Tem muitos professores me perguntando o que devem fazer agora no dia 19 de abril intitulado “Dia do Índio”. Parabenizo estes professores que estão ensinando seus alunos a respeitar os indígenas, ouvindo nós indígenas.
Eu tenho dito que, primeiramente, ele tem que ser sincero com seus alunos e falar a verdade. Por favor, não façam cocares de papelão, pintem seus alunos de tinta guache e peçam para bater na boca! Isso é uma grande afronta a nós povos originários desta Terra! Nossa pintura é sagrada! Temos uma relação espiritual com nossos cocares e adereços, não é um enfeite! Bater na boca nem é da cultura indígena brasileira!
A primeira mentira que precisa ser desconstruída é a que diz que o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi descoberto. Foi invadido. Nós já estávamos aqui quando os portugueses chegaram.
Tem indígena em todas as Regiões do Brasil não só na Amazônia. No Nordeste tem índio também. Somos a segunda região em número de indígenas. Tem índio de todo tipo: com cara de índio, com cara de branco, com cara de negro… não é a cor que nos dá o título de indígena… é a nossa cultura… nosso pertencimento a um Povo!
Pedir pureza aos povos indígenas – principalmente no Nordeste que foi o primeiro povo de contato – depois de quase 519 anos de estupros beira a insanidade. Sabe aquela sua vó que foi “pega no laço” ou “a dente de cachorro”? Ela foi estuprada!
Nós não temos que ficar estáticos paralisados no tempo. Já pensou se você que se diz branco tivesse que se vestir como os portugueses quando chegaram aqui? Por que nós indígenas temos que viver nus ainda? Nós vestimos roupa, temos diploma universitário, somos mestres, doutores, usamos celulares, notebook, Iphone, casa de bloco, carro importado… Não podemos trabalhar e conquistar estas coisas?
Nós somos seres humanos pensantes, inteligentes e podemos tudo que vocês podem. O que nos diferencia é que temos uma cultura, uma ancestralidade, vivemos em comunidade e fazemos nossos rituais sagrados. Nós sabemos de onde viemos, quais são nossos antepassados e honramos eles. Nós temos uma pintura, adereços, cânticos, rezas… mas usamos calça jeans e tênis… Nós somos diferentes e somos iguais a vocês!
Nós podemos ser tudo que vocês são sem deixar de sermos indígenas, pertencentes a um povo com uma cultura diferenciada. Na verdade nem somos índios… Somos Tupinambá, Guarani, Pankararu, Tuxá, Mundurucu, Yanomami… O nome índio nos foi dado pelo invasor.
(Os grifos são nossos!)
Potyratê Inaê Tupinambá é advogada indígena, defensora de mulheres, ativista pelos direitos humanos das mulheres indígenas e dos direitos indígenas. Faz parte da gestão rede pelas mulheres indígenas: @pelasmulheresindigenas.
Para conhecer mais…
https://www.pelasmulheresindigenas.org/
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