Papa Francisco acompanha com atenção, cuidado, afeto e prece os acontecimentos em nosso país

A postura do papa Francisco revela uma atenção minuciosa, preocupação de pastor, cuidado solidário, afeto fraterno e orações para o povo brasileiro. Confira:

Papa Francisco e cardenal Czerny agradecem ao MST sua solidaridade com os mais pobres e excluídos nestes tempos da Covid-19

Papa Francisco em um dos três encontros que já promoveu com os movimentos populares.

No dia em que no Brasil é comemorado o dia do trabalhador rural, o cardeal Michael Czerny, secretário do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, em nome do Papa Francisco, tem enviado uma mensagem em que manifestam “nossa alegria pelo gesto bonito de distribuição de alimentos que as famílias da Reforma Agrária no Brasil estão realizando nestes tempos da Covid-19”.

Desde o começo da pandemia, os assentamentos da reforma agrária tem distribuído mais de 2 mil toneladas de alimentos, principalmente nas periferias das cidades. Neste dia 25, está previsto que 5 mil famílias camponesas de assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária do Paraná doem aproximadamente 200 toneladas de alimentos.

Desde o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, sua coordenadora nacional, tem destacado nas últimas semanas que “é importante reforçar a solidariedade, sobretudo nesse tempo de pandemia, onde o governo lança-se em ofensiva contra os trabalhadores e trabalhadoras, contra os direitos dos povos indígenas, quilombolas e sem terra”. Essa mesma ideia aparece na mensagem assinada pelo cardeal Czerny, “esta pandemia traz muita dor e sofrimento em todo o mundo, sobretudo às pessoas mais pobres e excluídas”.

Diante disso, o texto enviado às famílias da Reforma Agraria enfatiza que “partilhar os produtos da terra para ajudar as famílias necessitadas das periferias das cidades é um sinal do Reino de Deus que gera solidariedade e comunhão fraterna”. Essas são atitudes que fazem presente o agir de Jesus,  que encheu-se de compaixão diante das multidões famintas, como recolhido no Evangelho. É por isso, que a mensagem afirma que “a partilha produz vida, cria laços fraternos, transforma a sociedade”, algo que tanto o Papa Francisco, como o cardeal Michael Czerny, desejam que seja um gesto que “se multiplique e anime outras pessoas e grupos a fazerem o mesmo”.

Um exemplo dessas atitudes o encontramos em Belém, onde a Rede Amazônica de Solidariedade, que reúne a CPT, o MST, a Sociedade Paraense de Direitos Humanos, a CRB, e outros movimentos, estão concretizando “a solidariedade da terra e a cidade, na partilha dos produtos dos assentamentos aquí na região mais próxima de Belém”, segundo o padre Paulo Joanil da Silva, agente da CPT. Se trata de alimentos produzidos pelos assentamentos da reforma agrária, sem agrotóxico, em grande quantidade, que tem sido organizados por mais ou menos 20 jovens, em 300 cestas básicas, no salão Dom Hélder Câmara, da CNBB Norte 2.

Neste dia 25, depois de um momento de mística, os alimentos estarão sendo distribuidos na periferia de Belém, em comunidades onde “a fome predomina, o desemprego pesa, onde a comunidade mais vulnerável está esperando”. O povo pobre da periferia, “sofrendo em consequência da pandemia, e também sofrendo todo tipo de discriminação, de racismo, de perversidade desse sistema capitalista”, afirma o padre Paulinho. Segundo o religioso, “a fome na cidade, ela é vencida com a luta do campo, dos camponeses, dos trabalhadores rurais sem terra”. O agente da CPT, diz que “é um ato que vem a provar, mais uma vez, que a reforma agrária é o caminho, a terra para os sem terra produz para todos”. Não podemos esquecer que 70% do alimento que chega na mesa dos brasileiros, vem da agricultura familiar.

Este gesto de partilha é visto pelo padre Paulinho como sinal de que “todos e todas somos chamados a apostar pela reforma agraria”, o que debe levar a conseguir nem só a terra como os demais direitos no campo e a valorização da agricultura familiar. Isso leva o religioso a lembrar do desejo do Papa Francisco, terra, teto e trabalho para todas as pessoas do mundo.

Na mensagem, o Santo Padre e o purpurado enviam a benção de Deus “sobre os produtos que vocês estão partilhando e que Ele abençoe também a todas as famílias que doaram e aquelas que vão receber os alimentos”. Ao mesmo tempo, eles imploram “que o Espírito Santo vos proteja do vírus da Covid-19, vos dê coragem e esperança neste tempo de isolamento social!”. Aproveitando o dia dos agricultores, eles pedem “que o nosso Bom Deus proteja e abençoe todas as famílias que trabalham na terra e lutam pela partilha da terra e pelo cuidado de nossa casa comum!”.

Papa Francisco e o Cardeal Michael Czerny elogiam a distribuição de alimentos que as famílias da Reforma Agrária no Brasil estão realizando nestes tempos de covid-19. 

Roma, 25 de julho de 2020

Queridos irmãos e irmãs!

Em nome do papa Francisco e também em meu, queremos manifestar a nossa alegria pelo gesto bonito de distribuição de alimentos que as famílias da Reforma Agrária no Brasil estão realizando nestes tempos da Covid-19. Esta pandemia traz muita dor e sofrimento em todo o mundo, sobretudo às pessoas mais pobres e excluídas.

Quando Jesus viu as multidões famintas encheu-se de compaixão e multiplicou os pães para saciar a fome do povo. Todos se alimentaram e ainda houve sobras (Mc 6,34-44). A partilha produz vida, cria laços fraternos, transforma a sociedade. Desejamos que este gesto de vocês se multiplique e anime outras pessoas e grupos a fazerem o mesmo, pois “Deus ama a quem dá com alegria” (2 Cor 9,7).

Pedimos a Deus Pai que derrame sua bênção sobre os produtos que vocês estão partilhando e que Ele abençoe também a todas as famílias que doaram e aquelas que vão receber os alimentos. E que o Espírito Santo vos proteja do vírus da Covid-19, vos dê coragem e esperança neste tempo de isolamento social! E neste dia dos agricultores, que o nosso Bom Deus proteja e abençoe todas as famílias que trabalham na terra e lutam pela partilha da terra e pelo cuidado de nossa casa comum!

Cardeal Michael Czerny S.J.

Papa Francisco envia mensagem desejando melhoras ao Cacique Raoni, hospitalizado em Sinop

Papa Francisco e o Cacique Raoni, no Vaticano, em maio de 2019.

A defesa da Amazônia e de seus povos tem se tornado agenda prioritária para o papa Francisco. Sempre atento e informado sobre o que acontece na região, sabendo que o cacique Raoni estava hospitalizado, se recuperando de uma hemorragia intestinal, enviou uma mensagem desejando melhoras ao líder indígena.

A mensagem do papa Francico, que se encontrou com Raoni Metuktire no dia 27 de maio de 2019, no Vaticano, enviada via Nunciatura Apostólica, foi entregue pelo bispo de Sinop, Dom Canísio Klaus, na visita que fez ao líder indígena na manhã de 21 de julho de 2020.

Raoni Metuktire, de 89 anos, chegou no sábado passado ao hospital da cidade de Colíder, depois que seu estado de saúde piorou, mas vai evoluindo favoravelmente em seu quadro clínico, até o ponto de que “trabalhamos com a possibilidade de alta até o final de semana conforme evolução clínica e resultados de exames”, segundo o último boletim médico.

O líder do povo Kayapó perdeu no dia 23 de junho sua esposa, Bekwyjkà Metuktire, de 90 anos, que tinha sofrido um derrame e um infarte, e não foi levada ao hospital pelo medo de contrair a COVID-19. Este fato deixou muito abalado Raoni, que mora no Parque Nacional do Xingu, e que se tornou uma das grandes lideranças na defesa da Amazônia, sendo considerado referência em nível internacional.

A atitude do papa Francisco contrasta com a do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que chegou a condenar Raoni em discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas. O atual presidente sempre tem se manifestado contra os direitos dos povos indígenas, uma atitude assumida pelos seus seguidores, que nos últimos dias, sabendo da internação do cacique Raoni, mostraram palavras desrespeitosas contra a liderança nas redes sociais.

Neste tempo de pandemia, que no Brasil já contagiou mais de 2,1 milhões de pessoas e custou a vida de mais de 80 mil pessoas, esses ataques aumentaram ainda mais, permitindo aquilo que sempre foi criticado pelo líder indígena: o desmatamento, a ação das mineradoras e do garimpo ilegal, o agronegócio…, que está acabando com os direitos, a saúde e a sustentabilidade dos territórios dos povos originários, especialmente na Amazônia.

Sobre o autor:

Luiz Miguel Modino

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

Confira, a seguir, a versão em espanhol: