CNBB aprova novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (2019-2023) – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 01 Nov 2019 23:01:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 CNBB aprova novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (2019-2023) – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Desafios da evangelização urbana e riscos da superficialidade pastoral https://observatoriodaevangelizacao.com/desafios-da-evangelizacao-urbana-e-riscos-da-superficialidade-pastoral/ Fri, 01 Nov 2019 23:01:51 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32891 [Leia mais...]]]> As novas Diretrizes da Ação Evangelizadora para a Igreja no Brasil, da CNBB, trouxeram a aguda e candente questão da pastoral no mundo urbano como um tema transversal. A cultura urbana é o nosso lugar teológico-pastoral. É nosso objeto de observação, estudo, interpelação e o horizonte prático a ser focado.

A Igreja tem um grande terreno a ser explorado. A constatação de que suas estruturas já não respondem aos desafios de nosso tempo e que, portanto, precisam de urgente transformação e de revitalização evangelizadora se tornou recorrente. Como ficou claro no processo de escuta e na realização do Sínodo para a Amazônia, poderíamos aqui elencar: uma dinâmica mais partipativa e corresponsável entre clero e laicato na vida da Igreja; novos ministérios pastorais com atenção ao papel singular da mulher na vida eclesial longe ainda de ser valorizado e reconhecido; uma ação evangelizadora de presença e não de visita, que promova pequenas comunidades de fé com pessoas que acolhem de fato a vida cristã; o conhecimento crítico e um bom uso das novas mídias, das redes sociais, da Internet e da realidade virtual; a defesa da dignidade dos povos tradicionais, indígenas e quilombolas; a centralidade da causa e da dignidade cidadã dos pobres na ação evangelizadora; as linguagens eclesiais inculturadas e atentas às juventudes, de modo especial na liturgia; a nova sensibilidade ecológica e os cuidados com a nossa Casa comum, dentre tantos outros.

Há muita dificuldade em partirmos das atuais estruturas. Elas em quase tudo se mostram obsoletas e passaram a ser praticamente uma realidade funcional que visa uma pastoral de manutenção; isso graças ao estilo de evangelização que demarcou o nosso DNA eclesial a partir do IV século da Era Cristã. A nossa organização e referência pastorais ainda é muito sacramentalista. Ofertamos sacramentos, e geralmente sem evangelização que promova conversão ao seguimento de Jesus, à vida em comunidade de fé e partilha fraterna de vida, bem como a busca contínua de uma dupla fidelidade: à Tradição da experiência cristã e aos desafios e urgências de nosso contexto. Nosso estilo infelizmente não é querigmático e nem iniciático e missionário, atento à dimensão social e ao testemunho profética de toda evangelização. Na Alegria do Evangelho, o papa Francisco retoma essa base; mas, ao que parece, ainda necessitaremos de muitos anos para eclesialmente “cairmos na real e deixarmos de ser iludidos”. E isso, claro, contando que, de fato, nos converteremos pastoralmente.

Enquanto isso, a nova tentação é o lançamento de uma Pastoral urbana da superficialidade e dos imediatismos pastorais. A preocupação é tão somente alimentar o “subjetivismo pós-moderno”. Muitas ações que não formam para a vida eclesial e comunitária; nem muito menos, que promovam conversão ao Evangelho. Essas posturas caracterizam-se por um “dinamismo epidérmico”. Sinal clarividente de mediocridade teológico-pastoral e, em alguns casos, também de ganância e preenchimento de egos vazios e doentes psicologicamente, que são sinais de problemas humanos, espirituais e teológicos, existentes nos vários agrupamentos eclesiais.

A Igreja tem grandes questões a ser enfrentadas, não só fora; mas, antes de tudo, no interior de suas estruturas pessoais. Vejamos como alguns cristãos católicos estão recebendo as impostações pastorais do papa Francisco. Eles não conseguem ter o alcance do que este homem de Deus, autêntico profeta de nosso tempo, representa para o mundo. Quem está fora da Igreja se mostra mais sensível, aberto e racional do que muitos que estão dentro da Igreja. Em outra reflexão, escrevi que o papa Francisco é um cristão e que a Igreja não estava preparada para ele; e confesso que o tempo está deixando-me mais convicto disto.

A Igreja não preparou-se para viver essa mudança de época, ou seja, época de profundas mudanças. Isso é próprio dela, principalmente depois que deixou de ser a condutora dos poderes no Ocidente. Muitos dos seus filhos sempre procuraram, e ainda o fazem, atacar o moderno. Existe uma infantilidade a ser superada. Muitos ainda, com mentalidade tridentina, não entenderam a mensagem do Concílio Vaticano II com abertura dialogal às inúmeras positividades trazidas pela Modernidade. Fixam-se, ao contrário, apenas em aspectos julgados negativos ou que trazem ameaças à segurança da sólida tradição cristã; não discerniram, nem acolheram e nem se deixaram interpelar pelos sinais do tempo, pelos muitos pontos positivos. Falam sobre fé e razão; contudo, não as reconhecem e nem as acolhem, conjuntamente, como as duas asas para o acolhimento da verdade.

Por trás das construções pastorais, orientadas pelas Diretrizes, há esses dramas antropológicos e históricos. Tem que, de fato, investir não só no conhecimento intelectivo, este a Internet já oferece; mas também na sabedoria, que é fruto do “discernimento”. O papa Francisco pede essa prática espiritual para a formação dos futuros presbíteros e, sem dúvida, para a Igreja como um todo. Temos que sair desta superficialidade desgovernada, superada e desconfigurada. Necessitamos aprofundar o significado do que somos e do que queremos como Igreja, na nossa vida pessoal e para fecundidade da nossa ação missionária e pastoral. Vamos enfrentar desafios.

Façamos juntos o caminho da conversão à sinodalidade. Isso não deve ser acolhido como um chavão. Trata-se de algo exigente, que implica conversão à centralidade da Palavra e do batismo, à concepcão de corresponsabilidade de todos na dinâmica eclesial. Este é o caminho que nos tornará mais fortes. Abertos ao Espírito Santo, sigamos juntos em frente. Assim o seja! Amém!

Sobre o autor:

Pe. Matias Soares

Pe. Matias Soares é pároco da paróquia de Santo Afonso/Natal-RN e é colaborador do Observatório da Evangelização PUC Minas.

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CNBB aprova novas Diretrizes Gerais: por uma Igreja mais missionária, casa de acolhida, atenta a realidade urbana https://observatoriodaevangelizacao.com/cnbb-aprova-novas-diretrizes-gerais-por-uma-igreja-mais-missionaria-casa-de-acolhida-atenta-a-realidade-urbana/ https://observatoriodaevangelizacao.com/cnbb-aprova-novas-diretrizes-gerais-por-uma-igreja-mais-missionaria-casa-de-acolhida-atenta-a-realidade-urbana/#comments Mon, 06 May 2019 19:13:39 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=30459 [Leia mais...]]]> Foram aprovadas as novas Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora na sexta-feira, 03/05/2019, durante a 57ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Aparecida, para o próximo quadriênio (2019-2023). Elas apontam para uma Igreja Católica mais missionária, casa da acolhida dos mais vulneráveis e atenta aos desafios e urgências de uma realidade profundamente marcada pela cultura urbana.

A seguir trechos da declaração de Dom Leomar Antonio Brustolin, bispo auxiliar de Porto Alegre, que foi membro da comissão de redação do tema central da conferência:

O eixo fundamental das diretrizes é recuperar o sentido da Igreja como casaA descartabilidade das pessoas nos faz pensar sobre qual é a nossa casa, não como construção, mas como lar… A imagem da casa tem um sentido pedagógico e é entendida como lar e espaço de vida“.

A casa, no texto das Diretrizes, é entendida como comunidade eclesial missionária sustentada por quatro pilares: a Palavra, o Pão, a Caridade e a Missão. Sobre cada um desses pilares podemos compreender:

  • Ação Missionária – como insiste o papa Francisco numa Igreja em saída, para a qual o sentido da comunidade se realiza quando ela sai em missão e vai ao encontro das periferias existenciais;
  • Palavra – que aprofunda a Iniciação à Vida Cristã, a Iniciação Bíblica e a ideia de ter comunidades fundadas em torno da Palavra de Deus;
  • Pão – que aprofunda a liturgia e a busca por viver a espiritualidade rumo à santidade  tal como defende o papa Francisco em sua exortação Gaudete et Exsultate que personaliza a fé, mas leva ao encontro do outro;
  • Caridade – baseado no que disse Paulo VI na ONU: “Que a Igreja é especialista em humanidade”, o texto das diretrizes aponta a necessidade das comunidades se preocuparem com os que mais sofrem e a defesa da vida em todos os sentidos.

Um dos quatro pilares que sustentam a igreja, segundo dom Leomar, é a ação missionária:

Para que essa casa não fique de portas fechadas, mas se abra para que outras pessoas possam entrar e a gente possa sair ao encontro com o outro“.

Segundo ele, o rumo decidido para a Igreja brasileira é de olhar em primeiro lugar para o mundo urbano que, conforme definiu, não é só a cidade:

Onde entram a internet e a energia elétrica, lá está a realidade urbana, marcada por tanto sinais positivos, avanços tecnológicos, mas também com preocupações, contradições e ambiguidades. O olhar do missionário deve levar em conta as grandes transformações que estamos vivendo“.

Conforme dom Leomar, a CNBB se preocupa com a questão da pessoa em seu individualismo, solidão e anonimato:

Nossas comunidades, na Igreja têm um desafio enorme de combater o suicídio nesse País. A grande questão é a crise do sentido da vida“.

Também devem propor uma experiência de igreja que seja mais comunitária:

Há uma tendência natural nesse momento de viver a religião de forma mais privatizada. As pessoas têm muitas escolhas e nem sempre preferem o encontro com o outro. As Diretrizes insistem na formação de comunidades eclesiais missionárias, pequenas comunidades onde a pessoa sai do anonimato da solidão, se converte e testemunha numa sociedade cada vez mais plural“.

A maior preocupação da Igreja, segundo ele, não é com o número de cristãos, mas a qualidade do testemunho desses cristãos onde eles estão:

O desafio é ser testemunho do Evangelho da alegria. Dar uma notícia mais alegre, não só condenatória, não só de preocupações, mas de muita esperança também“.

Na questão da sociedade, foram considerados os pontos relativos à ética, ou à falta de ética, na economia, na política e na cultura:

São os desafios que nós temos para tornar nossa sociedade mais justa e fraterna. É bom lembrar que nos baseamos muito na doutrina social da Igreja que prevê o humanismo integral e solidário, para todas as pessoas, do nascituro até aquele que está para morrer“.

Além da ação missionária, foram definidos como “pilares” para a ação evangelizadora da Igreja brasileira a Palavra, o Pão e a Caridade:

Partimos sempre da ideia do encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo. Até mesmo as polarizações que aparecem nas redes sociais nem sempre partem do que o Evangelho diz, partem muito mais de opiniões, mesmo se dizendo cristãs“.P

O Pão, segundo ele, deve ser entendido como liturgia e espiritualidade:

Aqui é um pouco uma novidade em relação às Diretrizes interiores. O discípulo respeita as devoções, mas não fica só nelas. O foco principal é o seguimento de Jesus Cristo celebrado na liturgia como uma espiritualidade profunda que visa a uma santidade, mas uma santidade que se preocupa com tudo ao nosso redor“.C

Ao se referir à Caridade, dom Leomar lembrou o empenho da Igreja na promoção da vida:

A nossa resposta profética é continuar nos preocupando com aqueles que não tem voz, não tem vez, os que mais sofrem e desenvolver ainda mais o caminho da defesa da vida em todos os sentidos“.

Fonte:

www.domtotal.com

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