Conferência Eclesial da Amazônia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Wed, 02 Dec 2020 02:08:09 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Conferência Eclesial da Amazônia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 O rito zairense, um exemplo de que o rito amazônico é possível e cada vez mais próximo https://observatoriodaevangelizacao.com/o-rito-zairense-um-exemplo-de-que-o-rito-amazonico-e-possivel-e-cada-vez-mais-proximo/ Wed, 02 Dec 2020 02:08:09 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=36920 [Leia mais...]]]>

As mudanças que permanecem com o tempo não são aquelas que se tornam uma realidade de um dia para o outro, uma afirmação mais significativa quando falamos da Igreja. O papa Francisco gosta de falar de processos, de consenso, de diálogo, de escutar, de prestar atenção às coisas importantes. Em sua visão do mundo e da Igreja ele defende a multiformidade, a inculturação, a interculturalidade, dando valor às diferentes expressões de fé que foram forjadas na vida dos povos e que ajudaram a descobrir o valor do sagrado na vida cotidiana.

O rito zairense do Missal Romano pode ser considerado uma expressão de tudo isso. Diante daqueles que se comprometeram a romanizar a liturgia ao longo das décadas, estamos diante do compromisso decisivo com o que o Concílio Vaticano II propôs, a inculturação da liturgia. Este rito, “o único rito inculturado da Igreja Latina aprovado após o Concílio Vaticano II”, como o próprio papa Francisco afirma no prefácio do livro “O papa Francisco e o ‘Missal Romano para as Dioceses do Zaire'”, pode ser considerado “um rito promissor para outras culturas”, como diz o subtítulo.

Se existe uma região onde esta tentativa de inculturação da liturgia já tomou medidas, é a Amazônia. A celebração do Sínodo para a Amazônia, onde não podemos esquecer a importância decisiva de seu processo de escuta, do qual participaram oficialmente mais de 87 mil pessoas, foi reunindo diferentes sentimentos, nos quais os povos amazônicos expressaram seu desejo de trazer para as celebrações aquilo que fazia parte de sua própria vida, a começar por sua própria língua.

Na diocese de São Gabriel da Cachoeira, durante várias décadas, foram feitas tentativas para tornar esta Igreja inculturada uma realidade, expressões do que o Sínodo para a Amazônia reuniu no que é conhecido como o rito amazônico. Há música em diferentes línguas indígenas, que o povo canta com devoção e alegria, ritos culturais foram introduzidos nas celebrações, o sacramento do batismo também vem assumindo elementos próprios da cultura e até mesmo o rito da missa foi traduzido para a língua Tukano. Pouco a pouco estão sendo traduzidas para outras línguas, assim como a celebração da Palavra, que é o que marca a vida cotidiana das comunidades.

Com o pouco que aprendi dessa língua, pude celebrar em algumas comunidades na língua Tukano, algo que sempre foi recebido com alegria pelos próprios povos indígenas. Isto nos mostra a importância que estas realidades têm na vida dos povos originários e exige a necessidade de continuar avançando no que nos diz o Documento Final do Sínodo, “a elaboração de um rito amazônico, que expresse o patrimônio litúrgico, teológico, disciplinar e espiritual amazônico“.

O papa Francisco, que na Querida Amazônia assume o que foi dito no Documento Final, afirma que “o Concílio Vaticano II solicitara este esforço de inculturação da liturgia nos povos indígenas, mas passaram-se já mais de cinquenta anos e pouco avançamos nesta linha“. Portanto, ele vê como uma possibilidade real, “receber na liturgia muitos elementos próprios da experiência dos indígenas no seu contacto íntimo com a natureza e estimular expressões autóctones em cantos, danças, ritos, gestos e símbolos“. Neste sentido, poderíamos dizer que o Papa reúne na exortação pós-sinodal o que já está sendo vivido em diferentes regiões da Amazônia.

Avançar no que se refere a este rito amazônico é uma das tarefas que a Assembleia Sinodal, como consta em seu Documento Final, confiou ao novo organismo da Igreja na Amazônia, que foi concretizado na Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA, nascida em 29 de junho passado, a primeira deste tipo na história da Igreja. O Documento Final diz queo novo organismo da Igreja na Amazônia deve constituir uma comissão competente para estudar e dialogar, segundo os usos e costumes dos povos ancestrais, a elaboração de um rito amazônico“. Como afirmou o presidente da CEAMA, o Cardeal Claudio Hummes, na primeira assembleia plenária, celebrada nos dias 26 e 27 de outubro de 2020, coincidindo com o primeiro aniversário do encerramento da Assembleia Sinodal, estão sendo dados passos para tornar este rito amazônico uma realidade, algo mais do que possível se levarmos em conta que o rito zairense existe e o que o Papa afirmou na Querida Amazônia.

A celebração deve ser “um verdadeiro lugar de encontro com Jesus”, como o papa Francisco implicou em diferentes ocasiões. Segundo ele, ao falar do rito zairense, ele enfatiza a importância de não celebrar “com palavras emprestadas de outros, mas assumindo toda a especificidade espiritual e sociocultural do povo congolês, com suas transformações”, insistindo que “a liturgia deve tocar o coração dos membros da Igreja local e ser sugestiva”. A Igreja não pode ter medo de expressar sua autêntica catolicidade, elemento muito presente na reflexão do atual pontífice, para assumir rostos novos, nascidos das culturas que acolheram e nas quais o Evangelho se enraizou.

Um elemento que, juntamente com a inculturação da liturgia, está incluído na Querida Amazônia é o da inculturação do ministério, uma necessidade que deve responder ao fato de que “a pastoral da Igreja tem uma presença precária na Amazônia, devido em parte à imensa extensão territorial, com muitos lugares de difícil acesso, grande diversidade cultural, graves problemas sociais e a própria opção de alguns povos se isolarem. Isto não pode deixar-nos indiferentes, exigindo uma resposta específica e corajosa da Igreja”.

Como já dissemos, o papa Francisco assumiu o Documento Final do Sínodo, onde afirma que “propomos estabelecer critérios e disposições por parte da autoridade competente, no âmbito da Lumen Gentium 26, para ordenar sacerdotes a homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham um diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiterato, podendo ter uma família legitimamente constituída e estável, para sustentar a vida da comunidade cristã mediante a pregação da Palavra e a celebração dos Sacramentos nas áreas mais remotas da região amazônica“. Neste sentido, segundo Querida Amazônia, é necessário assegurar que “o ministério se configure de tal maneira que esteja ao serviço duma maior frequência da celebração da Eucaristia, mesmo nas comunidades mais remotas e escondidas”.

O papa Francisco sempre esteve aberto ao diálogo, também sobre assuntos ministeriais, afirmando na exortação pós-sinodal que “o modo de configurar a vida e o exercício do ministério dos sacerdotes não é monolítico, adquirindo matizes diferentes nos vários lugares da terra. Portanto, levando em conta as “circunstâncias específicas da Amazónia, especialmente nas suas florestas e lugares mais remotos, é preciso encontrar um modo para assegurar este ministério sacerdotal”, ele não hesita em afirmar que “é preciso encontrar um modo para assegurar este ministério sacerdotal”, já que “é urgente fazer com que os povos amazônicos não estejam privados do Alimento de vida nova e do sacramento do perdão”. É verdade que seu conselho é promover o trabalho missionário na Amazônia, mas as possibilidades para o futuro estão abertas ao diálogo, uma atitude cada vez mais presente na Igreja da Amazônia, que não podemos esquecer que celebrou seu Sínodo com o objetivo de encontrar novos caminhos.

Sobre o autor:

Luis Miguel Modino

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

A seguir, a versão do texto em espanhol, confira:

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Rito zaireño, un ejemplo de que el rito amazónico es posible y está cada vez más próximo

Los cambios que permanecen en el tiempo no son aquellos que se hacen realidad de un día para otro, una afirmación que cobra más sentido cuando hablamos de la Iglesia. Al Papa Francisco le gusta hablar de procesos, de consenso, de diálogo, de escucha, de fijarse en las cosas importantes. En su visión del mundo y de la Iglesia aboga por la multiformidad, por la inculturación, por la interculturalidad, por dar valor a las diferentes expresiones de la fe que se ha ido fraguando en la vida de los pueblos y que han ayudado a descubrir el valor de lo sagrado en la vida del día a día.

El rito zaireño del Misal Romano puede ser considerado como expresión de todo eso. Frente a quienes se han empeñado en romanizar la liturgia a lo largo de décadas, nos deparamos con la apuesta decidida por aquello que el Concilio Vaticano II proponía, inculturar la liturgia. Este rito, “el único rito inculturado de la Iglesia latina aprobado después del Concilio Vaticano II”, como que afirma el propio Papa Francisco en el prefacio del libro “Papa Francisco y ‘el Misal Romano para las Diócesis de Zaire'”, puede ser considerado “un rito prometedor para otras culturas”, como recoge el subtítulo.

Si hay una región donde esta tentativa de inculturación de la liturgia ya ha dado pasos, esa es la Amazonía. La celebración del Sínodo para la Amazonía, donde no podemos olvidar la importancia decisiva de su proceso de escucha, en el que participaron oficialmente más de 87 mil personas, fue recogiendo diferentes sentimientos, en los que los pueblos amazónicos expresaban su deseo de llevar a las celebraciones aquello que formaba parte de su propia vida, comenzando por su propia lengua.

En la diócesis de San Gabriel da Cachoeira, desde hace varias décadas, se han llevado a cabo tentativas para hacer realidad esa Iglesia inculturada, expresiones de aquello que el Sínodo para la Amazonía recogió en lo que es conocido como rito amazónico. Existen músicas en diferentes lenguas indígenas, que la gente canta con devoción y alegría, en las celebraciones han sido introducidos ritos culturales, el sacramento del bautismo ha ido también asumiendo elementos propios de la cultura e inclusive se ha traducido el rito de la misa a la lengua tukano. Poco a poco se van traduciendo a otras lenguas, así como la celebración de la Palabra, que es lo que marca la vida del día a día en las comunidades.

Con lo poco que aprendí de esa lengua, pude celebrar en algunas comunidades en lengua tukano, algo que siempre fue acogido con alegría por los propios indígenas. Eso nos muestra la importancia que esas realidades tienen en la vida de los pueblos originarios y demanda la necesidad de continuar avanzando en aquello que el Documento Final del Sínodo nos dice, “la elaboración de un rito amazónico, que exprese el patrimonio litúrgico, teológico, disciplinario y espiritual amazónico”.

El Papa Francisco, que en Querida Amazonía asume lo dicho en el Documento Final, afirma que “ya el Concilio Vaticano II había pedido este esfuerzo de inculturación de la liturgia en los pueblos indígenas, pero han pasado más de cincuenta años y hemos avanzado poco en esta línea”. Por eso, ve como una posibilidad real, “recoger en la liturgia muchos elementos propios de la experiencia de los indígenas en su íntimo contacto con la naturaleza y estimular expresiones autóctonas en cantos, danzas, ritos, gestos y símbolos”. En ese sentido, podríamos decir que el Papa recoge en la exhortación postsinodal aquello que ya está siendo vivido en diferentes regiones de la Amazonía.

Avanzar en lo referente a ese rito amazónico es una de las tareas que la Asamblea Sinodal, como recoge su Documento Final, le encargó al nuevo organismo de la Iglesia en la Amazonía, que se concretó en la Conferencia Eclesial de la Amazonía – CEAMA, nacida el pasado 29 de junio, la primera de este tipo en la historia de la Iglesia. El Documento Final decía que se “debe constituir una comisión competente para estudiar y dialogar, según usos y costumbres de los pueblos ancestrales, la elaboración de un rito amazónico”. Como afirmaba el presidente de la CEAMA, el cardenal Claudio Hummes, en la primera asamblea plenaria, celebrada el 26 y 27 de octubre, coincidiendo con el primer aniversario de la clausura de la Asamblea Sinodal, se están dando pasos para hacer realidad ese rito amazónico, algo más que posible si tenemos en cuenta que existe el rito zaireño y lo afirmado por el Papa en Querida Amazonía.

La celebración debe ser “un verdadero lugar de encuentro con Jesús”, como ha dado a entender el Papa Francisco en diferentes ocasiones. Según él, al hablar del rito zaireño, destaca la importancia de no celebrar “con palabras prestadas de otros, sino asumiendo toda la especificidad espiritual y sociocultural del pueblo congoleño, con sus transformaciones”, insistiendo en que “la liturgia debe tocar los corazones de los miembros de la Iglesia local y ser sugestiva”. La Iglesia no puede tener miedo de expresar su auténtica catolicidad, un elemento muy presente en la reflexión del actual pontífice, de asumir nuevos rostros, nacidos de las culturas que han acogido y en las que se ha enraizado el Evangelio.

Un elemento que junto con la inculturación de la liturgia es recogido en Querida Amazonía es el de la inculturación de la ministerialidad, una necesidad que debe dar una respuesta ante el hecho de que “la pastoral de la Iglesia tiene en la Amazonia una presencia precaria, debida en parte a la inmensa extensión territorial con muchos lugares de difícil acceso, gran diversidad cultural, serios problemas sociales, y la propia opción de algunos pueblos de recluirse. Esto no puede dejarnos indiferentes y exige de la Iglesia una respuesta específica y valiente”.

Como ya hemos dicho, el Papa Francisco asumió el Documento Final del Sínodo, donde se dice que “proponemos establecer criterios y disposiciones de parte de la autoridad competente, en el marco de la Lumen Gentium 26, de ordenar sacerdotes a hombres idóneos y reconocidos de la comunidad, que tengan un diaconado permanente fecundo y reciban una formación adecuada para el presbiterado, pudiendo tener familia legítimamente constituida y estable, para sostener la vida de la comunidad cristiana mediante la predicación de la Palabra y la celebración de los Sacramentos en las zonas más remotas de la región amazónica”. En ese sentido, Querida Amazonía afirma que “se requiere lograr que la ministerialidad se configure de tal manera que esté al servicio de una mayor frecuencia de la celebración de la Eucaristía, aun en las comunidades más remotas y escondidas”.

El Papa Francisco siempre ha estado abierto al diálogo, también en temas ministeriales, afirmando en la exhortación postsinodal que “el modo de configurar la vida y el ejercicio del ministerio de los sacerdotes no es monolítico, y adquiere diversos matices en distintos lugares de la tierra”. Por eso, teniendo en cuenta “las circunstancias específicas de la Amazonia, de manera especial en sus selvas y lugares más remotos”, no duda en afirmar que “hay que encontrar un modo de asegurar ese ministerio sacerdotal”, pues “es urgente evitar que los pueblos amazónicos estén privados de ese alimento de vida nueva y del sacramento del perdón”. Es verdad que su consejo es promover la misionariedad en la Amazonía, pero las posibilidades de futuro están abiertas al diálogo, una actitud cada vez más presente en la Iglesia de la Amazonía, que no podemos olvidar que celebró su Sínodo con el objetivo de encontrar nuevos caminos.

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“Com a REPAM houve um fortalecimento da dimensão da unidade e da comunhão”. Entrevista com Dom Rafael Cob https://observatoriodaevangelizacao.com/com-a-repam-houve-um-fortalecimento-da-dimensao-da-unidade-e-da-comunhao-entrevista-com-dom-rafael-cob/ Sat, 07 Nov 2020 12:54:24 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=36236 [Leia mais...]]]> A Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, plantou sua primeira semente na Amazônia equatoriana, especificamente no Vicariato de Puyo, de onde é bispo dom Rafael Cob, que foi recentemente anunciado como o novo vice-presidente da Rede, algo que ele vê como uma oportunidade “de empurrar, ajudar e servir”.

A REPAM ajudou a “estabelecer diretrizes e formas de trabalho em uma pastoral de conjunto”, algo que está sendo feito em diferentes níveis. Neste sentido, dom Rafael Cob enfatiza a importância da mídia e da defesa e acompanhamento das comunidades nativas. Não podemos esquecer que “o que os povos no Sínodo pediram à Igreja foi para ser sua aliada na defesa de seus direitos e ao mesmo tempo para acompanhá-los”, algo que está se tornando uma realidade, uma Igreja que está se implicando.

Neste trabalho eclesial conjunto, a colaboração entre as diferentes igrejas é importante. Nos últimos dias, o envio de três sacerdotes diocesanos equatorianos ao Vicariato de Puyo tornou-se uma realidade, algo que seu bispo descreve como um fato histórico e que ajuda a conscientizá-los de que “somos verdadeiramente ordenados não apenas para Igreja particular onde vivemos ou onde fomos ordenados, mas para a Igreja universal que precisa de nós”.

Na nova situação que surgiu com o nascimento da Conferência Eclesial da Amazônia, Cob afirma que a CEAMA “abrirá novas diretrizes que ajudarão as jurisdições eclesiásticas a concretizar”. É uma questão de responder a realidades concretas, de estar atento às propostas de inculturação, de buscar novas propostas que sejam criativas. Estamos diante de “trabalhar juntos e todos nós exigiremos esse esforço de escuta, que sempre foi uma das chaves”.

Confira a entrevista:

1. Após o Sínodo para a Amazônia, podemos dizer que a Igreja começou a aplicar os novos caminhos que a Assembleia Sinodal pediu. Entre eles está um organismo episcopal, mas que acabou sendo um organismo eclesial, que é a Conferência Eclesial da Amazônia, e junto com a CEAMA, a REPAM. Nos últimos dias, foi conhecido que o senhor será o novo vice-presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica. Como o senhor se situa diante deste novo serviço que a Igreja lhe pede?

R.: O avanço das instituições sempre exige esse serviço generoso daqueles de nós que estamos sempre nessa linha de trabalho e de serviço à Igreja da Amazônia. Quando me propuseram assumir este cargo de vice-presidente da REPAM, pensei em suas origens, quando a pequena semente daquela instituição foi plantada em Puyo. Vejo que a REPAM tem sido realmente uma força muito grande para esse espírito eclesial, que nasceu do trabalho conjunto, quando começou aqui com os vicariatos da Amazônia equatoriana. Então ficou claro que era necessária uma rede, aquela rede eclesial amazônica que seria constituída no ano seguinte em Brasília.

A partir de nossa consciência como servos na Igreja, estamos aqui para empurrar, para ajudar e para servir. Eu me situo como uma espécie de continuidade, um canal para tantas iniciativas, ideias e pensamentos, que surgem e caem neste canal do que é uma rede eclesial de articulação de tudo aquilo que tem um objetivo comum. Como a ideia surgiu do papa Francisco, ele convidou a REPAM, para que ela realmente ajudasse a preparar o Sínodo Amazônico, mas também a sua celebração e, agora, as implicações do pós-sínodo.

No pós-sínodo, surgiu a maravilhosa Conferência Eclesial da Amazônia. A REPAM, assim como foi para o Sínodo, é também um canal que poderá ajudar muito nesta nova conferência. Teremos sempre que caminhar juntos, por um lado, com esse objetivo de cuidar da casa comum, que a REPAM tem feito um esforço colaborativo gigantesco, de outro, e da mesma forma, os novos caminhos da evangelização, que foram traçados na primeira parte do Sínodo para a Amazônia. Acredito que a CEAMA terá que concretizar muito mais reformas para encontrar alternativas e novos caminhos para um cuidado pastoral global na Amazônia.

2. O senhor diz que a REPAM teve sua primeira semente no Vicariato de Puyo. O que significou para seu Vicariato e para os Vicariatos da Amazônia Equatoriana esses mais de seis anos de trabalho em rede com a REPAM?

R.: Como vicariatos na Amazônia equatoriana, isso nos aproximou, significou realmente marcar diretrizes e formas de trabalho em um ministério conjunto, mas a partir de uma dimensão não apenas no nível de cuidado da casa comum. Sentimo-nos mais unidos como vicariatos na Amazônia, através de todas as reuniões que estamos realizando por zoom com os eixos que estão sendo desenvolvidos. Por exemplo, a mídia, com as estações de rádio dos vicariatos, acho que isso tem sido muito importante, estamos fazendo um trabalho muito grande de conscientização para nosso povo sobre o cuidado com o meio ambiente, com programas de rádio.

Da mesma forma, as diferentes propostas da REPAM a nível da Pan-Amazônia estão sendo retomadas e compartilhadas. No eixo de incidência social, vemos que é muito necessário acompanhar as comunidades nativas. Creio que isto significou para nós como REPAM um grande avanço na comunhão, sinodalidade e uma importante esperança na dimensão pastoral, embora muito mais a CEAMA tenha que ir abrindo caminhos e concretizando todas aquelas prioridades que saíram do Sínodo e que, em suma, também afetam toda a Amazônia e a nós em particular.

Penso que tem sido uma caminhada progressiva e com espírito do que o Sínodo também nos pediu, de uma Igreja samaritana, por um lado, e profética, por outro. Tivemos, aqui na Amazônia equatoriana, casos importantes nos quais a voz da Igreja Amazônica foi ouvida, como foi no dia 7 de abril, no derramamento de petróleo que ocorreu nos rios Coca e Napo. Tem havido um fortalecimento e reforço desta dimensão de unidade e comunhão.

3. Estas posições que a Igreja tem tomado nos últimos tempos em defesa do meio ambiente amazônico e sobretudo dos povos indígenas e dos povos da Amazônia equatoriana. O que significou para estes povos esta aliança com a Igreja, algo que foi um dos pedidos do Sínodo para a Amazônia?

R.: O que os povos no Sínodo pediram à Igreja foi que fosse sua aliada na defesa de seus direitos e, ao mesmo tempo, que os acompanhasse. Agora, mais do que nunca, os povos nativos estão vendo que a Igreja não está apenas fora da barreira, observando, mas eles viram que a Igreja deu mais um passo, se comprometeu, mergulhou na Amazônia, nos problemas dos povos nativos. É por isso que dizemos que, diante de fatos concretos, o povo reconhece que a Igreja está com eles, e eles sentem isso.

Este foi um avanço importante após o trabalho que a REPAM realizou, especialmente na consulta preparatória do Sínodo, na qual visitamos as diferentes comunidades indígenas. Isto deu origem a esta troca e a este interesse em escutar, em apoiar, em acompanhar, em levantar nossa voz junto aos povos indígenas. Penso que é muito importante valorizar neste caminho que estamos a trilhar o que foi realizado no processo sinodal.

4. O Sínodo também nos lembra a necessidade de novos caminhos para a Igreja. Durante esta semana foi conhecido que o Vicariato de Puyo receberá três novos sacerdotes de duas dioceses do Equador, que acompanharão o trabalho pastoral do Vicariato. Será este um primeiro passo para que a Igreja no Equador e nos diferentes países que fazem parte da Amazônia, possa se tornar mais consciente da missão e enviar, não apenas sacerdotes, mas também outros agentes pastorais, para colaborar nas Igrejas onde essa presença eclesial ainda é mais limitada?

R.: Este fato de que as dioceses podem e mandam sacerdotes ad gentes para territórios de missão é verdadeiramente uma revelação. Há sempre a resposta de dizer, não temos pessoal, não podemos, somos poucos, e aí sempre permanece. Este passo, já que estas dioceses vão oferecer missionários ad gentes ao Vicariato de Puyo, será para as outras jurisdições um incentivo, um chamado de atenção, um ditado que a Igreja pede, como o Sínodo pediu a todos os bispos da América Latina, saber orientar a vida sacerdotal e consagrada, para um trabalho com os últimos, com os excluídos, com os esquecidos.

Creio que este é um fato histórico para esta diocese de Latacunga, que pela primeira vez envia sacerdotes diocesanos ad gentes, também a diocese de Ambato. Há um despertar, que vai se rompendo pouco a pouco, depois de ter havido muitas batidas às portas dos bispados, dizendo que devemos ser missionários ad gentes, que devemos ser uma Igreja em movimento. Como diz o ditado, o jarro vai tanto para a fonte que finalmente se quebra. Estamos conseguindo ver que algumas dioceses já estão começando a tomar consciência da missão, que em sua formação com seus padres mostram que somos verdadeiramente ordenados não apenas para a Igreja particular onde vivemos ou onde fomos ordenados, mas para a Igreja universal que precisa de nós, e precisa de nós em muitos lugares.

Esta abertura das dioceses também responde ao convite do Sínodo Amazônico. Não apenas padres, mas também agentes pastorais, leigos comprometidos ou congregações religiosas. A Conferência Equatoriana de Religiosos está atualmente em movimento e fazendo uma opção para a Amazônia. Recebi alguns pedidos de congregações que desejam fundar comunidades na Amazônia. O Sínodo continua dando frutos e este fato é muito revelador para nós, que sendo como somos, com um número tão reduzido de padres em um vicariato como o nosso, podemos contar com novos padres que nos ajudarão, padres diocesanos, a partir deste mês.

Nas dioceses do Equador, é muito difícil encontrar uma diocese que tenha enviado sacerdotes diocesanos. Apenas uma diocese, das 24 dioceses do Equador, tinha sacerdotes ad gentes fora do país. O Papa, quando nos visitou no Equador, nos disse que teríamos que convidar sacerdotes com espírito missionário, começando pelos territórios de missão do próprio país, para que eles pudessem então atravessar as fronteiras. Este é o processo que o Papa nos convidou a empreender e que pouco a pouco estamos conseguindo sensibilizar as dioceses, os bispos e os padres.

5. A CEAMA é um exemplo claro de uma Igreja sinodal. Uma intuição fantástica do Papa Francisco fez possível que não fosse uma conferência episcopal, mas eclesial, onde a Igreja como Povo de Deus está presente nos órgãos de decisão, algo que aparece na Querida Amazônia. Como podemos levá-la à realidade das Igrejas locais e gradualmente instituir esses órgãos de decisão eclesial para conduzir a vida pastoral e evangelizadora das diferentes circunscrições eclesiásticas?

R.: A CEAMA, que está dando os primeiros passos, vai abrir novas diretrizes que ajudarão as jurisdições eclesiásticas a colocar o pé no chão. Não é a mesma coisa fazer um trabalho urbano, rural ou pastoral indígena; em cada caso devemos encontrar caminhos e respostas para estes desafios. Nós sabemos que os povos originários, eles também se deslocam, e os encontramos na cidade, na zona rural ou no interior da floresta. Em cada um dos lugares devemos levar em conta a realidade da origem, como disse o Papa, não podemos esquecer a memória, e ele a disse especialmente aos jovens, para que não percam a identidade cultural e a dos povos originários.

Temos que estar conscientes das propostas de inculturação e dos desafios de buscar, como disse também o Papa, novas propostas que sejam criativas, como dissemos no início do Sínodo, que seja uma Igreja mais ministerial, menos clerical, com uma participação muito maior das mulheres na Igreja, na tomada de decisões. Todos estes passos são para, nas palavras do Papa, uma comunidade não pode crescer sem a Eucaristia. E quem pode presidir a Eucaristia, um sacerdote, e como podemos preparar esses sacerdotes para que as comunidades tenham verdadeiramente a Eucaristia. E como podemos passar de uma Igreja de visita para uma Igreja de presença.

Tudo isso está sobre a mesa e temos que dar-lhe uma saída, em processo, para que os desafios que estão latentes ali possam realmente encontrar as respostas. A CEAMA tem muito a fazer neste campo, mas também a REPAM, que está consciente da realidade e que atua como ponte entre as comunidades e a mesma realidade com a qual a CEAMA tem que estar muito unida, a fim de conhecer os desafios concretos. É um trabalho conjunto e vai exigir de todos nós esse esforço de escuta, que sempre foi uma das chaves. Depois de escutar, saberemos como contemplar e discernir o que nos levará a assumir um compromisso. Ali está a palavra-chave de todo o Sínodo, que foi a conversão, e com a Exortação Apostólica para continuar a sonhar, como nos diz o Papa Francisco, e para tornar esses sonhos realidade.

Sobre o autor:

Luis Miguel Modino

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

(Os grifos são nossos)

A seguir, a versão do texto em espanhol, confira:

Rafael Cob: “Con la REPAM ha habido un fortalecimiento de la dimensión de unidad y de comunión”

La Red Eclesial Panamazónica – REPAM, plantó su primera semilla en la Amazonía ecuatoriana, concretamente en el Vicariato del Puyo, de donde es obispo Monseñor Rafael Cob, que ha sido anunciado recientemente como nuevo vicepresidente de la red, algo que ve como una oportunidad “para empujar, para ayudar y para servir”.

La REPAM ha ayudado a “marcar pautas y modos de trabajar en una pastoral en conjunto”, algo que se está haciendo presente a diferentes niveles. En ese sentido, Monseñor Cob destaca la importancia de los medios de comunicación y de la defensa y acompañamiento a las comunidades originarias. No podemos olvidar que “lo que los pueblos en el Sínodo pidieron a la Iglesia fue ser su aliada para la defensa de sus derechos y a la vez de acompañamiento”, algo que se está haciendo realidad, una Iglesia que se moja.

En ese trabajo eclesial conjunto es importante la colaboración entre las diferentes iglesias. En los últimos días se ha concretado el envío de tres sacerdotes diocesanos ecuatorianos al Vicariato del Puyo, algo que su obispo califica como un hecho histórico y que ayuda a tomar conciencia de que “somos verdaderamente ordenados no solamente para la Iglesia particular donde vivimos o donde nos han ordenado, sino para la Iglesia universal que nos necesita”.

En la nueva coyuntura que ha surgido con el nacimiento de la Conferencia Eclesial de la Amazonía, Cob afirma que la CEAMA, “va a abrir nuevas pautas que ayudarán a las jurisdicciones eclesiásticas a aterrizar”. Se trata de responder a realidades concretas, de estar pendientes de las propuestas de la inculturación, de buscar nuevas propuestas que sean creativas. Estamos ante “un trabajo en conjunto y nos va a todos a exigir ese esfuerzo de la escucha, que siempre ha sido una de las claves”.

1. Después del Sínodo para la Amazonía, podemos decir que la Iglesia ha empezado a aplicar los nuevos caminos que la Asamblea Sinodal pidió. Entre ellos un organismo episcopal, pero que acabó siendo un organismo eclesial, que es la Conferencia Eclesial de la Amazonía, y junto con la CEAMA, la REPAM. En los últimos días se ha sabido que usted será el nuevo vicepresidente de la Red Eclesial Panamazónica. ¿Cómo se sitúa ante este nuevo servicio que la Iglesia le está pidiendo?

El avance de las instituciones exige siempre ese servicio generoso de los que estamos siempre en esa línea de trabajo y de servicio a la Iglesia de la Amazonía. Cuando me propusieron asumir este cargo de la vicepresidencia de la REPAM, pienso en sus orígenes, cuando se inició la pequeña semilla de esa institución en Puyo. Veo que la REPAM, verdaderamente ha sido una fuerza muy grande para que ese espíritu eclesial, que nació de un trabajo conjunto, cuando empezó aquí con los vicariatos de la Amazonía ecuatoriana. Después se vio que era necesario una red, esa red eclesial amazónica que al año siguiente se constituiría en Brasilia.

Desde nuestra conciencia de servidores en la Iglesia, estamos para empujar, para ayudar y para servir. Me sitúo como una especie de continuidad, de cauce, para tantas iniciativas, ideas y pensamientos, que van surgiendo y van cayendo en este cauce de lo que es una red eclesial de articulación de todo aquello que con un objetivo común lleva. El Sínodo amazónico, como surgió por parte del Papa Francisco, invitando a la REPAM, para que verdaderamente ayudará a preparar ese Sínodo amazónico, sino también lo que suponía la preparación, la celebración, y ahora el postsínodo.

En ese postsínodo ha surgido esa maravillosa Conferencia Eclesial de la Amazonía. La REPAM, lo mismo que lo fue para el Sínodo, es también un cauce que podrá ayudar muchísimo a esta nueva conferencia, como fruto del Sínodo. Nos va a tocar siempre caminar juntos, con ese objetivo, por una parte, del cuidado de la casa común, que en ese sentido la REPAM ha hecho un esfuerzo gigante. Igualmente, también los nuevos caminos de evangelización, que fue la primera parte del Sínodo para la Amazonía. Esos nuevos caminos para la evangelización, creo que a la CEAMA le va a tocar mucho más la concreción de toda esa reforma que supone encontrar alternativas y nuevos caminos para una pastoral de conjunto en la Amazonía.

2. Usted habla que la REPAM tuvo su primera semilla en el Vicariato del Puyo. ¿Qué ha supuesto para su vicariato y para los vicariatos de la Amazonía ecuatoriana estos más de 6 años de camino en red junto con la REPAM?

Como vicariatos en la Amazonía ecuatoriana, nos ha unido más, ha supuesto verdaderamente marcar pautas y modos de trabajar en una pastoral en conjunto, pero desde una dimensión no solamente a nivel del cuidado de la casa común. Nos sentimos más unidos los vicariatos de la Amazonía, a través de todas las reuniones que vamos teniendo por zoom con los ejes que se van desarrollando. Por ejemplo, los medios de comunicación, con las emisoras de radio de los vicariatos, creo que eso ha sido muy importante, estamos haciendo un trabajo muy grande de concientización para nuestra gente sobre el cuidado del medio ambiente, con programas de radio.

Igualmente, las distintas propuestas de la REPAM a nivel de Panamazonía las vamos asumiendo, compartiendo. En el eje de incidencia social, vemos que es muy necesario el acompañamiento a las comunidades originarias. Esto sí creo que ha supuesto para nosotros como REPAM un avance grande de comunión, de sinodalidad y de una esperanza importante en la dimensión pastoral, aunque mucho más la CEAMA tendrá que ir abriendo caminos y concretándose todas esas prioridades que en el Sínodo también salieron, y que, en definitiva, también afectan a toda la Amazonía y a nosotros en particular.

Pienso que ha sido un caminar progresivo y con un espíritu de lo que también en el Sínodo se nos pidió, de una Iglesia samaritana, por una parte, y profética por otra. Hemos tenido, aquí en el Amazonía ecuatoriana, casos importantes en los que la voz de la Iglesia amazónica se ha dejado escuchar, como fue el 7 de abril, en el derrame petrolero que hubo en los ríos Coca y Napo. Ha habido un fortalecimiento y un refuerzo de esa dimensión de unidad y de comunión.

3. Esos posicionamientos que ha tenido la Iglesia en los últimos tiempos en defensa del medio ambiente amazónico y sobretodo de los pueblos indígenas y de los pueblos de la Amazonía ecuatoriana. ¿Qué ha supuesto para esos pueblos esa alianza con la Iglesia, algo que fue uno de los pedidos del Sínodo para la Amazonía?

Lo que los pueblos en el Sínodo pidieron a la Iglesia fue ser su aliada para la defensa de sus derechos y a la vez de acompañamiento. Los pueblos originarios están percibiendo ahora más que nunca que esa Iglesia no está solamente desde fuera de la barrera, observando, sino que han visto que la Iglesia ha dado un paso más, se ha comprometido, se ha mojado en la Amazonía, en la problemática que se vive en los pueblos originarios. Por eso decimos que, ante hechos concretos, los pueblos reconocen que la Iglesia está con ellos, y así lo sienten.

Eso sí ha sido un avance importante después de ese trabajo que la REPAM hizo, sobretodo en la consulta preparatoria para el Sínodo, en la que visitamos las distintas comunidades indígenas. Eso dio pie para ese intercambio y ese interés de escucha, de respaldo, de acompañamiento, de levantar la voz con los pueblos originarios. Eso creo que es muy importante de valorar en este camino y en este proceso sinodal.

4. El Sínodo también nos recuerda la necesidad de nuevos caminos para la Iglesia. En esta semana se ha sabido que el Vicariato del Puyo va a recibir tres nuevos sacerdotes de dos diócesis de Ecuador, que van a acompañar el trabajo pastoral del vicariato. ¿Puede ser éste un primer paso para que la Iglesia ecuatoriana y de los diferentes países que forman parte de la Amazonía, pueda tomar una mayor conciencia misionera e enviar, no solamente sacerdotes, también otros agentes de pastoral, para colaborar en iglesias donde esa presencia eclesial todavía es más limitada?

Este hecho de que las diócesis puedan enviar, y de hecho envíen, sacerdotes ad gentes a los territorios de misión, es verdaderamente una revelación. Siempre está la respuesta de decir, no tenemos personal, no podemos, somos pocos, y ahí se quedaba siempre. Este paso, como es que esas diócesis van a ofrecer misioneros ad gentes al Vicariato del Puyo, va a ser para las demás jurisdicciones un aliciente, una llamada de atención, un decir hay algo que hacer que la Iglesia está pidiendo, como lo pedía el Sínodo a todos los obispos de Latinoamérica, saber orientar a la vida sacerdotal, consagrada, para un trabajo con los últimos, con los excluidos, con los olvidados.

Creo que esto es un hecho histórico para esta diócesis de Latacunga, que por primera vez envía sacerdotes diocesanos ad gentes, igualmente la diócesis de Ambato. Hay un despertar, que se va rompiendo poco a poco, después que ha habido muchos golpecitos en las puertas de los obispados, diciendo que debemos ser misioneros ad gentes, que debemos ser Iglesia en salida. Como dice el refrán, tanto va el cántaro a la fuente que al fin se rompe. Estamos consiguiendo ver que ya comienzan algunas diócesis a tomar conciencia misionera, que en su formación con sus sacerdotes les muestran que somos verdaderamente ordenados no solamente para la Iglesia particular donde vivimos o donde nos han ordenado, sino para la Iglesia universal que nos necesita, y nos necesita en muchos lugares.

Esta apertura de las diócesis responde también a la invitación que el Sínodo amazónico decía. No solamente sacerdotes, también agentes de pastoral, laicos comprometidos o congregaciones religiosas. La Conferencia Ecuatoriana de Religiosos está moviéndose y haciendo opción actualmente por la Amazonía. He recibido algún pedido de congregaciones que quieren fundar comunidades en la Amazonía. El Sínodo sigue dando frutos y este hecho para nosotros es muy revelador, el que estando como estamos, con un número tan reducido de sacerdotes en un vicariato como el nuestro, podamos contar a partir de este mes con nuevos sacerdotes que nos van a ayudar, sacerdotes diocesanos.

En las diócesis del Ecuador es muy difícil encontrar una diócesis que haya enviado sacerdotes diocesanos. Solo una diócesis, de las 24 diócesis de Ecuador, tenían sacerdotes ad gentes fuera del país. El Papa, cuando nos visitó en Ecuador, nos decía que tendríamos que invitar a los sacerdotes con espíritu misionero, empezando por los territorios de misión del propio país, para que luego pudieran pasar fronteras. Ese es el proceso que el Papa nos invitó y que poco a poco vamos consiguiendo, que haya una sensibilización por parte de las diócesis, de los obispos y de los sacerdotes.

5. La CEAMA es un claro ejemplo de una Iglesia sinodal. Una fantástica intuición del Papa Francisco quiso que fuese no una conferencia episcopal y sí eclesial, donde se hace presente la Iglesia Pueblo de Dios en los órganos de decisión, algo que aparece en Querida Amazonía. ¿Cómo traer para la realidad de las Iglesias locales e ir instituyendo poco a poco esos órganos de decisión eclesial para conducir la vida pastoral y evangelizadora de las diferentes circunscripciones eclesiásticas?

La CEAMA, en estos comienzos que está, va a abrir nuevas pautas que ayudarán a las jurisdicciones eclesiásticas a aterrizar. No es igual una pastoral urbana, rural o indígena, para cada caso debemos encontrar caminos y respuestas a estos desafíos. Los pueblos originarios sabemos que también se mueven, y les encontramos tanto en la ciudad, como en la parte rural o en el interior de la selva. En cada uno de los lugares debemos tener en cuenta la realidad del origen, como decía el Papa, no podemos olvidar la memoria, y lo decía sobre todo a los jóvenes, para que no perdieran la identidad cultural y de los pueblos originarios.

Tenemos que estar pendientes de las propuestas de la inculturación y los desafíos de buscar, como también decía el Papa, nuevas propuestas que sean creativas, como decíamos al principio del Sínodo, que sea una Iglesia más ministerial, menos clerical, con una participación mucho mayor de la mujer en la Iglesia, en la toma de decisiones. Todos estos pasos para, en palabras del Papa, una comunidad no puede crecer sin la Eucaristía. Y quién puede presidir la Eucaristía, un sacerdote, y cómo podemos preparar a esos sacerdotes para que en verdad las comunidades tengan la Eucaristía. Y cómo podemos pasar de una Iglesia de visita a una Iglesia presencial.

Todo esto está sobre el tapete y tenemos que darle salida, en proceso, para que verdaderamente los desafíos que están ahí latentes, puedan encontrar las respuestas. Ahí está la CEAMA, que le toca mucho en este campo, pero también la REPAM, que es la conocedora de la realidad y la que hace de puente entre las comunidades y la misma realidad con la que tiene que estar muy unida la CEAMA, para poder conocer los desafíos concretos. Es un trabajo en conjunto y nos va a todos a exigir ese esfuerzo de la escucha, que siempre ha sido una de las claves. Después de la escucha, ese saber contemplar, discernir lo que nos lleve a tomar luego un compromiso. Ahí está la palabra clave de todo el Sínodo, que fue la conversión, y con la Exhortación Apostólica seguir soñando, como nos dice el Papa Francisco, y que esos sueños se hagan realidad. 

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REPAM faz balanço prospectivo dos 6 anos de caminhada e apresenta seu novo secretário executivo https://observatoriodaevangelizacao.com/repam-faz-balanco-prospectivo-dos-6-anos-de-caminhada-e-apresenta-seu-novo-secretario-executivo/ Tue, 15 Sep 2020 23:26:32 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=35659 [Leia mais...]]]> Após seis anos de caminhada, a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM realizou nos últimos meses um processo de discernimento que ajuda a continuar definindo o caminho a ser seguido no futuro. O nascimento da Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA, constituída em 29 de junho, vista como uma irmã da REPAM, que quer caminhar junto na mesma sinergia da sinodalidade, nas palavras do novo secretário executivo da REPAM, é uma nova experiência para a Igreja da Amazônia.

Precisamente com a chegada do novo secretário executivo da REPAM, o marista brasileiro Ir. João Gutemberg Sampaio, apresentado oficialmente pelo Cardeal Cláudio Hummes na coletiva de imprensa realizada em 14 de setembro de 2020, podemos dizer que é um ponto de inflexão, embora como reconheceu o presidente da REPAM, haverá um caminho de transição entre o novo secretário e aquele que até agora realizou este serviço, Mauricio López, a quem agradeceu junto com a equipe da secretaria executiva pelo trabalho realizado durante estes seis anos.

Ir. João Gutemberg Sampaio, novo secretário executivo da REPAM. Foto. Luis Miguel Modino.

Não podemos esquecer que o serviço da REPAM é algo muito amplo, nas palavras do Cardeal Hummes, envolvendo muitas pessoas que trabalham na base, tanto nas circunscrições eclesiásticas como em outros espaços, como as comunidades indígenas, sempre na tentativa de estar entre as situações mais frágeis e vulneráveis. Esta presença na Amazônia é uma tarefa que o cardeal brasileiro vem realizando desde 2011, quando, ao retornar de Roma, onde havia sido Prefeito da Congregação do Clero, o episcopado brasileiro lhe pediu que presidisse a Comissão Episcopal da Amazônia.

Durante este tempo, o Cardeal Hummes disse ter visitado 38 circunscrições eclesiásticas na Amazônia brasileira, numa tentativa de participar das experiências do povo, de ouvir, de ver, de encorajar aqueles que vivem nas comunidades. Foi nesta jornada que nasceu a REPAM, em setembro de 2014, um serviço que quer articular o que existe, junto com aqueles que trabalham em favor da Amazônia, na preservação das riquezas e daqueles que ali vivem, especialmente os povos originários, que são sua maior riqueza.

Hummes mostrou a importância do papa Francisco para que a Amazônia tenha alcançado um papel relevante na Igreja e na sociedade mundial, destacando neste sentido o discurso que ele dirigiu aos bispos brasileiros no encontro que aconteceu no Rio de Janeiro por ocasião do Dia Mundial da Juventude em 2013. Nas palavras do Presidente da REPAM, o papa Francisco sempre foi alguém que encorajou a avançar, dizendo que ainda que se possa cometer erros, devemos ser corajosos.

Estes seis anos da REPAM consolidaram um tempo de envolvimento, de presença no território, de escuta e, junto com as comunidades, construir os novos caminhos, nas palavras do Cardeal Hummes, que insistiu que “sentimos a presença de Deus e de seu Espírito todos os dias“, convencido de que “a causa era muito maior do que as dificuldades enfrentadas“. Tudo isso se concretizou no Sínodo, um momento em que o Papa quis ouvir os bispos da Amazônia e traçar novos caminhos, um tempo de discernimento que teve como fruto o Documento Final, que o Papa pede que seja aplicado, e a exortação Querida Amazônia, na qual “o Papa nos ofereceu seus sonhos, para ir além do cotidiano, porque se deixamos de sonhar, deixamos de ter esperança”. Tudo isto, sabendo que “Deus foi o agente principal desse processo e continua sendo”.

A REPAM reúne tudo o que está sendo feito na Amazônia e tudo o que foi feito desde o início da Evangelização, disse o cardeal Pedro Barreto na coletiva de imprensa. Segundo ele, a Conferência de Aparecida, quando o então cardeal Bergoglio era o relator geral do Documento, mostrou a importância da Amazônia e a necessidade de criar uma pastoral de conjunto nos 9 países da Amazônia. Neste sentido, não podemos esquecer que foi em Aparecida que começou a conversão ecológica do papa Francisco.

Barreto também se referiu à importância das palavras do papa Francisco no encontro com os bispos brasileiros no Rio de Janeiro, quando novamente insistiu na importância da Amazônia e na criação de uma pastoral para a região. Neste sentido, o cardeal peruano insiste que a REPAM foi definida desde o início como uma fonte de vida no coração da Igreja, como um organismo eclesial que conseguiu articular os esforços que estão sendo feitos, apoiados desde o início pelo papa Francisco, para unir as diversas experiências em todo o bioma amazônico.

Nesta jornada, entre luzes e sombras, Deus nos iluminou e fortaleceu, e inspirou todo o processo sinodal, disse o vice-presidente da REPAM. Barreto salientou a importância de “nossos irmãos indígenas”, que ele vê como “guardiães de nosso ambiente natural”, que durante o Sínodo, desde a periferia, trouxeram sua vida e conhecimento ao centro do cristianismo. A missão da Igreja, que no Sínodo estabeleceu uma aliança com os povos originários, é acompanhá-los diante da invasão das grandes empresas, que está levando ao martírio dos defensores da Amazônia, lembrando o assassinato de um defensor ambiental no sábado passado em Puerto Maldonado, no Peru.

Cardeal Pedro Barreto, vice-presidente da REPAM.

O cardeal Barreto também quis agradecer ao Ir. João Gutemberg por ter aceito o serviço da secretaria executiva da REPAM, assim como “Mauricio López, que muito generosamente, junto com sua equipe, que o apoiou nestes anos, de forma muito generosa, nos faz sentir que nossa gratidão é para aprofundar a experiência que estamos vivendo“. Em suas palavras, ele destacou a alegria que representa a criação da Conferência Eclesial da Amazônia, que ele vê como “um elo de comunhão direta com nosso papa Francisco”. Por esta razão, ele nos convidou a continuar sonhando juntos, com aquele Espírito de Deus que ele quer para nós, no meio das tempestades da vida, das dificuldades da pandemia, “para experimentar aquelas carícias de Deus e aquele alento que ele nos dá através de muitas pessoas, especialmente os mais pobres, os mais abandonados”.

Fazendo um balanço do que foi vivido até agora, Barreto quis agradecer aos irmãos indígenas por sua participação no processo de preparação e realização do Sínodo, “que pregam com suas vidas e com seu testemunho de que vale a pena cuidar da vida e cuidar de nosso ambiente natural”. Olhando para o futuro, ele vê a REPAM como “um apoio muito importante de articulação no território para dar à Conferência Eclesial da Amazônia as condições efetivas para que suas orientações, seus documentos, a implementação de todas as propostas, que o Sínodo ofereceu em seu Documento Final, possam ser colocados em prática de forma harmoniosa, de forma articulada”. Finalmente, ele afirmou que a Querida Amazônia nos faz conscientes de que temos que trabalhar em dois aspectos, colocando em prática as orientações que nos foram dadas pelo Documento Final do Sínodo e continuando a sonhar com uma Amazônia onde os Direitos Humanos, suas culturas, o meio ambiente sejam respeitados e a Igreja seja um fermento de paz e justiça.

Em sua primeira intervenção como secretário executivo da REPAM, ir. João Gutemberg Sampaio, após expressar sua gratidão pela confiança recebida, ressaltou a importância do trabalho em equipe, afirmando que “idealizar é muito bom, mas colocá-lo em prática requer muita criatividade e dedicação”. O novo secretário também agradeceu à pessoa que ele considera seu grande amigo, diretor espiritual e conselheiro, Mauricio López, assim como sua equipe.

João Gutemberg e Maurício López, com outros dois participantes, durante o Sínodo para a Amazônia.

Olhando para o futuro, ele pediu que continuássemos a “nos encorajar e nos articular, porque infelizmente nossa querida Amazônia é também uma Amazônia que é consumida, invadida e destruída“, apelou à unidade entre as comunidades eclesiais e as pessoas de boa vontade, a fim de “promover o cuidado e a proteção das comunidades humanas e de nossa diversidade ambiental, tão importante para toda a nossa vida no planeta, ouvindo o grito dos pobres e o grito da Terra“. O novo secretário se apresentou como “um instrumento de conexão para que possamos continuar semeando luz e esperança em nossa Amazônia, e de nossa Amazônia, para muitos outros contextos do cenário planetário que precisam se amazonizar, para viver o bom relacionamento que os povos amazônicos têm com a Mãe Terra“.

Sobre o autor:

Luis Miguel Modino

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

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A Conferência Eclesial da Amazônia, uma voz profética contra os projetos de morte. Entrevista com a Ir. Laura Vicuña Pereira https://observatoriodaevangelizacao.com/a-conferencia-eclesial-da-amazonia-uma-voz-profetica-contra-os-projetos-de-morte-entrevista-com-a-ir-laura-vicuna-pereira/ Mon, 20 Jul 2020 15:31:17 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=35130 [Leia mais...]]]>

“A Conferência Eclesial da Amazônia, ela vem ser uma voz profética contra todos os projetos de morte”. Entrevista com a Ir. Laura Vicuña Pereira

Mulher, indígena e religiosa, são três elementos que definem Laura Vicuña Pereira, esta catequista franciscana que faz parte da Conferência Eclesial da Amazônia, enquanto representante dos povos indígenas. Ela vê a nova conferência como algo “que une, que articula as Igrejas na Amazônia“, um avanço no caminho da sinodalidade, “que a gente realmente possa caminhar juntos, e formar esse rosto da Igreja na Amazônia“.

Na Amazônia, a Igreja tem rosto laical, o que faz com que “a Conferência, com esse objetivo de sinodalidade, pode potencializar essas experiências que já existem na Amazônia“. Junto com isso, é importante destacar o papel que a nova Conferência pode ter em relação aos povos indígenas, vítimas do descaso das políticas pública, algo que se agravou ainda mais com a pandemia, chegando a denunciar a “omissão dos estados nacionais em relação aos povos originários“, que tem se organizado frente as ameaças externas que eles vem sofrendo.

A religiosa destaca a importância da resistência dos povos originários, dando um papel fundamental ao território. Diante disso, “a Conferência Eclesial da Amazônia, ela vem interligar essas diversas experiencias ancestrais, mas também vem ser uma voz profética contra todos esses projetos de morte que pesam sobre a Amazônia“, segundo a irmã Laura, que vê no papa Francisco aquele que “cumpre aquilo que foi pedido para ele lá em Puerto Maldonado, que a Igreja faça ouvir a nossa voz, que a Igreja defenda a nossa vida“.

Confira a entrevista da Ir. Laura Vicuña Pereira concedida ao pe. Luis Miguel Modino:

Ir. Laura Vicuña Pereira

1. A Conferência Eclesial da Amazônia se apresenta como uma grande novidade para a vida da Igreja. Não é mais uma conferência episcopal e sim uma conferência eclesial, onde além de bispos, cardeais, também tem a presença da vida religiosa, dos leigos e sobretudo de representantes dos povos originários. O que isso significa para a senhora?

Isso é a continuidade do kairos que a gente vivenciou na preparação e durante o Sínodo da Amazônia. No Documento Final e na Querida Amazônia, que é a exortação apostólica do papa Francisco, já sinalizava um organismo que desse carne a todas as propostas, as mais de 150 propostas que temos no Documento Final.

Eu pessoalmente, o vejo com grande alegria, porque o que nós temos aqui é uma Conferência Eclesial da Amazônia, uma conferência que congrega, que une, que articula as Igrejas na Amazônia para cada qual não ficar tomando decisões isolado com relação aos encaminhamentos do Sínodo, mas a gente ter, como insistiu o próprio papa Francisco desde o início do seu papado, a questão da sinodalidade, que a gente possa realmente caminhar juntos, e formar esse rosto da Igreja na Amazônia.

2. Nesse campo da sinodalidade, em que pode mudar a Igreja da Amazônia e a Igreja universal com essa nova experiência que está sendo iniciada agora com a Conferência Eclesial da Amazônia?

Na Amazônia, sobretudo na Amazônia brasileira, eu conheci um pouquinho a Amazônia peruana, quando durante cinco anos eu vivi lá, como missionária no Vicariato de Puerto Maldonado, existe uma expressão de Igreja que é totalmente laical. Esse rosto da Igreja em que os leigos assumem as comunidades para que a fé, a Igreja, ela não morra nesses espaços. No Brasil, a gente teve toda essa experiência das comunidades eclesiais de base – CEBs, que é justamente um exemplo da vivência da sinodalidade, desse caminhar juntos como Igreja, desse construir processos locais a partir da realidade.

A Conferência, com esse objetivo de sinodalidade, pode potencializar essas experiências que já existem na Amazônia, tanto peruana, quanto brasileira, como nos demais países. Como a gente vem de uma tradição, aqui na Amazônia, que não tem o padre, a religiosa, há pessoas leigas, líderes, que levam adiante toda a ação evangelizadora da Igreja. Potencializar isso que já existe e, claro, ampliar dentro de um chamado a ser Igreja samaritana, em saída, serva, mas, sobretudo, uma Igreja Madalena, que anuncia o Ressuscitado, que é capaz de nas situações de morte ter uma ação profética para que a vida possa existir.

Eu vejo assim, essa tal de sinodalidade, vamos potencializar essas experiências, e ampliar mais, articular mais, essas ações entre as Igrejas na Amazônia. A gente não tem uma luz para colocar em baixo da mesa, uma luz, quando ela começa irradiar, ela começa iluminar várias outras realidades. E quem sabe, a  Amazônia não será essa luz para as Igrejas do mundo todo. A periferia fala ao centro, a periferia expressa uma possibilidade de bem viver a partir da proposta dos povos originários e amazônicos.

3. A senhora é indígena do povo kariri e trabalha com os povos originários. Como os povos originários estão vivendo este momento pós-sinodal e como eles estão enfrentando esta pandemia que estamos sofrendo nos últimos meses?

Com a pandemia, a situação na Amazônia como um todo, ela se agravou mais e evidenciou para o Brasil e para o mundo a situação de descaso das políticas públicas que já existia neste território, e também é algo que está trazendo a tona toda a devastação que está acontecendo na Amazônia. Mais ainda, percebemos que para a gente não basta coibir a ação do crime organizado nesta região. O crime organizado está sendo legitimado, cada vez mais, pela postura, pelo discurso e própria ação do governo brasileiro.

Essa omissão dos estados nacionais em relação aos povos originários agrava muito essa situação de pandemia. No passado, os povos originários já viveram grandes epidemias que não puderam nem enterrar seus mortos. Com essa pandemia, novamente essa situação volta às comunidades indígenas com muita força, e algumas comunidades não conseguem celebrar seus rituais fúnebres, seus próprios rituais que dão sentido e harmonia para a sociedade. No meu caso específico, de indígena do povo Kariri, meus pais tiveram que migrar, ainda na década de sessenta, do Nordeste para a Amazônia. Por causa dessa situação, o contato com a vida direta da aldeia, a gente vão teve. Mas isso, a gente foi se dedicando na vida religiosa e como missionária entre os diversos povos indígenas.

4. Como isso está atingindo a vida do dia-a-dia, especialmente no plano espiritual, aos povos originários?

Os povos indígenas, muitos deles se organizaram e estão fazendo o isolamento social dentro de seus próprios territórios, o que poderia ser uma situação muito cômoda, no sentido deles estarem dentro do seu próprio habitat, dentro do seu cotidiano. O que acontece é que os invasores, os grileiros, os madeireiros e os garimpeiros não fazem quarentena, e a gente vê que a ação dos invasores contra os territórios indígenas, vulnerabiliza mais ainda os povos, levando ao contagio do COVID-19.

Isso acarreta ameaças no cotidiano da comunidade com práticas de isolamento social. Acontece que às vezes numa grande maloca não tem como fazer o isolamento de uma pessoa, porque vive todo mundo junto. Práticas rituais como festa da menina moça, festa dos jovens, quando estão entrando na idade adulta, festas que ocorrem agora, por exemplo no povo karitiana, a festa da chicha, que dão a identidade para o povo e conseguem fazer com que o povo se torne unido, coeso, que exista uma harmonia dentro da comunidade, esses rituais, por conta das regras sanitárias, agora já não podem ser realizados nas comunidades.

O povo karitiana, eu vi também a reportagem do povo Xavante, não pode realizar seus rituais funerários, e isso causa um desequilíbrio para a comunidade, como no caso do povo Yanomami, aquela mãe que teve seu filho arrancado e não teve o corpo de seu filho de volta e ficou sem entender o que estava acontecendo.

Isso é uma violência contra os povos indígenas. A gente vê que essa situação da pandemia da COVID-19 afeta diretamente o cotidiano das comunidades.

Ir. Laura Vicuña Pereira

5. Quais as expectativas de futuro para os povos originários depois deste tempo de pandemia e como a Igreja católica na Amazônia, especialmente a través desta nova conferência eclesial, pode acompanhar a vida desses povos e continuar sendo essa resposta oportuna aos gritos dos pobres e da irmã mãe Terra?

Os povos indígenas, eles já superaram inúmeros traumas, inúmeras frentes colonizadoras, que interromperam seus projetos de vida, mas sempre continuaram na resistência. E essa resistência, ela está fundamentada nesse enraizamento com a terra. Por isso, o território, ele é tão importante na vida nossa, na vida dos povos originários, na vida dos povos amazônicos. O território é o que nos une, que nos conecta.

Os povos originários, a gente tem uma categoria milenar, uma categoria ancestral, que pode responder e pode contribuir nessa grande crise planetária que a gente vive. Porque os povos originários, eles têm uma vivência com a mãe Terra que ultrapassa qualquer projeto econômico. Se você conversa com o idoso, ele tem essa sabedoria.

A Igreja da Amazônia, assumiu no Sínodo, principalmente, ser aliada dos povos originários e amazônicos. Essa aliança é uma aliança de compromisso na defesa da vida, da terra e dos direitos. A Conferência Eclesial da Amazônia, ela vem interligar essas diversas experiências ancestrais, mas também vem ser uma voz profética contra todos esses projetos de morte que pesam sobre a Amazônia, sobretudo neste momento que a gente vive agora.

Iniciamos o verão amazônico, as queimadas já ultrapassam a média de outros anos, e a gente vive uma pandemia que ataca todo o sistema respiratório. A gente precisa gritar para o mundo todo, a gente precisa da ajuda de todo mundo para defender a Amazônia, para defender os povos que aqui vivem.

6. A senhora fala que precisa da ajuda do mundo. O papa Francisco tem se tornado uma referência mundial como um dos grandes defensores da Amazônia. Como os povos indígenas contemplam o papa Francisco?

Em nível mundial, a gente tem o papa Francisco como líder, no sentido genuíno da palavra, como aquele que traz uma voz de esperança, mas sem deixar de fazer a denúncia de todo esse modelo que produz a morte. Quando na festa do Espírito Santo, ele se referia à Amazônia, que precisava cuidar dos povos da Amazônia e que a vida está acima da economia, é uma grande voz em defesa dos povos que estão aqui.

Francisco cumpre aquilo que foi pedido para ele lá em Puerto Maldonado, que a Igreja possa fazer ouvir a nossa voz, que a Igreja defenda a nossa vida. E ele levou isso muito a sério, pela sua disponibilidade, pela sua trajetória de vida em defesa dos menos favorecidos, em defesa do pobre.

Sobre o autor:

Luiz Miguel Modino

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

Laura Vicuña Pereira: “La Conferencia Eclesial de la Amazonía quiere ser una voz profética contra todos los proyectos de muerte”

Mujer, indígena, religiosa, son tres elementos que definen a Laura Vicuña Pereira, de la Congregación de las Catequista Franciscanas, que forma parte de la Conferencia Eclesial de la Amazonía, em representación de los pueblos indígenas. Ella ve la nueva conferencia como algo “que une, que articula a las Iglesias en la Amazonía”, un avance en el camino de la sinodalidad, “que realmente podamos caminar juntos y formar este rostro de la Iglesia en la Amazonía”.

En la Amazonía, la Iglesia tiene un rostro laical, lo que significa que “la Conferencia, con este objetivo de sinodalidad, puede mejorar estas experiencias que ya existen en la Amazonía”. Junto con esto, es importante destacar el papel que la nueva conferencia puede tener en relación con los pueblos indígenas, víctimas del abandono de las políticas públicas, algo que ha empeorado aún más con la pandemia, denunciando la “omisión de los estados nacionales en relación con los pueblos originarios”, que se han organizado frente a las amenazas externas que están sufriendo.

La religiosa enfatiza la importancia de la resistencia de los pueblos originarios, otorgando un papel fundamental al territorio. En vista de esto, “la Conferencia Eclesial de la Amazonía, interconecta estas diversas experiencias ancestrales, pero también se convierte en una voz profética contra todos estos proyectos de muerte que pesan sobre la Amazonía”, según la hermana Laura, quien ve al Papa Francisco como aquel que “cumple lo que se le pidió en Puerto Maldonado, que la Iglesia haga oír nuestra voz, que la Iglesia defienda nuestras vidas”.

La Conferencia eclesial de la Amazonía se presenta como una gran novedad para la vida de la Iglesia. Ya no es una conferencia episcopal, sino una conferencia eclesial, donde además de obispos, cardenales, también existe la presencia de la vida religiosa, de los laicos y, sobre todo, de los representantes de los pueblos originales. ¿Qué significa esto para usted?

Esta es la continuidad del kairos que experimentamos en la preparación y durante el Sínodo para la Amazonía. En el Documento Final y en Querida Amazonía, que es la exhortación apostólica del Papa Francisco, ya se señaló un organismo que daría cuerpo a todas las propuestas, las más de 150 propuestas que tenemos en el Documento Final. Personalmente, lo veo con gran alegría, porque lo que tenemos aquí es una Conferencia Eclesial de la Amazonía, una conferencia que reúne, une, articula las Iglesias en la Amazonía, para que cada uno no tome decisiones aisladas sobre las conclusiones del Sínodo, pero tenemos, como el mismo Papa Francisco insistió desde el comienzo de su papado, la cuestión de la sinodalidad, que realmente podemos caminar juntos y formar este rostro de la Iglesia en la Amazonía.

En este campo de sinodalidad, ¿cómo pueden cambiar la Iglesia de la Amazonía y la Iglesia universal con esta nueva experiencia que ahora está siendo iniciada con la Conferencia Eclesial de la Amazonía?

En la Amazonía, especialmente en la Amazonía brasileña, conocí un poco la Amazonía peruana, durante los cinco años viví allí, como misionera en el Vicariato de Puerto Maldonado, hay una expresión de Iglesia totalmente laica. Este rostro de la Iglesia en la que los laicos asumen las comunidades para que la fe, la Iglesia, no muera en estos espacios. En Brasil, tuvimos toda esta experiencia de comunidades eclesiales de base, que es precisamente un ejemplo de la experiencia de la sinodalidad, de caminar juntos como Iglesia, de construir procesos locales basados en la realidad.

La Conferencia, con este objetivo de sinodalidad, puede mejorar estas experiencias que ya existen en la Amazonía, tanto peruana como brasileña, como en otros países. Venimos de una tradición aquí en la Amazonía, en la que no tenemos al sacerdote, a la religiosa, pero tenemos gente, líderes, que llevan a cabo toda la acción evangelizadora de la Iglesia. Potencializar lo que ya existe y, por supuesto, ampliar su llamado a ser una Iglesia samaritana, en salida, servidora, pero sobre todo, una Iglesia Magdalena, que anuncia al Resucitado, que es capaz de actuar proféticamente en situaciones de muerte para que la vida puede existir.

Lo veo así, esta sinodalidad, potenciaremos estas experiencias y expandiremos más, articularemos más, estas acciones entre las Iglesias en la Amazonía. No encendemos una luz para ponerla debajo de la mesa, una luz, cuando comienza a irradiar, comienza a iluminar varias otras realidades. Y quién sabe, la Amazonía no será esa luz para las Iglesias de todo el mundo. La periferia hablando al centro, la periferia expresando la posibilidad de buen vivir desde la propuesta de los pueblos originarios y amazónicos.

Usted es indígena del pueblo Kariri y trabaja con los pueblos originários. ¿Cómo viven estos pueblos este momento post-sinodal y cómo enfrentan esta pandemia que estamos sufriendo en los últimos meses?

La situación en la Amazonía en su conjunto, con la pandemia, empeoró aún más e hizo que Brasil y el mundo tomaran conciencia de la negligencia de las políticas públicas que ya existía en este territorio, y también es algo que está mostrando toda la devastación que está sucediendo en la Amazonía. Pero aún no es suficiente para frenar la acción del crimen organizado en esta región. La delincuencia organizada esta siendo cada vez más legitimada por la postura, el discurso y la acción del gobierno brasileño.

Esta omisión de los estados nacionales en relación con los pueblos originarios agrava enormemente esta situación de pandemia. En el pasado, los pueblos originários ya habían vivido grandes epidemias que ni siquiera podían enterrar a sus muertos. Una vez más, con la pandemia, esta situación vuelve a las comunidades indígenas con gran fuerza, y algunas comunidades no pueden celebrar sus rituales funerarios, sus propios rituales que dan sentido y armonía a la sociedad. En mi caso específico, de los indígenas Kariri, mis padres tuvieron que emigrar, aún en los años sesenta, desde el nordeste de Brasil a la Amazonía. Debido a esta situación, el contacto con la vida directa de la aldea, no lo tuvimos. Pero eso, comencé a dedicarme como religiosa y como misionera entre los pueblos indígenas.

¿Cómo está afectando esto la vida cotidiana, especialmente a nivel espiritual, a los pueblos originarios?

Los pueblos indígenas, muchos de ellos se han organizado y están haciendo aislamiento social dentro de sus propios territorios, lo que podría ser una situación muy cómoda, en el sentido de que están dentro de su propio hábitat, dentro de su vida cotidiana. Lo que sucede es que los invasores, los acaparadores de tierras, los madereros y los mineros no se ponen en cuarentena, y vemos que la acción de los invasores contra los territorios indígenas hace que los pueblos sean aún más vulnerables, lo que lleva al contagio del COVID-19.

Esto causa en la vida diaria de la comunidad que las prácticas de aislamiento social, a veces en una gran maloca, no pueden aislar a una persona, porque todos viven juntos. Prácticas rituales como la fiesta de la niña moza, la fiesta de los jóvenes, cuando están entrando en la edad adulta, fiestas que ahora se llevan a cabo, por ejemplo en el pueblo de Karitiana, la fiesta de la chicha, que le dan a la gente su identidad y logran hacer que la gente se sientan unidos, cohesos, que haya armonía dentro de la comunidad, estos rituales, debido a las reglas de salud, ya no se pueden realizar en las comunidades.

El pueblo Karitiana, también lo vi en una reportaje sobre el pueblo Xavante, no puede realizar sus rituales funerarios, y esto causa un desequilibrio para la comunidad, como en el caso del pueblo yanomami, de una madre que le quitaron el cuerpo de su hijo muerto y no entendía lo que estaba sucediendo. Esto es violencia contra los pueblos indígenas. Vemos que esta situación de la pandemia de COVID-19 afecta directamente la vida cotidiana de las comunidades.

¿Cuáles son las expectativas de futuro para los pueblos originários después de este tiempo de pandemia y cómo la Iglesia Católica en la Amazonía, especialmente a través de esta nueva conferencia eclesial, puede acompañar la vida de estos pueblos y continuar siendo esta respuesta oportuna a los gritos de los pobres y de la hermana madre Tierra?

Los pueblos indígenas, ya han superado innumerables traumas, innumerables frentes de colonización, que interrumpieron sus proyectos de vida, pero siempre han continuado en la resistencia, y esta resistencia se basa en este enraizamiento con la tierra. Por esta razón, el territorio es tan importante en nuestra vida de pueblos originarios, de pueblos amazónicos, que nos une, que nos conecta. Los pueblos originários tenemos una categoría milenar, una categoría ancestral, que puede responder y puede contribuir a esta gran crisis planetaria que estamos experimentando.

Los pueblos originários tienen una experiencia con la Madre Tierra que supera cualquier proyecto económico. Si hablas con los ancianos, ellos tienen esta sabiduría, y la Iglesia de la Amazonía, en el Sínodo, asumió, principalmente, ser un aliado de los pueblos originários y amazónicos. Esta alianza es una alianza de compromiso en defensa de la vida, la tierra y los derechos. La Conferencia Eclesial de la Amazonía, interconecta estas diversas experiencias ancestrales, pero también se convierte en una voz profética contra todos estos proyectos de muerte que pesan en la Amazonía, especialmente en este momento que vivimos ahora. Comenzamos el verano amazónico, los incendios ya superan el promedio de otros años, y estamos experimentando una pandemia que ataca todo el sistema respiratorio. Necesitamos gritarle a todo el mundo, necesitamos la ayuda de todos para defender la Amazonía, para defender a los pueblos que viven aquí.

Usted dice que se necesita la ayuda del mundo. El Papa Francisco se ha convertido en una referencia mundial como uno de los grandes defensores de la Amazonía. ¿Cómo ven los pueblos indígenas al papa Francisco?

A nivel mundial tenemos al Papa Francisco como líder, en el sentido genuino de la palabra, como alguien que trae una voz de esperanza, pero sin dejar de denunciar todo el modelo que produce la muerte. Cuando en la fiesta de Espírito Santo, se refirió a la Amazonía, que se necesitaba cuidar a la gente de la Amazonía y que la vida está por encima de la economía, esa es una gran voz en defensa de los pueblos que están aquí. Él cumple lo que se le pidió en Puerto Maldonado, que la Iglesia haga oír nuestra voz, que la Iglesia defienda nuestras vidas. Y lo tomó muy en serio, por su disponibilidad, por su trayectoria de vida en defensa de los menos favorecidos, en defensa de los pobres.

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“Meu papel é tentar sempre incluir os povos indígenas, a proteção da natureza, como pensamos”, afirma Patricia Gualinga sobre a Conferência Eclesial da Amazônia https://observatoriodaevangelizacao.com/meu-papel-e-tentar-sempre-incluir-os-povos-indigenas-a-protecao-da-natureza-como-pensamos-afirma-patricia-gualinga-sobre-a-conferencia-eclesial-da-amazonia/ Wed, 08 Jul 2020 14:37:02 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=35034 [Leia mais...]]]> O nascimento da Conferência Eclesial da Amazônia veio como uma novidade que pode ser decisiva na construção de novos caminhos para a Igreja, uma experiência que vai ser testada na Amazônia, mas que pode ser estendida a toda a Igreja universal como um exemplo claro de sinodalidade na prática.

Desta Conferência faz parte Patricia Gualinga, que se define como “uma ativista dos direitos humanos, uma ativista pelos direitos da natureza e dos povos indígenas“. Ela, que foi auditora no Sínodo para a Amazônia, pensa que “meu papel é tentar sempre incluir os povos indígenas, a proteção da natureza, como pensamos“, algo que ela vê como uma grande responsabilidade e que ainda não sabe como isso se materializará.

A indígena do povo Kichwa de Sarayaku tem clareza de que mudanças positivas estão ocorrendo, pois a Igreja quer acompanhar os povos indígenas. Nesta dinâmica, ela vê o papa Francisco como alguém que “tem uma perspectiva muito clara, fiquei muito agradavelmente surpreendida com toda essa clareza do papa Francisco e com o apoio que ele vem dando a todo esse processo“.

Patricia Gualinga define o momento atual como “o momento em que notei que tudo de ruim está emergindo à luz“, como “o momento em que a natureza, Deus, tudo o que está ao nosso redor, já está cansado e está explodindo de alguma maneira“. Isso exige o que os povos indígenas vêm dizendo há milhares de anos: “agora é a hora de escutar, começar a ter um novo relacionamento com a natureza, começar a respeitar a espiritualidade, começar a se conectar com a Terra“.

Confira a entrevista:

Patrícia Gualinga durante o Sínodo para a Amazônia.

1. O que significa para alguém indígena e mulher se tornar parte de uma nova experiência, também para a Igreja Católica, como a Conferência Eclesial da Amazônia?

Primeiro é uma imensa responsabilidade, acho que meu papel é tentar sempre incluir os povos indígenas, a proteção da natureza, como pensamos. Essa é uma grande responsabilidade, além de nunca ter tido a experiência de estar em uma rede eclesial ou em uma conferência, sou leiga, vou à missa quando posso, faço minhas orações, mas não conheço a estrutura nem os termos eclesiais. Então, para mim, é um desafio, também será um aprendizado, mas tenho uma perspectiva muito clara de que essa, minha presença, dentro da Conferência Eclesial, é nova e muito diferente das conferências episcopais, porque eu acho que nunca houve uma estrutura como a que acabou de se formar. Nesse contexto, é um desafio aprender, mas também conjugar, sem me perder em toda essa nova situação, dessa coisa desconhecida para mim também.

Mas estou ciente de que isso é resultado do Sínodo da Amazônia, endossado pelo papa Francisco, e que a Igreja Católica, a instituição, está fazendo um enorme esforço para apoiar os povos indígenas, trabalhar ao lado deles, caminhar ao lado dos povos que estão lutando e que têm uma perspectiva muito clara de que não querem estar ao lado dos grupos de poder, das grandes empresas, dos governos que destruíram tanto a Amazônia.

2. Da base, das comunidades indígenas, as pessoas percebem o esforço que a senhora diz que a Igreja está fazendo para caminhar com elas e ser um aliado dos povos indígenas?

Eles estão pendentes, as organizações indígenas não falaram muito fortemente, mas estão cientes de que há mudanças, e há mudanças no sentido positivo, de querer acompanhar os povos indígenas, e essa é uma das coisas que eles estão sentindo, que existe essa possibilidade. Agora, se você perguntar se eles estão vendo que eles vêm evangelizar e tudo isso, também pode haver a dúvida de que essa é uma nova forma de evangelização. Nisto, acredito que o documento tenha sido muito claro em alguns aspectos, que até tentarão ver a questão da justiça social, a questão do cuidado ambiental.

Mesmo assim, haverá muitas pessoas que não têm comunhão com a Igreja Católica ou com sua maneira de pensar, porque haverá momentos em que certamente refletimos de maneira diferente: pessoas que não estudaram teologia ou pessoas que vivem no território. Esse é o desafio, essa é a possibilidade, mas os povos indígenas encaram favoravelmente essa nova maneira de começar a agir da Igreja Católica na Amazônia.

3. O próprio cardeal Hummes, presidente da nova Conferência, disse que o nome e a ideia desta conferência são algo que vem da orientação do papa Francisco, podemos dizer que Francisco mudou definitivamente a maneira como a Igreja se relacionou com os povos indígenas?

Isso é algo surpreendente, foi um passo e uma mudança muito grande, levando em conta que ele não é um Papa que nasceu na Amazônia ou que é amazônico, é um Papa que é argentino. Mas é um Papa que teve uma grande intuição de saber onde estão os locais mais vulneráveis, mas que são vitais para a humanidade, o ecossistema da Amazônia é vital para a humanidade. Nesse contexto, acho que o papa Francisco tem uma perspectiva muito clara, fiquei muito agradavelmente surpreendido com toda essa clareza do papa Francisco e com o apoio que ele vem dando a todo esse processo.

Sem o apoio do papa Francisco, teria sido muito difícil avançar, e isso é bem conhecido pelos missionários que trabalham na Amazônia, que vêem no dia a dia o sofrimento dos povos amazônicos, que cada degrau subido significa muito esforço, significa derramar muito sangue, significa que governos, empresas e a estrutura econômica globalmente governada não fizeram nada pelos povos indígenas.

O papa Francisco fez o que deveria ter sido feito, iniciado há muito tempo, mas, obviamente, também vi que as sociedades tentam não mudar, para permanecer em um modelo que já está em crise, política, social e economicamente. Entrou em uma crise de toda a existência, na questão ambiental, da corrupção. No Equador, conversamos dia após dia sobre a infinidade de corrupção, é um assunto que já está absolutamente danificado, e o Papa viu que deve haver um novo ressurgimento, que realmente aplica justiça social, o que a Bíblia diz. Os Evangelhos, a Bíblia, são muito claros, falam de justiça, de mudança, de transformações, de agir, não apenas de pregar. Eu acho que o Papa é o que mudou, começou a agir, não apenas pregar, ficar do lado dos mais esquecidos, entender todo o processo da Amazônia, de um contexto completamente diferente daquele aplicado até agora, e isso é muito válido, há muita confiança nisso.

Patrícia Gualinga, indígena do povo Kichwa de Sarayaku.

4. A senhora fala de atuação, algo que aparece na apresentação da Conferência Eclesial da Amazônia, onde se diz que ela quer ser uma resposta oportuna aos gritos dos pobres e da irmã mãe Terra. Como essa Conferência pode ajudar esses pedidos a serem escutados cada vez mais na Igreja Católica e na sociedade mundial?

Muitos religiosos trabalham no território e há muito tempo estão sozinhos e incompreendidos. A Conferência Eclesial, a presença de alguns bispos, cardeais, tem a enorme possibilidade de dar esse apoio, dessa maneira. Não sei muito bem o que fazem as Conferências Episcopais, não faço ideia, mas o que tenho muito claro é qual é o meu papel dentro da estrutura da qual faço parte, que é tentar ver e tentar apoiar a defesa da Amazônia, acompanhar os povos indígenas, sou muito clara sobre isso. Talvez veremos uma Igreja que diz que a destruição da Amazônia não é boa para os seres humanos, e que o diz em suas homilias, que o diz ao povo, que está junto aos líderes, junto ao povo em tudo o que é justo, porque a Igreja fala de justiça.

Até agora, o que vem acontecendo é que há uma terrível injustiça social para os povos indígenas, diferenças abismais, racismo em relação aos povos, a tentativa de controlar. Há muitas coisas que precisam ser quebradas, a Igreja precisa trabalhar de suas paróquias, de suas dioceses, ainda na América Latina somos muitos católicos e na Amazônia há muitos católicos e eles têm a oportunidade de fazê-lo. Mas, se funcionar, apoiando processos de luta, processos em que a vida humana, a natureza deve ser respeitada, e esse será o meu papel.

Mas ainda não está conformado, é necessário descrever como vamos fazê-lo, como vai se concretizar, como será esse acompanhamento de cuidado com a Mãe Terra, tudo isso é trabalho para mais adiante. Mas já foi feito o suficiente para criar essa Conferência Eclesial, porque os párocos, as pessoas que trabalham no território e vêem o sofrimento, terão grande apoio.

5. Estamos passando por um período de pandemia, algo que, segundo alguns especialistas, pode se tornar cada vez mais frequente, apontando que futuras pandemias podem surgir na Amazônia. A própria Conferência denuncia essas situações e o sofrimento dos povos indígenas neste período de pandemia. A senhora estava falando sobre o cuidado da mãe Terra, como a senhora acha que os representantes dos povos indígenas na Conferência podem ajudar a aumentar a conscientização sobre a necessidade desse cuidado da mãe Terra, da casa comum?

Sempre fui muito franca, sou ativista dos direitos humanos, ativista dos direitos da natureza e dos povos indígenas, e é preciso dizer o que está acontecendo no território. Este é o resultado do produto do erro humano, incluindo a pandemia. Os povos indígenas, pelo menos nesta região, e acho que em muitas regiões, estamos enfrentando várias emergências, de mudanças climáticas, com terríveis inundações, meu povo passou por cinco inundações severas, que devastaram todos os produtos. Também há dengue e malária, que estão subindo de nível, essa área não era de dengue e malária, não existia, mas a mudança é vista e já existe. Existe o abandono do estado, absolutamente, e há toda a questão do COVID.

Se falamos de emergências, os povos indígenas já têm várias emergências, e o COVID acrescenta isso. O que nos permite refletir é que é hora de mudanças profundas, não é mais hora de tentar montar uma questão inteira para tentar resolver com base no mesmo modelo, de extração de combustíveis fósseis, consumo excessivo, opressão, não, é tempo de mudar. Este tempo está mostrando isso muito fortemente, é um tempo muito semelhante ao que a Bíblia diz no Apocalipse, podemos dizer que estamos vivendo um tempo apocalíptico nesta época. Está na hora de o ser humano refletir e os governos não o estão fazendo.

É hora de eu perceber que tudo de ruim está emergindo na luz, tudo o que estava oculto, começa a aparecer. Energeticamente, é o momento em que a natureza, Deus, tudo o que está ao nosso redor, já está cansado e está explodindo de alguma forma. Se não mudarmos, ainda precisamos continuar na mesma situação em que vivemos, será realmente catastrófico, está nos avisando, está nos dizendo, mudem, ou isso vai a mais. É hora de dizer, para começar a agir nesse sentido. Dizemos a mesma coisa há milhares de anos, agora é hora de vocês escutar, começar a ter um novo relacionamento com a natureza, começar a respeitar a espiritualidade, começar a se conectar à Terra.

Em algum momento eu disse que, possivelmente estávamos errados em muitos aspectos, muitos eram dedicados apenas aos cuidados da Terra e só falavam da energia da Terra, outros falavam apenas da energia do céu, dos seres celestiais, de Deus , mas eles nunca o conectaram, nunca houve essa conexão divina. Até a Bíblia diz que, onde eles alcançam os pés de Deus, é a Terra, e onde está sua cabeça, é o céu. Perdemos essa conexão, rompemos, e cada um seguiu seu caminho, é hora de reconectar essas energias, essa possibilidade, esse cuidado, mas não negligenciar a parte espiritual.

Muitos, pela história das igrejas, têm um profundo ressentimento e tentam dizer que estes são enganosos, que voltam a fazer o mal, como no tempo da Inquisição. Ninguém nega esse passado, esse passado tem sido muito terrível para os povos indígenas, esse passado existe, não estamos negando, aí está, mas você não pode viver nesse ressentimento, não pode viver no passado, tem que seguir em frente. Para que isso aconteça, deve haver aliados, e se a Igreja Católica também estiver disposta, devemos caminhar juntos, porque o que fazemos apenas lembrando o passado. Agora é a hora de construir algo juntos, em solidariedade, em acordo, juntos de mãos dadas, em igualdade e entendimento de que a vontade de Deus, em sua imensa bondade, teve múltiplas expressões, múltiplas formas de expressão e que é hora de tirar vantagem dessas expressões, para entender e se abraçar.

6. Falamos sobre os avanços, a figura do papa Francisco e sua importância, esta Conferência Eclesial da Amazônia e o fato de participarem representantes da Igreja da Amazônia e do Vaticano, em diferentes níveis, pode ajudar essas atitudes, que claramente o papa Francisco promoveu nos últimos anos, para ficar além do seu pontificado?

É uma obrigação daqueles que estamos com ele, que o pontificado do papa Francisco tenha um longo caminho e que consiga essa transformação. O papa Francisco é um líder mundial, e isso tem sido muito importante, um porta-voz mundial que está começando a falar sobre esse assunto.

Acho que sim, não teremos outra alternativa, acho que não voltaremos à normalidade anterior, de tentar ver as coisas como eram antes. O papa Francisco falou e começou isso no momento em que deveria ser, em um momento de profunda crise, e é obrigação dos que estão próximos e daqueles que tiveram a oportunidade de ouvi-lo, que isso continue, que isso avance, apesar da oposição de pessoas que permaneceram no passado.

Como eu disse sobre alguns líderes que permaneceram no passado, também há outras pessoas que permanecem no passado, que não desejam as mudanças, e são realmente duas coisas que precisamos tentar harmonizar, se houver uma maneira, e seguir em frente, e acho que temos um caminho a percorrer muito mais longe. As gerações futuras me dão muita esperança, elas têm uma mente muito mais aberta do que nós.

Sobre o autor:

Luiz Miguel Modino

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

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Nasce a Conferência Eclesial da Amazônia: “uma resposta oportuna aos gritos dos pobres e da irmã mãe Terra” https://observatoriodaevangelizacao.com/nasce-a-conferencia-eclesial-da-amazonia-uma-resposta-oportuna-aos-gritos-dos-pobres-e-da-irma-mae-terra/ Thu, 02 Jul 2020 19:53:39 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=34959 [Leia mais...]]]> Os frutos do Sínodo para a Amazônia estão tomando forma aos poucos. Em 29 de junho de 2020, solenidade de São Pedro e São Paulo, “como gesto de sua vocação para afirmar a identidade da Igreja, e de sua opção profética e em saída missionária que surge como um chamado inevitável para o tempo presente”, nasceu a Conferência Eclesial da Amazônia.

Esse novo órgão eclesial responde, como afirma o comunicado oficial, assinado pelo dom Miguel Cabrejos, Presidente do CELAM, e pelo cardeal dom Claudio Hummes, presidente da REPAM e da Conferência Eclesial da Amazônia, ao que foi proposto pelos padres sinodais no Documento Final do Sínodo, na tentativa de que “ajude a delinear o rosto amazônico desta Igreja e que continue a tarefa de encontrar novos caminhos para a missão evangelizadora”, (DF 115), que foi reforçada pelo papa Francisco em Querida Amazônia, “que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis leigos da Amazônia se empenhem na sua aplicação” (QA, 4).

Os passos finais foram dados em uma assembléia virtual realizada em 26 e 29 de junho, que é vista, segundo a declaração, como “uma novidade do Espírito, e faz parte deste Kairós esperançoso que continua o caminho sinodal para abrir novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral na região Pan-Amazônica”.

Em vista da sinodalidade – maneira de ser Igreja que está sendo promovida, de forma decisiva, pelo papa Francisco, “que acompanhou de perto todo este processo” – um elemento deve ser destacado: trata-se de uma Conferência Eclesial e não Episcopal, nome aprovado por unanimidade, como também, “sua identidade, composição e modo geral de funcionamento (estatuto)”. Tudo isso “reflete a unidade na diversidade de nossa Igreja e seu chamado a uma sinodalidade cada vez maior; unidade expressada também pela inestimável presença e companhia permanente de importantes membros da Santa Sé que sentem a proximidade e relação direta com o Sínodo da Amazônia e com a missão da Igreja neste território”.

À frente da nova conferência estará o relator do Sínodo para a Amazônia, cardeal dom Cláudio Hummes e terá como vice-presidente, um dos secretários do Sínodo, dom David Martínez de Aguirre, OP, bispo de Puerto Maldonado (Peru), local que já se tornou um marco na história recente da Igreja da Amazônia. Junto com eles estará Dom Eugenio Coter, bispo do Vicariato Apostólico de Pando (Bolívia), representando as Conferências episcopais do território amazônico, juntamente com as presidências do CELAM, REPAM, CLAR e CÁRITAS AlyC. A maior novidade está na presença dos povos originários, incluindo duas mulheres, a sra. Patricia Gualinga, do povo Kichwa-Sarayakú (Equador); a Ir. Laura Vicuña Pereira, do povo Kariri (Brasil); e o sr. Delio Siticonatzi, do povo Asháninka (Peru).

Não podemos esquecer “nestes tempos difíceis e excepcionais para a humanidade” que estamos vivendo, uma realidade que “afeta fortemente a região Pan-Amazônica”, com mais de 400.000 casos confirmados e mais de 13.000 mortes como resultado do coronavírus. Realidade que, nas palavras do Comunicado Oficial, tornam mais visíveis “as realidades de violência, exclusão e morte contra o bioma e os povos que o habitam, clamam por uma conversão integral urgente e iminente”.

Nesse contexto, a Conferência Eclesial da Amazônia quer ser uma boa notícia e uma resposta oportuna aos gritos dos pobres e da irmã mãe Terra, resultado de uma aliança entre a Igreja Católica e os povos originários, que se fortaleceu decisivamente durante o processo sinodal. Ao mesmo tempo, esta Conferência Eclesial da Amazônia quer ser “um canal eficaz para assumir, a partir do território, muitas das propostas surgidas” na Assembleia Sinodal e, juntamente com isso, “sendo também um vínculo que anime outras redes e iniciativas eclesiais e socioambientais em nível continental e internacional”, como afirma o Documento Final do Sínodo (DF, 115).

Leia a seguir, na íntegra, o Comunicado Oficial:

Sobre o autor:

Luiz Miguel Modino

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

Confira, a seguir, a íntegra do texto em espanhol:

Nace la Conferencia Eclesial de la Amazonía: “una respuesta oportuna a los gritos de los pobres y de la hermana madre Tierra”

Los frutos del Sínodo para la Amazonía se van concretando poco a poco. Como adelantó Religión Digital, este 29 de junio, fiesta de San Pedro y San Pablo, “como gesto de su vocación para afirmar la identidad de la Iglesia, y de su opción profética y en salida misionera que brota como llamado ineludible para el tiempo presente”, ha visto la luz la Conferencia Eclesial de la Amazonía.

Este nuevo organismo eclesial responde, como recoge el comunicado oficial, firmado por Monseñor Miguel Cabrejos, Presidente del CELAM, y el Cardenal Claudio Hummes, Presidente de la REPAM y la Conferencia Eclesial de la Amazonía, a lo que fue propuesto por los padres sinodales en el Documento Final del Sínodo, en una tentativa de “que ayude a delinear el rostro amazónico de la Iglesia y que continúe la tarea de encontrar nuevos caminos para la misión evangelizadora”, (DF 115), lo que fue reforzado por el Papa Francisco en Querida Amazonía, “que los pastores, consagrados, consagradas y fieles laicos de la Amazonía se empeñen en su aplicación, (QA, 4).

Los pasos finales se han dado en una asamblea virtual celebrada los días 26 y 29 de junio, lo que es visto, según el comunicado, como “una novedad del Espíritu, y hace parte de este esperanzador kairós que continúa el camino sinodal para abrir nuevos caminos para la Iglesia y para una ecología integral en la región panamazónica”.

Un elemento que se debe destacar, todavía más en vista de la sinodalidad, un forma de ser Iglesia que está siendo impulsada decisivamente por el Papa Francisco, “quien ha acompañado cercanamente todo este proceso”, es que se trata de una Conferencia Eclesial y no episcopal, un nombre aprobado por unanimidad, así como “su identidad, composición y modo general de funcionamiento (estatuto)”, que “refleja la unidad en la diversidad de nuestra Iglesia”, y que cuenta con el apoyo “de importantes miembros de la Santa Sede que sienten la cercanía y relación directa con el Sínodo de la Amazonía y con la misión de la Iglesia en este territorio”.

Al frente de la nueva conferencia estará el relator del Sínodo para la Amazonía, el cardenal Hummes, que contará como vicepresidente con uno de los secretarios del Sínodo, Mons. David Martínez de Aguirre, OP, obispo de Puerto Maldonado (Perú), un lugar que ya se ha convertido en un hito en la historia reciente de la Iglesia de la Amazonía. Junto con ellos estará Mons. Eugenio Coter, obispo del Vicariato Apostólico de Pando (Bolivia), en representación de las Conferencias Episcopales del territorio Amazónico, junto con las presidencias del CELAM, REPAM, CLAR y CÁRITAS AlyC. La mayor novedad está en la presencia de los pueblos originarios, inclusive con dos mujeres, la Sra. Patricia Gualinga del pueblo kichwa-Sarayakú (Ecuador); la Hna. Laura Vicuña Pereira del pueblo Kariri (Brasil); y Sr. Delio Siticonatzi del pueblo Asháninka (Perú).

No podemos olvidar los “tiempos difíciles y excepcionales para la humanidad” que estamos viviendo, una realidad que  “impacta fuertemente a la región panamazónica”, con más de 400 mil casos confirmados y más de 13 mil fallecidos como consecuencia del coronavirus, algo que en palabras del comunicado hace más visibles “las realidades de violencia, exclusión y muerte contra el bioma y los pueblos que la habitan, claman por una urgente e inminente conversión integral”. En ese contexto, “la Conferencia Eclesial de la Amazonía quiere ser una buena noticia y una respuesta oportuna a los gritos de los pobres y de la hermana madre Tierra”, fruto de una alianza entre la Iglesia católica y los pueblos originarios, que estrechó sus lazos de forma decisiva durante el proceso sinodal. Al mismo tiempo, esta Conferencia Eclesial de la Amazonía, quiere ser “un cauce eficaz para asumir, desde el territorio, muchas de las propuestas surgidas” en la Asamblea Sinodal, y junto con eso, “un nexo que anime a otras redes e iniciativas eclesiales y socio-ambientales a nivel continental e internacional”, como se recoge en el Documento Final del Sínodo.

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