O filme A Carta é um convite profético urgente do papa Francisco a cada um de nós para que participemos juntos e de mãos dadas da construção de outro mundo possível e necessário. Confira a matéria do pe. Luis Miguel Modino, do CELAM.
O cacique Dadá Borari, do Povo indígena Maró, do Estado do Pará, dom Joel Portela, secretário da CNBB, e a Ir. Maria Irene Lopes dos Santos, secretária executiva da REPAM-Brasil, no lançamento do filme A Carta, no dia 03/10/2022. Quando falamos em preservação do Planeta, logo vem à mente das pessoas a Amazônia. A preservação da Casa comum é uma preocupação para a Igreja católica no Brasil. As igrejas particulares da região amazônica e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), através da Comissão Episcopal para a Amazônia e a Rede Eclesial Pan-amazônica, estão empenhadas neste objetivo. Nesse sentido, o lançamento em português desse filme, no dia 3 de novembro, na sede da CNBB, fez ecoar, de modo contagiante, a importância desse compromisso coletivo. Um filme que “faz parte de um grande desafio”, segundo dom Joel Portela. O Secretário Geral da CNBB insistiu em que “não é apenas um filme ecológico, não é apenas um filme social”, e sim “um convite para juntos trabalharmos incansavelmente para a construção de um mundo diferente desse que aí está diante de nós, que algumas vezes nos entristece e outras vezes também nos envergonha”. Ele fez ver a necessidade de um mundo diferente, de um mundo que não esteja marcado pela “globalização da indiferença”, denunciando “as muitas dores que marcam o mundo dos nossos dias”. Por isso, insistiu em que “diante dessas dores, nós não podemos permanecer indiferentes, na ilusão de que se não nos atingiram, não temos porque nos preocupar”, algo que “anestesia a nossa consciência e os nossos corações”
Dom Joel Portela Amado refletiu, à luz da Bíblia, sobre o sofrimento, que, quando atinge o outro, faz parte da vida de todos. Esta compaixão nasce da nossa condição de irmãos e irmãs. Por isso, o bispo fez ver que para “a construção de um mundo diferente, o mundo novo, o primeiro passo consiste na união de todos nós, de todas as dores, de todos os sonhos, de todas as causas”. Em um mundo conectado e interligado, essa é uma reflexão fundamental diante do risco, cada vez maior, de “olhar apenas para aquelas situações que mais diretamente nos afligem, esquecendo-nos de que tudo está interligado”, lembrando que esse foi o ensinamento que o papa Francisco nos deixou na Laudato Si´.
O Secretario Geral da CNBB destacou, tendo como base a Laudato Si´, a importância da ecologia integral e sua relação com a fraternidade universal. Dom Joel mostrou gratidão para quem pensou e participou do filme, mas também para quem participou do lançamento e apresentação, um filme que ele deseja que “nos ajude a despertar para o desafio que a história de hoje nos apresenta”.
Um filme que explicita a importância decisiva da Encíclica Laudato Si´, “uma Carta que é muito importante, porque traz de volta o cuidado com a casa comum”, afirmou a Ir. Maria Irene Lopes dos Santos, que leu trechos da encíclica. Apresentado por Igor Bastos, coordenador para Iberoamérica do Movimento Laudato Si´, ele ressaltou que o filme A Carta “é um fruto da Laudato Si´” contém muitas histórias de protagonistas do cuidado a Terra: indígenas, refugiados, ativistas, cientistas. Protagonistas que o papa Francisco chama no filme de “poetas sociais”. Igor insistiu que “são esses poetas que constroem a diferença, que fazem parte dessa diferença, e que estão construindo uma sociedade, um Planeta mais justo e fraterno”. Um filme que quer “ser uma ferramenta para chegar com essa mensagem da Laudato Si´ em espaços que ela ainda não chegou, mas também para reanimar os espaços que tem trabalhado cada dia para viver essa mensagem que o papa Francisco nos passa”. Um instrumento que deveria ser trabalhado nas comunidades eclesiais, nas escolas, nos diferentes espaços de atuação, para trazer “essa mensagem de urgência em um tempo tão difícil que a gente vive”.
Um dos protagonistas do filme é Dadá Borari, do Povo indígena Maró, do Estado do Pará, presente no lançamento. Alguém que disse que seu trabalho como ativista iniciou na Igreja católica, insistindo em que “o nosso pensamento para a preservação da Amazônia, ele é um pensamento coletivo, ele não é um pensamento individual”. Segundo o cacique, “a responsabilidade da floresta não é só de quem vive nela, mas de todos, que precisam da floresta”. Ele lembrou que para os povos indígenas a floresta é sua casa e a Terra é a sua mãe, afirmando que tem pessoas que pensam o contrário, mesmo sabendo que tudo o que eles estão fazendo é irregular. Pessoas que, segundo o líder indígena, pensam no lucro, enquanto os povos originários não pensam no hoje e sim no futuro da juventude, das crianças. Ele insistiu que o filme é “uma disciplina educacional para a gente trabalhar” em todos os âmbitos, algo que ele faz a cada dia de maneira voluntária com ações de prevenção, monitoramento e educação, denunciando as instituições do governo brasileiro que não estão assumindo sua responsabilidade na defesa da floresta.
Dadá Borari, com sua participação no filme e nas diferentes apresentações mundo afora, quer “levar nossa voz, que não é ouvida aqui, para a sociedade internacional”, insistindo em que a preocupação dos povos indígenas é daqui a anos.
Assista ao filme aqui:
Fonte: Adaptado de Vatican News