Há grande sintonia entre o objetivo das DGAE da CNBB e o da VI APD da Arquidiocese de Belo Horizonte

Quando colocamos em paralelo os dois objetivos gerais, o das Diretrizes gerais da ação evangelizadora – DGAE (2019-2023), proposto e assumido pela CNBB em sua última assembleia, e o do projeto de evangelização Proclamar a Palavra, proposto na VI Assembleia do povo de Deus da Arquidiocese de Belo Horizonte, percebemos um vasto horizonte de sintonia fina entre os dois.

Podemos dizer que o grande desafio da Igreja, seja no nível nacional, seja no nível da Igreja particular em Belo Horizonte, é o mesmo: diante dos desafios e urgências que emergem do contexto da sociedade em que vivemos, cada vez mais urbana e plural, suscitar um rico e criativo processo de recepção e de concretização do que está definido nas DGAE e no projeto Proclamar a Palavra. Dito de outra maneira, como ser fiel ao seguimento de Jesus na realidade em que vivemos.

Vejamos:

I – Objetivo Geral das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil (2019-2023):

1. EVANGELIZAR

2. NO BRASIL CADA VEZ MAIS URBANO,

3. FORMANDO DISCÍPULOS E DISCÍPULAS MISSIONÁRIAS DE JESUS CRISTO,

4. EM COMUNIDADES ECLESIAIS MISSIONÁRIAS,

5. À LUZ DA EVANGÉLICA OPÇÃO PELOS POBRES,

6. CUIDANDO DA CASA COMUM

7. E TESTEMUNHANDO O REINO DE DEUS

8. RUMO À PLENITUDE.

II – Objetivo Geral do Projeto de Evangelização Proclamar a Palavra da VI APD da Arquidiocese de Belo Horizonte (2019-2023):

1. EVANGELIZAR

2. O POVO DE DEUS NA ARQUIDIOCESE DE BELO HORIZONTE, DE REALIDADE URBANA COMPLEXA

3. POR MEIO DO ANÚNCIO DA PALAVRA DE DEUS, EM PALAVRAS E AÇÕES,

4. COMO DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS DE JESUS CRISTO,

5. PARA REVITALIZAR E MULTIPLICAR AS COMUNIDADES ECLESIAIS,

6. COLOCAR EM PRÁTICA A OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES

7. E A ECOLOGIA INTEGRAL,

8. TESTEMUNHANDO O REINO DE DEUS.

III – Explicitação do horizonte de sintonia fina

1. Os dois objetivos gerais assuem como verbo principal EVANGELIZAR (1) que é a razão de ser da Igreja, ou seja, ela existe para evangelizar, sua missão primeira é evangelizar.

Mesmo que haja muitas compreensões a cerca do conteúdo do que seja evangelizar, todas são chamadas a deixar-se interpelar pela vida, ações e palavras, de Jesus Cristo. Nenhuma compreensão de evangelizar pode negar que se trata de um anúncio-testemunho de uma boa notícia da parte de Deus revelada para nós, de modo visível, encarnada na pessoa de Jesus: Deus tem um projeto salvífico universal de amor, o Reino de Deus, que começa e cresce na caminhada histórica da humanidade, sendo que a plenitude de sua realização é atingida na comunhão de amor com Deus, portanto, para além dos limites da história. A Igreja é chamada a ser sacramento do Reino de Deus para toda a humanidade.

2. A ação evangelizadora da Igreja é concretizada na realidade cultural, política, econômica e religiosa em que os homens e mulheres, sejam os que anunciam-testemunham, sejam os que acolhem e se deixam transformar, estão inseridos. Os dois objetivos gerais assumem o desafio de evangelizar em contexto predominantemente urbano: “NO BRASIL CADA VEZ MAIS URBANO” (2) e “O POVO DE DEUS NA ARQUIDIOCESE DE BELO HORIZONTE, DE REALIDADE URBANA COMPLEXA (2).

Não se pode ignorar a realidade urbana que envolve e afeta a vida de todos, mesmo os que ainda habitam em uma realidade rural. VER e conhecer de perto as dinâmicas, as possibilidades novas, os desafios, os limites e as ameaças que emergem deste contexto contemporâneo é vital para uma ação evangelizadora que seja fiel à tradição e ao ser humano que vive no tempo do anúncio-testemunho.

3. Se no objetivo geral das novas DGAE explicita-se o desafio e a necessidade de cuidarmos e investirmos na formação da consciência de cristãos adultos: FORMANDO DISCÍPULOS E DISCÍPULAS MISSIONÁRIAS DE JESUS CRISTO (3), no do projeto de evangelização proclamar a Palavra da Arquidiocese de Belo Horizonte, se assume esta condição fundamental que deve estar muito presente na consciência de cada cristão batizado que se torna adulto na fé e corresponsável na vida eclesial: somente COMO DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS DE JESUS CRISTO (4) poderemos assumir e concretizar a missão de evangelizar.

4. No objetivo geral das DGAE, explicita-se que a experiência cristã não meramente uma doutrina ou um conteúdo a ser aprendido, mas o encontro pessoal e comunitário com a pessoa de Jesus Ressuscitado, mas que acontece numa vida EM COMUNIDADES ECLESIAIS MISSIONÁRIAS (4). Comunidades de fé cujos membros são transformados pelo cultivo da vida nova, o viver em Cristo, na práxis da justiça, da misericórdia e da partilha do amor fraterno. Não há vida cristã autêntica fora do enfrentamento cotidiano do desafio de viver, e portanto conviver, em comunidade. Por isso, no objetivo geral do projeto de evangelização proclamar a Palavra, fica muito claro que a finalidade de toda ação evangelizadora missionária deve ser PARA REVITALIZAR E MULTIPLICAR AS COMUNIDADES ECLESIAIS (5). Sem este ambiente propício para a fé brotar, crescer, fortalecer, frutificar e se multiplicar pela força contagiante de um testemunho coerente – comunidade cristã é lugar da convivência, da superação, do testemunho de serviço e de partilhar – o anúncio-testemunho da vida cristã fica comprometido e facilmente se deturpa.

5. Desde a Conferência de Medellín, em 1968, a Igreja da América Latina tomou consciência, de forma explícita, da centralidade do pobre no anúncio-testemunho do Reino de Deus encarnado na vida de Jesus. Essa opção foi retomada em Puebla e Aparecida, nas DGAE da CNBB e agora, de forma singular, no magistério do papa Francisco que conclama a todos concretizarmos uma Igreja pobre e para os pobres. Por isso, as novas DGAE assumem que a ação evangelizadora da Igreja, por fidelidade a Jesus, deve ser feita À LUZ DA EVANGÉLICA OPÇÃO PELOS POBRES (5). E de forma contundente e concretamente profética, aparece também no objetivo geral do projeto de evangelização Proclamar a Palavra: COLOCAR EM PRÁTICA A OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES (6).

6. Com a consciência eclesial assumida com a Encíclica do papa Francisco, Laudato Si’, que chama a atenção como dimensão importante da fé, para a necessidade de assumirmos uma cultura do cuidado de nossas Casa Comum, documento que suscitou a convocação e a realização do Sínodo para a Amazônia, não podemos ficar indiferentes aos sinais do tempo. E a explicitação desde chamado profético do papa Francisco aparece tanto no objetivo geral das DGAE, que define que evangelizar hoje implica o dever de estarmos CUIDANDO DA CASA COMUM (6) e no do projeto de evangelização Proclamar a Palavra, de forma direta e contundente, assume como anseio do Espírito Santo o colocar em prática a opção pelos pobres E A ECOLOGIA INTEGRAL (7).

7. Nos dois objetivos aparece de forma explícita, como sentido maior de toda ação evangelizadora o acolher, proclamar e testemunhar o Reino de Deus, Reino de justiça e fraternidade. No primeiro, está unido o chamado para que todos estejam cuidado da Casa Comum E TESTEMUNHANDO O REINO DE DEUS (7). No segundo, mostra que o sentido maior do dinamismo assumido de estarmos TESTEMUNHANDO O REINO DE DEUS (8) no hoje de nossa realidade é concretizar a opção pelos pobres e a Ecologia Integral. Em outras palavras, testemunhar o Reino de Deus é ouvir o grito dos pobres e o grito da Terra.

8. Se repararmos bem, há apenas uma expressão singular em cada um dos objetivos gerais que não aparece no outro. No objetivo geral do projeto de evangelização Proclamar a Palavra da Arquidiocese de Belo Horizonte, há a expressão POR MEIO DO ANÚNCIO DA PALAVRA DE DEUS, EM PALAVRAS E AÇÕES (3), ou seja, explicita que toda e qualquer ação evangelizadora tem como mediação central ou baliza a Palavra de Deus, cujo anúncio, como contemplamos encarnado na pessoa de Jesus, acontece em palavras (ensinamentos) e ações (práticas concretas que dão credibilidade e coerência). Já o objetivo geral das DGAE é finalizado apontando para um horizonte escatológico, ou seja, que nossa caminhada tem um sentido último revelado pela vida de Jesus: caminhamos RUMO À PLENITUDE (8). Isso significa que as nossas ações, aqui e agora, todo o nosso esforço de resposta de fé à proposta do amor de Deus revelada pela vida de Jesus, são acolhidos por Deus como uma verdadeira história de salvação.

Evangelizar é, portanto, concretizar, em nossas ações, na Igreja e na sociedade, uma caminhada autêntica de fé. A nossa fé no Deus da vida se faz fé na vida, assumindo a cultura do cuidado com a vida, se faz fé no homem, nos comprometendo a cultura humanista do cuidado com cada pessoa humana, sobretudo dos pobres, excluídos e sofredores, se faz fé no que virá, colocando-se, em cada passo e mesmo diante das dificuldades, confiantes nas mãos do Deus estradeiro conosco. Tudo isso porque d’Ele procedemos (Deus é a nossa origem), n’Ele existimos (Deus é o nosso sustento) e para Ele caminhamos (Deus é nosso destino último) como nossa pátria definitiva de plenitude de amor. Amém.

Edward Guimarães

Prof. Edward Neves Monteiro de Barros Guimarães é teólogo pastoralista leigo, casado, membro do Conselho Pastoral Arquidiocesano, da Comissão Permanente de Assessoria do Vicariato episcopal para ação pastoral da Arquidiocese de Belo Horizonte e é o atual secretário executivo do Observatório da Evangelização PUC Minas.