM para América Latina, eles sempre incluem os Estados Unidos, como a Conferência Eclesial que teve no México, eles mandaram o convite para os bispos, tinha vaga para 10 bispos e 20 leigos, ou uma coisa assim. Eles sempre incluem a gente e a gente sempre tenta participar. O presidente da Comissão para América Latina foi no Mexico para o encontro, o padre Leo Pérez estava lá no México, eu participei pela internet, assistindo as palestras. É um intercâmbio que já existe, mas pode ser sempre melhorado e fortalecido.

O senhor fala da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que é vista por algumas pessoas como uma preparação para o Sínodo sobre a Sinodalidade. Como esse Sínodo está sendo vivenciado na Igreja dos Estados Unidos, sobretudo nas comunidades imigrantes?

Está sendo bem recebido. Na minha diocese nós estamos promovendo muito o Sínodo com uma comissão diocesana, criamos líderes em todas as paróquias, vários encontros já foram feitos, os párocos, os líderes paroquiais, coordenando tudo isso para que o Sínodo seja uma grande oportunidade para abrir as portas à participação e envolvimento dos leigos e a conscientização do papel e da missão dos leigos na Igreja.

Nesse papel dos leigos, qual a importâncias dos imigrantes nas comunidades locais da Igreja dos Estados Unidos?

Os imigrantes tem um papel muito importante na Igreja, talvez mais do que os americanos em geral. Eu vejo nas comunidades brasileiras e hispânicas da minha diocese como os leigos têm assumido um papel importante.

Eu tenho uma comunidade na minha diocese que não tem padres, era uma comunidade brasileira pequena, que passava de um lugar para outro. Aí, eu encontrei uma igreja que estava fechada e dei para eles e lhes falei, vocês vão ser responsáveis por esta igreja e se vocês conseguirem construir uma comunidade forte que dá para manter a igreja, vocês têm salão, tem salas, tem tudo. E eles assumiram tudo, a organização, a economia, e isso já tem uns quatro anos e a comunidade tem o triplo do que tinha quando começou. É uma comunidade constituída de brasileiros e caboverdianos, mas como eles falam a mesma língua, os padres vêm, celebram missa, eu vou, celebro missa quando eu posso, mas tudo é cuidado, a catequese, a pastoral, a administração financeira, tudo é feito pelos líderes leigos que assumiram esse papel.

Como brasileiro, qual é sua mensagem para a Igreja do Brasil?

A mensagem que eu teria para a Igreja do Brasil é uma mensagem de fé, esperança, de sempre trabalhar para um futuro melhor. Todos nós sabemos da dificuldade que temos, dos problemas que enfrentamos, especialmente nesse momento difícil de pandemia e de situação política e econômica. Mas o Brasil é tão potente, tem um potencial tão grande, que não podemos desanimar ou nos deixar ser abatidos pelos problemas e perder a vista do potencial e do bom que existe aqui.

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

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O futuro da Igreja e a Igreja do futuro dependerão da vitalidade da participação dos leigos? https://observatoriodaevangelizacao.com/o-futuro-da-igreja-e-a-igreja-do-futuro-dependerao-da-vitalidade-da-participacao-dos-leigos-joao-batista-libanio/ Sat, 10 Feb 2018 13:46:20 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27312 [Leia mais...]]]> ENQUETE PARA O ANO DO LAICATO

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Registro da 5ª Assembléia do povo de Deus da Arquidiocese de Belo Horizonte (Foto: Arquivo do Observatório da Evangelização PUC Minas – 2016).

Para refletir… e pensar passos concretos e necessários avanços teológico-pastorais e bem trilharmos o caminho aberto pelo “Ano do Laicato”, que tal ler o texto abaixo, no qual o teólogo João Batista Libanio, em 2005, no marco dos 40 anos do término do Concílio Vaticano II, elenca entre as “tarefas incompletas” deixadas por este evento “a participação do leigo”, e responder a nossa enquete:

“Quanto à maior participação do leigo, teologicamente avançou-se. O Concílio firmou com clareza a verdade da igualdade fundamental de todos os membros do povo de Deus pelo Batismo. O Espírito Santo age em todos. O sensos fedei e o sensus fidelium garantem a confiança básica em todos os cristãos. No nível prático, não se criou um “estatuto jurídico” suficientemente consistente que garantisse ao leigo realmente o direito de participação no interior da Igreja até no exercício de ministérios, sem precisar depender do beneplácito das autoridades eclesiásticas. Falta-lhe um reconhecimento externo de que ele é também Igreja. A mídia, quando cita a posição da Igreja, praticamente identifica-a com a voz de alguém do clero e nunca de algum leigo representativo.

Em algumas Igrejas particulares, o caminho foi que as opções e prioridades pastorais, as decisões mais importantes para a vida da Igreja passassem a ser tomadas nas assembléias do povo de Deus, em que participam o bispo, padres, religiosos, religiosas e representantes das comunidades. A larga maioria são leigos e as votações são decisivas. Estrutura que existe na realidade, mas não encontrou ainda lugar na legislação oficial da Igreja. Depende, portanto, de iniciativas de Igrejas particulares, sujeitas às eventualidades das mudanças de seus bispos.

Na América Latina, no nível do discurso, a 4ª Conferência Geral do Episcopado em Santo Domingo (1992) estabeleceu, no capítulo sobre a Nova Evangelização, entre as urgências do momento presente: “Que todos os leigos sejam protagonistas da nova evangelização, da promoção humana e da cultura cristã. É necessária a constante promoção do laicato, livre de todo clericalismo e sem redução ao intra-eclesial”.(n. 97).

Em resumo, o futuro da Igreja e a Igreja do futuro dependerão da vitalidade da participação dos leigos.”

Fonte: LIBANIO, João Batista. Concílio Vaticano II. Em busca de uma primeira compreensão. São Paulo: Loyola, 2005, p.182.

Responda a nossa “Enquete para o Ano do Laicato“:

  1. O que, concretamente na atual prática da Igreja, impede a plena participação dos cristãos leigos?
  2. Em que a Igreja deve avançar para concretizar a cidadania eclesial dos cristãos leigos?
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Mentalidade religiosa dos leigos católicos https://observatoriodaevangelizacao.com/mentalidade-religiosa-dos-leigos-catolicos/ Wed, 01 Oct 2014 13:31:10 +0000 http://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=188 [Leia mais...]]]> Introdução_texto tipos cristãos

Muitos estudiosos consideram o termo “leigo”, em sua origem, portador de acepção predominantemente negativa. Trata-se de realidade definida pela falta ou por carência de alguma coisa. O vocábulo deriva do latim laicus, cuja origem vem do grego laikós, e designa a pessoa que não detém conhecimento aprofundado sobre determinada área. Em contexto religioso, tradicionalmente refere-se à pessoa que não possui conhecimentos necessários para assumir determinadas funções dentro da organização religiosa ou, no contexto cristão, que não recebeu o sacramento da ordem, em um de seus graus: diaconato, presbiterato ou episcopado. Leigo é, portanto, aquele que não faz parte da hierarquia eclesiástica. Quando alguém se reconhece enquanto leigo, geralmente o faz pela falta, pelo que não possui. Este horizonte compreensivo ainda predomina no imaginário popular contemporâneo.

Outros, porém, acolhem e destacam compreensão positiva do termo. Consideram-no derivado do vocábulo latino “laós” que significa, simplesmente, povo, multidão, massa de pessoas. O Concílio Vaticano II acolhe, destaca e assume tal horizonte em sua Constituição Dogmática Lumen Gentium. Ao expressar a autocompreensão da Igreja, desautoriza, em relação ao leigo, qualquer mentalidade negativa, excludente ou desprezível.  Antes de tecer qualquer distinção entre hierarquia e laicato, nesse documento, o Concílio enfatiza a centralidade do Povo de Deus, formado por todos os batizados.

Desde o espírito do Concílio, há 50 anos praticamente, a ação evangelizadora da Igreja Católica promove intenso esforço para incutir acepção positiva e atribuir cidadania eclesial ao leigo no seio das comunidades cristãs. Fala-se da centralidade do batismo e da dignidade de todo batizado enquanto membro do Povo de Deus.  Chega-se inclusive a enfatizar a laicidade do próprio Jesus de Nazaré. Ele não fazia parte da hierarquia religiosa judaica, não era sacerdote, levita, fariseu ou doutor da lei. A Igreja da América Latina, sobretudo nos anos 70 e 80, no esforço de recepção do Concílio, promoveu, de muitos modos, a formação de nova consciência no laicato. Na caminhada das comunidades cristãs multiplicaram-se os ministérios leigos e a promoção de diversificadas maneiras de engajamento eclesial. Na explicitação dessa nova consciência, cunhou-se ricas expressões, dentre outras, “somos todos Igreja”, “novo jeito de ser Igreja”, “pelo batismo recebi uma missão”.

No esforço evangelizador em vista de mudança hermenêutica e prática na compreensão, organização e configuração da vida cristã, o Concílio Vaticano II explicitou a igual dignidade eclesial de todos oriunda do batismo. Nesse sentido, ensina que todos os batizados são chamados a participar e cuidar, de modo corresponsável, da vida interna da Igreja, sacramento do Reino de Deus, e participar, do mesmo modo, da construção da sociedade justa, misericordiosa, solidária e fraterna.

Não obstante reconhecermos o empenho de renovação eclesial promovido pela Igreja – especialmente desde o contexto que antecedeu e provocou a convocação do Concílio Vaticano II e, depois, o que foi impulsionado por ele –, diante das atuais transformações culturais, tal empenho mostra-se insuficiente para provocar e/ou sustentar mudanças significativas na mentalidade religiosa predominante. A cultura da corresponsabilidade eclesial revela-se construção incipiente. Entre os cristãos católicos contemporâneos, infelizmente de modo quase generalizado, continua imperante a presença arraigada de compreensão negativa do termo leigo. Como se não bastasse, no seio da Igreja e na cabeça de muitos membros do Povo de Deus, revela-se hegemônica a mentalidade “clericalista”. Esta considera o “clero” como o único responsável legítimo pela vida da Igreja. Por clero, entende-se aqueles que participam da hierarquia da Igreja: bispos, padres e diáconos. Tal mentalidade está viva e muito presente no universo religioso atual. Além disso, constatamos o arrefecimento de importantes sinais de transformação observados no seio da Cristianismo, especialmente na caminhada da Igreja latino-americana na segunda metade do século XX. A promoção constante no engajamento eclesial do laicato não ajudou a superar a mentalidade predominante da superioridade do sacramento da ordem em relação ao do batismo. Não consolidou a passagem real do “ir a igreja” para o “ser Igreja”.

Na Arquidiocese de Belo Horizonte, a partir do Projeto Pastoral Construir a Esperança , a Assembleia do Povo de Deus  tornou-se paulatinamente a instância de maior mobilização, envolvimento e participação dos fieis. No ano de 2012 aconteceu a IV Assembleia do Povo de Deus. Nesta, depois de pretensiosa pesquisa de escuta da sociedade , avaliou-se o projeto de evangelização promovido pela assembleia anterior . Em seguida, estabeleceu-se prioridades muito significativas. Primeiramente, em torno do eixo espiritualidade encarnada, a partir da centralidade da pessoa de Jesus, definiu-se como urgência na ação evangelizadora a promoção do primado da Palavra de Deus, o cuidado para que a liturgia favoreça o encontro com o Senhor Ressuscitado e o desenvolvimento de sólida espiritualidade trinitária de comunhão e de serviço. Em segundo lugar, em torno do eixo da vida comunitária, a partir da consciência da comunidade de fé como lugar da experiência de Jesus, estabeleceu-se como compromisso primordial a promoção do crescimento da autocompreensão e a concretização da Igreja como rede de comunidades irmanadas pela dinâmica do Reino de Deus. Para tal, incentiva o empenho de todos os cristãos católicos na organização de estrutura participativa e promove o investimento na formação bíblica e teológica continuada para todos. Além disso, colocou-se como urgência evangélica a valorização e criação de novos ministérios leigos, com ênfase na participação da mulher. Assumiu-se duas grandes prioridades: a promoção da complexa realidade familiar e a concretização da opção preferencial pelos jovens. Por fim, em torno do eixo da inserção social, a partir do sinal profético da opção pelos pobres e excluídos e da perspectiva ecumênica e do diálogo inter-religioso, assumiu-se o compromisso de promover a participação cidadã dos fieis em prol construção da sociedade justa e fraterna; de elaborar e acompanhar projetos sociopolíticos, além de procurar qualificar a presença e atuação da Igreja nos diversos meios de comunicação em vista da evangelização da cultura.

A pesquisa sobre o perfil do laicato da Arquidiocese de Belo Horizonte nasceu despretensiosa. Começou simplesmente com o desejo de concretizar presença observadora, qualificada e participante na IV Assembleia do Povo de Deus. Adquiriu maior fôlego ao longo do processo participativo, promovido pelo Vicariato Episcopal para Ação Pastoral, das conversas diárias com os leigos, da leitura das sínteses elaboradas nas assembleias paroquiais, forâneas e, sobretudo, arquidiocesana, quando definiu-se as prioridades estratégicas e as diretrizes da ação evangelizadora para o quadriênio 2013-2016. A leitura dos Planos de Pastoral, por regiões episcopais, confirmou as observações preliminares e as intuições pastorais constatadas. Em seguida, brotou o desejo de compartilhar as observações colhidas. Surgiu o convite para publicá-las ao apresentá-las, de modo ainda preliminar, no Encontro dos Formadores de Leigos da Arquidiocese de Belo Horizonte, promovido pelo Anima PUC Minas e, depois, à equipe do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp).

Tendo presente os limites de toda pesquisa ao pretender observar e analisar a complexidade de determinada realidade, o objetivo dessas reflexões teológicas e pastorais concretiza-se no desejo de trocar ideias e alimentar discussões. Além disso, contribuir para que a ação evangelizadora da Igreja corresponda aos sinais dos tempos e ao que a “barca de Pedro” se propõe, ao acolher, como vocação primeira, a busca de ser sacramento do Reino de Deus e mediação histórica do projeto salvífico universal, anunciado e vivido, com fidelidade, por Jesus de Nazaré.

Para leitura dos dados, especialmente observados ao longo da IV Assembleia do Povo de Deus, pareceu-nos pertinente utilizamos metodologia anteriormente empregada, juntamente com o renomado teólogo João Batista Libanio, na pesquisa sobre as linguagens sobre Jesus presentes no meio das juventudes e das comunidades eclesiais de base.  Utilizamos para a leitura analítica, em vez das categorias “cenário” e “tendência”, tão caras às últimas análises pastorais libanianas, outra semelhante, “mentalidade religiosa predominante”.  Julgamos tal categoria apropriada, por ser mais direta em relação ao tema analisado e por nos permitir realçar forças preponderantes e ideologias hegemônicas nos processos de evangelização e na configuração cotidiana da vida eclesial. Bem como, por nos possibilitar a indicação, sem contradições, da presença de outras forças e ideologias mais restritas, com pretensões de conquistar espaço político, reconhecimento, cidadania e relevância na caminhada do Cristianismo Católico.

Nossas observações distinguiram, pelo menos, cinco perfis diferentes a partir da “mentalidade religiosa predominante” no laicato da Arquidiocese de Belo Horizonte no contexto da IV Assembleia do Povo de Deus. Primeiro, analisamos os leigos com mentalidade religiosa cristã predominantemente tradicional e, muitas vezes, com fortes traços ainda tradicionalistas. Segundo, tratamos dos leigos com mentalidade religiosa cristã carismática e, frequentemente, com elementos típicos do horizonte pentecostal ou neopentecostal, característicos de outras denominações cristãs. Terceiro, observamos os leigos com mentalidade religiosa cristã impactada pelo acesso aos estudos bíblico-teológicos. Depois, abordamos os leigos com mentalidade religiosa cristã transformada pela reflexão sociopolítica e ecológica. Por fim, nos debruçamos sobre os leigos com mentalidade cristã fecundada pela abertura ao pluralismo religioso e, até mesmo, com tendência cultural a “bricolagens” ou “hibridismos” religiosos.  Para cada perfil seguimos a seguinte lógica: após a caracterização do perfil, procuramos tecer comentários teológicos e pastorais e indicar pistas para a ação evangelizadora da Igreja.

Edward Neves Monteiro de Barros Guimarães

Secretário Executivo do Observatório da Evengelização

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