Balanço da segunda semana do Sínodo para Amazônia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Sun, 20 Oct 2019 20:39:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Balanço da segunda semana do Sínodo para Amazônia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Um breve balanço ao final da segunda semana do Sínodo para a Amazônia https://observatoriodaevangelizacao.com/um-balanco-ao-final-da-segunda-semana-do-sinodo-para-a-amazonia/ Sun, 20 Oct 2019 20:39:46 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32480 [Leia mais...]]]> O que, talvez, mais chame a atenção, de modo particular neste Sínodo, é exatamente a experiência de “sinodalidade” que estamos vivendo nestas semanas, ou seja, o caminhar juntos como Igreja reunida na sua diversidade, mas sempre unida em torno à pessoa do Papa, que está sempre presente em todas as sessões, chamadas ‘Congregações’Desde a convocação do Sínodo, o Papa e seus representantes mais próximos, como o cardeal Cláudio Hummes, têm insistido que a nossa missão é a de buscar “novos caminhos” e não a de repetir o que se já faz há tempos na Amazônia… Não tenho dúvidas de que foi inspiração do Espírito Santo a ideia de convocar um sínodo para refletir sobre a urgente necessidade de salvarmos o bioma amazônico, e por extensão todo o planeta, das ameaças de destruição que provém de políticas equivocadas e grandes projetos econômicos depredadores, que visam somente o lucro imediato para alguns poucos.

Entrevista concedida pelo pe. Adelson Araujo dos Santos, S.J. ao Observatório da Evangelização no domingo, dia 20/10/2019.

Confira:

Sínodo para a Amazônia. Foto: Adelson Araújo dos Santos.

OE. O que você destacaria das dinâmicas do Sínodo para a Amazônia, na primeira e na segunda semana? 

Pe. Adelson: O que, talvez, mais chame a atenção, de modo particular neste Sínodo, é exatamente a experiência de “sinodalidade” que estamos vivendo nestas semanas, ou seja, o caminhar juntos como Igreja reunida na sua diversidade, mas sempre unida em torno à pessoa do Papa, que está sempre presente em todas as sessões, chamadas “congregações”.

Somos um grupo, realmente, bem diverso: lideranças indígenas, leigos e leigas, religiosos e religiosas, teólogos e teólogas, missionários e missionárias, cardeais da cúria romana, bispos, cientistas etc. Mas, predomina um clima de muito respeito pela opinião de cada participante e de sincera busca de um consenso, que expresse aquilo que Deus está pedindo à Igreja a partir do discernimento provocado por este Sínodo.

Enfim, como se falou já no primeiro dia, o Sínodo real é bem diferente daquele que, falsamente, alguns opositores do papa Francisco querem passar para a opinião pública.

OE. Quais seriam os temas centrais que se mostram recorrentes em relação ao que poderíamos chamar de “configuração de uma Igreja com rosto amazônico”? 

Pe. Adelson: Desde a convocação do Sínodo, o Papa e seus representantes mais próximos, como o cardeal Cláudio Hummes, têm insistido que a nossa missão é a de buscar “novos caminhos” e não a de repetir o que se já faz há tempos na Amazônia.

Neste sentido, creio que o Espírito Santo está soprando forte na direção de uma presença da Igreja na Amazônia que fortaleça mais a liderança dos leigos, de modo geral, como também das mulheres, de modo particular. Isto para fazer o que já acontece na prática em muitos lugares do interior amazônico, carentes da presença de padres. É preciso dar a essas lideranças um empoderamento maior, para que de fato possam representar institucional e ministerialmente a Igreja.

Por outro lado, parece ser consensual que as comunidades eclesiais pan-amazônicas presentes no mundo indígena necessitam de uma liturgia sempre mais inculturada, que expresse suas tradições, ritos e saberes, enriquecidos pela novidade da boa nova de Jesus Cristo. Da mesma forma, é consenso que o tema da ecologia integral, da conversão ecológica, do cuidado da Casa comum, deve fazer parte de todo programa formativo e de evangelização na Amazônia, desde a catequese de Iniciação à vida cristã, até a formação presbiteral e para a vida consagrada nessa região. 

Muitos padres sinodais têm chamado a atenção também para as populações urbanas das médias e grandes cidades da Pan-Amazônia, onde se concentra a maioria dos habitantes, muitos dos quais vindos do interior e submetidos a toda sorte de exploração e perda de identidade cultural e religiosa. É urgente dar maior atenção a essa camada do povo de Deus, por meio de uma pastoral urbana da acolhida e presença solidária, especialmente aos migrantes, jovens, indígenas que vivem nas cidades, enfermos nos hospitais etc.

Registro de momento de trabalho dos peritos no Sínodo para a Amazônia.
Foto: Adelson Araújo dos Santos.

OE. Quais os próximos passos a serem dados dentro do processo sinodal, com o início da última semana do sínodo? Qual tem sido o papel dos peritos, como você, em tudo isso?

Pe. Adelson: Terminado o período das intervenções (discursos) livres dos padres sinodais e o trabalho posterior dos doze grupos linguísticos, que apresentaram suas conclusões e propostas na última sessão da segunda semana, agora caberá ao relator geral do sínodo, cardeal Hummes, apresentar em plenário uma primeira versão do documento final, que será discutida e sujeita a emendas pela assembleia, para finalmente ser votada e aprovada ao final do sínodo, sendo entregue posteriormente ao Papa. 

A nós, peritos, couber a missão de nos dividirmos entre os diversos grupos linguísticos, para assessorar na redação e no conteúdo das propostas por eles formuladas. Após isso, também nos coube apresentar ao relator do Sínodo um texto já elaborado, com as contribuições de cada grupo. Cabe a nós, portanto, a tarefa de ir “pescando” o que de mais importante e recorrente tem sido falado pelos padres sinodais, que serão os que aprovarão o texto final.

OE. Para terminar, o que tem alimentado a sua esperança em relação aos frutos do Sínodo, sendo nascido na Amazônia e tendo trabalhado lá boa parte da sua vida? 

Pe. Adelson: Creio que, para nós que nascemos e trabalhamos na Amazônia, é um momento de kairós para todas as nossas comunidades ver o quanto a Igreja, liderada pelo papa Francisco, está interessa em nos escutar e conhecer mais a nossa realidade, para poder servir melhor ao povo de Deus presente na Pan-Amazônia.

Não tenho dúvidas de que foi inspiração do Espírito Santo a ideia de convocar um sínodo para refletir sobre a urgente necessidade de salvarmos o bioma amazônico, e por extensão todo o planeta, das ameaças de destruição que provém de políticas equivocadas e grandes projetos econômicos depredadores, que visam somente o lucro imediato para alguns poucos.

Além disso, espero que todo esse movimento de conscientização criado pelo Sínodo para a Amazônia nos leve a todos a uma mudança de hábito, assumindo em nossa vida pessoal, familiar e na sociedade como um todo, um novo estilo de vida, que preserve o meio ambiente e cuide melhor de nossa Casa comum, que é o planeta Terra.

Por fim, anseio ver mais solidariedade por parte das dioceses, congregações religiosas e outras instituições eclesiais localizadas fora da Amazônia, partilhando mais de seus recursos humanos e econômicos com as igrejas pan-amazônicas, a fim de que sejamos, de fato, uma Igreja em saída, em direção aos que mais necessitam.

OE. Que mensagem gostaria de deixar aos leitores e leitoras do Observatório da Evangelização que estão acompanhado atentos e em prece o Sínodo para a Amazônia?

Pe. Adelson: Que se unam em oração ao Papa e aos demais padres sinodais, neste momento conclusivo do Sínodo para a Amazônia. E que combatam com a verdade toda forma de mentiras que se tem difundido pelas redes sociais, com interesses meramente político-partidários e de busca de autopromoção por parte de alguns falsos católicos. 

Pe. Adelson Araújo dos Santos, S.J.

Adelson Araújo dos Santos é amazonense, padre jesuíta, doutor em Teologia e professor na Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG de Roma. Foi nomeado pelo papa Francisco para ser um dos peritos do Sínodo para a Amazônia.

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