Todos os anos, a Ação Missionária pertencente à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) convida um grupo de jovens a viver uma experiência incrível! Com apoio das Pontifícias Obras Missionárias e Pastorais Universitárias de diferentes regiões, a CNBB abre aos jovens a possibilidade de uma desafiadora experiência missionária na Amazônia brasileira. Segundo a CNBB, Juntas, essas entidades “reúnem o cenário do projeto que visa despertar o jovem para a vivência da vocação missionária, convivendo, conhecendo, aprendendo e trocando experiências na realidade amazônica das comunidades ribeirinhas e indígenas.” Isso acontece através das “experiências na vivência conjunta entre os jovens, ajudando a criar uma consciência mais aberta da Igreja que vai além dos limites dos seus grupos, pastorais, paróquias e cidades”.
Na missão realizada em Julho deste ano (2016), além de conhecer o patrimônio mais rico do país: a floresta amazônica, foi possível conhecer importantes capítulos da história do Brasil em Manaus e assim, partimos para o Alto Solimões, para Benjamin Constant e Tabatinga onde foram realizados os pontos centrais da missão.
Saudade de casa, da família, amigos. Do banho quente, do cafezinho da tarde e da minha cidade. Mas o maior aperto agora é deixar para trás o Amazonas, cada experiência vivida esses dias, cada cidade e região que passei, cada pessoa que tive o prazer de conhecer e compartilhar momentos que se tornaram com toda a certeza inesquecíveis.
Cada troca de sorriso e abraço acolhedor, todo o carinho, generosidade, simplicidade, ensinamentos e dificuldades enfrentadas. Toda sua beleza natural, ecológica, humana e cultural iluminando todos os dias os meus olhos para um cuidado maior com o outro e cada ser da terra. Muito, muito obrigada Amazonas, eu amei te ver!! (me aguarde em breve).
23 de Julho de 2016 – Voltando para casa em Belo Horizonte – Bárbara Antônia
O que é pós-missão?
Não é somente viver como se tivesse passado por uma experiência de vida única, mas também regá-la e vivê-la todos os dias. Tive a oportunidade de acompanhar cada projeto desenvolvido nesses dias: os extremos foram vividos e presenciados, desafios e promessas, tudo em prol do bem maior, gerando um grande impacto pessoal pelo choque de realidade e cultura do local.
Como fiquei com a parte do registro da missão, tive a oportunidade de acompanhar cada amigo missionário em seus devidos projetos direcionados. Foram a princípio sete projetos, “Pastoral da Criança”, com a Priscila, “Projeto Jacarezinho”, com a Andreia, “Resgatando Jovens”, com a Bruna, “Cáritas”, com o Renato, “A Castração de VER animais”, pela Inês, e ainda tinha “São Francisco”, sobre o tráfico humano e uma “Nova Organização das mulheres”, que pediram nosso apoio. Com muita conversa com cada líder dos projetos e com mudanças ao decorrer da demanda de cada um, foram modificados alguns direcionamentos da missão, com o intuito de conseguir sair de Benjamin com uma semente plantada, e assim, ajudar a sua população de alguma forma.
Um dos choques maiores, para mim, foi acompanhar a Inês no processo de castração de animais. Nunca fui muito próxima, principalmente de cachorros, e essa missão me pós em prova comigo mesma e meus medos, uma semana cuidando, ajudando e protegendo os animais, olhando de uma forma nunca olhada para eles, com amor e respeito, principalmente os de rua. Ver o trabalho e o carinho dela é o que mais me motivava a estar ali e presenciar o seu trabalho, principalmente depois das dificuldades com o veterinário, a estrutura e maneira de agir durante uma cirurgia, não era uma atitude profissional, mas quando paro para pensar é mais um choque de realidade, para eles, aquele é o melhor profissional, o único para atender e dar vacinas para seus cãezinhos domésticos. O projeto de dar remédio de vermes e pulgas para os animais, começou desde Tabatinga e foi executado até o ultimo dia de missão, apesar das dificuldades enfrentadas e cansaço não foi deixado nenhum dia em branco.
O projeto com crianças e jovens, apesar de em um primeiro momento os responsáveis por desenvolvê-lo apresentarem inseguranças nas atividades propostas, o acompanhamento destas se mostrou muito bem efetuado e com uma energia e garra incrível. Presenciei ali aulas de desenho, música, violão, exibição de filmes e um momento de oração alegre e com partilhas uma ligação e união muito mais que familiar. É incrível ver que mesmo com todas as dificuldades, falta de material para as aulas, falta de apoio da cidade e dos próprios moradores, os jovens não se deixaram afetar em seu projeto, eles sempre querem mais e sempre o melhor para os jovens e crianças que os acompanham,como exemplo e inspiração de vida.
Um grande choque também, foi a condição de vidas das crianças, que resulta em uma taxa de mortalidade infantil altíssima, além disso, ainda passam por vários tipos de abusos e maus tratos físicos, psicológicos e de saúde. Uma das visitas,acompanhada pelo conselho tutelar de Benjamin, foi a uma família de cinco pessoas, em que a mãe acabará de falecer, o pai desempregado e cuidando de três filhas, crianças, que estavam dividindo uma única cama. Ali,o almoço foi em uma panelinha com salsicha e uma das menininhas falou comigo e me mostrou onde toma banho e disse “é ali, só que só posso tomar quando tiver muito, muito escuro”. Noutra visita, encontrei uma família em que a mãe de três filhos os deixou sozinhos sem comer nada o dia todo, e outras situações parecidas onde a vivência diária é dura, dolorida e triste vista de fora e muitas vezes para quem está dentro é comum essa vivência, é o que se tem..
Além desses projetos ditos acima, um projeto que acompanhei na comunidade Porto Cordeirinho foi o Projeto Agrovida, com a ajuda e liderança da enfermeira Cirlene e líderes da Funai que desenvolveram um dia de resgate da cultura indígena, no qual reuniram várias etnias indígenas, dentre elas Cocamas e Ticunas. A maioria dos representantes foi líder das suas respectivas comunidades e aprendeu a fazer um banheiro ecológico e desenvolver um projeto para tratar a água. Cirlene e os membros do Projeto Agrovida nos ofereceram um almoço acolhedor servido em folhas de bananeiras, sempre visando o resgate da cultura indígena. Nesse dia também, tive a chance de acompanhar um pouco do artesanato local, fiquei admirada com a delicadeza e paciência necessárias à elaboração dos artesanatos feitos com tanto carinho e orgulho, conhecimento passado de geração em geração.
Em Tabatinga, no lixão, foi um momento bem forte e bem reflexivo, foi nosso primeiro choque e nosso primeiro contato com as dificuldades locais, a primeira aproximação foi cuidadosa e tentando não ser incisiva demais. Ali tem pessoas de as três fronteiras: Peru, Colômbia e Brasil e, com isso, suas realidades de vida são incertas a cada dia.
No processo de seleção fiquei um pouco perdida sobre as informações dadas, criei expectativas que foram quebradas nos primeiros dias de missão. Acredito que um suporte de registro de fotos e vídeos realizados pela equipe possa ser utilizado para orientar futuros candidatos missionários a se situarem melhor em relação ao que poderão passar em se tratando de projetos realizados nas comunidades de cidades. Acredito que a continuidade da equipe ou de parte dela seja de extrema importância para fundamentar e adentrar cada vez mais nos projetos, não somente dando apoio para os líderes, mas um suporte maior para suas necessidades diárias.
Agradeço a Deus pela oportunidade e direcionamento durante toda a missão; a todas as pessoas que tive o prazer de conhecer e conviver; a troca de experiência, vivências e auxílios dados, mesmo com uma troca de sorriso, um abraço ou um simples bom dia.
- Dona Laurinda, com suas histórias e experiências de vida;
- Frei Max com um coração tão bom e aberto ao outro;
- Dom Alcimar, com quem pouco convivi, mas tive o prazer de escutar suas histórias de vida tão admiradoras;
- Irmã Alzira, no Peru, pela sua força, um exemplo de mulher, determinada, corajosa e guerreira;
- Atodas as crianças e jovens, pois os momentos em que mais senti o porquê estava ali foram com eles.
Todas essas pessoas alimentaram minha experiência a partir de seu testemunho de esperança e desejo de mudança, em que o medo é muito constante, medo pela violência, assassinatos, drogas, alcoolismo, medo da escassez da água e luz, medo pela fome. Uma verdadeira lição e transformação pessoal e social. Também agradecer por conhecer meus amigos e colegas missionários, e pelo enfrentamento, juntos, dia após dia, nas dificuldades e experiências da missão:
- Andreia, pelo seu dom, a grande mãe;
- Priscila, acolhedora e sensível;
- Bruna, com sua espontaneidade e leveza;
- Renato e Inês, aos quais aprendi a admirar por sua união e maneira de levar a vida, e pude vivenciar alguns de seus projetos.
Todos muito receptivos, acolhedores, uma equipe que não era uma equipe somente no compartilhamento da oração, na partilha, mas nos momentos mais difíceis da missão, momentos de conflitos internos, de enfrentamento dos medos e proteção com o outro.
Uma viagem, abrindo mão de coisas supérfluas e vividas diariamente no nosso cotidiano e assim, selecionar aquilo o que realmente importa, repensar na vida que levamos aqui, e o que de bom, ou de lição trazemos para nossa vida aqui. Mas o que penso e quero abastecer é esse desejo de voltar para Benjamin Constant, Tabatinga e regiões nas suas proximidades e poder realizar muito mais com essas pessoas que conheci, expandir esse meio e explorar muito mais o que posso absorver com ele e o que posso compartilhar também.
Bárbara Antônia Martins
Aluna de Cinema e Audiovisual
Estagiária no Anima/ Observatório- Puc Minas
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