Depois de 33 anos no Brasil, onde chegou ainda sendo seminarista, o padre Norberto Foester, missionário do Verbo Divino, nascido na Alemanha, acaba de ser nomeado pelo papa Francisco bispo de Ji-Paraná, no estado de Rondônia. Ele vê sua nova missão episcopal como continuidade de uma caminhada, onde assumiu diferentes serviços na sua congregação, em dioceses do estado de São Paulo e na diocese de Humaitá, no estado de Amazonas.
Ele quer viver seu novo ministério no meio do povo, acompanhando a vida das comunidades, fazendo realidade “uma Igreja de Francisco, pobre, samaritana, misericordiosa, missionária, no meio do povo que a gente tem”. Por isso destaca a importância de escutar o povo mais simples, que muitas vezes são os que melhor entendem o Evangelho.
O novo bispo sabe da importância e das ameaças da Amazônia, sobretudo o garimpo, o desmatamento, o agronegócio e os agrotóxicos, sinais “de um capitalismo insaciável, que simplesmente vem para destruir” a vida dos povos da Amazônia e a casa comum. Aí se torna importante o compromisso da Igreja na defesa desses povos, uma missão eclesial onde destaca a necessidade de “reforçar o protagonismo leigo”, e com eles pensar juntos o caminho a seguir, em espírito sinodal, ouvindo as pessoas, que cada vez precisam mais ser ouvidas. É com elas que ele quer aprender, “ser um bispo que vai numa pequena comunidade, talvez agora mais de agricultores, e depois fala na catedral aquilo que esta pequena comunidade rural entendeu sobre o Evangelho”.
Confira a entrevista:
1. O senhor nasceu na Alemanha, mas já tem mais de meia vida morando no Brasil. O que ainda conserva da sua condição de alemão e o que foi assimilando da vida e cultura do povo e da Igreja brasileira?
Isso é difícil dizer, o que eu conservo da minha cultura alemã. Eu cheguei aqui em outubro de 1987, eu ainda era seminarista. Com a comida, eu não tive problema nenhum, porque na Alemanha, a mãe fazia todo dia batata em água salgada, e outras coisas, e aqui, o arroz e feijão, para mim, era muito bom. Com a cultura também, eu acho que deu para a gente logo se inculturar.
Da Alemanha, o que a gente guarda são as amizades, que são amizades muito fieis, eu lembro que eu tinha uns dezoito, vinte anos, tínhamos um pequeno grupo de oração, de jovens, e quando eu vou para Alemanha, a gente se encontra até hoje, foi algo que nos marcou, e essas amizades, com vivências profundas, talvez fazem parte da cultura da Alemanha, e isso a gente conserva até hoje. Mas ao longo dos anos, a gente ganhou amigos aqui no Brasil também.
No fundo, já na Alemanha, eu achei o caminho da Igreja no Brasil, e o jeito de ser Igreja, bem mais interessante do que o jeito da Igreja na Alemanha. A gente já lia os livros do Leonardo Boff, do Clodovis Boff, e de outros, do Gustavo Gutierrez, e ficou fascinado com esta Igreja. De maneira, que ante de vir para o Brasil quando eu concluí a minha formatura, eu já vim só para saber no fundo se a Igreja no Brasil era isso que estava escrito nos livros. De fato, não era, mas o jeito como era, eu achei muito bonito também. Isso me motivou depois para entrar na congregação e vir para cá.
2. O senhor chegou como seminarista no Brasil a acaba de ser nomeado bispo, tem feito um percurso como seminarista, como padre e agora enfrenta uma nova caminhada como bispo. O que significa esta nomeação?
No fundo é uma continuidade. Eu já tinha terminado a teologia na Alemanha, deu este pequeno desajuste de tempo, porque na Alemanha, duas vezes quase fui convidado a sair da congregação. Eu vim para uma experiência missionária que se transformou em destino de missão. Era justamente talvez também, entre a Igreja na Alemanha, nosso seminário lá, e a Igreja aqui no Brasil, o estilo que talvez lá não se aceitava muito. Eu comecei a trabalhar na periferia, na Zona Leste, na São Marcos, naquele triângulo São Paulo, Mauá, Santo André, naquele tempo um bairro de metalúrgicos, de certa maneira bairro dormitório, eles trabalhavam mais nas grandes empresas automobilísticas em São Bernardo, etecetera.
Várias comunidades tinham nomes de mártires do povo, Santo Dias, o padre Antônio Merloth, que era um missionário Verbita, que morreu num acidente de moto, não foi atendido porque não tinha carteira, nem um plano de saúde, foi colocado dentro da sala de limpeza do que seria hoje uma UBS e morreu praticamente lá, o frei Tito. Estas comunidades que tem nomes de mártires, que hoje já foram renomeadas, isso já fazia parte da caminhada da gente, e a esta Igreja, no fundo, a gente quis ser fiel.
Eu lembrei nesses dias ainda, eu fui ordenado pelo bispo verbita, Dom José Aparecido Dias, que era naquele tempo bispo de Registro e depois foi transferido para Roraima. Eu lembro que no dia da minha ordenação, na homilia dele, ele falou aquilo que pescadores de Cananeia tinham comentado com ele no círculo bíblico no domingo anterior. Quando ouvi isso, eu já sonhei, eu gostaria de ser como padre um bom pastor, como este que realmente escuta o que o povo diz e acompanha seu povo com simplicidade e humildade. Quando chegou o convite, no fundo pensei em ser este tipo de bispo, ou para ser bispo como Dom Antônio Possamai, que foi bispo lá em Ji-Paraná para onde eu fui nomeado, um bispo que caminha realmente junto com o povo, que tenta tudo para organizar o povo em comunidades.
Isso pode ser chamado de Deus, e isso eu quero realmente, nesta caminhada eu quero entrar. Eu liguei lá para a diocese de Ji-Paraná, e eu não sei realmente quantas paróquias tem, mas o administrador diocesano me disse que lá tem mil cento e tantas comunidades na diocese. A gente espera poder caminhar com esse povo e lá no meio deles poder ser um bom pastor. Da maneira que Francisco fala, o bom pastor as vezes caminha na frente, as vezes caminha no meio e as vezes caminha atrás, levando a ovelha mais enfraquecida, mais vulnerável, acompanhando ela. É um pouco esse sonho, de uma Igreja de Francisco, pobre, samaritana, misericordiosa, missionária, no meio do povo que a gente tem.
Isso eu não vejo uma ruptura, eu vejo uma continuidade. Eu sei que muita gente entende o chamado para ser bispo como uma promoção na carreira, mas eu acho que não é isso, é uma outra maneira de tentar se colocar, junto com o Povo de Deus, ao serviço do Reino de Deus.
3. O senhor tem trabalhado durante toda sua missão como padre no Brasil com o povo da periferia, também na Amazônia, onde acompanhou as comunidades ribeirinhas, indígenas. Quais os sinais do Evangelho que o senhor tem descoberto na caminhada, na vida pastoral com esse povo?
Sentia, vivia, na convivência, nas casas e nas celebrações, que Deus realmente está presente no meio do povo, tanto aqui nas comunidades e bairros operários, no início, como depois em Registro, foi assim também. Naquele tempo a Igreja era muito criativa, ainda, nos últimos anos houve uma certa romanização, a Igreja se tornou um pouco mais uma Igreja Católica Apostólica Romana, com maiúscula. Naquele tempo tinha mais espaço para a criatividade, e este poder celebrar a alegria do Evangelho criativamente, e o que as pessoas criaram, foi o espirito que ensinou, e a gente, simplesmente, no meio disso.
Lá na diocese de Registro também, onde são pescadores, gente que planta bananas, no meio daquele povo foi algo muito bonito também. Aquilo que Dom Aparecido fez, Salomão pede um coração de escuta, se você tem um coração de escuta, você escuta muita coisa da sabedoria, de gente que muitas vezes nem sabe ler e escrever, mas descobre o Evangelho de uma maneira que a gente, depois de tantos estudos, não ia chegar ao ponto que estas pessoas chegam de perceber o que Jesus quer dizer. Essa experiência eu fiz muitas vezes, como essas pessoas descobrem, até melhor do que eu, o que Jesus quer dizer.
Nas comunidades ribeirinhas de Humaitá, no início era um povo desconfiado, o que dá para entender, pois os ribeirinhos, ao longo do Rio Madeira, as vezes são vistos como gente de segunda categoria pelo pessoal da cidade. Eles desconfiam um pouco do padre, lá a pergunta fundamental é, ele vai batizar o meu filho, ou ele vai dizer, não, você não é casado na Igreja, alguma coisa está errada, você tem que participar mais da comunidade. Às vezes, no início, é um pouco uma relação de medo, mas esses quatro anos nas comunidades ribeirinhas do Amazonas, em que a gente vivia mais no barco do que em terra, era uma experiência única, me deu muita paz no meu coração. A própria paisagem, a vida desacelera, não tem outro jeito, o calor, você tem que desacelerar, senão você fica doente, mas foi uma experiência muito boa. Com as pessoas lá, a maneira de receber a gente, de viver a fé, a gente aprendeu muito.
Agora estou aqui na zona Leste, e neste tempo de Covid o povo de rua está aumentando muito, pessoas que vivem na favela foram desempregadas, estão passando por momentos difíceis, e aqui na paróquia é incrível os grupos que se criam para fazer marmitas, sopão, para o povo de rua, e tudo isso espontaneamente. Não é só passar a comida para a pessoa e ir embora, mas encontrar estas pessoas, ouvir a história deles, a gente percebe que estes meses, esta solidariedade, mudou a vida de muitos daqueles que são solidários, eles descobriram uma nova dimensão da sua vida. Isso não parte da gente, isso parte das pessoas que estão aqui, e a gente está simplesmente no meio disso, e percebendo isso, e com muita felicidade, porque isso é realmente a alegria do Evangelho.
4. O senhor tem sido nomeado bispo para a Amazônia, que nos últimos anos ficou no foco da sociedade mundial, mas também da Igreja universal. O que significa a Amazônia, onde o senhor tem sido missionário, na diocese de Humaitá, para o mundo e para a Igreja?
A Amazônia é um lugar disputado, economicamente também, tem minerais e outras coisas. Não tem terra boa para plantar soja, porque a terra é fraca. Na Amazônia, pelo menos lá onde eu vivi, no Amazonas, a terra é uma terra muito fraca, a vida não está na terra, a vida está na copa das árvores, e lá caem as frutas, os bichos mortos, que gera uma camada de terra boa, onde você pode plantar. Você desmatando, você tira aquilo que no futuro vai dar a terra boa para você plantar, destrói aquilo que você quer fazer. Então, em pouco tempo, a gente tem medo que a Amazônia vai virar deserto, pois a terra como tal, sem as copas das árvores, não é fértil, e se você desmatar, tira as copas das árvores, você condena o solo à morte também.
É um sinal de um capitalismo insaciável, que simplesmente vem para destruir. Vem para destruir também povos indígenas, quilombolas, que estão lá onde estão os minérios e que estão sendo expulsos das suas terras. Nós acompanhamos nos últimos anos uma militarização da Amazônia também, a gente via garimpeiros, mas eram os pequenos garimpeiros, agora vem as dragas e trabalham destruindo mesmo. Onde eu vou agora, pelo que eu sei, Ji-Paraná não é tanto o rio, é o desmatamento, é muita soja, e não só isso, o governo Bolsonaro liberou muitos agrotóxicos que em outros países são proibidos, porque danificam a natureza e a vida humana também.
Esses venenos são jogados com pequenos aviões em grandes campos de soja, os donos desses campos não moram lá, moram na cidade, mas os pequenos agricultores, que moram encravados entre estes venenos em suas casas, em suas plantações, e vão ter dificuldade de sobreviver. Nos rios que existem estão sendo feitas hidroelétricas, que acabam com o espaço de vida dos povos indígenas que vivem lá, eles não encontram mais peixe no rio, e tudo isso tem novos desafios do agronegócio contra a agricultura familiar. Isto é um problema não só naquela região, isto é um problema mundial. Quem garante a alimentação do povo brasileiro não é o agronegócio, o agronegócio produz soja que vai para China, para Estados Unidos, mas quem garante o alimento é a agricultura familiar e lá onde o Movimento Sem Terra começou a plantar.
É aí que a Igreja deve se colocar ao lado dos pequenos agricultores. Jesus, quando estava na sinagoga de Nazaré, ele diz que o Espirito do Senhor está sobre mim para proclamar um ano de graça do Senhor. O ano de graça poderíamos dizer que hoje é a reforma agraria, que tudo foi distribuído para a família poder plantar. É mais nesta linha, de estar junto com esse povo, anunciando o Evangelho, tentando se organizar, tentando ser comunidade, e vendo na Eucaristia a graça de Deus, escutando a Palavra de Deus junto, escutando o que Deus diz para nossos tempos, que a gente vai trabalhar lá.
No momento, o mundo inteiro está olhando para a Amazônia, tem fortes interesses econômicos aqui, em detrimento da casa comum, em detrimento dos povos tradicionais que vivem naquelas terras, em detrimento, de certa maneira, de toda a humanidade. Porque matando lideranças indígenas velhas, você queima uma biblioteca, porque as vezes, eles não têm nada por escrito, mas eles têm a sabedoria, a tradição oral, e a humanidade precisa dessa tradição, dessa sabedoria. É muito importante para a humanidade toda, e algumas forças da globalização estão lá para destruir. A Igreja católica é uma força global também, e a gente pode pensar em uma outra economia, como o Papa Francisco fez agora, uma economia de Francisco, não do Papa Francisco, mas de São Francisco, de partilha e vida para todos.
5. O senhor fala que na diocese de Ji-Paraná tem mais de mil e cem comunidades. O Papa Francisco insiste muito na importância dos leigos e na Querida Amazônia insiste no grande trabalho que os leigos, especialmente as mulheres, fazem nas comunidades da Amazônia. Como ajudar a potenciar e reconhecer esse grande trabalho que vem sendo feito pelos leigos, especialmente pelas mulheres, e como isso pode ajudar a construir os novos caminhos que o Sínodo para a Amazônia tem como objetivo?
Se tem tantas comunidades é porque tem tantas lideranças, lideranças leigas, muita gente, provavelmente a maioria, lideranças leigas femininas. A minha missão é, em primeiro lugar, reforçar o protagonismo leigo, cuidar também um pouco, porque uns leigos fortes não apagam o nascimento e o crescimento de outros leigos e leigas. Isso a gente vê as vezes, isso não é bom, tem pessoas leigas que são um guarda-chuva que você tem aceso a outras pessoas somente por eles, isto não é bom. Temos que deixar todas as leigas e leigos crescer, procurar novas lideranças e tentar deixar o espaço para eles, e procurar juntos caminhos para ver como esse espaço pode ser maior. Não sou eu, com as minhas ideias, mas são as próprias lideranças leigas também, que junto com a gente, vão pensar isso e fazer propostas.
Aquele grupinho de oração que eu falei, quando eu era jovem, que certamente é o berço da minha vocação, foi liderando por duas jovens naquele tempo. Uma me escreveu agora, me dando os parabéns e dizendo que isso era a coroação do nosso grupo de oração daquele tempo, e eu não gostei muito. Essa outra liderança feminina, ela se tornou, em Alemanha existe isso, assistente de pastoral, uma liderança leiga paga pela Igreja católica. Para mim, esta mulher é tão importante como eu mesmo, não tem importância nenhuma se alguém é assistente de pastoral e o outro é bispo. Juntos estamos tentando seguir nosso senhor Jesus Cristo, com a nossa vida, servindo ao Reino de Deus.
Eu fiquei um pouquinho triste, dizendo que a gente coroa esse caminho e a outra pessoa não. A pessoa que escreveu isso, ela é assistente social, e eu sei que ela tentou tratar muito bem as pessoas por causa da sua fé. Um outro rapaz tem um filho com deficiência, muito paciente com ele, muito carinhoso, e certamente também inspirado naquilo que nós descobrimos em nosso grupo de oração sobre Jesus Cristo. Esta hierarquia, ela tem que ser revista com o tempo, ela não é só na estrutura da Igreja, ela anda também na nossa própria mente, e isso não é bom.
O bispo tem certa autoridade, mas a autoridade entra em campo quando alguém não vive mais fiel a Jesus Cristo, quando a gente não cumpre mais o seu carisma. É nós procurando juntos os novos caminhos, e aí, uma vez que tem pouco clero, nós somos obrigados a procurar esses novos caminhos. Mas não só por causa disso, não é porque vai ter mais clero que esse espaço vai ser reduzido de novo, á algo que faz parte do próprio ser Igreja fiel a Jesus Cristo.
6. Essa seria a Igreja sinodal, que o Papa Francisco propõe como o jeito de ser Igreja no século XXI. A pandemia, que tem dificultado esse trabalho pastoral e de presença física do padre na vida do povo, pode ter nos ensinado a trabalhar ainda mais essa dimensão da sinodalidade. Diante da realidade que estamos vivendo e olhando para o futuro, como pode ser trabalhada essa sinodalidade na vida da Igreja?
A pandemia, ela me levou a não ficar em casa, eu visito muitas casas, nunca fiz tantas visitas como neste tempo da pandemia. Muitas vezes a gente fica no portão da casa, as vezes a gente entra, tem uma necessidade de ser ouvido, muito maior talvez do que em outros tempos. Às vezes a gente não pode chegar na casa, então a gente liga para ver como estão as coisas, e incentiva o povo de Deus a fazer a mesma coisa, a intensificar os laços entre nós. Não é só o padre que tem que fazer isso, todos nós, a gente não pode mais se visitar fisicamente, mas nós temos o WhatsApp para a gente entrar em contato, para se preocupar com o outro, para criar esses laços humanos, que são a base para a sinodalidade, para ir pelo caminho sinodal.
Sínodo quer dizer, em primeiro lugar, ouvir, e depois refletir e decidir juntos. Certamente, a pandemia aumentou muito a necessidade de ouvir, e muitas pessoas precisam ser ouvidas, porque estão numa certa solidão e à beira de uma depressão. Este caminho de se ouvir é claro que o clero deve fazer, mas também os próprios leigos e leigas entre si, ouvir um ao outro, descobrir quais são os caminhos e ter coragem de decidir e fazer esse caminho. Este tempo de pandemia nos ensinou a necessidade de ouvir um ao outro. Aqui na arquidiocese de São Paulo, o cardeal nos convocou nesses dias, houve já uma fase de escuta nas comunidades, houve expertos que a partir disso elaboraram algumas coisas, e ele avisou que nós vamos voltar às comunidades e paroquias para ouvir mais uma vez. Esse é o caminho mesmo, é o caminho da sinodalidade, e a pandemia nos ensinou isso, a necessidade de ouvir, e também a alegria de ouvir, de aprender um com o outro.
7. Entrevistando um bispo, ele dizia que para ser padre a gente se forma durante vários anos no seminário, e que ser bispo é uma coisa que vem de repente e aos poucos tem que ir aprendendo ser bispo. O que gostaria que marcasse seu ministério episcopal?
Ser uma pessoa no meio do povo. O vigário geral de Ji-Paraná, me diz que as comunidades de Ji-Paraná, especialmente as comunidades rurais, ficaram muito felizes quando leram no meu currículo que eu visitava de barco as pequenas comunidades ribeirinhas em Humaitá. Aí eu falei, mas a ideia é esta, visitar as pequenas comunidades, estar também lá. Ele riu e disse que só que aqui são mil cento e tantas comunidades. Mas mesmo assim, eu acho que o caminho é esse, a gente estar lá no meio deste povo, caminhar com ele, e o que vai marcar depois, é aquilo que vai surgir a partir desta presença, a partir destas acolhidas, a partir deste se animar um ao outro, e o que nós juntos vamos discernir como vontade de Deus.
Eu não posso dizer ainda o que vai ser, mas eu volto ao bispo que me ordenou, a Dom Aparecido, eu quero ser um bispo que vai numa pequena comunidade, talvez agora mais de agricultores, e depois fala na catedral aquilo que esta pequena comunidade rural entendeu sobre o Evangelho. Nesse sentido, caminhar juntos, e isso ser a marca do meu caminho lá. Não é o bispo que define o caminho, acho que somos juntos, também as irmãs que estão lá, os padres que estão lá. Lá tem lideranças leigas muito fortes, Dom Antônio Possamai conseguiu isso, lá não tem só novena do padroeiro, mas eles refletem a Bíblia o ano todo, e tem material para isso. O povo que se reúne em pequenos grupos em volta da Palavra de Deus. Acho que é este o caminho, ir juntos escutando e isto espero que vai marcar o meu caminho.
Sobre o autor:
Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.
A seguir, a versão do texto em espanhol, confira:
Norberto Foester: “Ser un obispo que va a una pequeña comunidad y luego habla en la catedral sobre lo que esta comunidad rural ha entendido del Evangelio”
Después de 33 años en Brasil, donde llegó cuando todavía era seminarista, el padre Norberto Foester, misionero del Verbo Divino nacido en Alemania, acaba de ser nombrado por el Papa Francisco obispo de Ji-Paraná, en el estado de Rondônia, en la Amazonía brasileña. Ve su nueva misión episcopal como una continuación de un camino, donde ha asumido diferentes servicios en su congregación, en diócesis del estado de São Paulo y en la diócesis de Humaitá, en el estado de Amazonas.
Quiere vivir su nuevo ministerio en medio de la gente, acompañando la vida de las comunidades, haciendo realidad “una Iglesia de Francisco, pobre, samaritana, misericordiosa, misionera, en medio de la gente que tenemos”. Por esta razón destaca la importancia de escuchar a la gente más sencilla, que a menudo son los que mejor entienden el Evangelio.
El nuevo obispo conoce la importancia y las amenazas de la Amazonía, especialmente la minería, la deforestación, el agro-negocio y los agro-tóxicos, signos “de un capitalismo insaciable que viene simplemente a destruir” la vida de los pueblos de la Amazonía y la casa común. Aquí es donde el compromiso de la Iglesia de defender a estos pueblos se hace importante, una misión eclesial donde se destaca la necesidad de “fortalecer el protagonismo laico”, y con ellos pensar juntos el camino a seguir, en un espíritu sinodal, escuchando a la gente, que cada vez más necesita ser escuchada. Es de ellos que quiere aprender, “ser un obispo que vaya a una pequeña comunidad, quizás ahora más de campesinos, y luego hable en la catedral de lo que esta pequeña comunidad rural entendió del Evangelio”.
Usted nació en Alemania, pero ya tiene más de media vida viviendo en Brasil. ¿Qué conserva de su condición de alemán y qué ha asimilado de la vida y la cultura del pueblo y de la Iglesia brasileña?
Es difícil decir qué es lo que retengo de mi cultura alemana. Llegué aquí en octubre de 1987, todavía era un seminarista. No tuve problemas con la comida, porque en Alemania, mi madre hacía patatas en agua salada todos los días, y otras cosas, y aquí, el arroz y los frijoles eran muy buenos para mí. Con la cultura también, creo que fui capaz de inculturarme pronto.
Recuerdo que cuando tenía unos dieciocho o veinte años, teníamos un pequeño grupo de oración de jóvenes, y cuando voy a Alemania, nos encontramos hasta hoy, fue algo que nos marcó, y estas amistades, con profundas experiencias, tal vez son parte de la cultura de Alemania, y que mantenemos hasta hoy. Pero a lo largo de los años, también he hecho amigos aquí en Brasil.
En el fondo, ya en Alemania, pensé que el caminar de la Iglesia en Brasil, y la forma de ser Iglesia, era mucho más interesante que el caminar de la Iglesia en Alemania. Leía los libros de Leonardo Boff, Clodovis Boff, y otros, Gustavo Gutiérrez, y me fascinó esta iglesia. Así que, antes de venir a Brasil cuando terminé mi graduación, vine para saber si la Iglesia en Brasil era lo que estaba escrito en los libros. De hecho, no lo era, pero tal como estaba, también me pareció muy hermoso. Eso me motivó más tarde a entrar en la congregación y venir aquí.
Llegó a Brasil como seminarista y acaba de ser nombrado obispo, ha hecho un recorrido como seminarista, como sacerdote y ahora se enfrenta a un nuevo camino como obispo. ¿Qué significa este nombramiento?
Básicamente es una continuidad. Ya había terminado la teología en Alemania, y se dio este pequeño desfase de tiempo, porque en Alemania casi me invitaron dos veces a dejar la congregación. Vine por una experiencia misionera que se convirtió en un destino de misión. Fue quizás también, entre la Iglesia en Alemania, nuestro seminario allí, y la Iglesia aquí en Brasil, un estilo que quizás no fue muy aceptado allí. Empecé a trabajar en la periferia, en la Zona Este de São Paulo, en San Marcos, en ese triángulo São Paulo, Mauá, Santo André, en aquel entonces un barrio metalúrgico, en una especie de barrio dormitorio, trabajaban más en las grandes empresas de automóviles en San Bernardo, etecetera.
Varias comunidades tenían los nombres de mártires del pueblo, Santo Dias, el Padre Antonio Merloth, que era un misionero SVD, que murió en un accidente de moto, no fue atendido porque no tenía cartera, ni plan de salud, fue puesto dentro del cuarto de limpieza de lo que hoy sería una Unidad Básica de Salud y murió prácticamente allí, Fray Tito. Estas comunidades que tenían el nombre de mártires, que hoy han sido rebautizadas, esto ya era parte de nuestro caminar, y a esta Iglesia, en el fondo, quise ser fiel.
En estos días recordaba que fui ordenado por el obispo verbita Monseñor José Aparecido Dias, que era entonces obispo de Registro y luego fue transferido a Roraima. Recuerdo que el día de mi ordenación, en su homilía, habló lo que los pescadores de Cananeia habían comentado con él en el círculo bíblico el domingo anterior. Cuando escuché eso, ya soñé, me gustaría ser como sacerdote un buen pastor, como este que realmente escucha lo que la gente dice y acompaña a su pueblo con simplicidad y humildad. Cuando llegó la invitación, pensé en ser este tipo de obispo, o ser un obispo como Monseñor Antonio Possamai, que fue obispo en Ji-Paraná donde he sido nombrado, un obispo que realmente camina junto con el pueblo, que intenta todo para organizar al pueblo en comunidades.
Esto puede ser llamado de Dios, y esto es lo que realmente quiero, en este camino quiero entrar. Me puse en contacto con la diócesis de Ji-Paraná, y no sé realmente cuántas parroquias hay, pero el administrador diocesano me dijo que hay mil cien comunidades en la diócesis. Espero poder caminar con esta gente y allí en medio de ellos ser un buen pastor. De la forma en que habla Francisco, el buen pastor a veces camina al frente, a veces en el medio y a veces detrás, cargando a las ovejas más débiles y vulnerables. Es un poco como este sueño de una Iglesia de Francisco, pobre, samaritana, misericordiosa, misionera, en medio de la gente que tenemos.
No lo veo como una ruptura, veo una continuidad. Sé que muchas personas entienden la llamada a ser obispo como un ascenso en la carrera, pero creo que no es eso, es otra forma de tratar de situarse, junto con el Pueblo de Dios, al servicio del Reino de Dios.
Usted ha trabajado durante toda su misión como sacerdote en Brasil con la gente de la periferia, también en la Amazonía, donde ha acompañado a las comunidades ribereñas, a los indígenas. ¿Cuáles son los signos del Evangelio que ha descubierto en su caminar, en su vida pastoral con estas personas?
Sentía, vivía, en las casas y en las celebraciones, que Dios está realmente presente en medio de la gente, tanto aquí en las comunidades y barrios operarios, al principio, y más tarde en Registro, fue así también. En ese momento la Iglesia fue muy creativa, en los últimos años ha habido una cierta romanización, la Iglesia se ha convertido un poco más en una Iglesia Católica Apostólica Romana, con mayúsculas. En ese momento había más espacio para la creatividad, y este poder celebrar la alegría del Evangelio de forma creativa, y lo que la gente creó, fue el espíritu que se lo enseñó, y uno simplemente estaba en medio de eso.
En la diócesis de Registro también, donde son pescadores, gente que planta bananas, en medio de esa gente había algo muy hermoso también. Lo que hizo Monseñor Aparecido, Salomón pide un corazón que escuche, si tienes un corazón que escucha, escuchas mucha sabiduría, de personas que a menudo ni siquiera saben leer y escribir, pero descubren el Evangelio de una manera que nosotros, después de tantos estudios, no llegaríamos al punto en que estas personas llegan a entender lo que Jesús quiere decir. Esta experiencia la he hecho muchas veces, cómo esta gente descubre, incluso mejor que yo, lo que Jesús quiere decir.
En las comunidades ribereñas de Humaitá, al principio eran desconfiados, lo que es comprensible, porque los ribereños del río Madeira a veces son vistos como gente de segunda categoría por la gente de la ciudad. Desconfían un poco del sacerdote, la pregunta fundamental es, ¿bautizará a mi hijo, o dirá, no, no estás casado por la iglesia, algo está mal, tienes que participar más en la comunidad? A veces, al principio, es una relación un poco temerosa, pero estos cuatro años en las comunidades ribereñas del Amazonas, donde vivía más en el barco que en tierra, fue una experiencia única, me dio mucha paz en mi corazón. El paisaje en sí mismo, la vida se ralentiza, no hay otro camino, el calor, tienes que ir más despacio, de lo contrario te enfermas, pero fue una experiencia muy buena. Con la gente de allí, la forma de recibirnos, de vivir la fe, aprendí mucho.
Ahora estoy aquí en la zona Este de São Paulo, y en este tiempo de Covid la gente de la calle está aumentando mucho, la gente que vive en la favela se ha quedado desempleada, están pasando por tiempos difíciles, y aquí en la parroquia es increíble los grupos que se crean para hacer marmitas, sopa, para la gente de la calle, y todo esto de forma espontánea. No se trata sólo de dar comida a la persona y marcharse, sino de encontrar a estas personas, escuchar su historia, nos damos cuenta de que estos meses, esta solidaridad, ha cambiado la vida de muchos de los que son solidarios, han descubierto una nueva dimensión de su vida. Esto no ha partido de mí, esto ha partido de la gente que está aquí, y estoy simplemente en medio de ello, y dándome cuenta de esto, y muy feliz, porque esto es realmente la alegría del Evangelio.
Ha sido nombrado obispo para la Amazonía, que en los últimos años se ha convertido en el centro de la sociedad mundial, pero también de la Iglesia universal. ¿Qué significa la Amazonía, donde ha sido misionero, en la diócesis de Humaitá, para el mundo y para la Iglesia?
La Amazonía es un lugar disputado, también económicamente, tiene minerales y otras cosas. No hay una buena tierra para plantar soja, porque la tierra es débil. En la Amazonía, al menos donde yo viví, en el estado de Amazonas, la tierra es muy débil, la vida no está en la tierra, la vida está en la copa de los árboles, de allí caen los frutos, los animales muertos, lo que genera una capa de buena tierra, donde se puede plantar. Deforestando, quitas lo que en el futuro te dará la tierra buena para plantar, destruyes lo que quieres hacer. Entonces, en poco tiempo, temo que la Amazonía se convierta en un desierto, porque la tierra como tal, sin las copas de los árboles, no es fértil, y si se deforesta, se quitan las copas de los árboles, se condena el suelo a la muerte también.
Es un signo de un capitalismo insaciable que simplemente viene a destruir. También viene a destruir a los pueblos indígenas, quilombolas, que están allí donde están los minerales y que están siendo expulsados de sus tierras. En los últimos años también hemos visto la militarización de la Amazonía, veíamos buscadores de oro, pero eran los pequeños buscadores, ahora son dragas y están realmente trabajando para destruir. A donde voy ahora, por lo que sé, en Ji-Paraná no es tanto el río, es la deforestación, es mucha soja, y no sólo eso, el gobierno Bolsonaro ha liberado muchos agro-tóxicos que en otros países están prohibidos, porque dañan la naturaleza y la vida humana también.
Estos venenos son lanzados con avionetas en grandes campos de soja, los dueños de estos campos no viven allí, viven en la ciudad, pero los pequeños agricultores, que viven atrapados entre estos venenos en sus casas, en sus plantaciones, y van a tener dificultades para sobrevivir. En los ríos se están haciendo centrales hidroeléctricas, que acaban con el espacio vital de los indígenas que viven allí, ya no encuentran peces en el río, y todo esto tiene nuevos retos de la agroindustria contra la agricultura familiar. Este es un problema no sólo en esa región, sino que es un problema mundial. No es el agro-negocio el que garantiza la alimentación del pueblo brasileño, el agro-negocio produce soja que va a China, a Estados Unidos, pero es la agricultura familiar la que garantiza la alimentación y es allí donde el Movimiento de los Sin Tierra comenzó a plantar.
Es ahí donde la Iglesia debe situarse al lado de los pequeños agricultores. Jesús, cuando estaba en la sinagoga de Nazaret, dice que el Espíritu del Señor está sobre mí para proclamar un año de gracia del Señor. El año de gracia podríamos decir que hoy es la reforma agraria, que se ha distribuido todo para que la familia pueda plantar. Es más en esta línea, de estar junto a esta gente, anunciando el Evangelio, tratando de organizarse, de ser comunidad, y viendo en la Eucaristía la gracia de Dios, escuchando juntos la Palabra de Dios, escuchando lo que Dios dice para nuestro tiempo, que trabajaré allí.
En este momento, el mundo entero está mirando a la Amazonía, tiene fuertes intereses económicos aquí, en detrimento de la casa común, de los pueblos tradicionales que viven en esas tierras, en detrimento, en cierto modo, de toda la humanidad. Porque al matar a los ancianos líderes indígenas, quemas una biblioteca, porque a veces no tienen nada por escrito, pero tienen la sabiduría, la tradición oral, y la humanidad necesita esa tradición, esa sabiduría. Es muy importante para toda la humanidad, y algunas fuerzas de la globalización están ahí para destruir. La Iglesia Católica es una fuerza global también, y podemos pensar en otra economía, como lo hizo el Papa Francisco ahora, una economía de Francisco, no del Papa Francisco, sino de San Francisco, de compartir y de vida para todos.
Usted dice que en la diócesis de Ji-Parana hay más de mil cien comunidades. El Papa Francisco insiste mucho en la importancia de los laicos y en Querida Amazonía insiste en el gran trabajo que los laicos, especialmente las mujeres, hacen en las comunidades de la Amazonía. ¿Cómo podemos ayudar a potenciar y reconocer esta gran labor que están realizando los laicos, especialmente las mujeres, y cómo puede esto ayudar a construir los nuevos caminos que el Sínodo para la Amazonía tiene como objetivo?
Si hay tantas comunidades es porque hay muchos líderes, líderes laicos, mucha gente, probablemente la mayoría, mujeres líderes. Mi misión es, en primer lugar, fortalecer el liderazgo laico, cuidar también un poco, porque unos laicos fuertes no borran el nacimiento y el crecimiento de otros laicos. Esto lo vemos a veces, esto no es bueno, hay laicos que son un paraguas que se tiene acceso a otras personas sólo a través ellos, esto no es bueno. Tenemos que dejar que todos los laicos crezcan, buscar nuevos líderes e intentar dejarles espacio, y buscar juntos formas de ver cómo este espacio puede ser mayor. No soy yo, con mis ideas, sino los propios líderes laicos, también, quienes junto conmigo, pensarán eso y harán propuestas.
Aquel pequeño grupo de oración del que hablé cuando era joven, que es ciertamente la cuna de mi vocación, fue dirigido por dos mujeres jóvenes en aquel momento. Una de ellas me escribió ahora, felicitándome y diciendo que esta era la coronación de nuestro grupo de oración, y no me gustó mucho. La otra líder femenina, se convirtió, en Alemania existe eso, en asistente pastoral, un liderazgo laico remunerado de la Iglesia Católica. Para mí, esta mujer es tan importante como yo, no importa si alguien es asistente pastoral y el otro es un obispo. Juntos intentamos seguir a nuestro Señor Jesucristo, con nuestra vida, sirviendo al Reino de Dios.
Me quedé un poco triste, diciendo que coroné ese camino y la otra persona no. La persona que escribió esto, es una trabajadora social, y sé que trató de tratar a la gente muy bien, a partir de su fe. Otro tiene un hijo discapacitado, muy paciente con él, muy cariñoso, y ciertamente también inspirado por lo que descubrimos en nuestro grupo de oración sobre Jesucristo. Esa jerarquía, tiene que ser revisada con el tiempo, no sólo está en la estructura de la Iglesia, sino que también está en nuestra propia mente, y eso no es bueno.
El obispo tiene cierta autoridad, pero la autoridad entra en juego cuando alguien ya no es fiel a Jesucristo, cuando ya no cumplimos con nuestro carisma. Somos nosotros los que buscamos juntos los nuevos caminos, y luego, como hay pocos clérigos, estamos obligados a buscar estos nuevos caminos. Pero no sólo por eso, no es porque habrá más clérigos que este espacio se reducirá de nuevo, a algo que forma parte de ser Iglesia fiel a Jesucristo.
Esa sería la Iglesia sinodal, que el Papa Francisco propone como la forma de ser Iglesia en el siglo XXI. La pandemia, que ha dificultado el trabajo pastoral y la presencia física del sacerdote en la vida de la gente, puede habernos enseñado a trabajar aún más en esta dimensión sinodal. Frente a la realidad que estamos viviendo y mirando al futuro, ¿cómo se puede trabajar esta sinodalidad en la vida de la Iglesia?
La pandemia, me ha llevado a no quedarme en casa, visito muchas casas, nunca he hecho tantas visitas como en esta época de la pandemia. A menudo me quedo en la puerta de la casa, a veces entro, tenemos necesidad de ser escuchados, mucho mayor quizás que en otros tiempos. A veces no puedo llegar a la casa, así que llamo para ver cómo están las cosas, y animo al pueblo de Dios a hacer lo mismo, para intensificar los lazos entre nosotros. No es sólo el sacerdote quien tiene que hacer esto, todos nosotros, no podemos visitarnos físicamente, pero tenemos WhatsApp para que nos pongamos en contacto, para preocuparnos unos de otros, para crear esos lazos humanos, que son la base de la sinodalidad, para avanzar en el camino sinodal.
Sínodo significa, en primer lugar, escuchar, y luego reflexionar y decidir juntos. Ciertamente, la pandemia ha incrementado enormemente la necesidad de escuchar, y muchas personas necesitan ser escuchadas, porque están en cierta soledad y al borde de la depresión. Este camino de escucha es claro que el clero lo debe asumir, pero también los propios laicos, escucharse unos a otros, descubrir cuáles son los caminos y tener el coraje de decidir y hacer este camino. Esta época de pandemia nos ha enseñado la necesidad de escucharnos unos a otros. Aquí en la arquidiócesis de São Paulo, el cardenal nos convocó en estos días, ya ha habido una fase de escucha en las comunidades, ha habido expertos que han sacado algunas cosas de esto, y advirtió que volvamos a las comunidades y parroquias para escuchar una vez más. Este es el camino, el camino de la sinodalidad, y la pandemia nos ha enseñado esto, la necesidad de escuchar, y también la alegría de escuchar, de aprender unos de otros.
En una entrevista con un obispo, decía que para ser sacerdote hay que formarse durante varios años en el seminario, y ser obispo es algo que llega de repente y poco a poco hay que aprender a ser obispo. ¿Qué le gustaría que estuviese presente en su ministerio episcopal?
Ser alguien que está en medio de la gente. El Vicario General de Ji-Paraná me decía que las comunidades de Ji-Paraná, especialmente las comunidades rurales, se alegraron mucho cuando leyeron en mi currículum que visitaba en barco las pequeñas comunidades ribereñas de Humaitá. Les dije que la idea es esa, visitar las pequeñas comunidades, estar allí también. Se rio y dijo que allí hay mil cien y tantas comunidades aquí. Pero, aun así, creo que este es el camino, estar en medio de esta gente, caminando con ellos, y lo que marcará después, es lo que surgirá de esta presencia, de esta acogida, de este animarse mutuamente, y lo que discerniremos juntos como voluntad de Dios.
No puedo decir todavía lo que será, pero vuelvo al obispo que me ordenó, a Monseñor Aparecido, quiero ser un obispo que vaya a una pequeña comunidad, quizás ahora más de campesinos, y luego hable en la catedral de lo que esta pequeña comunidad rural entendió del Evangelio. En ese sentido, caminar juntos, y que esa sea la marca de mi caminar allí. No es el obispo quien define el camino, creo que es juntos, también con las religiosas, con los sacerdotes que están allí. Hay líderes laicos muy fuertes allí, Monseñor Antônio Possamai consiguió eso, no sólo es la novena del patrón, sino que reflexionan sobre la Biblia todo el año, y hay material para ello. La gente se reúne en pequeños grupos alrededor de la Palabra de Dios. Creo que este es el camino, ir escuchando juntos y esto espero que marque mi caminar.