ENQUETE PARA O ANO DO LAICATO
Para refletir… e pensar passos concretos e necessários avanços teológico-pastorais e bem trilharmos o caminho aberto pelo “Ano do Laicato”, que tal ler o texto abaixo, no qual o teólogo João Batista Libanio, em 2005, no marco dos 40 anos do término do Concílio Vaticano II, elenca entre as “tarefas incompletas” deixadas por este evento “a participação do leigo”, e responder a nossa enquete:
“Quanto à maior participação do leigo, teologicamente avançou-se. O Concílio firmou com clareza a verdade da igualdade fundamental de todos os membros do povo de Deus pelo Batismo. O Espírito Santo age em todos. O sensos fedei e o sensus fidelium garantem a confiança básica em todos os cristãos. No nível prático, não se criou um “estatuto jurídico” suficientemente consistente que garantisse ao leigo realmente o direito de participação no interior da Igreja até no exercício de ministérios, sem precisar depender do beneplácito das autoridades eclesiásticas. Falta-lhe um reconhecimento externo de que ele é também Igreja. A mídia, quando cita a posição da Igreja, praticamente identifica-a com a voz de alguém do clero e nunca de algum leigo representativo.
Em algumas Igrejas particulares, o caminho foi que as opções e prioridades pastorais, as decisões mais importantes para a vida da Igreja passassem a ser tomadas nas assembléias do povo de Deus, em que participam o bispo, padres, religiosos, religiosas e representantes das comunidades. A larga maioria são leigos e as votações são decisivas. Estrutura que existe na realidade, mas não encontrou ainda lugar na legislação oficial da Igreja. Depende, portanto, de iniciativas de Igrejas particulares, sujeitas às eventualidades das mudanças de seus bispos.
Na América Latina, no nível do discurso, a 4ª Conferência Geral do Episcopado em Santo Domingo (1992) estabeleceu, no capítulo sobre a Nova Evangelização, entre as urgências do momento presente: “Que todos os leigos sejam protagonistas da nova evangelização, da promoção humana e da cultura cristã. É necessária a constante promoção do laicato, livre de todo clericalismo e sem redução ao intra-eclesial”.(n. 97).
Em resumo, o futuro da Igreja e a Igreja do futuro dependerão da vitalidade da participação dos leigos.”
Fonte: LIBANIO, João Batista. Concílio Vaticano II. Em busca de uma primeira compreensão. São Paulo: Loyola, 2005, p.182.
Responda a nossa “Enquete para o Ano do Laicato“:
- O que, concretamente na atual prática da Igreja, impede a plena participação dos cristãos leigos?
- Em que a Igreja deve avançar para concretizar a cidadania eclesial dos cristãos leigos?
Contribuição de Marcelle Durães:
1) O poder e o ego. Impossibilitam a vivência autêntica do amadurecimento da fé. O comprometimento e engajamento à causa e ao bem comum.
2) Diálogo e formação. Sem o diálogo não há abertura que possibilite caminhar. Para o diálogo é preciso a escuta atenta para perceber as necessidades e fragilidades.
Formação desenvolve o senso crítico e possibilita o servir.
Contribuição de Ana Maria Sena:
Reflexão pertinente e necessária. É preciso Ser para crer e ser Sal e Luz. Tempo oportuno para rever nossa identidade cristã leiga e se não estamos sendo entraves para que a Igreja avance também. É preciso coragem.
Contribuição de Aline Soleane Carmo Braga:
1) O que, concretamente na atual prática da Igreja, impede a plena participação dos cristãos leigos?
Penso que ainda o clericalismo e a reafirmação desse, especialmente por membros do clero que entendem a maior participação do leigo como perda de autoridade, poder, controle e, sobretudo, privilégios “sagrados”.
Há também um problema na concepção da sacralidade pelo próprio leigo. Quantas vezes vi pessoas trocarem de fila na comunhão para receber o Pão da Vida das mãos do sacerdote e não do Ministro Extraordinário da Eucaristia? Inúmeras. Em minha paróquia, por exemplo, a última fila da comunhão a terminar ainda é a do padre celebrante, principalmente quando trata-se do pároco.
Em relação a hierarquia da Igreja também vejo grandes problemas, não em relação a sua existência até pela organização da própria Igreja como instituição, mas sim dada a formação de castas, quadro mais perceptível na cúpula da Santa Sé. O querido papa Francisco enfrenta constantemente esse quadro.
Tento acompanhar as traduções das matérias do vaticanista Andrea Tonelli sobre esse assunto nas publicações do IHU e ainda fico estarrecida como alguns cardeais e bispos se comportam como monarcas. O reforço da “teologia do pano” atribuindo o Sagrado a esse ou aquele paramento também torna mais distante o coração do leigo da Verdade.
Entre jovens tenho observado, com grande preocupação, a nova safra de ditos conservadores, fãs do latim, dos lemas de santos de história um tanto quanto fantasiada e a qual são atribuídos frases mais segregadores que acolhedoras, de uma Igreja de outros tempos, muito muito distante da mensagem sempre atual do Evangelho: a Graça a todos alcança, como cada um é, só importando o que cada um sente e por consequência o que faz, como o faz.
2) Em que a Igreja deve avançar para concretizar a cidadania eclesial dos cristãos leigos?
Nesse ponto acredito que envolva questões jurídicas dentro da própria Igreja.
O número de padres só diminui, o número de padres dispostos a estar a serviço da construção do Reino nas comunidades é ainda menor.
As congregações às vezes são grandes guetos de pessoas que se aproximam da Igreja justamente atraídas pelo tratamento diferenciado aos membros do clero.
Creio que seja necessária uma grande revolução entre os leigos para deles florescerem vocações com esse propósito: fazer da Igreja a casa de todos, com igualdade de ação para com o outro.
Aqueles que receberem o sacramento da Ordem obviamente terão papel fundamental como condutores/animadores de uma Igreja em missão, em saída, ao encontro do outro, de si, de Deus e, principalmente, de Deus no outro.
Algumas questões práticas
Penso que fomentar Ministérios que acolhem os leigos para atuar ativamente seja fundamental:
* fazer sessões abertas do Conselho Paroquial;
* eleger os conselheiros em votação com a possibilidade de todos assumirem um assento nessa arena de debates e deliberações;
* preparar teologicamente e pastoralmente os coordenadores de Ministérios, pastorais e movimentos, para que estejam constantemente em consonância com as deliberações do Assembleia do Povo de Deus. Percebo que infelizmente o “filtro” de párocos e vigários bloqueia esse fluxo de informação;
* investir nas Pastorais da Comunicação, não como palcos de marketing e proselitismo, mas como importantes canais de Evangelização em sintonia com a contemporaneidade e com a tecnologia, permitindo a participação do leigo para além do trabalho na igreja física, mas como Igreja na comunidade, no dia a dia;
* aumentar as discussões em torno do tema da fé e política, sair do círculo vicioso de abordar a Doutrina Social da Igreja apenas em questões de direito à vida, como o aborto e o uso de células tronco. Nesse sentido penso em aprofundar as discussões sobre pobreza, desigualdade, porquê vivemos em uma sociedade baseada nessas diferenças, porquê condena-se o aborto, mas não se cobra a presença do pai, se afasta essa mãe das atividades paroquiais por ser um “mal exemplo”, mas o pai passa ileso de cobranças etc.
No momento esse é o resumo da reflexão que fiz, mas penso que ainda preciso caminhar muito para concretizar os questionamentos que faço constantemente a mim mesma sobre uma Igreja atualmente desconexa. Penso que a Igreja, como um todo, anda muito a mercê da iniciativa de pessoas particulares, mas sem uma linha de ação a qual os próprios membros do clero respeitem. Muitos não seguem as deliberações ou orientações do papa Francisco por opiniões pessoais, o que conflita com a própria hierarquia que esses costumam defender.
A caminhada é longa, mas o Espírito nos fortalece!
Obrigada pela oportunidade de reflexão!
Contribuição de Dalca Couto e Eder:
Para melhor sermos cristãos leigos precisamos conhecer e aceitar o Jesus da Bíblia. Só assim assumiremos o compromisso de sermos engajados como Igreja e anunciar o Reino de Deus. Não podemos perder o foco. Jesus é o nosso foco. Sem o conhecimento verdadeiro de Jesus, ritos, celebrações, estrutura de Igreja fica sem sentido para o leigo.
Por outro lado, o atual modelo de cristianismo não favorece a atuação do leigo na Igreja. Nos ocupamos muitas vezes de angariar dinheiro para construir e manter as estruturas humanas, onde valoriza-se mais o devocionismo, os milagres e as festas tradicionais de Padroeiro.
A oração e o testemunho são necessários para nos incentivar no caminho. Mas se não priorizarmos Jesus e nos encantarmos por Ele, seremos uma Igreja desanimada, que sobrevive obedecendo a vontade do clero. O leigo precisa aceitar e obedecer, antes, a vontade de Deus para anunciar o seu Reino.
Dalca e Eder
. Considerando que haja realmente vontade de adotar a concepção de igreja do Concílio Vaticano II, deveríamos:
a) Colocar como formadores de seminários padres que tenham essa compreensão, e garantam na formação essa construção ao longo de toda formação.
b) nomear bispos com esse entendimento e que contribuirão para a mudança.
c) atualizar as orientações jurídicas sobre o exercício dos ministérios.
d) instituir o ministério da ação social e política
e) reformar a forma de funcionamento e o papel dos conselhos paroquiais e demais, com pautas e funcionamento adequado a uma igreja missionário, em saída, pobre e para os pobres, circular e com protagonismo leigo.
Contribuição de Rosemary Costa
Identidade crística e profética dos leigos, protagonistas da evangelização
A caminhada da Igreja na América Latina já é sinal sacramental no diálogo com a sociedade, na criação de respostas novas e emergentes que colaboram na construção de estruturas de humanização e vida digna para todos. No Concílio Vaticano II (1962-1965), este diagnóstico não apenas constatou situações de injustiça e desumanização, mas respondeu com reflexões fundamentais e ações afirmativas aos desafios apresentados pelas sociedades e culturas modernizadas.
A Igreja da América Latina tem uma dimensão profética e pedagógica, como fonte de orientação para os caminhos da missão eclesial no mundo de hoje. No Documento de Medellín (1968) está sedimentada sua índole profética, crística e orientada à integração das mais diversas estruturas na direção da humanização do continente:
“Que se apresente cada vez mais nítido, o rosto de uma Igreja autenticamente pobre, missionária e pascal, desligada de todo o poder temporal e corajosamente comprometida na libertação do ser humano por inteiro e de toda a humanidade”. (CELAM, Medellín 5, 3.3)
A reflexão eclesial aponta para sua missão evangelizadora: a Igreja como “sacramento, ou seja, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (VATICANO II, Lumen Gentium, 1).
A oração de Jesus Cristo por sua Igreja já é o grande convite, a convocação mais profunda, que vem de sua razão de ser: “Que todos sejam um, para que o mundo creia” (Jo 17,21). Jesus aponta para a comunidade, orientando para uma Igreja centrada na Trindade revelada, projetada para o mundo, à missão, aos cristãos de outras Igrejas e às outras religiões.
Nesse sentido, a missão eclesial passa pelos carismas da comunidade e pela parceria entre todos os que compartilham do sacerdócio comum, partilhando a espiritualidade e reunindo forças para o trabalho missionário, pastoral, pedagógico, mistagógico a que a Igreja é chamada. Essa aproximação se expressa na colaboração entre batizados com vocações em estados de vida diferentes que se unem para servir mais e melhor à Igreja e ao Reino de Deus.
Contudo, ao tratarmos do sacerdócio comum dos batizados, podemos perceber que ainda há muito o que construir para que a parceria entre o clero e o laicato seja em unidade evangélica. Na Conferência de Santo Domingo (1992), este alerta aparece claramente:
“Que todos os leigos sejam protagonistas da nova evangelização, da promoção humana e da cultura cristã. É necessária a constante promoção do laicato, livre de todo clericalismo e sem redução ao intra-eclesial”. (n. 97).
Falar de protagonismo dos leigos é também tomar consciência de seu processo de encarnação na sociedade e, portanto, capaz de não apenas diagnosticar, mas de construir estratégias criativas para as muitas situações apresentadas e de penetrar os ambientes sociais, políticos, afetivos, educacionais, culturais, implementando ‘de dentro’ da sociedade, um processo de evangelização.
A comunhão eclesial configura-se, mais precisamente, como uma comunhão “orgânica”, análoga à de um corpo vivo e operante: ela, de fato, caracteriza-se pela presença simultânea da diversidade e da complementaridade das vocações e condições de vida, dos ministérios, carismas e responsabilidades. Graças a essa diversidade e complementaridade, cada fiel leigo encontra-se em relação com todo o corpo e dá-lhe o seu próprio contributo. (JOÃO PAULO II, Christifidelis Laici 20, 1988)
A partir desta fundamentação, podemos elencar algumas prioridades:
1. A primeira diz respeito à própria identidade sacerdotal de todos os batizados. Em espaços nos quais ainda está presente o clericalismo, é emergencial trabalhar na formação dessa consciência, da pertença eclesial, da corresponsabilidade diante da missão comum. Sim, isso significa avaliar as estruturas pastorais, as práticas litúrgicas, as ações sacramentais, o processo de Iniciação Cristã, na direção da eclesiologia de comunhão. É rever a missão resgatando a própria identidade sacramental: crística e eclesial.
2. A segunda prioridade nos remete a nos darmos conta de um dos sinais dos tempos modernos, que é a diversidade. A diversidade presente em todos os ambientes sociais nos conduz a rever a atuação missionária nesses novos tempos, numa perspectiva de não perder as referências da identidade cristã e, ao mesmo tempo, dialogar com as diferenças, com atitudes concretas de respeito, tolerância e acolhimento. É um campo novo que nos convida para uma dinâmica mais intersubjetiva. Nela somos interpelados a construir aproximações: de significados e representações, de linguagem, de identidades e pertenças, de visões de mundo.
3. A terceira prioridade é consequência da compreensão de que toda a comunidade eclesial vive em estado de Iniciação Cristã permanente. Cada batizado é chamado não apenas a vivenciar sua vocação crística, mas também a descobrir sua vocação específica, seu jeito especial de servir, de se colocar à disposição do projeto do Reino, enfim, seu ministério. No entanto, reforçamos a importância de retomada dos processos de Iniciação Cristã, pois neles vai sendo construída a identidade crística, o sentimento de pertença e de responsabilidade comum.
4. A quarta prioridade, também consequência da perspectiva de comunhão eclesial, é a estrutura dialógica do planejamento pastoral. Trata-se de uma prática dialógica, aberta, acolhedora das diferenças de ideias, capaz de diagnosticar os sinais dos tempos e seus novos desafios. Os encontros em cada comunidade não devem ser realizados com pautas fixas e sim com a construção coletiva das metas e a revisão dos planejamentos pastorais vivenciados. Enfim, uma comunidade aberta, flexível, dialógica, capaz de revisão constante e busca de novas estratégias pastorais e pedagógicas. Uma comunidade viva, horizontal em suas relações, e respeitando a diversidade de ministérios presentes. Uma comunidade que se percebe em estado de iniciação cristã, vivendo a espiritualidade que brota da Palavra sempre desafiadora.
Para a caminhada da Igreja, não estamos falando em uma mudança ou novidade, e sim do resgate do centramento vital cristão, no encontro com o outro, na relação dialógica, para a experiência do crer que se traduz em amor, como lembra a epístola joanina – “Amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus; e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Quem não ama não descobriu a Deus, porque Deus é amor”. (1Jo 4,7) Só a experiência do amor é capaz de superar a aporia do conhecimento sem amor.
5. A quinta prioridade, sempre em decorrência das anteriores, consiste em desenvolver cada vez com mais afinco a perspectiva ética do Cristianismo. Estamos diante de novos tempos, em que o resgate dos direitos humanos fundamentais e dos direitos ambientais são desafios emergenciais na evangelização. Sendo assim, os leigos, imersos na sociedade, no mundo cultural, da política, do trabalho, experimentam desde dentro as questões básicas para a dignidade da vida humana. A busca pela justiça é uma bandeira permanente na luta pela dignidade de todos os seres humanos e de todo o ambiente, profundamente violado pelo sistema desenvolvimentista. O protagonismo dos leigos como sujeitos sociais é central, é seu agir no mundo, na história, como presença profética e transformadora. (CELAM, Medellín 5,3.1)
No bojo desta prioridade, encontraremos não apenas as questões dos direitos humanos, mas a relação com a terra, com os corpos, com os bens criados e sua distribuição. É a consciência crística, cósmica e escatológica de que compartilhamos da grande morada, da Casa Comum. Sendo assim, as pautas e estratégias, integram o cuidado com o ambiente com todas as demais dimensões: social, econômica, política, cultural, afetiva – é o que podemos chamar de mística da terra. Esta é uma experiência concreta dos povos da terra, indígenas e quilombolas, que foi, em muitas culturas, perdida em função das práticas desenvolvimentistas e distantes do respeito ao ambiente natural.
O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. (LS 13)
Estamos iniciando o Ano do Laicato, que tem como objetivo geral celebrar a presença e a organização dos cristãos leigos e leigas no Brasil; aprofundar a sua identidade, vocação, espiritualidade e missão; e testemunhar Jesus Cristo e seu Reino na sociedade. Atitudes que conduzam à escuta do chamado comum, à consciência da própria identidade crística, ao exercício dialógico nas comunidades eclesiais, à conversão de práticas clericalistas distantes do Evangelho de Jesus Cristo e, portanto, da missão da Igreja, como sinal do Reino, podem estar diante não apenas como inspiração, mas como desafios práticos para o cotidiano da vivência cristã.
Os leigos e leigas, presentes nas infinitas comunidades de fé, como profetas, precisam ser sentir fortalecidos, legitimados, reconhecidos, valorizados, como ministros que são, como parceiros solidários no exercício coletivo da cidadania cristã. Clero e laicato precisam estar atentos aos fundamentos que constroem e mantém uma distância que é contra-testemunho cristão no mundo e, assim, aprenderem juntos, abertos à dinâmica da Graça atuante, novas formas de construção do Reino para todos e todas, para todo o Cosmos.
O Ano do Laicato nos chega como uma convocação à parceria solidária, como assembleia eclesial a serviço do projeto maior, assumindo diagnósticos, discernindo comunitariamente e criando orientações para a transformação das estruturas que não corroboram para a justiça, a fraternidade e a dignidade dos povos. Esta vocação ecoa no coração dos povos, da terra, nos convoca a não apenas observarmos e diagnosticarmos mas, a partir do discernimento espiritual e crítico, comunitário e propositivo, nos encarregarmos das estruturas humanas, ambientais, na direção do projeto do Reino de todos, de todas, de toda a Criação.
Contribuição de Áurea Marin Burocchi
Sem dúvida, é necessário caminharmos juntos: hierarquia e leigos que constroem a própria cidadania numa Igreja que é formada de diversidades que se tornam dons recíprocos.
“Ide! Eis que vos envio como cordeiros entre lobos. Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias…” (Lc 10, 3-4). Percebo que o primeiro passo é avaliarmos como temos servido a Cristo e a igreja na atualidade. Seja leigo ou do clero, damos realmente testemunho servindo a Cristo na simplicidade e no desapego que o Evangelho propõe? Esse comentário é pelo fato de que ouço repetitivamente discussões intermináveis como, qual o melhor projeto de evangelização que deva ser realizado? ou quais os desafios contemporâneos da igreja? Na verdade, complicamos demasiadamente algo que é simples porém complexo. Falamos demais do evangelho e pouco damos testemunho dele. Como falar que a igreja tem preferência pelos pobres, sendo que há tanta contradição do modo em que vive parte do clero e suas lideranças? Como dizer que a voz do leigo tem importâcia, se na verdade ainda funciona o “aqui nesse território sou eu que mando”? Preocupações exageradas com construções templos, sendo que o templo do Espírito Santo, o povo de Deus, sofre as mazelas de uma política desumana, corrupta e golpista, e “[…] o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. (Mt 8, 20). Li em um dos comentários que não podemos perder o foco que é Jesus, de fato, Ele é nossa essência. No ano do laicato, o mais importante à comentar é o serviço, e não somente investidura, reconhecimento, enfim… Viver a palavra que diz: ” o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate por muitos.” (Mt 20, 28).
Contribuição de José Luis Leite
“Acima de tudo o Ano do Laicato tem que ajudar a entender que o leigo não é súbdito, mas parte integrante do processo eclesial. Por isso se faz necessário que a Igreja se organize a partir do Sacramento do Batismo, e não do Sacramento da Ordem. ”
São palavras do papa Francisco:
” O clericalismo é um câncer e câncer não escolhe, digamos assim, um único setor do corpo, ataca o corpo como um todo. Então o clericalismo é uma experiência de autorreferencialidade que vai para todos os lados, inclusive infelizmente para o próprio laicato. Ninguém nasce bispo, padre, mas nascemos para a Igreja pelo batismo.”
Se alguma coisa for feita nesta direção de que o leigo é parte integrante do processo eclesial, acreditamos que o Ano do Laicato já valerá a pena”.
Fonte: O Lutador – Celso Carias – Fevereiro de 2018
Até o momento a Igreja não criou um ESTATUTO JURÍDICO suficiente que garantisse ao leigo de participar realmente da Igreja, como afirmou o padre Libânio em 2005.
Leigos: “Sal da Terra, Luz do Mundo”
Contribuição de Agripa da Silva Mairink:
De onde estou, vejo possibilidades e alguns entraves, dos quais gostaria de destacar três:
1. O clericalismo é, na minha opinião, o primeiro entrave. O clericalismo dos ministros ordenados, a mentalidade clericalista das lideranças leigas, a centralidade da figura do padre no imaginário popular dos fiéis e uma visão, ainda persistente, do leigo como um cristão de segunda categoria.
2. Em segundo lugar, vejo e convido-os a pensar no superado modelo de jurisdição paroquial e o sistema de grandes paróquias e grandes templos. Esse é um modelo onde o leigo sempre será coadjuvante e secundado. Servo numa dinâmica feudal. Quando muito um nobre de segundo escalão.
3. Um terceiro entrave que vejo é a supremacia do celibatário -ordenado ou não- sobre os de vida conjugal. Há uma sutil e equivocada pretensão de que seguir a Jesus no celibato é mais difícil e de maior dignidade que na opção laica e de família.
Vejo-nos muito distante do conceito Igreja Povo de Deus. A Igreja comunidade de comunidades é uma ousadia da qual ainda não demos conta.
Uma Igreja em diálogo com a cultura contemporânea, comprometida com os prediletos do Senhor e de portas abertas para a juventude será sempre um espaço emancipação e cidadania dos leigos.
Por agora, nos vejo longe disso. Mas, na esperança pascal de que avancemos rumo a essa nova dinâmica e apaixonados pelo seguimento de Jesus.
Contribuição de Magda Melo, leiga, assessora das CEBs:
O futuro da Igreja e a Igreja do futuro.
A grande questão do futuro da Igreja e a Igreja do futuro no seu modelo hierárquico atual está comprometida.
O mundo vem passando por imensas transformações, isso faz com que a Igreja busque caminhos novos. Os desafios são enormes sendo necessário ampliar o olhar e construir caminhos condizentes com a nova realidade.
É preciso enxergar com clareza as reais necessidades e realizá-las com consciência e maturidade, sem a tentação da disputa do mercado religioso, sem sentimentalismo e retorno ao fundamentalismo, neopaganismo, mas, aberta ao diálogo ecumênico, macroecumênico e principalmente procurando ser sal e luz, fermento na massa.
A Igreja acabou concentrando toda a vida eclesiástica no clero. Os ordenados estão submetidos a um estatuto jurídico e canônico não a uma dimensão de carisma.
Segundo os dados estatísticos atualmente são 400.000 mil padres e não chega a 200 mil seminaristas maiores. Não existe possibilidade de reposição do quadro de padres ordenados pois deveria ter pelo menos 800.000. Essa realidade obriga necessariamente a Igreja a repensar a questão ministerial.
O ordenado está vinculado ao celibato e ele concentra nas mãos todo poder da Igreja, o poder sacramental, jurídico, canônico, econômico, administrativo e o poder pastoral.
E essa é a questão principal ou se repensa os ministérios e faz uma verdadeira reforma ministerial da Igreja hoje, ou a Igreja não terá futuro.
A Igreja constituída ela é hierárquica. Faz-se necessário uma partilha fraternal dos ministérios, por exemplo, se poderia organizar alguém que cuidasse da parte administrativa, alguém que cuidasse da parte sacramental, alguém que cuidasse da parte missionária, alguém que cuidasse da evangelização.
Quando eu falo aqui da reforma ministerial estou colocando a questão crucial, pois uma Igreja centrada sobre o homem varão (do sexo masculino) e celibatário torna-se estéreo, a Igreja tem que repensar a questão da mulher, o papel da mulher nos ministérios, no governo da Igreja e no seu estatuto jurídico e teológico.
Outra questão fundamental são os pobres, quando foi realizado o primeiro Concílio foram dadas algumas orientações, sendo a principal não esquecer os pobres.
A Igreja do Brasil colocou muitos adjetivos na opção pelos pobres, opção preferencial pelos pobres, entre outras. O papa Francisco, ao contrário, não tem nenhum rodeio, vai direto na questão: opção pelos pobres. É uma ligação afetiva e efetiva, promoção afetiva e efetiva dos pobres.
É acreditar que os pobres têm algo a ensinar, tem algo a oferecer, eles são sujeitos, são protagonistas. Deve-se também confiar a eles o governo da Igreja, a missão da Igreja, entregar a Igreja nas mãos dos pobres.
A hierarquia da instituição e o maior problema e quebrar esses grilhões e a solução. Todo resto e conversa fiada. Nem os padres querem leigos na sua frente.
ola.respondendo as perguntas acima.onde esta..o que concretamente na atual pratica da igreja.impede a plena participacao dos cristao leigos?nao tem como avancar em nenhuma area sem formacao.um engenheiro .medico advogado.etc.ate esses profissionais estao com deficit de formacao.nao tem por exemplo formacao humana.so tecnica nao e suficiente.muito mais um leigo dentro da igreja.o leigo deve ter formacao humana em primeiro lugar. e e importante fazer;teologica e filosofica e antropologica catequeticas.e importante fazer uma reciclagem no clero com mais frequencia.acredito que na arquidiocese de bh nao tem esse problema.mas eu vivo em uma paroquia de uma determinada congregacao que a mesma parou no tempo.nao sei porque isso acontece porque o fundador dessa congregacao e de um principio exemlpar.e os seus seguidores nao acompanha .nao coloca em pratica o principio da mesma que e revolucionaria.e preciso caminhar.eu participei de poucas apd.acredito que as perguntas que sao feitas la sao mimuria que respondem. porque nao tem muito tempo de preparacao das resposta.sendo assim.as decisoes fica nas maos de pucos e as mesma fica so no papel. att ..luic carlos