Projeto de Evangelização “Proclamar a Palavra”: PROTAGONISMO DOS LEIGOS E LEIGAS – Reflexões catequéticas VI

Entre os grandes desafios da ação evangelizadora da Igreja está a promoção e concretização do protagonismo dos leigos e leigas. Formar cristãos leigos adultos na fé e corresponsáveis na missão da Igreja. Leigos e leigas que percebam e assumam o compromisso de viver a unidade fé e seguimento de Jesus. A Igreja não é uma instituição criada apenas para atender as necessidades espirituais dos leigos e leigas, mas para despertar neles e nelas a consciência de ser Igreja, mediante a facilitação do encontro com Jesus Ressuscitado e a formação continuada, capacitá-los para o seguimento de Jesus na vida em comunidade e na dinâmica da sociedade.

Vejamos a reflexão catequética de Neuza a partir do sexto compromisso do Projeto de Evangelização “Proclamar a Palavra”, fruto da 5ª Assembleia do Povo de Deus, o protagonismo dos leigos e leigas:

 

Proclamar a Palavra

O protagonismo dos leigos e leigas

No dom de ser cristão, todos se tornam discípulos missionários.

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No dom do Espírito Santo, por meio da pregação dos apóstolos e de outros discípulos e discípulas de Jesus nasceu as primeiras comunidades cristãs. Com o anúncio da Boa-Nova do Reino de Deus, presente qual fermento no meio de nós, muitos acreditaram e se converteram. Os que recebiam a graça do anúncio e do testemunho tornavam-se seguidores de Jesus, discípulos missionários. Desde as origens, surgiu uma Igreja toda ministerial, discípula missionária.

A nossa Igreja particular de Belo Horizonte, impulsionada pelo Documento de Aparecida e pela Evangelii Gaudium do papa Francisco, também nos convida a juntos concretizar uma Igreja toda ministerial, formada por discípulos e discípulas missionárias que testemunham a vida nova e que anuncia a todos a Boa-Nova. Somos todos interpelados a assumir ativamente a vocação de batizados-crismados, nos colocando a serviço pelo exercício dos ministérios que nos são confiados na vida da Igreja e da sociedade. Serviços sociais e/ pastorais como membros ativos de movimentos populares, grupos de defesa da dignidade da vida e de conquista da cidadania, ministros da Palavra, catequistas, animadores de comunidades, comunidades eclesiais de bases, conselheiros e várias outras modos de se colocar a serviço do Reino de Deus e dos irmãos e irmãs presentes na caminhada. Assim, sejamos discípulos/as e testemunhas do Ressuscitado trabalhando para que sua Palavra seja conhecida, amada e seguida. Cada um de nós pode contribuir de inúmeras formas para que outras pessoas façam a transformadora experiência do encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo e pela luz e força do Espírito Santo, comprometam-se com o projeto salvífico de Deus.

Toda essa convocação da nossa Igreja particular feita pelo Projeto de Evangelização “Proclamar a Palavra, se encontra fundamentada na Tradição da Igreja, sobretudo a Palavra de Deus que nos revela a prática libertadora de Jesus e nos documentos do magistério, de modo especial os do Concílio Vaticano II, das Conferências Episcopais Latino-americanas e, agora, os do papa Francisco.

A animação Bíblico-Catequética da pastoral, promovendo o conhecimento da Palavra de Deus e do amor por ela, tem produzido fecundos resultados em todo o Continente, chegando inclusive aos países da América do Norte, Europa e Ásia, para onde muitos latino-americanos e caribenhos têm emigrado. A Palavra pode chegar até os confins do mundo, como dizia Paulo Apóstolo. Podemos dizer que a expansão da Palavra é consequência de uma boa formação de catequistas e da renovação da Catequese. A formação é continua, permanente e não podemos parar, pois sempre está acontecendo a entrada de novos catequistas que necessitam de formação, bem como dos demais catequistas que precisam atualizar-se para acompanhar os novos desafios e sinais dos tempos. Este saber é um estímulo para nós catequistas que fazemos “ecoar” a Palavra de Deus.

Muitos frutos nascem do esforço pastoral, principalmente de leigos e leigas. Percebe-se cada vez mais uma entrega de pessoas para trabalhos missionários. Entre os leigos e leigas tem surgido missionários e missionárias que desenvolvem obras evangelizadoras e de promoção humana em todos os nossos povos; crescem os esforços de renovação pastoral nas paróquias que, mediante novos métodos de evangelização, se transformam em rede de comunidades participativas, evangelizadoras e missionárias. Vale lembrar aqui do Papa Francisco que nos orienta para sairmos de uma pastoral apenas de conservação e irmos avante com criatividade  e abertos às renovações.

A Doutrina Social da Igreja tem animado o testemunho e a ação solidária dos leigos e leigas que se interessam por formação teológica pastoral e capacitação para se tornarem verdadeiros missionários da caridade, e se esforçam para ajudar a transformar a sociedade com o anúncio e testemunho dos valores do Evangelho.

Hoje a Igreja é chamada a concretizar profunda renovação missionária através de um processo de conversão pastoral. Para que isto aconteça é necessário que cada cristão, leigos, religiosos, diáconos, presbíteros e bispos, assuma seu compromisso de fé batismal. É uma tarefa de todos. Todos são chamados a comprometer-se com o anúncio e testemunho do Evangelho.

Aqui a comunidade cristã tem um papel extremamente relevante para a ação evangelizadora da Igreja. É importante a presença e participação corresponsável de leigos e leigas adultos na vida da comunidade de fé e na sociedade, atuando nas articulações, decisões e na avaliação das ações pastorais.

Não se pode perder de vista o grande protagonismo da mulher, tantas vezes invisibilizado, na vida da Igreja. Muitas são as mulheres atuantes no processo de evangelização. Muitas delas são catequistas que se colocam a serviço da catequese querigmática e mistagógica: uma catequese que não perde de vista a unidade fé e seguimento de Jesus. Ou seja, o cuidado para que o primeiro anúncio, centro da atividade evangelizadora, e o processo de acompanhamento no crescimento na vivência da fé e concretização diária do seguimento de Jesus andem de mãos dadas. O primeiro anúncio  dá resposta ao anseio de infinito que existe em todo coração humano, pois ele é capaz de transportar as pessoas e comunidades inteiras para dentro do Mistério de Cristo: o Mistério Pascal. A catequese continuada, processual e mistagógica confirma e consolida a adesão da pessoa na vida cristã, vida de compromisso com o seguimento de Jesus.

Nesse sentido,  o protagonismo dos leigos e leigas se torna evidente e fundamental para a missão da Igreja no mundo atual. Eles são sujeitos eclesiais que vivem a fé e, assumindo o compromisso de cristãos, são chamados a:

  • assumir a dinamização da vida cristã como verdadeiro projeto de vida na Igreja e na sociedade;
  • colocar-se a serviço dos irmãos e irmãs participando com os movimentos populares das lutas em defesa da vida;
  • permanecer na fé e no seguimento de Jesus, pela escuta da Palavra e dos sinais do tempo pelo discernimento do Espírito Santo;
  • assumir com coragem profética, criatividade e ousadia o desafio de testemunhar Jesus Cristo para todos.

Mais que no passado, temos hoje as condições eclesiais, as condições sociais, políticas e culturais e as bases eclesiológicas para que o cristão leigo exerça sua missão como autêntico sujeito eclesial, apto a atuar na Igreja e na sociedade e a promover uma relação construtiva entre ambas (cf. Documento 105 da CNBB, 122).

(os grifos são nossos)

Neuza

Neuza Silveira de Souza

Teóloga leiga, com especialização em teologia pastoral voltada para a catequese, objeto de  sua especialização e pesquisa de mestrado. Atualmente, coordena da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética da Arquidiocese de Belo Horizonte.