Para iluminar o Dia da Amizade, com a palavra Marcelo Barros

Queridos irmãos e irmãs, 


Escrevo-lhes hoje, no 14 de fevereiro, dia simbólico porque é o dia da amizade. Conforme uma lenda antiga, nesse dia, no antigo Império Romano, São Valentim teria dado a sua vida por um amigo que ele amava. Baseado nisso, no século XII, monges cistercienses como Elredo de Rievaulx escreveram uma teologia da amizade. Ali ensinavam que irmãos temos de ser de todo mundo.

Ser irmãos significa se reconhecer igual a todos e trabalhar pelos direitos de todos. E ser solidário a todos. Irmãos, somos de todo mundo. Amigos, a gente escolhe livremente e com critérios. É claro que nem sempre a gente acerta na escolha e até Jesus escolheu um amigo (Judas) que o traiu. No entanto, é melhor sempre correr o risco do que não ser amigo de ninguém. Amigo é diferente do colega que por acaso encontramos no trabalho ou na escola. É diferente do companheiro com o qual se viaja ou se está em determinado caminho. É diferente do camarada político. Amigo pode incluir também essas dimensões, mas só se pode dizer que é amigo quando há uma procura mútua. E ambos gostam de passar tempo juntos, de conviver e dialogar sobre a vida e partilhar. 

Na Idade Média, além do ritual do matrimônio que une um homem e uma mulher que se casam, em algumas Igrejas locais havia um ritual ou juramento de amizade no qual dois amigos ou amigas no altar juravam diante de Deus que sempre iriam caminhar juntos e ser fieis na amizade, isso é, nessa comunhão humana. Alguns teólogos falavam de que esse rito fazia da amizade um sacramento porque tomavam como parâmetro da amizade a missão de que a sua amizade seria no mundo sinal do Amor de Deus pela humanidade.

O casamento faria isso de um modo, (os dois se tornam uma só carne como sinal do casamento de Deus conosco). A amizade faz isso dizendo que Deus se revela também na unidade que mantém a diversidade e autonomia dos dois, na tensão sempre existente entre estar juntos e ao mesmo tempo cada um viver por si só. A amizade ensina a gente um outro modo de se pertencer sem se possuir. Não há exclusividade na amizade. A amizade é uma vocação e nesse sentido não é instintiva. A gente aprende a ser amigo. Ser amigo supõe certa maturidade.

Uma criança pode gostar muito de alguém, mas não consegue viver a amizade como vocação. Só a pessoa adulta é capaz de sair de si mesma para se doar a outra pessoa se tornar amiga. (O que é importante até para casais que além de esposo e esposa se tornam amigos e cúmplices um do outro) Roger Schutz que fundou a comunidade de Taizé dizia que a amizade é o rosto mais bonito de Deus na vida de alguém. Eu também penso assim. Por isso, escrevo essas linhas a vocês aos quais escolhi como amigos.

Sobre o autor:


Ir. Marcelo Barros
 é monge beneditino, escritor e teólogo biblista brasileiro. Em 1969 foi ordenado padre por Dom Helder Camara e, durante quase dez anos, de 1967 a 1976, trabalhou como secretário e assessor de Dom Hélder para assuntos ecumênicos. É membro da Comissão Teológica da Associação Ecumênica dos Teólogos do Terceiro Mundo (ASETT), que reúne teólogos da América Latina, África, Ásia e ainda minorias negras e indígenas da América do Norte. Assim, em seu blog, ele se define: “Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar”.

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