Uma das propostas do Sínodo para a Amazônia, como consta em seu Documento Final, foi a criação de um organismo episcopal pan-amazônico, que foi concretizado na Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA, nascida em 29 de junho de 2020 e que está em processo de aprovação no Vaticano. A primeira assembléia ordinária da nova conferência aconteceu em 25 de setembro de 2020, com a participação de seus membros nomeados e de alguns convidados.
Esta primeira assembleia da CEAMA foi definida por dom David Martínez de Aguirre como “um evento muito importante, muito esperançoso para todos nós, porque é uma concretização de tudo o que vivemos no Sínodo“. O vice-presidente da Conferência Eclesial da Amazônia lembrou que eles estão tentando colocar em ação “tudo o que colocamos em comum no Documento Final, e que o Papa, de forma tão poética e bela, concretizou nos sonhos da Querida Amazônia“. Na realidade, isto é algo que já está presente, porque, segundo o bispo de Puerto Maldonado, “o Sínodo, de forma silenciosa e simples, está sendo vivido em todos os cantos da Amazônia“.
Esta primeira assembléia, nas palavras do bispo dominicano, “é como tornar visível que o Sínodo está vivo, que é aquele rio da sinodalidade amazônica, de uma Igreja que se coloca do lado dos povos indígenas, de uma Igreja que quer viver sinodicamente, de uma Igreja que quer defender a Terra“. Segundo Martínez de Aguirre, trata-se de “uma Igreja que quer anunciar a alegria do Evangelho, que quer anunciar Cristo como Boa Nova, como justiça e libertação para todos os povos, que isto está vivo“.
Em suas palavras aos participantes, o cardeal dom Cláudio Hummes agradeceu: “Deus e o Espírito que nos acompanha e é o principal motor de todo este processo“, ao qual acrescentou sua gratidão ao papa Francisco, que queria que esta Conferência Eclesial da Amazônia existisse e o convidou a trabalhar, mesmo sem o reconhecimento canônico dos dicastérios. O presidente da CEAMA destacou a importância da presença na assembleia do “Povo de Deus no território, com todas as pessoas que lutam pelos direitos do povo e do Planeta“. Em suas palavras, o Cardeal recordou o significado da assembleia, que “é estar com eles, ouvi-los e com eles construir o processo, o caminho, como o Papa indica“, insistindo que a assembleia está “centrada no território, no povo, não em si mesma“.
A assembleia realizada serviu para dar os primeiros passos rumo a um plano pastoral para toda a região Pan-Amazônia, algo que, como lembrou o cardeal Hummes, “Aparecida já nos pediu e foi acolhido pelo Sínodo, sem querer interferir na competência do bispo em sua diocese“. Este plano pastoral, que deve ser concretizado nos próximos meses, recebeu as contribuições dos participantes, que serão posteriormente estudadas pelo Comitê Executivo da CEAMA. Nas contribuições dos participantes foram destacados alguns elementos que deveriam estar presentes neste plano pastoral, como a sinodalidade e a eclesialidade, a ecologia integral, a conversão pastoral, a conversão missionária permanente, sempre centrada em dois elementos inalienáveis, a evangelização e a opção pelos pobres.
Diante deste novo plano pastoral, insiste-se na importância de um compromisso efetivo e afetivo com os povos originários, que se sentem cada vez mais acuados, com medo, e que clamam por uma Igreja Católica mais próxima deles e das comunidades amazônicas. Da mesma forma, não devemos esquecer as ricas experiências vividas na Amazônia e delas devemos assumir riscos, deixando-nos conduzir pela ação do Espírito, que leva a defender a Terra e a Vida tão ameaçadas nesta região, algo expresso pelo Papa em Puerto Maldonado. No nível da conversão, isto deve começar com cada evangelizador, chamado a ser sensível ao Evangelho e à realidade dos pobres e de uma Amazônia que está sendo depredada. Também se insistiu em dar vida aos documentos, na necessidade de valorizar o papel da mulher, para que ela seja mais ouvida e sua voz mais levada em conta na tomada de decisões na Igreja.
Um elemento importante é compreender a necessidade de enfatizar os processos, os itinerários, sem medir o trabalho pelos frutos, os resultados, que o Senhor lhes dá no tempo que Ele pensa que devem ser dados. Neste plano pastoral, a formação integral, o acompanhamento, o ministério, aberto às mulheres e o desenvolvimento sustentável devem estar presentes. O plano deve ser um processo de permanente discernimento vivo, onde o sensus fidei é fundamental, gerando processos de incidência, fundamentais para o desenvolvimento humano integral. É importante enfatizar a importância que a vida religiosa, entendida em termos de inserção e itinerância, pode ter nesta caminhada.
Não podemos esquecer que a CEAMA deve ser caracterizada pelo princípio de inclusão e pluralidade, que deve levá-la a buscar estilos de vida alternativos, em solidariedade, para tornar realidade uma Igreja capaz de contemplar a realidade, que promove um acompanhamento inculturado e uma formação para a encarnação. Em resumo, isto é algo novo, uma canoa que foi construída e está pronta para entrar na água e começar a velejar. Para isso será necessário buscar caminhos e linguagens comuns, especialmente com os povos amazônicos, o que ajudará a traduzir a evangelização em termos comuns a todos, o que dará valor a cada indivíduo e levará em conta as lutas dos povos, a quem é necessário acompanhar.
Como disse dom David Martinez de Aguirre, “esta assembleia nos serviu para retomar e tentar marcar as prioridades de todo o rio de palavras que foram pronunciadas no Sínodo, destes sonhos que o papa Francisco delineou para nós“. Para isso, é necessário reunir os diferentes pontos e começar a especificar quais são as prioridades que serão dadas à CEAMA, à REPAM, à REIBA, uma Rede de Educação Intercultural Bilíngüe, à Universidade Católica Amazônica, ao Observatório Socioambiental, ligado ao CELAM, como nos lembrou o vice-presidente da CEAMA. Neste sentido, ele disse que “nem todas as prioridades que foram estabelecidas no Sínodo devem ser tornadas operacionais ou executadas diretamente pela CEAMA“.
Sabendo que existem algumas prioridades que a CEAMA tem que assumir, dom David propõe “priorizar por onde vamos começar, quais são os pontos que dizem respeito ou não à CEAMA e como ela vai articular tudo o resto com as outras redes, os outros organismos, com as jurisdições e as conferências nacionais“. O próximo passo será a realização de uma assembleia plenária, cuja convocação foi aprovada por unanimidade. Esta assembleia acontecerá nos dias 26 e 27 de outubro de 2020, como um lembrete daquele evento muito importante que foi o Sínodo para a Amazônia e que encerrou naquelas datas em Roma.
De acordo com o vice-presidente da CEAMA, sobre esta assembleia plenária “queremos que ela nos sirva de alguma forma para começar a nos organizarmos, para marcar um caminho para nós, um ano de trabalho por grupos, por comissões, pois vamos realizar estas prioridades“. Espera-se reunir virtualmente 250 participantes, entre eles todos os bispos da Pan-Amazônia, representantes da Vida Religiosa, dos povos originários, do mundo urbano e camponês, da Cáritas, da REPAM, bem como alguns convidados.
Sobre o autor:
Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.
Veja, seguir, a versão do texto acima em espanhol:
Primera Asamblea de la CEAMA: “una visibilización de que el Sínodo está vivo”
Una de las propuestas del Sínodo para la Amazonía, como recoge su Documento Final, fue la creación de un organismo episcopal panamazónico, que se concretó en la Conferencia Eclesial de la Amazonía – CEAMA, nacida el 29 de junio del presente año y que está en proceso de aprobación en el Vaticano. Este 25 de septiembre ha tenido lugar la primera asamblea ordinaria de la nueva conferencia, que ha contado con la participación de los miembros natos de la misma y de algunos invitados.
Esta primera asamblea de la CEAMA, ha sido definida por Monseñor David Martínez de Aguirre como “un acontecimiento bien importante, bien esperanzador para todos nosotros, porque es una concreción de todo aquello que vivimos en el Sínodo”. El vicepresidente de la Conferencia Eclesial de la Amazonía recordaba que se está queriendo poner en funcionamiento “todo aquello que pusimos en común en el Documento Final, y que luego el Papa, de una manera tan poética, tan linda, ha sentenciado en los sueños de Querida Amazonía”. En realidad, eso es algo que ya está presente, pues según el obispo de Puerto Maldonado, “el Sínodo, de una manera silenciosa, sencilla, se está viviendo en cada uno de los rincones de la Amazonía”.
Esta primera asamblea, en palabras del obispo dominico, “es como una visibilización de que el Sínodo está vivo, que es ese río de la sinodalidad amazónica, de una Iglesia que se pone del lado de los pueblos indígenas, de una Iglesia que quiere vivir sinodalmente, de una Iglesia que quiere defender la Tierra”. Se trata, según Martínez de Aguirre, de “una Iglesia que quiere anunciar la alegría del Evangelio, que quiere anunciar a Cristo como buena noticia, como justicia y liberación para todos los pueblos, que eso está vivo”.
En sus palabras a los participantes, el cardenal Claudio Hummes ha agradecido “a Dios y al Espíritu que nos acompaña y es el motor principal de todo este proceso”, a lo que unía un agradecimiento al Papa Francisco, que quiso que existiese esta Conferencia Eclesial de la Amazonía e la invita a que trabaje, aun sin el reconocimiento canónico por parte de los dicasterios. El presidente de la CEAMA destacaba la importancia de la presencia en la asamblea del “Pueblo de Dios en el territorio, con todas las personas que están luchando por los derechos de las poblaciones y del Planeta”. En sus palabras, el purpurado recordaba el sentido de la asamblea, que “es estar con ellos, escucharlos y con ellos construir el proceso, el camino, como el Papa nos indica”, insistiendo en que la asamblea está “centrada en el territorio, en la gente, no en ella misma”.
La asamblea celebrada ha servido para dar los primeros pasos para un plan de pastoral para toda la Panamazonía, algo que, como recordaba el cardenal Hummes, “ya nos pedía Aparecida y fue retomado por el Sínodo, sin con ello querer interferir en las competencias del obispo en su diócesis”. Este plan pastoral, que debe ir concretándose en los próximos meses, ha recibido lo aportes de los participantes, que posteriormente serán estudiados por el Comité Ejecutivo de la CEAMA. En las aportaciones han sido destacados algunos elementos que deberían estar presentes en este plan de pastoral, como la sinodalidad y eclesialidad, la ecología integral, la conversión pastoral, la conversión misionera permanente, siempre centrado en dos elementos irrenunciables, la evangelización y la opción por los pobres.
De cara a ese nuevo plan pastoral se ha insistido en la importancia de un compromiso efectivo y afectivo con los pueblos originarios, que se sienten cada vez más arrinconados, con miedo, y claman para que la Iglesia católica esté más próxima, y las comunidades amazónicas. Así mismo, no olvidar las ricas experiencias vividas en la Amazonía y a partir de ellas arriesgar, dejándose conducir por la acción del Espíritu, que lleve a defender la Tierra y la Vida tan amenazada en esta región, algo expresado por el Papa en Puerto Maldonado. En el plano de la conversión, ésta debe comenzar por cada evangelizador, llamado a sensibilizarse con el Evangelio y la realidad de lo pobres y de una Amazonía que está siendo depredada. También se ha insistido en hacer vida los documentos, en la necesidad de valorar el rol de la mujer, que pueda ser más escuchada y su voz sea más tenida en cuenta en la toma de decisiones en la Iglesia.
Un elemento importante es entender la necesidad de enfatizar los procesos, los itinerarios, sin medir el trabajo por los frutos, los resultados, que los da el Señor en el tiempo que Él piensa que se deben dar. En ese plan de pastoral se debe hacer presente la formación integral, el acompañamiento, la ministerialidad, abierta a las mujeres, y el desarrollo sostenible. El plan debe ser un proceso de discernimiento vivo permanente, donde el sensus fidei sea fundamental, generando procesos de incidencia, fundamentales para el desarrollo humano integral. Cabe destacar la importancia que la vida religiosa, entendida en clave de inserción e itinerancia puede tener en este caminar.
No podemos olvidar que la CEAMA debe caracterizarse por el principio de la inclusión y la pluralidad, lo que la debe llevar a buscar estilos de vida alternativos, solidarios, a hacer realidad una Iglesia capaz de contemplar la realidad, que promueva un acompañamiento inculturado y una formación para la encarnación. En definitiva se trata de algo nuevo, de una canoa que se ha ido construyendo y está lista para entrar en el agua y comenzar a navegar. Para ello será necesario buscar caminos y lenguajes comunes, especialmente con los pueblos amazónicos, que ayude a traducir la evangelización en términos comunes a todos, que dé valor a cada individuo y tenga en cuenta las luchas de los pueblos, a quienes es necesario acompañar.
Como afirmaba Monseñor David Martínez de Aguirre, “esta asamblea nos ha servido para retomar e intentar marcar cuáles son las prioridades de todo el río de palabras que se pronunciaron en el Sínodo, de estos sueños que nos ha esbozado el Papa Francisco”. Para ello, es necesario recoger los diferentes puntos y empezar a concretar cuáles son esas prioridades que le van a tocar a la CEAMA, a la REPAM, a la REIBA, red de educación intercultural bilingüe, a la Universidad Católica Amazónica, al Observatorio Socio Ambiental, adscrito al CELAM, como recordaba el vicepresidente de la CEAMA. En ese sentido, decía que “no todas las prioridades que se han establecido en el Sínodo le toca operativizarlas o ejecutarlas directamente a la CEAMA”.
Sabiendo que hay algunas prioridades que tiene que asumir la CEAMA, ésta se propone “priorizar por donde vamos a comenzar, cuáles son aquellos puntos que sí o sí le tocan a la CEAMA y cómo va a articular todo lo demás con las demás redes, los demás organismos, con las jurisdicciones y las conferencias nacionales”, insistía Martínez de Aguirre. El próximo paso será la realización de una asamblea plenaria, cuya convocatoria ha sido aprobada por unanimidad. Esta asamblea tendrá lugar el 26 y 27 octubre, como recordatorio de ese acontecimiento tan importante que fue el Sínodo para la Amazonía y que se clausuró en esas fechas en Roma.
Según el vicepresidente de la CEAMA, esta asamblea plenaria “queremos que nos sirva de alguna manera para empezar ya a organizarnos, a marcarnos una ruta, un año de trabajo por grupos, por comisiones, como vamos a llevar a cabo esas prioridades”. En ella se espera reunir virtualmente a unos 250 participantes, entre ellos todos los obispos de la Panamazonía, representantes de la Vida Religiosa, de los pueblos originarios, del mudo urbano y campesino, de Caritas, de la REPAM, así como de algunos invitados.