Pretos, pobres e poucos

Por Pe. Mauro Luiz da Silva

Comunidade São Bento, Igrejinha de São Bento, na Vila São Bento (antiga Vila Carrapato), no Aglomerado Santa Lúcia, em Belo Horizonte. Ou melhor, de lugar nenhum, pois, como era de formada por Pretos e Pobres, já não existe mais: as casas e a igrejinha foram demolidas, tudo virou entulho, tudo virou lixo, nada foi preservado…

Quando decidi ser padre, aos 13 anos de idade, eu acreditava que minha vida seria completamente dedicada aos mais pobres… Essa é a Igrejinha de São Bento, na Vila São Bento (antiga Vila Carrapato), que já não existe mais, no Aglomerado Santa Lúcia, favela onde vivi os melhores anos da minha vida. Abandonados pelos poderes públicos porque somos todos pretos e pobres, lugar onde faltava quase tudo, mas amor e união não faltava não.

Eu acreditava que a Vila São Bento poderia ser um lugar que, afinal, nunca existiu de fato. Acreditava que a Comunidade São Bento teria muito pra ensinar e que a Igreja Católica, algum dia ela nos enxergaria e até, quem sabe, nos pediria perdão por seu silêncio e sua negligência… Que estúpido. Nossos corpos negros, nosso pouco dízimo, nossa esperança incômoda, nossa simples existência, tudo, enfim, deveria desaparecer… Comunidade desarticulada, casas e Igrejinha demolidas, tudo virou entulho, tudo virou lixo, nada foi preservado. Porque é assim que Pretos e Pobres merecem ser tratados, como nada.

Não me pergunte onde foi parar aquela gente, não tive a oportunidade nem de “apagar a luz do Santíssimo” e nem de dar o último abraço.

Porque somos Pretos e porque somos Pobres… Porque é assim que Pretos e Pobres são tratados.

Pe. Mauro Luiz da Silva
De lugar nenhum