Natal: uma experiência de teimosa esperança na busca de vida nova

Por Edward Guimarães

A cada início de ano litúrgico, nós cristãos somos chamamos a viver o tempo do Advento como singular oportunidade de conversão: fazermos profunda avaliação de nosso jeito de caminhar, tanto no nível pessoal quanto comunitário. Isso ajuda na preparação para bem celebrarmos o Natal e a fazermos deste tempo um criativo itinerário de autêntica renovação da esperança, do compromisso com o seguimento de Jesus e com a concretização de um jeito novo de viver e conviver na Igreja e na sociedade.

Assim, geralmente motivados pela novena do Natal, somos interpelados a abrir as portas de nossos corações e de nossas casas a Deus e aos companheiros e companheiras de caminhada (Ap 3, 20). Somente abertos ao amor gratuito de Deus, que vem ao nosso encontro, podemos assumir o dinamismo de amar uns aos outros, na vida em comunidade de fé e no compromisso de participar, de mãos dadas com os movimentos populares, da construção de uma sociedade justa e fraterna.

Ao contemplarmos o mistério da proximidade amorosa de Deus no presépio, nos damos conta do modo como Jesus veio ao nosso encontro: Deus, movido por amor, se esvaziou de seu poder divino, se abaixou até nós, assumindo a nossa vida e se tornando, de fato, em tudo igual a nós (Cf. Fl 2, 7; Hb 4, 15). Acontece que, ao entrar em nossa história, experimentou desde o início trágica situação de profunda exclusão social. Esta triste realidade de marginalização acontece igualmente na vida dos mais pobres e vulneráveis de nosso tempo. A chegada do menino Jesus não encontrou espaço de generosa acolhida entre nós. Não houve solidariedade fraterna e lugar digno para receber a família de Nazaré: não havia lugar para mãe Maria, no estágio final de gravidez, e o pai José, quando eram peregrinos fora de sua pátria (Cf. Lc 2, 1-8).

Percebemos imediatamente que enquanto não cuidarmos da cultura da hospitalidade, da partilha fraterna e da sensibilidade humanitária para com os que estão em necessidade, o que aconteceu com a família de Nazaré, por ocasião do nascimento do menino Jesus, continuará a acontecer entre nós com os excluídos da mesa da cidadania. Isso significa que, depois de 2000 anos, ainda não aprendemos a lição do Natal e nem o projeto salvífico de Deus revelado na vida de Jesus de Nazaré por gestos e palavras. Não podemos esquecer que somos todos filhos e filhas do amor de Deus e, portanto, irmãos e irmãs vocacionados ao amor fraterno. Amor que promove o cuidado para com a hospitalidade e a prática da justiça, da partilha e da inclusão de todos na mesa da dignidade. Recebemos o dom da vida e estamos aqui para aprendermos a amar. Nossa origem coincide com o nosso destino: nascemos do amor de Deus, no amor divino existimos e para ele voltaremos.

Desse modo, a celebração do Natal revela e expressa, de modo muito singular, a beleza e o sentido maior da vida cristã vivida em comunidade de fé e partilha de vida: somos convidados a cuidar das relações humanas para que todos experimentem, na acolhida fraterna, a gratuidade do amor de Deus.

Desejamos a você, a sua família e a sua comunidade um abençoado Natal: que cuidem das relações humanas, amando uns aos outros, para que todos, por meio delas, experimentem-se amados por Deus. Deus viveu, em Jesus, a trágica experiência da exclusão social para que ninguém, entre nós, seja excluído de nosso amor fraterno, da proteção da justiça e da mesa da cidadania.  Temos que pensar em meios concretos para garantir  a dignidade humana a cada filho ou filha de Deus.

Celebrar o Natal é assumir um compromisso concreto: acolher o amor de Deus que, em Jesus, vem ao nosso encontro e amarmos uns aos outros, cuidando para que cada pessoa, na Igreja e na sociedade, tenham vida e vida em abundância (Cf. Jo 10, 10).

Edward Guimarães é leigo, catequista de adultos e membro do Conselho Arquidiocesano de Pastoral, na Arquidiocese de Belo Horizonte. É o atual secretário executivo do Observatório de Evangelização PUC Minas e é professor de teologia do Instituto Regional de Pastoral Catequética – IRPAC da CNBB Leste 2.