Perguntaram-me o que são as CEBs…

Dois jovens estudantes me perguntaram o que são as CEBs… Percebendo sinceridade em seus olhares e que, de fato, desconheciam a realidade por trás dessas quatro letras que compõe o termo CEBs, então, assim lhes respondi…

Desenho do cartaz do 14º Encontro Intereclesial das CEBs, em 2018.

Por se tratar de uma experiência de fé e vida tem que experimentar para sentir o sabor. Que só podemos conhecer, de forma concreta e verdadeiramente, o que são as CEBs quando delas nos aproximamos, nos inserimos, compartilhamos a vida e comungamos os mesmos ideais… Quando escutamos seus membros com abertura de coração e com aquela disposição de caminhar juntos, provocados pela beleza, pela alegria e pela luz que irradia da pessoa de Jesus e das causas do Evangelho do Reino de Deus, Reino de fraternidade e de partilha, Reino da justiça e da paz.

Disse a eles que CEBs são, na verdade, uma construção contínua e sempre inacabada – como as casas dos pobres nas periferias de nossas cidades – de um jeito novo e singular de ser Igreja. Nascidas do sangue e do suor, de lágrimas de tristezas e de alegrias, presentes nas labutas e nas lutas dos pobres, animados pela fé e pela esperança inquebrantável em Deus, por vida digna, por terra, teto, trabalho… Uma Igreja que, desde as origens, se assumiu e continua a se assumir, no campo ou na cidade, comprometida com a construção de “outra sociedade possível”, na qual a dignidade da vida, e não o lucro ou a acumulação de alguns, seja o bem maior.

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Uma Igreja na qual as pedras vivas sãos pessoas, famílias, grupos, pastorais e movimentos populares irmanados e sempre interpelados pela paz inquieta de Jesus, de que nos falou, em versos, Pedro Casaldáliga. E que por isso, nas CEBs, eles perceberão que os pobres têm a centralidade e que os não pobres a eles dão as mãos e compartilham a vida, pois, todos se experimentam “pobres com os pobres” para que juntos – como filhos e filhas de Deus, como irmãos e irmãs na caminhada – lutemos contra a pobreza, as tiranias, as opressões e as exclusões. E se isso acontece desse modo é porque Deus age, com seu Espírito Santo, desde baixo, pela vida dos mais pobres, e porque, de fato, não pode haver sociedade justa e solidária sem um forte alicerce, sem que se comece de baixo, dos últimos e dos mais vulneráveis. As CEBs cultivam a espiritualidade do Reino de Deus que convoca e provoca, por coerência, a opção pelos pobres e a defesa dos direitos humanos, para que todos, e não apenas alguns, tenham vida digna.

Que CEBs são sempre comunidades de fé no Deus da Vida… Comunidades inquietas, em caminhada, impulsionadas pelos dinamismos próprios da realidade concreta, do chão mesmo de onde brotam e se enraízam… Por isso as CEBs têm muitos rostos, feições e jeitos forjados em cada situação, mas em todos eles é visível que as CEBs se percebem e se assumem em obras, em constante construção, em busca constante de ver-julgar-agir-celebrar-retomar, em busca de respostas – ecológicas, econômicas, políticas, religiosas e socioculturais – aos desafios que teimam em ameaçar a dignidade da vida.

Há muitos artistas – pintores, compositores, cantores etc. – na caminhada das CEBs que colocam seus dons a serviço.

As CEBs nasceram e continuam a nascer e a crescerem alimentadas pela mesma fonte: a Palavra de Deus rezada e meditada junto e misturada com a busca do bem-viver na realidade vivida pela comunidade. É a Bíblia, sim, que, Palavra do Deus da vida, convoca e provoca a experiência das CEBs. Trata-se da experiência da proximidade amorosa de um Deus que é estradeiro conosco. Um Deus que se revelou em Abraão e Sara, Moisés e Séfora, nos profetas e profetizas da história, em Jesus e seus discípulos e discípulas, de ontem e de hoje, nos mártires e testemunhas da caminhada, como Aquele que escuta o clamor dos oprimidos e sofredores. Um Deus que se faz próximo e que caminha junto impulsionando todas as lutas em defesa da vida, da partilha, da justiça e da paz. Um Deus que tem um projeto salvífico libertador e que, por ser assim, é um Deus que sempre nos agrupa, que nos irmana e que nos leva a assumir os desafios de transformar, bem cuidar e fazer bonita a realidade em que vivemos e na qual convivermos.

Disse ainda a eles que nas CEBs todos os membros, homens e mulheres, se reconhecem, se experimentam corresponsáveis, se apoiam e que procuram participar dos processos e lutas diversas, pois, se sentem irmanados, chamados a compartilhar a vida e, sem que “ninguém solte a mão de ninguém”, a dar as mãos para que tenhamos forças e, em mutirão, cuidemos uns dos outros. Nas CEBs cuidamos para que todos tenham vida, pois, na práxis libertadora de Jesus aprendemos que a vida digna é o grande culto agradável a Deus.

O simbolismo de um trem em viajem é muito utilizador para expressar a caminhada consolidada das CEBs. Nesta imagem, nos vagões, os estandartes dos quatorze Encontros Intereclesiais das CEBs. Cf. https://www.facebook.com/redecebs/photos

Sei que o que eu disse a esses jovens é como aquele retrato dos primeiros cristãos que nos foi legado pelo autor dos Atos dos Apóstolos. Uma espécie de horizonte utópico a ser buscado em cada passo, cientes de que é para lá que queremos trilhar. E que “sonho que se sonha só pode ser pura ilusão, mas sonho que se sonha junto é sinal de solução. Então, vamos sonhar juntos, sonhar ligeiro, sonhar em mutirão”. E se é bonito de ver a caminhada já consolidada pelas CEBs,  mais ainda é instigante seu deixar afetar e, quem sabe, acolher o chamado de participar dessa caminhada, comungando a vida com os pobres, com um horizonte aberto e esperançado, tendo adiante os novos desafios e os compromissos que as CEBs assumem no complexo contexto atual! Vinde e vede!

Edward Guimarães

Edward Guimarães é teólogo leigo, pai e educador esperançado, professor, formador de lideranças e agentes, assessor da catequese e das CEBs, pastorais sociais e movimentos populares. Na PUC Minas, além de professor e pesquisador, atua como secretário executivo do Observatório da Evangelização.