Reflexões sobre a Educação no contexto da CF 2022

Em 2022, a Igreja Católica no Brasil, por meio da CNBB, promove a Campanha da Fraternidade, um dos maiores projetos de evangelização, que, pela terceira vez, envolve a temática da Educação: 1982, 1998 e agora 2022. Isso revela a importância da Educação na vida humana. Diante do tema Fraternidade e Educação, profundamente enraizado na nossa realidade, faz-se necessário refletir o que representa a Educação no contexto brasileiro e como ela está sendo tratada. A CNBB escolhe temáticas urgentes que precisam ser refletidas e transformadas pela sociedade e suas instituições políticas.

 O discurso sobre a necessidade de se valorizar a Educação é corrente em várias instâncias da sociedade, principalmente em campanhas eleitorais. Se reconhece que a Educação é um instrumento fundamental para a transformação da sociedade. A importância da Educação se acentuou, isto é, o reconhecimento da sociedade se tronou mais nítido, no momento em que o mundo se encontrou diante da pandemia da covid-19. Muitas crianças e jovens interromperam a sua ida presencial a escola, passando a entrar no regime das aulas remotas. Com isso, se agravou problemas existentes, tais como a falta de infraestrutura nos domicílios que possibilite um aprendizado, a escassez de recursos tecnológicos e a dificuldade no acesso à internet e a sinais de televisão (para aqueles que assistiam às aulas remotas). Com a pandemia, também se observou problemas familiares, sendo alguns novos, como a convivência em tempo integral do grupo familiar dentro de casa, aumentando o estresse e não permitindo os momentos de lazer que muitas crianças e jovens tinham fora de casa. Também os problemas velhos que eram ignoradas, como a violência doméstica que se agravou mais ainda no momento de isolamento sanitário.

Em vários discursos, a escola foi citada como um serviço essencial que não poderia parar, pois a mesma é responsável pelo processo de socialização e a formação das crianças e dos jovens. Diante de grande comoção e reconhecimento se esperava uma nova postura governamental, nas suas várias esferas (municipal, estadual e federal) visando maiores recursos, investimentos, reconhecimento salarial e capacitação humana. É notório que houve exemplos nesse sentido, mas são casos pontuais em relação à realidade brasileira, pois houve graves cortes de recursos na Educação e de fomentos em pesquisas científicas.

Além do aspecto institucional, da realidade da sociedade brasileira, especialmente das crianças, adolescentes e jovens, a Educação deve ser pensada a partir dos seus profissionais: professoras e professores, pedagogas e pedagogos, assistentes de serviços básicos,  secretárias e secretários, direção, ou seja, todo o corpo docente e técnico que ajuda a pensar, dinamizar, cuidar e manter a instituição escolar. Pessoas fundamentais que, coletivamente, contribuem para o funcionamento da escola e para o processo de ensino-aprendizagem. Mas como são tratados pela sociedade, pelo poder público e pela comunidade escolar?

Na realidade prática, muitos pais, mães e outras pessoas responsáveis não aceitam e nem apoiam quando profissionais da Educação reivindicam melhores condições de trabalho e salário. É preciso indagar: que tipo de Educação esperam para suas filhas e filhos? Como interpretam o papel da escola? Várias podem ser as possibilidades de respostas, mas quais posturas podem ser esperadas daquelas pessoas que se posicionam como cristãs?

A situação concreta e o cotidiano de nossas escolas e as condições de trabalho dos profissionais da educação, geralmente, não são mostradas adequadamente pelos meios de comunicação social, não despertam o zelo do poder público responsável em cuidar e não são conhecidas, com profundidade, e acompanhadas pela sociedade brasileira.

A Campanha da Fraternidade de 2022, cujo tema é Fraternidade e Educação, tem um lema muito significativo e belo retirado do livro dos Provérbios: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31, 26). A Educação, mesmo diante de um projeto político que é caracterizado por muitos como de sucateamento, mostra que muitos profissionais, apesar dos pesares, continuam a ensinar com sabedoria, amor e dedicação. Todas as profissões dependem da Educação e, geralmente, é decisivo a qualidade da instituição escolar. É um serviço de entrega ao outro, tornando o ato de ensinar, assim como o amor, um verbo intransitivo, isto é, um lado se entrega sem esperar a resposta do outro. Mas, enquanto seres humanos, queremos que a nossa entrega seja reconhecida, que nossos estudantes aproveitem o que é ensinado e que o amor doado seja reconhecido e valorizado. Que seja uma valorização material coerente com as necessidades diárias dessas pessoas.

É importante que cristãs e cristãos, católicos ou não, sejam os primeiros a conhecer a realidade da Educação em nosso país, a refletir sobres seus desafios e urgências, a apoiar as lutas por uma educação de qualidade, refletida nos investimentos materiais e humanos, na infraestrutura, no salário e na valorização dos profissionais da Educação. Que esta Campanha da Fraternidade seja uma oportunidade singular de conversão ao Deus da vida e ao seu projeto salvífico que nos responsabiliza e a Jesus que veio para que todos tenham vida.

 

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Paulo Vinícius Faria Pereira
É teólogo católico leigo. Professor de Sociologia na rede pública de ensino. Mestrando em Ciências da Religião pela PUC Minas, possui bacharelado em Teologia e licenciatura e bacharelado em Ciências Sociais pela mesma instituição. É licenciado em Pedagogia (Claretiano) e membro da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais.