Igreja reabilita Teilhard de Chardin, o jesuíta darwinista

Teilhard de Chardin: a Igreja que reabilita o jesuíta darwinista.

“É bom que os atos injustos sejam apagados. Mas contanto que não seja um gesto de vaidade extrema, mas sim um ato penitencial, diferente do “pedir desculpas” midiático ou da “reabilitação” à la Kruschev. E que se torne um modo de viver a graça, em que a Igreja se levanta na ponta dos pés para colocar no alto a luz do Evangelho.”

A opinião é do historiador italiano Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha, em artigo publicado por La Repubblica, 23-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O padre Teilhard de Chardin – jesuíta, cientista evolucionista e teólogo francês – morreu em Nova Yorkem 10 de abril de 1955. Mas seu corpo e sua obra continuaram despertando alerta e ressentimentos no Santo Ofício. Instituição pequena e poderosíssima, que, em junho de 1962, sete anos após seu falecimento e a um passo do início do Concílio, atingiu as suas obras com um monitum. Não uma condenação, nem mesmo uma daquelas ferozes e farsescas que atingiram o teólogo francês Henri-Marie de Lubac. Não uma sanção que se enfurecia contra a vida e o ensino de um colega reformador como Yves Congar. Mas uma afirmação de puro poder sobre um homem-símbolo, para dar a entender ao Papa e ao seu Concílio que o Santo Ofício não estava disposto a depor as armas da severidade – precisamente aquelas que João XXIII colocaria “fora da lei” ao abrir o Vaticano II.

Teilhard era paleontologista: havia passado cerca de 20 anos na China e em muitos outros países onde havia escavações. Para ele, as descobertas sobre a origem do homem e a evolução traçavam um desígnio: não aquele design inteligente que ainda seduz os fundamentalistas, como se fosse uma prova da existência de Deus; mas um desígnio em que a evolução mostra como complexidade e consciência crescem juntas até o ômega da Cristogênese.

Justamente essa centralidade do homem e a releitura da encarnação pareciam intoleráveis a uma Igreja que falava apenas a língua da condenação. Sugestiva e emblemática, a obra de Teilhard de Chardin marcou, nos anos 1960, o divisor de águas entre dois modos de pensar a relação entre fé e ciência: e o monitum não foi revogado porque simplesmente perdera sentido e fundamento, reduzindo-se a símbolo de um poder repressivo pronto para se enfurecer contra os mortos.

A novidade é que hoje o Pontifício Conselho para a Cultura pede que se revogue o monitum: pedido justo e fácil. Ao contrário, foi menos fácil revogar uma mentalidade que se iludia de exorcizar com as condenações o risco de ligar e desligar fé e culturas, oferecendo o dom da esperança.

Portanto, é bom que os atos injustos sejam apagados. Mas contanto que não seja um gesto de vaidade extrema, mas sim um ato penitencial, diferente do “pedir desculpas” midiático ou da “reabilitação” à la Kruschev. E que se torne um modo de viver a graça, em que a Igreja se levanta na ponta dos pés para colocar no alto a luz do Evangelho.

Fonte:

IHU

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