O texto a seguir foi elaborado pelo aluno Hidelbrando Marques Ferreira para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães.
Confira:
Paróquias e os desafios do mundo atual
A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus.
PAPA FRANCISCO (Evangelii Gaudium, n. 1)
INTRODUÇÃO
Em sua primeira exortação apostólica (Evangelii Gaudium, A Alegria do Evangelho) o papa Francisco enumera alguns desafios do mundo atual. A partir do número 71, ele fala dos desafios das culturas urbanas que a princípio foi um tema que me chamou bastante atenção. Porém notei que, antes desse, um outro assunto primário me incomodava e talvez fosse uma das origens da dificuldade em lidar com essas culturas.
Falo das formas como a Igreja Católica se organiza e como isso influencia no comportamento das pessoas e também nos resultados alcançados ou não no processo chamado por nós de evangelização. Então vem o questionamento sobre o formato administrativo chamado de paróquia. Alguns acreditam que é um formato inadequado para os tempos atuais, principalmente pelo histórico de sua criação estar conectado ao mundo rural. O que fazer com as paróquias? Elas permanecem uma estrutura rural no contexto urbano? Como fazer para que as paróquias dialoguem com as novas culturas ?
DESENVOLVIMENTO
A paróquia é o resultado de como as comunidades evoluíram através dos tempos. O termo paróquia, em latim Parochia, refere-se a um grupo de pessoas que são vizinhas, que moram próximas. Se olharmos no sentido espiritual a paróquia seria o local de acolhida dos peregrinos que mesmo estando na terra, tem o céu como morada (cf. 1Pd 2,11). A palavra paróquia em si, resumindo seus diversos significados, quer dizer um local que deve servir de acolhida.
O código de direito canônico de 1917 define a paróquia como “uma parte territorial da diocese com sua própria igreja (templo) e população determinada, atribuídas a um reitor especial como pastor próprio da mesma para a necessária cura das almas.” Já o código de direito canônico atual datado de 1983 diz que: “A Paróquia é certa comunidade de fiéis, constituída estavelmente na igreja particular, cuja cura pastoral, sob a autoridade do Bispo Diocesano, está confiada ao pároco, como a seu pastor próprio.” A impressão, então, que se tem é que de uma época para a outra se passa da preocupação com o campo espiritual para a questão administrativa.
O texto do livro Paróquias Urbanas, entender para participar, de Welder Lancieri Marchini, propõe que dentro de uma sociedade considerada híbrida, ou seja, que está em constante transformação e estabelece trocas de elementos culturais, as paróquias sejam desafiadas a novos relacionamentos e novas posturas pastorais, pois diante de um novo espaço urbano a paróquia não pode se comportar como se estivesse em um gueto ou em uma tentativa de negar processos culturais que transformam tanto um bairro como a própria comunidade cristã.
A partir da visão do sociólogo Alan Turraine, o autor define o indivíduo como alguém que não tem nome, idade, sexo ou classe social, aquele que está no meio da multidão. Já o sujeito se caracteriza pela vontade de um indivíduo de ser reconhecido como ator social. Ele quer atuar na sociedade.
Essa ideia, talvez, seja muito importante para pensarmos em uma paróquia que dialogue com a realidade urbana. Segundo Turraine, o indivíduo urbano tem menor participação em qualquer forma de construção social, pois, muitas vezes é mero consumidor. O formato urbano aumenta a distância entre o indivíduo e as instituições. As pessoas como meras consumidoras do serviço podem escolher aquele que mais agrada pois existe uma concorrência maior. A tendência é crer sem pertencer. As pessoas frequentam a igreja mas tem suas próprias leis morais.
Para Marchini, é preciso assumir que existem as paróquias urbanas e que elas precisam dialogar com o ambiente urbano. Nesse sentido, a paróquia precisa montar estratégias e metas de trabalho e qualificar seus agentes de pastoral, pois no contexto urbano não basta ter boa vontade. A credibilidade não é dada pela função que um agente ocupa, mas pela desenvoltura que ele tem. É preciso um planejamento pastoral.
Se queremos por exemplo que nosso trabalho pastoral leve os fiéis a um encontro com Jesus precisamos de uma catequese permanente para acompanhá-las de perto.
Para Renold Blank, em seu livro Ovelha ou Protagonista? A igreja e a nova autonomia do laicato no século 21 o primeiro obstáculo à realização de um protagonismo do leigo é a interiorização pelos próprios leigos, de uma estrutura eclesiástica hierarquizada que produziu uma consciência de ovelha passiva e obediente e junto a essa estrutura uma série de fatores e mentalidades que dificultam o diálogo com o mundo “externo”.
PARA REFLETIR…
- Para você o que é paróquia?
- As paróquias, com sua organização e mentalidade, ainda fazem sentido no tempo presente?
- Para enfrentar os desafios do mundo atual, qual a nossa mentalidade?
- Como trabalhamos no sentido de sermos lugares de uma espiritualidade viva?
- A paróquia é capaz de atender essas demandas?
CONCLUSÃO
Existem paróquias e paróquias. A identidade cristã no contexto urbano vai além da administração dos sacramentos. É necessário transformar os membros das comunidades em sujeitos eclesiais capazes de ser presença cristã na vida da cidade. Temos que trabalhar para que as pessoas não sejam meras espectadoras. A pastoral urbana acontece sobretudo pelo processo de valorização do protagonismo dos leigos.
É preciso ampliar e qualificar o diálogo com o indivíduo a fim de torná-lo de ovelha a protagonista com identidade cristã considerando as múltiplas realidades e situações vividas. Não basta dizer o que o cristão deve fazer. É preciso criar a consciência de uma identidade cristã para que ele próprio saiba o que fazer embasado em sua experiência comunitária e no agir de Jesus.
O documento de Aparecida em seu número 39 admite que
“nossas tradições culturais já não se transmitem de uma geração à outra com a mesma fluidez que no passado […] ao lado da sabedoria das tradições, localizam-se agora, em competição, a informação de último minuto, a distração, o entretenimento, as imagens dos vencedores que souberam usar a seu favor as ferramentas tecnológicas e as expectativas de prestígio e estima social. Isso faz com que as pessoas busquem denodadamente uma experiência de sentido que preencha as exigências de sua vocação ali onde nunca poderão encontrá-la.”
DOCUMENTO DE APARECIDA, n.º 39
Se queremos chegar até as pessoas é preciso primeiro acolhê-las como elas são. Amá-las dentro da condição que se apresentam. Ninguém se converte pelo ódio ou pela indiferença. É necessário abrir os olhos e o coração para as diversas pessoas em suas diversas realidades.
Nesse sentido, o problema não está somente na estrutura administrativa da paróquia, mas nas mentalidades, muitas vezes atrasadas e retrógradas, de alguns de seus membros. O trabalho é árduo mas é preciso renascer.
RENASCER
Paulo Gabriel
Depois de percorrer boa parte do caminho
fica o essencial e o essencial é simples
TUDO É DIVINO
Ou se você quiser
A VIDA É GRAÇA E DEUS É DOM!
Houve um homem ou teria sido uma mulher?
Que amou a vida até o êxtase
e porque amou a vida amou o amor
que é o mesmo que dizer
SOFREU TANTO, QUE FICOU CHEIO (A) DE LUZ!
Ou se você quiser,
FOI NECESSÁRIA TANTA DOR PARA FICAR TÃO LEVE!
Talvez você não saiba, mas esse homem,
– ou teria sido uma mulher?-
É VOCÊ!
Somos alma que é o mesmo que dizer:
O TEMPO É POUCO PARA TANTO AMOR!
Por isso precisamos renascer,
e é do alto que a vida vem,
frágil como um menino entre fuzis.
REFERÊNCIAS
BLANK, Renold. Ovelha ou Protagonista? A igreja e a nova autonomia do laicato no século 21. São Paulo: Paulus, 2006.
DOCUMENTO DE APARECIDA. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e do Caribe. 13-31 de Maio de 2007. Conselho Episcopal Latino-Americano, CELAM. São Paulo: Paulus, 2007
PAPA FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho (24 de Novembro de 2013). Lisboa: Paulus, 2013
MARCHINI, Welder Lancieri. Paróquias Urbanas: entender para participar. Aparecida-SP: Editora Santuário, 2017
PEREIRA, Maurício Alves. O beijo de Deus: o evangelho da rua segundo Tio Maurício / Maurício Alves Pereira, Paulo Gabriel. São Paulo: Paulinas, 2005