Um momento importante do primeiro dia da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB tem sido a Análise de Conjuntura social e eclesial, elaboradas por uma equipe de assessores e assessoras, que destacam que não representa a opinião da Conferência.
Análise de conjuntura social
Com o título “O Povo de Deus sofre com a doença e a fome”, a análise de conjuntura social apresentada aos bispos do Brasil aponta para a realidade de um país profundamente atingido pela pandemia da Covid-19, que oficialmente está próximo de 13,5 milhões de casos e já superou os 353 mil mortos.
Estamos diante de uma crise com muitas faces, consequência da primazia do dinheiro e das finanças, que tem provocado “uma gravíssima pandemia” que coloca a prova a sobrevivência da humanidade, e que ameaça com um repetir de modo ainda mais grave. A crise sanitária tem impactado nas diversas dimensões da sociedade, provocado um mundo em mudança.
A análise relata como vem se desenvolvendo o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil, com longas filas de espera e trabalhadores com uma carga excessiva de trabalho. Diante dessa realidade o texto destaca “a importância da vacina e do distanciamento social para a superação da pandemia”, junto com o uso de máscaras. A vacinação está “muito aquém do necessário”, o distanciamento social “nunca foi feito de forma plena e organizada em todo o país”.
No Brasil, a crise econômica e sanitária estão profundamente relacionadas. Se faz necessário investimentos públicos e fomento à economia, para se evitar um colapso econômico cada vez mais próximo, que vai se traduzir em fome, miséria e desesperança, uma realidade presente nas periferias das grandes cidades. No campo da economia também tem se dado uma grave desvalorização do real, consequência do fato de que nos últimos meses o Brasil se tornou o epicentro da pandemia. Isso favorece as exportações, principalmente do agronegócio, mas tem elevado o preço dos produtos importados, dos itens mais presentes na vida dos mais pobres, a inflação e os juros.
A pergunta que surge na análise é o efeito das medidas que estão sendo tomadas no campo econômico, mas também os efeitos no meio ambiente. Junto com isso o desemprego bateu recordes ao final de 2020 na maioria dos estados brasileiros. Esse “terrível quadro econômico do ano passado não foi pior, em parte, por conta da política fiscal adotada para mitigar os efeitos da pandemia”, mas o PIB e a dívida externa estão numa situação muito complicada. Uma das mais graves consequências disso é a fome, que atinge a 19,1 milhões de brasileiros, com mais da metade da população sem segurança alimentar. As perspectivas, após “a catastrófica gestão da pandemia e da economia”, são pouco alentadoras, com “ausência de crescimento econômico (exceto para alguns setores), junto com considerável inflação ao consumidor”.
O texto entregue aos bispos afirma que o Brasil mudou, algo que se faz visível na conjuntura política, no aumento das possibilidades de comunicação, surgindo o fenômeno da psicopolítica, que “o fluxo contínuo da comunicação, a instabilidade da emoção, não permitindo a reflexão, o racionalismo”. Isso se traduz numa difícil relação entre política e cultura e as dificuldades enfrentadas pelo sistema democrático, cimentado em “relações de mando e subserviência”, se fazendo cada vez mais evidente o que texto chama de “uma paixão pela ignorância”, também chamado de “ódio à inteligência, ao conhecimento, à ciência, ao esclarecimento, ao discernimento”, se fazendo um “uso elitista do conhecimento”.
A educação, junto com a cultura, também se tornou uma dificuldade no Brasil. Tem aparecido distintos universos culturais, que tem motivado “uma perda do respeito pelo mundo da cultura e da educação, o maior alicerce da esfera pública”. Essa realidade, que já estava em crise, piorou muito com a pandemia. O texto analisa a figura do atual presidente, Bolsonaro, que denomina como “um entrave para a superação da crise”, com postura de hostilidade à ciência e a volta de um messianismo anticomunista. Frente a isso surge o fator Lula, que retornou ao cenário político e à corrida eleitoral, provocando “notória mudança política do governo federal”. Junto com isso, a análise destaca a grande presença militar no atual governo.
O texto conclui relatando a postura do governo federal e do presidente diante da pandemia, que desde o início procurou minimizar a doença e desrespeitar as vítimas; descumprir o isolamento social e o uso de máscaras; incentivar o uso de medicamentos sem eficácia científica comprovada; realizar uma má gestão da área da saúde; criar desavenças com governadores, prefeitos e instituições da sociedade civil. A análise afirma que “muitas mortes e sofrimento de famílias poderiam ter sido evitados”. Diante disso, as propostas são: vacinação com a maior velocidade possível, distanciamento social e auxílio emergencial. Diante de um quadro “de fome, doença e de desgoverno” a proposta é de “maior unidade com uma profunda e resistente união do coro dos lúcidos”, construindo pontes e diálogos, “tarefa dos cristãos e de todas as pessoas de boa-fé”.
Veja abaixo o texto completo:
Análise de conjuntura eclesial
A análise de conjuntura eclesial teve como ponto central a sinodalidade, que promove uma experiência de comunhão e participação. De fato, pode ser considerada como uma reflexão teológica sobre essa dimensão. O ponto de partida foi o Magistério do papa Francisco, para quem esse é “o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”, uma proposta de “caminhar juntos”, em chave missionária, que tem como fundamento teológico a infalibilidade in credendo de todo o povo de Deus, o sensus fidei e o consensus fidelium, o que faz de cada batizado um “sujeito ativo da evangelização”.
O Santo Padre vê a sinodalidade como “dimensão constitutiva da Igreja”, da qual surge o “dinamismo de comunhão que inspira todas as decisões eclesiais”, que tem como base a escuta e a decisão de entrar num processo. A realização da sinodalidade começa nas igrejas particulares e continua nas regiões eclesiásticas e conferências episcopais, chegando finalmente ao âmbito da Igreja universal.
A teologia da sinodalidade do papa Francisco tem como base a inspiração do Espírito Santo, algo que no Sínodo para a Amazônia quis fazer visível nos “momentos de silêncio que Francisco introduziu na Aula do Sínodo, durante as Assembleias, após cada cinco Intervenções”. Essa sinodalidade não pode fugir do discernimento e da escuta, e tem que ter um forte caráter missionário, com consequências ecumênicas e para o serviço cristão à sociedade. O Papa adverte, enfatiza o texto, sobre os equívocos e riscos nos processos sinodais, o primeiro e fundamental, é vê-lo “como um Parlamento”.
Partindo da doutrina do Concilio Vaticano II, o texto faz uma análise da realidade brasileira, onde as Assembleias Diocesanas de Pastoral tornaram-se mais comuns que os Sínodos Diocesanos. São relatados alguns eventos e realidades sinodais, como as Comunidades eclesiais de base – CEBs e os encontros intereclesiais, e as assembleias da CNBB em diferentes níveis. Junto com isso, faz uma análise da produção teológica sobre a sinodalidade, cada vez mais abundante.
Sobre o autor:
Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.
Confira, a seguir, a versão em espanhol:
Sufrimiento con la enfermedad y el hambre y Sinodalidad marcan Análisis de coyuntura en la 58ª Asamblea de la CNBB
Un momento importante de la primera jornada de la 58ª Asamblea General de la Conferencia Nacional de los Obispos de Brasil – CNBB ha sido el análisis de coyuntura social y eclesial, elaborado por un equipo de asesores, que destacan que no representa la opinión de la Conferencia.
“El Pueblo de Dios sufre con la enfermedad y el hambre”. Ese es el título del análisis de la situación social presentado a los obispos de Brasil que nos muestra la realidad de un país profundamente golpeado por la pandemia del Covid-19 que oficialmente se acerca a los 13,5 millones de casos y ya ha superado las 353.000 muertes.
Estamos ante una crisis con muchas caras, consecuencia de la primacía del dinero y las finanzas, que ha provocado “una gravísima pandemia” que pone a prueba la supervivencia de la humanidad, y que amenaza con repetirse de forma aún más grave. La crisis sanitaria ha impactado en las diferentes dimensiones de la sociedad, provocando un mundo en cambio.
El análisis informa de cómo se ha desarrollado el mayor colapso sanitario y hospitalario de la historia de Brasil, con largas filas de espera, trabajadores de la sanidad con una carga de trabajo excesiva. Frente a esta realidad, el texto destaca “la importancia de la vacuna y el distanciamiento social para superar la pandemia”, junto con el uso de mascarillas. La vacunación está “lejos de ser la necesaria”, el distanciamiento social “nunca se ha hecho de forma completa y organizada en todo el país”.
En Brasil, la crisis económica y la crisis sanitaria están profundamente correlacionadas. Son necesarias las inversiones públicas y el fomento de la economía para evitar un colapso económico cada vez más cercano, que se traducirá en hambre, miseria y desesperanza, una realidad presente en las periferias de las grandes ciudades. En el ámbito de la economía también se ha producido una grave devaluación del real, consecuencia de que en los últimos meses Brasil se ha convertido en el epicentro de la pandemia. Esto favorece las exportaciones, especialmente de la agroindustria, pero ha elevado el precio de los productos importados y de los artículos más presentes en la vida de los más pobres, la inflación y los tipos de interés.
La cuestión que se plantea en el análisis es el efecto de las medidas económicas que se están adoptando en el ámbito económico, pero también los efectos sobre el medio ambiente. Junto a esto, el desempleo batió récords a finales de 2020 en la mayoría de los estados brasileños. Este “terrible panorama económico del año pasado no fue peor, en parte, por la política fiscal adoptada para mitigar los efectos de la pandemia”, pero el PIB y la deuda externa están en una situación muy complicada. Una de las consecuencias más graves es el hambre, que afecta a 19,1 millones de brasileños, con más de la mitad de la población sin seguridad alimentaria. Las perspectivas, tras “la catastrófica gestión de la pandemia y de la economía”, no son muy alentadoras, con “ausencia de crecimiento económico (salvo en algunos sectores), junto con una considerable inflación para los consumidores”.
El texto entregado a los obispos afirma que Brasil ha cambiado, algo que es visible en la coyuntura política, en el aumento de las posibilidades de comunicación, surgiendo el fenómeno de la psicopolítica, afirmando que “el flujo continuo de la comunicación, la inestabilidad emocional, no permitiendo la reflexión, el racionalismo”. Esto se traduce en una difícil relación entre la política y la cultura y en las dificultades a las que se enfrenta el sistema democrático, cimentado en “relaciones de mando y sumisión”, haciéndose cada vez más evidente lo que el texto llama “una pasión por la ignorancia”, también llamada “odio a la inteligencia, al conocimiento, a la ciencia, a la ilustración, al discernimiento”, haciendo un “uso elitista del conocimiento”.
La educación, junto con la cultura, también se ha convertido en una dificultad en Brasil. Han aparecido diferentes universos culturales, lo que ha motivado “una pérdida de respeto por el mundo de la cultura y la educación, el mayor fundamento de la esfera pública”. Esta realidad, que ya estaba en crisis, empeoró mucho con la pandemia. El texto analiza la figura del actual presidente, Bolsonaro, al que califica de “obstáculo para la superación de la crisis”, que ha hecho realidad una política marcada por la militarización, por querer hacer la voluntad del pueblo, el mesianismo, la hostilidad a la ciencia y el anticomunismo. Enfrente está el factor Lula, que ha vuelto a la carrera electoral, y ha provocado “el notorio cambio político del gobierno federal”. Junto a esto, el análisis destaca la gran presencia militar en el actual gobierno.
El texto concluye relatando la postura del gobierno federal y del presidente frente a la pandemia, que lo ha llevado a minimizar la enfermedad y a no respetar a las víctimas; a no cumplir el aislamiento social, el uso de mascarillas, y ha fomentado el uso de medicamentos sin eficacia científica comprobada; a realizar una mala gestión del área de salud; a crear desencuentros con gobernadores, alcaldes e instituciones de la sociedad civil. El análisis afirma que “se podrían haber evitado muchas muertes y el sufrimiento de las familias”. Ante esto, las propuestas son: vacunas y vacunación con la mayor rapidez posible; distanciamiento social; ayuda de emergencia. Ante una situación “de hambre, enfermedad y desgobierno” se propone “más unidad y una unión profunda y resistente del coro de los lúcidos”, tendiendo puentes y dialogando, “tarea de los cristianos y de todas las personas de buena fe”.
El análisis de la situación eclesial tuvo como punto central la sinodalidad, que promueve una experiencia de comunión y participación. De hecho, puede considerarse una reflexión teológica sobre esta dimensión. El punto de partida ha sido el Magisterio del Papa Francisco, para quien este es “el camino que Dios espera de la Iglesia del tercer milenio”, una propuesta para “caminar juntos” en clave misionera, que tiene como fundamento teológico la infalibilidade in credendo de todo el pueblo de Dios, el sensus fidei y el consensus fidelium, que hace de todo bautizado un “sujeto activo de la evangelización”.
El Santo Padre ve la sinodalidad como “una dimensión constitutiva de la Iglesia”, de la que surge el “dinamismo de comunión que inspira todas las decisiones eclesiales”. La realización de la sinodalidad comienza en las iglesias particulares y continúa en las regiones eclesiásticas y en las conferencias episcopales, llegando finalmente al nivel de la Iglesia universal.
La teología de la sinodalidad del Papa Francisco se basa en la inspiración del Espíritu Santo, algo que en el Sínodo para la Amazonía quiso hacer visible en los “momentos de silencio que Francisco introdujo en el Aula Sinodal, durante las Asambleas, después de cada cinco intervenciones”. Esta sinodalidad no puede dejar de lado el discernimiento y la escucha, y debe tener un fuerte carácter misionero, con consecuencias ecuménicas y de servicio cristiano a la sociedad. El Papa advierte, subraya el texto, sobre los errores y riesgos en los procesos sinodales, el primero y fundamental, el verlo “como un Parlamento”. Partiendo de la doctrina del Concilio Vaticano II, el texto hace un análisis de la realidad brasileña, donde las Asambleas Pastorales Diocesanas han sido más comunes que los Sínodos Diocesanos. Se informa de algunos eventos y realidades sinodales, como las comunidades eclesiales de base – CEBs y los encuentros intereclesiales, y las asambleas de la CNBB a diferentes niveles. Junto a ello, se analiza la producción teológica sobre la sinodalidad, que es cada vez más abundante.