Angola – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Mon, 26 Oct 2020 12:58:09 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Angola – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 “Notícias do lado de cá”, neste mês especial das Missões uma partilha sobre a missão em Luanda, Angola https://observatoriodaevangelizacao.com/noticias-do-lado-de-ca-neste-mes-especial-das-missoes-uma-partilha-sobre-a-missao-em-luanda-angola/ Mon, 26 Oct 2020 12:58:09 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=36059 [Leia mais...]]]> Notícias do lado de cá!

Então, ouvi a voz do Senhor que dizia: “Quem enviarei? Quem será o nosso mensageiro?” Então eu disse: “ Eis-me aqui, envia-me.”

Isaias 6, 8

Você, certamente, já tem alguma notícia ou conhece um pouco sobre a complexa realidade e da diversidade presente nos países de África. Isto é muito bom! Eu estou em Angola, país que tem o português como língua oficial. No entanto, por aqui, umas vinte línguas além do português são faladas.

Sabemos que “o primeiro elemento cultural de qualquer grupo humano é a língua, que de tal modo encarna o ser humano que, quase sempre, é um sinal indelével da identificação da pessoa”. E se “A história traça o caminho. A cultura modela a pessoa.”

Na missão, é importante, mas não basta a boa vontade. Precisamos cultivar diariamente a disposição de partilhar a vida, a abertura para aprender com os outros, da postura de saída de si – como fala o papa Francisco ser Igreja em saída – para conhecer bem a realidade do outro na qual pretendemos anunciar-testemunhar, de modo encarnado, a boa notícia do amor de Deus. Precisamos ouvir mais do que falar, sabendo que o outro nos ajudará a aprofundar o Evangelho em nossa vida. A língua, a cultura e a história não podem ser barreiras, mas desafios instigantes para crescermos na aproximação fraterna e na partilha da vida. A disposição de amar e servir é fundamental para avançarmos rumo a concretização do encontro e da cumplicidade que libertam e enriquecem a todos.

Um dedo de conversa sobre a África, Angola e Luanda, onde estamos

Segundo historiadores, “Angola nunca teve a extensão atual. Quando os portugueses chegaram, Ngola abrangia apenas as atuais províncias de Luanda, Bengo, Kuanza-Norte e Malange”. À medida que os portugueses iam conquistando ou anexando novas regiões, a palavra Angola também foi aumentando de extensão e sentido.

Em 1885, na Conferência de Berlim, os países europeus resolveram dividir entre si o continente africano, por este ter recursos naturais muito necessários para alimentar as suas indústrias em expansão. Até então, os únicos europeus presentes na África negra, eram os portugueses em Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné; e, ao sul, os holandeses, também chamados de Boers (camponeses), ou pelos angolanos de karkamanos (de Kirk Man: homens da Igreja).

Segundo as determinações da Conferência de Berlim, cada país devia garantir a posse dos territórios que lhe foram atribuídos em África por meio da presença de indivíduos da sua nacionalidade ou escolha. Em Angola, o sertanejo Silva Porto assegurou a presença de Portugal do mar até Bié.

A) A complexa geografia humana

Angola é habitada por vários grupos étnicos, entre os quais sobressaem:

  • Bafiotes (Cabindas ) que ocupam a província de Cabinda com extensão na República do Congo Brazzavilli;
  • Bakongos que habitam as províncias do Uige e do Zaire e as regiões de Matadi e Kissantu, na República Democrática do Congo;
  • Ambundos que ocupam as províncias de Luanda, Bengo, Kuanza-Norte, malange e parte do Kuanza-Sul;
  • Tchokués que habitam as duas províncias da Lunda e a província do Moxico com ramificações no Kuando Kubango e na República Democrática do Congo;
  • Umbundos ou também conhecidos como Ovimbundos, vivem espalhados pelas províncias de Benguela, Huambo, Bié e com forte cunhas nas províncias do kuanza-Sul, da Uila, Moxico e Kuando Kubango;
  • Nhanecas que ocupam, majoritariamente, a província do Kuando Kubango;
  • Nganguelas da tribo que habita, majoritariamente, na província  do Kuando Kubango;
  • Kuanhamas que vivem, majoritariamente, na província do Kunene e com larga presença na Namíbia.

Alem destes oito grupos étnicos, há ainda muitos outros minoritários, dos quais se destaca os Mua-kankalas, os Mucubais ou Herero e os Vatuas, estes são todos nômades.

A primeira evangelização de Angola, ocorrida entre 1491-1834, abrangeu apenas os grupos étnicos Bakongos, Ambundos e Bafiotes.

Um elemento que tipifica a evangelização de todos os países africanos de língua oficial portuguesa, sobretudo Angola, é a ação ora concomitante, ora separada, do chamado padroado português e a propaganda fide. Isto deve ser levado em conta para compreender o cristão angolano e sua identidade religiosa.

B) As tentativas de independência

Ao longo de 500 anos de presença portuguesa, houve pelo menos três tentativas de proclamação da independência de Angola.

A primeira, em 1822, os portugueses radicados em Angola quiseram seguir o exemplo do Brasil e se tornar independente.

A segunda tentativa de independência aconteceu em 20 de março de 1930 e foi liderada pelo capitão Genipro da Cunha d’Eça e Almeida.

A terceira e última tentativa de proclamação da independência de Angola foi bem recente. Começou no início de 1961, liderada pelos angolanos e motivada principalmente pela má política colonial e social do governo da Segunda República Portuguesa.

Desde fevereiro de 1975 até hoje, a evangelização de Angola vive uma nova fase, caracterizada por uma Igreja na qual os bispos são majoritariamente angolanos, com uma “explosão vocacional”, com preocupação com a quantidade e qualificação dos agentes de evangelização: sacerdotes, religiosos e religiosas, catequistas.

C) Luanda, a cidade onde estamos em missão

Luanda é a cidade capital da província mais populosa de Angola. A imensa maioria de sua população vive em condições precárias, nas periferias, sem acesso regular a recursos básicos, como água, por exemplo. O país tem uma população bastante jovem. Mais de 60% tem menos de 25 anos de idade. A população, de modo geral, vive do comercio informal, numa contínua luta pela sobrevivência.

A pandemia da COVID-19

O contexto grave de pandemia que estamos atravessando, ainda que crítico em nível global, assume feições muito específicas em muitas regiões. No entanto, podemos afirmar que os mais pobres são os que mais imediatamente sofrem as consequências. quando o Brasil se tornou independente. Como Angola está enfrentando essa realidade?

Logo no início da pandemia, Angola fechou o espaço aéreo e as  suas fronteiras, restringiu o acesso ao seu território, mantendo um controle bastante rigoroso. Essas medidas, com certeza ajudaram ao país a proteger o seu povo.

Nós, que viajamos para visitar nossos familiares no Brasil em março, só conseguimos retornar para Angola em setembro em um vôo humanitário. Ao chegarmos aqui em Luanda, ficamos em isolamento durante 7 dias e, após realizar o teste rápido e o mesmo ter resultado negativo, fomos  autorizadas seguir para as nossas residências.

O rigor nas medidas de isolamento sanitário continua. Quem precisa  sair de Luanda tem que fazer o teste rápido do Covid-19. E o cidadão tem que pagar para fazê-lo. Isto complica muito, pois o teste é muito caro e  população não tem dinheiro. Esta semana, o governo de Angola tomou a decisão arcar com parte dos custos dos exames, visando facilitar  o acesso ao teste.

Segundo as estatísticas, em Angola até agora foram 270 mortes e o número de casos não chega a 10 mil. Claro que há fortes indícios de subnotificação ou de controle das notícias que dão acesso à situação pelos meios de comunicação.

Porém, temos que reconhecer que os esforços têm dado bom resultado. Diante de tantos desafios, com a falta de quase tudo, especialmente de acesso a direitos essenciais, estamos conseguindo passar por uma pandemia “com resultados positivos”. Alguns chegam a dizer que “é um milagre”, outros que “Deus é africano”.

Um pouco sobre a nossa presença aqui

Registro de uma roda de catequese numa aldeia repleta de imponentes Baobás.

Nós, Irmãs de Jesus na Eucaristia, estamos em Angola, numa aldeia que fica na província de Kuanza-Norte, na periferia de Luanda, no município do Cazenga. E, juntamente, com outros missionários e missionárias, testemunhamos gestos muito bonitos de solidariedade e partilha. 

Nas aldeias, a população é composta de lavradoras (es), e sobretudo nas celebrações eles partilham um pouco de tudo que colhem nas lavras: banana da terra, mandioca, batata- doce, berinjelas, quiabo, limão etc.

Na capital, Luanda destaco o trabalho da Cáritas, que tem trazido sacos de pães, para que partilhemos com as crianças. É muito lindo ver os seus rostos com sorrisos, de saber que além da atenção receberão também o pão.

Gesto de partilha do pão. Promovido pelo Cáritas.

O gesto de Jesus narrado nos Evangelhos se concretiza entre nós: Ele se compadece da multidão faminta e desamparada como ovelhas sem pastor. E depois de ensinar-lhe muitas coisas, pergunta aos discípulos: O que tendes? E a partir de um menino que tem ali alguns pães e uns peixinhos, ordena: Dai-lhes vós mesmos de comer! (cf. Mc 6, 37).

A pandemia infelizmente não acabou e a vacina ainda não chegou.  Desse modo, os cuidados e a solidariedade permanecem. As escolas estão retomando pouco a pouco suas atividades, as Igrejas igualmente. O transporte funciona com número restrito de passageiros. O uso de máscara é obrigatório. E assim vamos seguindo em frente, cada dia renovando a fé e a esperança de dias melhores: “Olhamos o passado com gratidão, vivendo o presente com alegria e sonhamos o futuro com esperança.”Termino esta primeira partilha recordando o trecho de um canto de Gonzaguinha que todo conhecem no Brasil: “Eu fico com a pureza da resposta das crianças. É a vida, é bonita e é bonita. Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz

Na próxima partilha, falarei mais diretamente do conteúdo de nossa missão: como viemos para cá, o que fazemos aqui, o que aprendemos e, sobretudo, o que nos sustenta e alimenta a nossa esperança.

Referência e sugestão de leitura:

MUACA, Andre Eduardo. Breve história da evangelização de Angola. Luanda, 2ª edição,1999.

Para conhecer um pouco da história de Angola:

Ir. Joelma Damasceno Santana, no centro.

Ir. Joelma Damasceno Santana, IJE

Irmã de Jesus na Eucaristia

Província de Kuanza-Norte, Luanda, Angola – África

]]>
36059