A criação da mais nova região episcopal da Arquidiocese de Belo Horizonte, a Região episcopal Nossa Senhora da Esperança (RENSER), foi uma decisão pastoral acertada, pois, além de despertar maior autoestima nos membros das comunidades e paróquias do Vale do Paraopeba, podemos dizer que já estamos colhendo, enquanto Igreja povo de Deus, frutos resultantes dessa nova etapa da caminhada de evangelização.
A nova Região tem criando ricas oportunidades para melhor caracterização e com maior articulação das ações evangelizadoras pensadas para o contexto singular do Vale do Paraopeba.
Merece destaque aqui aludir para a presença fecunda, inspiradora e contagiante das muitas guardas de Congado, com suas fortes expressões rituais, seus valores e sua cultura.
Além disso, a criação do Santuário Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Brumadinho, no qual se celebra, no dia 25 de cada mês, uma celebração eucarística que tem ajudado a despertar a identidade e a congregar as comunidades de todo o Vale do Paraopeba: leigos/as, religiosos/as, diáconos, presbíteros. Tudo isso tem favorecido uma valorização da riqueza cultural e religiosa do Vale, fortemente marcada pela devoção à Nossa Senhora do Rosário.
A) Palavras iniciais
No dia 19 de outubro de 2019, aconteceu na cidade de Brumadinho, Vale do Paraopeba, Região episcopal Nossa Senhora do Rosário, recentemente criada, a Assembleia regional etapa importante no caminho de realização e vivência da VI APD (6ª Assembleia do povo de Deus da Arquidiocese de Belo Horizonte) com a presença de aproximadamente 200 pessoas: entre leigos e leigas, indicados como “delegados/as” das comunidades eclesiais, representantes das guardas de Congados, religiosos e religiosas, diáconos permanentes, presbíteros e muitos outros convidados presentes dentre eles, os envolvidos nas frentes de ação social em razão da tragédia/ crime da barragem de Brumadinho.
No início da assembleia, dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar e referencial desta Região episcopal, deu as boas vindas a todos os participantes. Em seguida, destacou a importância de crescermos na consolidação de uma Igreja humana e ecológica no Vale do Paraopeba. Destacou ainda que o momento da Assembleia fosse expressão dos desejos e dos desafios de ser uma Igreja missionária. Neste momento, enfatizou, o Vale do Paraopeba não pode permitir retrocessos, mas, ao contrário, impulsionar avanços firmes e concretos, expressão de crescimento na fé e, portanto, de maior compromisso com a defesa da dignidade das pessoas e com o projeto humanizador de Deus revelado em Jesus Cristo. O Vale do Paraopeba tem muito a oferecer e a contribuir com a Arquidiocese de Belo Horizonte, a partir de sua riqueza cultural, religiosa, ambiental.
Em seguida, destacou que a triste realidade vivida há nove meses atrás, a tragédia/crime da barragem do Córrego do Feijão, não pode ser esquecida e que não se pode pensar um plano pastoral evangelizador arquidiocesano sem levar em conta o que foi vivido em Brumadinho. Não podemos fechar os olhos e esquecer os fatos, ser omissos quanto à esta realidade, o que seria contra o Evangelho da justiça. Esta Assembleia tem que ser uma fonte de encorajamento que brota do Espírito Santo, uma realidade que alimenta o horizonte da esperança para que, juntos, consigamos reerguer o Vale do Paraopeba. O Espírito Santo está conosco, afirma dom Vicente.
Logo depois, eu, Pe. Joel Maria dos Santos, Vigário episcopal para a ação pastoral, dirigi também uma palavra aos participantes da Assembleia, chamando a atenção para o fato de o Vale do Paraopeba ser um autêntico “lugar teológico”, ou seja, um lugar em que Deus se revela estradeiro conosco e cuja presença suscite verdadeiros profetas que, a partir dos fatos e acontecimentos vividos, denunciem as injustiças e ameaças e anunciem sinais de boa nova que nos fortaleça para respondermos aos desafios e urgências.
Destaquei ainda a importância da realização da Assembleia na Região episcopal Nossa Senhora do Rosário, no Vale do Paraopeba. Estamos unidos no mesmo espírito de participação, corresponsabilidade na Igreja e na sociedade e em comunhão com todas as demais regiões episcopais que fazem conosco o caminho da VI APD. Participação e comunhão são atitudes fundamentais no ser e no viver como Igreja comprometidos com o projeto salvífico de Deus. Na força de nossa união fraterna e comunhão damos testemunho de vida nova enquanto membros do povo de Deus que se desafiam a viver em comunidade de fé no coração do mundo. O Vale do Paraopeba é para toda a Arquidiocese de Belo Horizonte uma escola com suas múltiplas realidades, contribuições preciosas e vivências significativas.
Disse a todos que minha presença ali, junto com eles na assembleia tinha também como objetivo fazer a cobertura da Assembleia regional para compartilhá-la, através do Observatório da Evangelização, com toda a Arquidiocese.
B) Após o trabalho em grupo e a plenária, estas foram as diretrizes assumidas e sugestões apresentadas pela RENSER enquanto propostas para a grande Assembleia arquidiocesana:
I – Igreja- Casa da Palavra:
- Garantir a celebração da Palavra de Deus, com a comunhão eucarística, ao menos em todos os domingos, presidida por Ministros leigos para isto preparados, em todas as comunidades eclesiais que não tenham a oportunidade da Celebração da Eucaristia;
Sugestão complementar: Instituir o Ministério da Palavra, na ampliação do serviço da Palavra, construindo uma Igreja samaritana.
- Criar, ampliar e acompanhar Grupos de Reflexão Bíblica, Encontros Bíblicos, Círculos Bíblicos, Leitura Orante da Palavra e outros meios possíveis numa cultura digital, a fim de que cresça o encontro dos fieis com a Palavra de Deus, fomentando o espírito comunitário em redes de pequenas comunidades;
- Proporcionar formação iniciática permanente aos catequistas (iniciantes, atuantes e coordenadores);
- Promover uma catequese atenta à cultura urbana (e rural), numa metodologia e linguagem que utilizem a arte (música, cinema, teatro, imagem e outros), a serviço da educação da fé.
II – Igreja – Casa do Pão:
- Ressaltar a importância da realização das celebrações da Palavra com os ministros leigos devidamente formados e instituídos e diáconos permanentes;
- Evangelizar a religiosidade popular sobretudo nas cidades históricas e santuários, como caminho para despertar e aprofundar a fé, iluminado pela Palavra de Deus, rumo à pertença à comunidade eclesial;
- Investir no cultivo da espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo, nos processos de formação inicial e permanente dos presbíteros, bem como dos agentes de pastoral, para que isto possibilite a saída de uma experiência religiosa fechada em si mesma e clericalista.
Sugestão complementar abrangente: investir na formação de padres, diáconos e leigos, valorizando e respeitando a realidade local, a partir do Evangelho.
III – Igreja – Casa da Caridade:
- Capacitar os evangelizadores para que as comunidades sejam verdadeiras Casas de acolhida e do cuidado de todas as pessoas, especialmente dos pobres;
- Ter como compromisso de comunidade de fé o cuidado com a Casa Comum, que implique um novo modo de ser no mundo e, para isso, refletir permanentemente sobre uma ecologia integral;
Sugestões complementares:
- A capacitação permanente de evangelizadores, sobretudo no cuidado com os pobres;
- Formação bíblica, catequética e humana afetiva.
IV – Igreja – Casa da Missão:
- Provocar uma “primavera das pastorais sociais” na Arquidiocese de Belo Horizonte, incentivando sua criação e organização onde não existem, incrementando as que já atuam, oferecendo adequada formação aos agentes, à luz da Palavra de Deus e do Ensino social da Igreja, com vista a um revigoramento da presença pública da Igreja em todos os Municípios da Arquidiocese;
- Priorizar a ação missionária nas vilas e favelas, criando comunidades alicerçadas na Palavra;
- Investir nas redes sociais, lugares de evangelização e profecia, que denunciam e anunciam, despertando pessoas e comunidades para a vivência da fraternidade e da comunhão nesse novos espaços.
Sugestão complementar:
- Salientou- se a necessidade de articular, junto ao poder público, as infraestruturas necessárias para esse trabalho. Necessidade de despertar a consciência dos leigos quanto ao seu papel missionário no Vale do Paraopeba. Necessidade de avançar ainda mais no trabalho missionário.
C) Missa Encerramento
Na Celebração eucarística de conclusão da Assembléia regional da RENSER reuniram-se aproximadamente 300 pessoas. Na homilia, dom Vicente, a partir do Evangelho da Anunciação de Maria, destacou como que no Vale, apesar dos muitos sinais de morte hoje vigentes, experimenta-se a graça de Deus que opera misteriosamente tal como agiu na vida de Maria. Nesse Santuário, haverá de se experimentar o que já se constata: a ação do Espírito de Deus que atua na vida das pessoas e que se irradia desse Santuário enquanto lugar de peregrinação, de espiritualidade e também de acolhida das pessoas, com as suas lutas, dores, angústias, alegrias e esperanças, enfim, lugar de impulso à ação missionária em todo o Vale do Paraopeba.
A Assembleia regional da RENSER, coroada com a rica celebração de encerramento, foi uma alegre experiência de encontro, partilha das experiências de vida e de indicações fecundas para o caminho pastoral evangelizador, em comunhão com toda a Arquidiocese de Belo Horizonte .
Pe. Joel Maria dos Santos
Membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização
Vigário episcopal do Vicariato episcopal para ação pastoral – VEAP