“Igreja em saída… Para acender luzes e aquecer corações, que ajudem as pessoas, as comunidades, os países e a humanidade global a encontrar o sentido da vida e da história”, com a palavra o cardeal Cláudio Hummes

Segundo o pronunciamento do relator-geral do Sínodo para a Amazônia, cardeal Cláudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM), na abertura do Sínodo, nesta segunda-feira (07/10/2019):

O tema do Sínodo – Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral – ressoa as grandes linhas pastorais características do papa Francisco. Definir novos caminhos. Desde o início de seu ministério papal, ele sublinha a necessidade de a Igreja caminhar“.

Cidade do Vaticano

Segue a íntegra do texto.

O tema do Sínodo, que ora iniciamos, é o seguinte: “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. O tema ressoa as grandes linhas pastorais características do papa Francisco. Definir novos caminhos. Desde o início de seu ministério papal, ele sublinha a necessidade de a Igreja caminhar. Ela não pode ficar sentada em casa, cuidando de si mesma, cercada de muros de proteção. Muito menos ainda, olhando para trás com certa nostalgia de tempos passados. Ela precisa abrir as portas, derrubar muros que a cercam e construir pontes, sair e pôr-se a caminho na história, nos tempos atuais de mudança de época, caminhando sempre próxima de todos, principalmente de quem vive nas periferias da humanidade.  Igreja “em saída”. Para que sair? Para acender luzes e aquecer corações, que ajudem as pessoas, as comunidades, os países e a humanidade global a encontrar o sentido da vida e da história. Essas luzes são principalmente o anúncio da pessoa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado e seu reino, bem como a prática da misericórdia, da caridade e da solidariedade sobretudo para com os pobres, os sofridos, os esquecidos e descartados do mundo de hoje, os migrantes e os indígenas. 

Esse caminhar a torna fiel à verdadeira tradição. Uma coisa é o tradicionalismo que fica preso no passado, outra é a verdadeira tradição que é a história viva da Igreja, em que cada geração, acolhendo o que lhe é entregue pelas gerações anteriores como compreensão e vivência da fé em Jesus Cristo, enriquece esta tradição com sua própria vivência e compreensão desta mesma fé em Jesus Cristo no tempo atual.

Essas luzes: o anúncio de Jesus Cristo e a prática incansável da misericórdia, na tradição viva da Igreja, indicam o caminho a seguir num caminhar inclusivo que convida, acolhe e encoraja a todos, sem exceção, a caminharem juntos como amigos e como irmãos, respeitando as nossas diferenças, rumo ao futuro.

“Novos caminhos”. Novos. Não ter medo do novo. Na homilia de Pentecostes de 2013, o papa Francisco já afirmava:

A novidade causa sempre um pouco de medo, porque nos sentimos mais seguros se temos tudo sob controle, se somos nós a construir, programar, projetar a nossa vida de acordo com os nossos esquemas, as nossas seguranças, os nossos gostos. (…) Temos medo de que Deus nos faça seguir novos caminhos, nos faça sair de nosso horizonte muitas vezes limitado, fechado, egoísta, para nos abrir aos seus horizontes. Mas, em toda história da salvação, quando Deus se revela, traz novidade – Deus traz sempre novidade -, transforma e pede para confiar nele”.

Na Evangelii Gaudium (n. 11), o Papa mostra Jesus Cristo como “a eterna novidade”. Ele é sempre o novo. Ele é sempre o mesmo, o novo, “ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8) o novo. Por isso, a Igreja reza: “Enviai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra”. Então, não tenhamos medo do novo. Não tenhamos medo de Cristo, o novo. Este sínodo procura novos caminhos. 

No seu discurso aos bispos brasileiros, durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em 2013,  ao falar da Amazônia como “teste decisivo, banco de prova para a Igreja e a sociedade brasileiras”, o Papa propõe “relançar [ali, na Amazônia] a obra da Igreja”, “consolidar o rosto amazônico da Igreja” e “formar clero autóctone”, acrescentando: “Sobre isso, peço, por favor, para serem corajosos, para terem ousadia”. Isso nos remete necessariamente à história da Igreja na região. Desde os primórdios da colonização da Amazônia, ali também estiveram missionários católicos, seja para dar assistência aos colonizadores, seja para evangelizar os indígenas, na época. 

Assim começava a missão evangelizadora da Igreja na região. Entre luzes e sombras – mas certamente com prevalência das luzes – gerações subsequentes de missionários e missionárias, principalmente de Ordens e Congregações religiosas, mas também de padres diocesanos e de leigos – com destaque para as mulheres –  procuraram levar Jesus Cristo aos povos do território e constituir comunidades católicas. É justo recordar, reconhecer e enaltecer, neste sínodo, a história heroica – e muitas vezes mártir – de todos os missionários e missionárias do passado e também daqueles e daquelas de hoje na Pan-amazônia.

Ao lado dos missionários, houve também sempre numerosas lideranças leigas e indígenas que deram testemunho heroico e por isso muitas vezes foram e ainda continuam a ser assassinadas. Deve-se ter presente também que a Igreja missionária da Amazônia se destacou  através de sua história – e ainda hoje se destaca – com grandes e fundamentais serviços para a população local na área da escolarização, da saúde, do combate à pobreza e à violação dos direitos humanos.  Por outro lado, a história da Igreja na Pan-amazônia mostra que sempre houve grande carência de recursos materiais e de missionários para um desenvolvimento pleno das comunidades, destacando-se a ausência quase total da Eucaristia e de outros sacramentos essenciais para a vivência cristã cotidiana.

O rosto amazônico da Igreja local deve ser consolidado, como disse o papa Francisco no já citado discurso aos bispos brasileiros e mesmo seu rosto indígena nas comunidades indígenas, como exortou o Papa em Puerto Maldonado (19.01.2018). Desde o anúncio do sínodo, o Papa deixou claro que a relação da Igreja com os povos indígenas e com a floresta na Amazônia, é um de seus temas centrais. De fato, anunciando o sínodo e indicando sua finalidade, Francisco disse: 

Finalidade principal desta convocação é encontrar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, sobretudo dos indígenas, muitas vezes esquecidos e sem perspectiva de um futuro sereno, também por causa da floresta amazônica, pulmão de importância fundamental para o nosso planeta (Vaticano, 15/10/17).

E em Puerto Maldonado, disse aos povos indígenas: 

Quis vir visitar-vos e escutar-vos, para estarmos juntos no coração da Igreja, solidarizarmo-nos com os vossos desafios e, convosco, reafirmarmos uma opção sincera em prol da defesa da vida, defesa da terra e defesa das culturas”. 

Na fase da escuta sinodal, os povos indígenas tem manifestado de muitos modos que querem o apoio da Igreja na defesa e promoção de seus direitos, na construção de seu futuro e pedem que a Igreja seja uma aliada constante.

De fato, a humanidade tem uma grande dívida para com os povos indígenas nos diferentes continentes da terra e também na Amazônia. É preciso que aos povos indígenas seja devolvido e garantido o direito de serem sujeitos de sua história, protagonistas e não objetos do espírito e prática de colonialismo de quem quer que seja. Suas culturas, línguas, história, identidade, espiritualidade constituem riquezas da humanidade e devem ser respeitadas, preservadas e incluídas na cultura mundial.

A missão da Igreja hoje na Amazônia é o núcleo central do sínodo. É um sínodo da Igreja e para a Igreja. Não uma Igreja cerrada em si mesma, mas integrada na história e na realidade do território – no caso, a Amazônia – atenta aos gritos de socorro e às aspirações da população e da “casa comum” [a criação],  aberta ao diálogo, sobretudo ao diálogo inter-religioso e intercultural, acolhedora e desejosa de  compartilhar um caminho sinodal com as outras Igrejas, religiões, ciência, governos, instituições, povos, comunidades e pessoas, respeitando as nossas diferenças,  no intuito de defender e promover a vida das populações da área, especialmente dos povos originários e a biodiversidade do território na região amazônica.

Uma Igreja atualizada, “semper reformanda”,  segundo a Evangelii Gaudium, isto é, uma Igreja em saída, missionária, com anúncio explícito de Jesus Cristo, dialogante e acolhedora, que caminha junto e próxima das pessoas e comunidades, misericordiosa, pobre e para os pobres e com os pobres, e em consequência com uma opção preferencial pelos pobres, inculturada, intercultural e sempre mais sinodal. Uma Igreja de dimensão mariana, alimentada com a devoção a Maria Santíssima, segundo muitos títulos locais, em especial o de Maria de Nazaré, cuja festa em Belém do Pará reúne todos os anos milhões de devotos e romeiros. A inculturação da fé cristã nas várias culturas dos povos se impõe, como disse São João Paulo II: “Esta [a inculturação] constitui uma exigência que marcou todo o seu [da Igreja] caminho histórico, mas hoje é particularmente aguda e urgente” (Redemptoris Missio, 52). Junto com a inculturação, a evangelização dos povos amazônicos exige também atenção a interculturalidade, pois ali são muitas e diversificadas as culturas, que contudo mantém algumas raízes comuns. A tarefa da inculturação e da interculturalidade se realiza particularmente na liturgia, no diálogo inter-religioso e ecumênico, na piedade popular, na catequese, na convivência dialogal quotidiana com as populações autóctones, nas obras sociais e caritativas, na vida consagrada, na pastoral urbana.

Mas não se pode esquecer, entretanto, que hoje e há bastante tempo já a Igreja na Amazônia sofre de muita carência de recursos materiais necessários para sua missão e com necessidade de aumentar seu potencial de comunicação (rádio e Tv). 

Neste amplo contexto,  Igreja e ecologia integral no território estão interligados. Trata-se de uma Igreja consciente de que sua missão religiosa, em coerência com sua fé em Jesus Cristo, inclui necessariamente “o cuidado da casa comum”. Tal interligação demonstra também que o grito da terra e o grito dos pobres na região é o mesmo grito.

A vida na Amazônia talvez nunca tenha estado tão ameaçada como hoje, “pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazônica, de modo especial, a violação dos direitos dos povos indígenas, como o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios e à consulta e ao consentimento prévios” (IL,14).

Segundo o processo de escuta sinodal da população, na Amazônia a ameaça à vida deriva de interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade atual, de maneira especial de empresas que extraem de modo predatório e irresponsável [legal ou ilegalmente] as riquezas do subsolo e da biodiversidade, muitas vezes em conivência ou com permissividade dos governos locais e nacionais e por vezes até com o consenso de alguma autoridade indígena.

A consulta sinodal ainda registra que as comunidades consideram que a vida na Amazônia está ameaçada:

  • a) pela criminalização e assassinato de líderes e defensores do território;
  • b) pela apropriação e privatização de bens da natureza, como a própria água;
  • c) por concessões madeireiras legais e pela entrada de madeireiras ilegais;
  • d) pela caça e pesca predatórias, principalmente nos rios;
  • e) por megaprojetos: hidrelétricas, concessões florestais, desmatamento para produzir monoculturas, estradas e ferrovias, projetos mineiros e petroleiros;
  • f) pela contaminação ocasionada por todas as indústrias extrativistas que causam problemas e enfermidades, principalmente para crianças e jovens;
  • g) pelo narcotráfico;
  • h) pelos consequentes problemas sociais associados a tais ameaças, como alcoolismo, violência contra a mulher, prostituição de menores, tráfico de pessoas, perda de sua cultura originária e de sua identidade (idioma, práticas espirituais e costumes) e de todas as condições de pobreza às quais estão condenados os povos da Amazônia” (IL,15).

A ecologia integral nos manifesta que tudo está interligado, os seres humanos e a natureza. Todos os seres vivos do Planeta são filhos da terra. O corpo humano é feito do “barro da terra”, no qual Deus “soprou” o espírito de vida, como diz a Bíblia (cf. Gn 2,7). Em consequência, tudo o que se faz em prejuízo da terra, se faz em prejuízo dos seres humanos e de todos os outros seres vivos da terra. Isso mostra que não se pode tratar separadamente ecologia, economia, cultura etc. A Laudato si’ afirma que precisam ser pensadas juntas: uma ecologia ambiental, econômica, social, cultural (cf. LS, cap. V). O próprio Filho de Deus se encarnou e seu corpo humano vem da terra. Neste corpo, Jesus morreu por nós na cruz pIara vencer o mal e a morte, ressuscitou dos mortos e está sentado à direita de Deus Pai na glória eterna e imortal. Diz o apóstolo Paulo: “Foi n’Ele [em Jesus ressuscitado] que aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude, por Ele e para Ele, reconciliar todas as coisas (…) tanto as que estão na terra como as que estão nos céus”(Cl 1,19-20). A Laudato si’ acrescenta, dizendo: “Isto lança-nos para o fim dos tempos, quando o Filho entregar ao Pai todas as coisas “a fim de que Deus seja tudo em todos (1Cor 15,28). Assim, as criaturas deste mundo já não nos aparecem como realidade meramente natural, porque o Ressuscitado as envolve misteriosamente e as guia para um destino de plenitude” (LS, 100). Assim, o próprio Deus se interligou definitivamente com toda sua criação. Este mistério se torna também presente sacramentalmente na Eucaristia.

O  Sínodo se realiza num contexto de uma grave e urgente crise climática e ecológica que atinge todo o nosso planeta. O aquecimento global do planeta pelo efeito estufa gerou uma crise climática sem precedentes, grave e urgente, como mostrou a Laudato si’ e a COP21 de Paris, na qual foi assinado por praticamente todos os países do mundo o Acordo Climático até hoje pouco implementado, apesar da urgência. Ao mesmo tempo, ocorre no planeta uma devastação, depredação e degradação galopante dos recursos da terra, promovidas por um paradigma tecnocrático globalizado, predatório e devastador, denunciado pela Laudato si’. A terra não aguenta mais. 

A vasta realidade urbana da Amazônia, em parte consequência das migrações internas, e a presença da Igreja nas cidades é outro tema central deste sínodo, pois também a Igreja na cidade deve desenvolver e consolidar seu rosto amazônico.  Ela não pode ser uma reprodução da Igreja urbana de outras regiões. Sua missão na Amazônia inclui o cuidado e a defesa da floresta amazônica e de seus povos: indígenas, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, pobres de todo tipo, pequenos agricultores, pescadores, seringueiros, quebradeiras de coco e outros, conforme a região. Esta missão não será certamente um peso, mas uma alegria que só o Evangelho oferece.

As migrações, fenômeno mundial hoje, também marcaram os tempos atuais da Pan-amazônia, entre elas, tempos atrás, a migração dos haitianos, hoje a dos venezuelanos, mas sobretudo dos próprios indígenas e outros segmentos pobres do interior da região. 

A Igreja tem feito um enorme esforço de acolhimento. Mas é preciso destacar a migração de indígenas à cidade. Milhares e milhares. Eles  necessitam de uma lúcida e misericordiosa atenção para não perecerem culturalmente e mesmo humanamente na cidade, enfrentando miséria, descaso, desprezo e rejeição e consequentemente provando um vazio interior desesperador. “Na cidade o indígena é um migrante, um ser humano sem-terra e o sobrevivente de uma batalha histórica pela demarcação de sua terra, com sua identidade cultural em crise” (IL, 132). De muitas formas ele é forçado à invisibilidade. 

O grito muitas vezes silencioso, porém não menos real e pungente, dos indígenas urbanos precisa ser escutado. A Igreja na cidade enfrenta também toda a problemática social e religiosa de suas periferias pobres e da evangelização de todos os segmentos da população urbana.

Outra questão é a carência de presbíteros a serviço das comunidades locais no território, com a consequente falta da Eucaristia ao menos dominical e de outros sacramentos, bem como a falta de presença dos padres encarregados, que resulta numa pastoral de visitas esporádicas e não de uma adequada pastoral de presença quotidiana. Ora, a Igreja vive da Eucaristia e a Eucaristia edifica a Igreja (S. João Paulo II). A participação na celebração da Eucaristia, ao menos aos domingos, é decisiva para o desenvolvimento progressivo e pleno  das comunidades cristãs e para a vivência concreta da Palavra de Deus na vida das pessoas. Será necessário definir novos caminhos para o futuro. Na fase da escuta, as comunidades locais, missionários e comunidades indígenas pediram que, reafirmando o grande valor do carisma do celibato na Igreja, contudo, diante da gritante necessidade da imensa maioria das comunidades católicas na Amazônia, ali se abra caminho para ordenação presbiteral de homens casados, que residam nas comunidades. Ao mesmo tempo, diante do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia, se reconheça este serviço e se procure consolidá-lo com um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade.

Outro capítulo importante é a questão da água, “porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos (LS 28). A escassez de água potável e segura é uma ameaça crescente em todo o planeta. “A questão não é marginal, mas fundamental e urgente (…). Toda pessoa humana tem direito ao acesso de água potável e segura; este é um direito humano básico, e uma das questões nodais no mundo atual”, afirmou o papa Francisco em discurso de 24 de fevereiro de 2017. A Amazônia é  uma das mais volumosas reservas de água doce do planeta. “A bacia do rio Amazonas e as florestas tropicais que a circundam nutrem os solos e, através da reciclagem de umidade, regulam os ciclos de água, energia e carbono a nível planetário. O rio Amazonas sozinho lança no oceano (…) 15% do total de água doce do planeta. Por isso, a Amazônia é essencial para a distribuição das chuvas em outras regiões remotas da América do Sul e contribui para os grandes movimentos de ar ao redor do planeta. Além disso, alimenta a natureza, a vida e as culturas de milhares de comunidades indígenas, camponesas, afrodescendentes, tanto ribeirinhas como urbanas (…). A superabundância natural de água, calor e umidade faz com que os ecossistemas da Amazônia abriguem cerca de 10 a 15% da biodiversidade terrestre” (IL, 9). Entra aqui também a função da floresta e dos povos indígenas. De fato, na Amazônia a floresta cuida da água, a água cuida da floresta e juntas produzem a biodiversidade, sendo os povos indígenas os milenares guardiões deste sistema. Por isso, a Igreja sente-se também chamada a cuidar da água da “casa comum”, ameaçada na Amazônia principalmente pelo aquecimento climático, pelo desmatamento e pela contaminação causada pela mineração e agrotóxicos.

Finalizando, proponho para a dinâmica dos trabalhos desta assembleia sinodal alguns núcleos generativos:

  • a) Igreja em saída na Amazônia e seus novos caminhos;
  • b) O rosto amazônico da Igreja: inculturação e interculturalidade em âmbito missionário-eclesial;
  • c) A ministerialidade da Igreja na Amazônia: presbiterado, diaconato, ministérios, o papel da mulher;
  • d) A ação da Igreja no cuidado com a Casa Comum: a escuta da Terra e dos pobres; ecologia integral ambiental, econômica, social e cultural;
  • e) A Igreja amazônica na realidade urbana;
  • f) A questão da água;
  • g) outros.

Termino, convidando a todos para deixarem-se guiar pelo Espírito Santo nestes dias do Sínodo. Deixem-se envolver no manto da Mãe de Deus e Rainha da Amazônia. Não deixemos que nos vença a auto-referencialidade, mas sim a misericórdia diante do grito dos pobres e da terra. Será necessária muita oração, meditação e discernimento, além de uma prática concreta de comunhão eclesial e espírito sinodal. Este Sínodo é como uma mesa que Deus preparou para os seus pobres e nos pede a nós que sejamos aqueles que servem à mesa.

Pronunciamento de dom Cláudio Hummes

Fonte:

www.vaticannews.va