Lições da História (02)
Vou lhe contar uma história…
De 2004 a 2014 tive um programa na TV Horizonte onde apresentava crônicas escritas por mim sobre temas os mais variados. Não por acaso, o programa, inventado pela minha amiga Graziela Cruz, foi batizado por outro amigo querido, o Mozahir Salomão, de “Sobre todas as coisas”. Não que eu fosse especialista em coisa alguma, mas era o meu olhar, conectado aos meus sentimentos, que trazia da tecla para a tela cenários e personagens à luz de uma Espiritualidade do Cotidiano.
Ali vivi grandes momentos com a turma que me acompanhava no estúdio, minha plateia muito especial.
Você pode conferir no YouTube. Foram mais de 1500 crônicas gravadas e todas começavam com a mesma frase: “Vou lhe contar uma história”…
Era o lógico. Professores e professoras são, todos, contadores de histórias. Em algumas, os personagens são números, em outras, são palavras. Podem ser elementos químicos ou as leis que regem o funcionamento do universo. Células são personagens fantásticas, assim como datas, acontecimentos e ideias. Países, com seus climas, relevos, população e cultura são personagens inesquecíveis. Há abençoados(as) que contam histórias em aulas de Arte, Música, Dança, onde a personagem central é a Beleza. Há quem, nas aulas de Educação Física, fale da harmonia possível entre força e leveza.
A vida é uma imensa sala de aulas e os professores estão lá, contando e recontando as histórias da História…
Quando fui fazer vestibular fiquei na dúvida entre o curso de Letras e o de História. Já sabia que seria professor. A profissão já havia me escolhido quando colocou no meu caminho mestres como o Padre Candinho e o Professor Fábio Márcio de Freitas. Todo professor vira professor por culpa de algum professor…
A paixão pelas palavras falou mais alto, mas a História e suas lições continuam me seduzindo desde que, ainda pequeno me apresentaram um mundo novo chamado Escola. O Jardim de Infância Delfim Moreira…
– Olha, aqui é a sala de aula…
– O que é isso, mãe?
– É um lugar onde se aprende…
– Aprende o quê?
– A ler, escrever, aprende a somar, multiplicar…
– Prá quê, mãe?
– Ora, meu filho, todo mundo tem que aprender…
Mal sabia que, entrando nesse mundo, aos 5 anos, só sairia aos 62.
E será que saí…?
O sorriso da professora (D. Hilda) que me recebeu à porta, continuou me acompanhando pela vida afora. Grupo Escolar Carlos Goes, o Silviano Brandão, o Colégio Paroquial Nossa Senhora da Conceição, o COPANSC, onde numa virada de ano, passei de aluno a professor. Loyola, Santo Antônio, Imaculada, escolas onde a aula começava no estacionamento, passava pela portaria, dava uma parada no cafezinho, cruzava o corredor sempre limpinho, entrava pelas salas organizadas pelos funcionários que acordavam de madrugada e vinham cochilando e chacoalhando nos ônibus para que todos encontrassem, às sete da manhã, os banheiros limpos e asseados, os recados em dia, a mesa em ordem, os computadores conectados, o material preparado…
Então, o burburinho de vida dos alunos invadindo e contagiando pátios, corredores, meus olhares, meus amores…
Por 62 anos vivi essa presença companheira de cada colega, aluno, professor, a Escola toda funcionando, ensinando que tudo ensina.
Todos somos chamados sempre, e de repente, a aprender, mesmo depois do horário, mesmo à distância, como agora, em casa, em meio às lidas do dia a dia, onde continuamos aprendendo e ensinando a maior lição: a Sala de Aula está à nossa volta, em mim, em vós, em todos nós. A Educação, na verdade, não cabe na Escola. O mundo ensina. A Vida ensina. Por isso a História conta tantas histórias onde somos, permanentemente, alunos e professores, educandos e educadores!
Eduardo Machado
03/10/2020
Sobre o autor:
Eduardo Machado é educador e escritor apaixonado pelo ser humano. Considera-se um católico que tenta, cada dia mais, tornar-se cristão. É colaborador do Observatório da Evangelização PUC Minas.