Conferência de Medellín – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 07 Sep 2018 03:22:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Conferência de Medellín – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Medellin, Igreja para todos a partir dos pobres https://observatoriodaevangelizacao.com/medellin-igreja-para-todos-a-partir-dos-pobres/ Fri, 07 Sep 2018 03:22:40 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=28907 [Leia mais...]]]> Há 50 anos, nessa data (06 de setembro de 1968), se encerrava a 2ª Conferência dos bispos católicos da América Latina e Caribe. Ela ocorreu em Medelllín (Colômbia) e significou praticamente o nascimento de uma Igreja com cara latino-americana e caribenha. De fato, a Igreja Católica está presente no continente desde a colonização há mais de 500 anos, mas somente a partir de 1968 conseguiu deixar de ser uma Igreja europeia que parecia sempre estrangeira.
A conferência de Medellín teve como tema “A missão da Igreja no processo de transformação social e política da América Latina”. Pela primeira vez, um papa atravessou o Atlântico e Paulo VI abriu a conferência, dando aos bispos apoio e estimulando a que eles adaptassem o Concílio Vaticano II ao continente, mas indo além dele. Na época, Dom Helder Camara e depois Dom Pedro Casaldáliga afirmaram: “Para a América Latina, Medellín foi um verdadeiro Pentecostes”.
Medellín se caracterizou por três temas fundamentais:
1. saber ler e interpretar os sinais dos tempos, como havia proposto o papa João XXIII. (Isso significa prestar atenção e inserir-se na realidade social, política e cultural de nossos povos).
2. A partir da situação de profunda desigualdade social e injustiça existente no continente, a Igreja deve sempre unir-se aos pobres, apoiar as suas organizações próprias e unir-se a eles na caminhada por sua libertação.
3. A libertação social e política dos povos e de cada pessoa não é apenas uma meta qualquer. É etapa e sinal da salvação que Jesus veio trazer ao mundo. Por isso, os processos de libertação dos povos e das pessoas fazem parte intrínseca e essencial da missão da Igreja.
A missão da Igreja não é apenas religiosa, nem principalmente cultual. Em Medellín, os bispos nos ensinaram que a missão da Igreja é testemunhar e ensaiar no mundo o reino de Deus, isso é, o projeto divino de justiça e de paz. Entre muitas afirmações e propostas importantes, em Medellín, os bispos concluíram que a Igreja deve ser pobre, missionária e pascal, ou seja, como diz o papa Francisco “em saída”. Sua missão é servir como libertadora “de toda a humanidade e de cada ser humano por inteiro”(Cf. Conclusões de Medellin, 5, 15).
A partir de Medellín, surgiu no continente um novo modo de ser Igreja que se expressou nas comunidades eclesiais de base, nos grupos bíblicos, nas pastorais sociais e na inserção de uma parte das Igrejas na caminhada da libertação. De 1968 para cá, o mundo mudou muito. O Império norte-americano conseguiu invadir vários países. Ele provocou várias guerras, vendeu e usou suas armas. Matou uma boa quantidade de pobres, africanos, asiáticos e latino-americanos, considerados descartáveis.
Quanto à Igreja Católica, ela sobrevive a várias crises e escândalos de diversos tipos. No entanto, a traição mais séria dos eclesiásticos mais tradicionais não é em matéria de moral sexual. É questão de humanidade. O que está vindo à tona como omissão, ou conivência culpável de autoridades religiosas atesta uma insensibilidade em relação a vítimas inocentes. No entanto, revela um desvio mais profundo e radical: o afastamento do caminho do evangelho de Jesus. Esse não se interessou em fazer uma religião ou em deixar no mundo uma estrutura de poder que se auto-protegeria. Conforme o evangelho de Lucas, seu projeto, proclamado, em seu primeiro discurso público foi: “O sopro (Espírito) de Deus veio sobre mim e me enviou para trazer a libertação dos oprimidos, curar os doentes e proclamar um ano de graça (jubileu) de libertação para todos” (Lc 4, 16- 21).
No decorrer da história, os eclesiásticos reinterpretaram esse texto em um sentido espiritualizador. A cura se refere aos problemas interiores e a libertação é a salvação da alma. Aqui, o mundo pode continuar dominado pelos senhores do dinheiro e do poder. Infelizmente, ainda há eclesiásticos que, enquanto podem, lhes são muito próximos. Em séculos passados, muitos bispos e padres davam assistência espiritual aos senhores de escravos e, de vez em quando, eles mesmos recebiam alguns escravos como presentes. Essa forma de interpretar a fé e a espiritualidade se mantém muito forte seja no Congresso Nacional, onde está bem representada pela chamada “bancada evangélica”, como pelo comércio religioso, que cada dia é mais lucrativo. Agora, através dos 50 anos da conferência de Medellín e das crises pelas quais passa a Igreja, os cristãos e cristãs são chamadas a “ouvir o que o Espírito diz, hoje, às Igrejas”e “voltar ao seu primeiro amor” (Ap 2, 5- 7). Na Bíblia, o primeiro amor do povo foi o Êxodo, onde conheceu intimamente a Deus, em meio à caminhada da libertação. É preciso voltar a essa mística da caminhada libertadora.
Quando a Igreja passa a olhar apenas para si mesma e se preocupa apenas com suas atividades internas, se torna idólatra. Deixa de ser sinal de Jesus Cristo e apresenta uma imagem mesquinha e indigna de Deus. Ainda bem que, nas periferias, com ou sem apoio oficial, as comunidades e pastorais proféticas continuam obedecendo a voz do Espírito que sopra onde quer. Medellín foi um marco e precisamos lembrá-lo porque, em muitos casos, a nossa Igreja em 2018 parece que nem consegue ainda chegar ao que Medellín chegou em 1968. No entanto, é claro que, hoje, os desafios são outros e é urgente nos abrir ao que o Espírito diz hoje às Igrejas. Como disse Paulo, “onde houver espírito de liberdade, aí está o Espírito de Deus” (2 Cor 3, 17). ​

2014_11_entrevista_consciencia_negra_marcelo_barros1_reproducaoMarcelo Barros é monge beneditino, escritor e teólogo biblista brasileiro. Em 1969 foi ordenado padre por Dom Helder Camara e, durante quase dez anos, de 1967 a 1976, trabalhou como secretário e assessor de Dom Hélder para assuntos ecumênicos. É membro da Comissão Teológica da Associação Ecumênica dos Teólogos do Terceiro Mundo (ASETT), que reúne teólogos da América Latina, África, Ásia e ainda minorias negras e indígenas da América do Norte. Assim, em seu blog, ele se define: “Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar”.

Fonte:

www.marcelobarros.com.br

 

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Bispos ligados às Pastorais Sociais aprofundam os compromissos assumidos na Conferência de Medellín https://observatoriodaevangelizacao.com/bispos-ligados-as-pastorais-sociais-aprofundam-os-compromissos-assumidos-na-conferencia-de-medellin/ Wed, 01 Aug 2018 20:49:49 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=28625 [Leia mais...]]]> 16 bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que acompanham as pastorais sociais nacionalmente e nos regionais se reuniram no Centro Cultural de Brasília (CCB) em Brasília (DF), de 30 a 31 de julho, para um momento de formação, partilha e espiritualidade. O objetivo do encontro, segundo o assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora, frei Olavo Dotto foi:

proporcionar momentos de partilha entre os bispos sobre sua missão, enquanto animadores das Pastorais Sociais e Organismos vinculados à CNBB e, à luz do documento de Medellín, aprofundar a temática do compromisso social dos leigos e leigas”.

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Os bispos estudaram o tema: “Compromisso social dos leigos a partir de Medellín”, segunda conferência geral do episcopado latino-americano, realizada em 1968, na Colômbia. O padre José Oscar Beozzo, historiador e membro do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP) ajudou a retomar as contribuições desta conferência por meio de um panorama histórico. Segundo ele,

esta conferência provocou na América Latina e, de modo muito particular no Brasil, a “criação de uma nova identidade da Igreja, levando a falar com propriedade de uma pastoral, teologia e de um rosto eclesial latino-americano e caribenho”.

O bispo de Lages (SC), dom Guilherme Werlang, presidente da Comissão para Ação Social Transformadora, defende que é muito importante para os novos bispos aprofundar as contribuições de Medellín sobretudo porque a Pastoral Social da CNBB nasceu a partir das opções feitas pelos bispos latino-americanos nesta conferência.

A nossa e a nova geração de bispos devemos apropriar tanto das colocações e opções do Vaticano II quanto da aplicação dele na América Latina por meio da Conferência de Medellín”, ressaltou.

O bispo-auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, presente ao encontro, reafirmou a importância de Medellín para ajudar a encontrar caminhos pastorais que auxiliem diante dos desafios sociais do presente. Na ocasião Dom Leonardo comunicou que a CNBB publicará, pela primeira vez no Brasil, o documento completo de Medellín.

Encontros como este, defende o bispo auxiliar de São Paulo (SP), dom Eduardo Vieira dos Santos, referencial da Pastoral da Mulher Marginalizada, contribuem muito para refletir sobre as diversas realidades enfrentadas pelos bispos em suas dioceses e frentes de atuação.

Este encontro e as reflexões a partir dos 50 anos de Medellín nos animam a caminhar construindo uma sociedade que visa sempre o bem comum, a fraternidade e a comunhão”, disse.

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Bispos presentes:

  • Dom Arnaldo Carvalheiro Neto, diocese de Itapeva (SP) e referencial da Caritas no Regional Sul 1;
  • Dom André de Witte, diocese de Rui Barbosa (BA), referencial do regional Norte 3, presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT);
  • Dom Canísio Klaus, diocese de Sinope (MT);
  • Dom Eduardo Vieira, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo (SP) e referencial para a Pastoral da Mulher Marginalizada e Campanha da Fraternidade, CEBs e Pastorais Sociais no Regional Sul 1;
  • Dom Edson Oliveira, diocese de Eunápolis (BA), referencial da Pastoral dos Nomades;
  • Dom Enemésio Lazzaris, diocese de Balsas (MA), presidente da Comissão Episcopal para o Enfrentamento ao Tráfico Humano e referencial do regional Sul 5;
  • Dom Francisco Cota de Oliveira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Curitiba (PR), referencial para a Pastoral Carcerária regional Sul 2;
  • Dom José Luiz Azcona, diocese de Marajó (PA), referencial do regional Norte 2 e da Comissão para Justiça e Paz;
  • Dom José Valdeci, diocese de Brejo (MA) referencial para o Conselho Pastoral dos Pescadores e membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora;
  • Dom Guilherme Werlang, diocese de Lages (SC), presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Social Transformadora;
  • Dom Luiz Gonzaga Fecchio, diocese de Amparo (SP), referencial da da Pastoral do Menor Nacional;
  • Dom Mario Marquez, diocese de Joaçaba (SC), referencial das Pastorais Sociais no regional Sul 4;
  • Dom Moacir Aparecido de Freitas, diocese de Votuporanga (SP);
  • Dom José Reginaldo Andrietta, diocese de Jales (SP), referencial da Pastoral Operária e Comissão Especial para o Ano do Laicato;
  • Dom Roberto Ferreria Paz, da diocese de Campos (RJ) e referencial da Pastoral da Saúde Nacional;
  • Dom Rodolfo Weber, arquidiocese de Passo Fundo (RS), membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora.

Com colaboração de Jardel Lopes, coordenação da Pastoral Operária Nacional

Fonte:

www.cnbb.org.br

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50 anos da Conferência de Medellín https://observatoriodaevangelizacao.com/50-anos-da-conferencia-de-medellin/ Wed, 18 Apr 2018 14:29:06 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27826 [Leia mais...]]]> O marco dos 50 anos da 2ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, a Conferência de Medellín, foi tema do Programa Novos Tempos, da PUCTV/ Anima PUC Minas, confira:

 

Pela importância deste marco celebrativo, ele será o tema central do VI Colóquio de Teologia e Pastoral, promovido pelas três faculdades de teologia – FAJE, ISTA e PUC Minas – pelo Centro Loyola e pelo Observatório da Evangelização PUC Minas:

50 anos de Medellín  |  De Medellín a Francisco

A recepção do Concílio Vaticano II continua a nos desafiar
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O Concilio Vaticano II teve em Medellín (1968) uma recepção criativa e inovadora na America Latina. De muitas formas as definições de Medellín marcaram o conjunto da Igreja, ganhando atualmente novo vigor com o Papa Francisco. Este Colóquio pretende não somente fazer memória do cinquentenário deste grande evento eclesial, mas apontar as tarefas que ainda levanta para a Igreja na contemporaneidade.

Contextualizado no emblemático ano de 1968, onde emergia não somente na Europa, mas também no Continente Latino-americano uma ânsia muito grande de protagonismo social e político da parte de grupos organizados, sobretudo de jovens, Medellín é uma resposta adequada à época. O clima de 1968 era o de dizer um não à velha ordem estabelecida, que já não respondia às demandas de maior liberdade e igualdade sociais. Isso refletiu na Igreja que, à luz do Concílio Vaticano II, também procurava novos rumos.

O Colóquio pretende resgatar as raízes espirituais de Medellín fincadas na Igreja dos Pobres, comprometida com a denúncia profética da desigualdade, a luta pela justiça e a libertação (e a opção preferencial pelos pobres, definida em 1979 em Puebla). Tudo isso adquiriu desde então um significado ímpar nas diferentes igrejas do continente, levando ao nascimento e ao fortalecimento das comunidades eclesiais de base, da teologia da libertação e da ação profética da Igreja.

Estará também presente no Colóquio a inspiração de Medellín para uma nova eclesiologia na qual a Igreja Particular é a unidade básica da pastoral, substituindo o velho esquema centrado nas paróquias tridentinas. A Pastoral de Conjunto é a grande pista de Medellín para fomentar tal eclesiologia, na esteira da legítima interpretação da colegialidade, como propõe a Constituição Dogmática Lumen Gentium.

A Conferência de Medellín foi não somente uma autêntica recepção criativa do Concílio Vaticano II, mas também seletiva, pois nem tudo do conjunto do Concílio tinha a ver diretamente com as demandas das Igrejas do Continente Latino-americano.

É nesse horizonte e à luz do pontificado do Papa Francisco que o Colóquio apresentará as perspectivas de uma Igreja superando a eclesiologia autorreferencial, abrindo caminhos para uma verdadeira Igreja em saída para todas as periferias, físicas e existenciais.

Das raízes históricas, passando pelas considerações propriamente teológicas, rumo à Igreja pobre, com os pobres e dos pobres, como Francisco propugna, o Colóquio nos convida a todos a voltar a uma Igreja centrada em Jesus, por meio do Espírito, numa perspectiva trinitária.

Além das conferências nas três noites, o Colóquio oferecerá também a oportunidade de apresentação de comunicações no dia 08 de maio, na PUC Minas, às 16hs, com a publicação dos textos apresentados nos Anais do Colóquio.

 

 

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