Formar discípulos de Jesus e com plena cidadania eclesial: eis o desafio maior do Ano Nacional do Laicato

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Hoje, 26/11/2017, em todo o Brasil, durante a Festa de Cristo Rei, celebra-se o início do Ano Nacional do Laicato, que tem como tema: “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na ‘Igreja em saída’, a serviço do Reino”.

Desde o Concílio Vaticano II, a ênfase dada a centralidade do Batismo e na igual dignidade batismal de todos os membros do Povo Deus – leigos/as, religiosos/as, diáconos, presbíteros e bispos – pouco avançou na superação do “clericalismo”. Com isso, os cristãos leigos e leigas ainda não estão incluídos, em plenitude, na vida da Igreja. Não se sentem verdadeiramente Igreja, ainda que batizados e membros do Povo de Deus.

O esforço eclesial feito nos últimos 50 anos se mostrou pouco eficiente na concretização de mudanças significativas na dinâmica da Igreja. Isso porque a imensa maioria dos fieis católicos, os cristãos leigos e leigas, ainda não conquistou a sua cidadania eclesial, ou seja, não foram integrados, por meio da criação de uma estrutura eclesial, de fato, participativa, ministerial e corresponsável na dinâmica da vida da Igreja. Nas instâncias deliberativas do Vaticano, na Cúria Romana, das dioceses e das paróquias, a presença de leigos e leigas é praticamente nula. Os membros do clero – bispos, presbíteros e diáconos – concentram o poder eclesiástico em suas mãos.

Muitos ministérios leigos foram criados, mas estes não são assumidos com a mesma dignidade e importância dos ministérios ordenados, seja pelo clero, seja pelo próprio laicato. Ainda que não seja a intenção, a mentalidade clericalista, inclusive comungada por muitos cristãos leigos e leigas, não acolhe o laicato com a mesma dignidade do clero. A ênfase unilateral no sacramento da Ordem, sacramento do serviço ao Povo de Deus, acabou criando uma sacralizacão do clero e transformando, na prática, os leigos e leigas em “cristãos de segunda categoria”. A afirmação pode parecer forte, mas é facilmente demonstrável na vida concreta da Igreja: nas relações eclesiais assimétricas entre clero e laicato.

Além dessa grave questão, há um entrave ainda maior. A ação evangelizadora da Igreja  não tem conseguido encantar e fazer com que a maioria dos fieis leigos seja envolvida num autêntico processo de iniciação à vida cristã. Com isso, ainda quando recebem os sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia, o encontro existencial com a pessoa de Jesus Ressuscitado deixa muita a desejar e a decisão, fundamental para a conquista da experiência cristã adulta, de assumir para valer o seguimento de Jesus na vida da Igreja e da Sociedade não se concretiza. Tais leigos, mesmo quando frequentam os ritos oferecidos pela Igreja Católica, não se sentem chamados e/ ou capacitados para assumir responsabilidade na vida da Igreja e na missão de transformar a sociedade pelo testemunho dos valores do Evangelho.

Como se não bastasse, ainda é pouco expressivo o número de cristãos leigos e leigas que tem acesso a uma formação bíblico-teológica básica e a uma espiritualidade cristã que favoreça o crescimento espiritual e a conquista da consciência e da vivência cristã adulta.

Segundo dom Severino Clasen, o bispo de Caçador – SC e o presidente da Comissão Episcopal Especial para o Ano do Laicato, a intenção é investir numa mística capaz de provocar apaixonamento e seguimento a Jesus Cristo. Assim, o cristão leigo poderia tornar-se missionário na família e no trabalho, onde estiver vivendo.

Como destaca o n. 9 do Documento 105, Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade, “apesar dos avanços na caminhada da Igreja nas últimas décadas, temos ainda, no campo da identidade, da vocação, da espiritualidade e da missão dos leigos na Igreja e no mundo, um longo caminho a percorrer. Nisso estamos motivados pela proposta da ‘Igreja em saída’, em chave missionária, como vive, ensina e propõe o papa Francisco.

Nesse sentido o Ano do Laicato tem como objetivo geral celebrar a presença e a organização dos cristãos leigos e leigas no Brasil; aprofundar a sua identidade, vocação, espiritualidade e missão; e testemunhar Jesus Cristo e seu Reino na sociedade. E entre as motivações da CNBB está o estudo e aprofundamento do  Documento nº 105 e outros documentos do Magistério, em especial do papa Francisco, sobre o Laicato. Com isso, deseja-se estimular a participação e atuação dos leigos e leigas.

Durante o período, serão realizados seminários regionais e temáticos, eventos, publicação de livros e de mensagens. Dom Severino espera que o Ano do Laicato motive os cristãos leigos engajarem, cada vez mais, com as questões sociais: que o legado da celebração deste Ano do Laicato seja o envolvimento de todos pela auditoria da dívida pública em vista da construção da sociedade justa, fraterna e solidária.

O eixo central do Ano do Laicato é a promoção da presença e a atuação dos cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade. Além disso, neste período acontece a celebração dos 30 anos do Sínodo Ordinário sobre os Leigos (1987) e da Exortação Apostólica Christifideles Laici, sobre a vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo (1988)

Desejamos que o Ano Nacional do Laicato contribua firmemente para avançarmos na construção de uma Igreja Povo de Deus a caminho em vista da concretização de sua missão, sempre reformanda em sua busca de fidelidade a Jesus Cristo. Por isso mesmo, uma “Igreja Hospital de Campanha”, “Igreja em saída”, “Igreja Casa da Misericórdia”, toda ministerial, missionária, colegiada e corresponsável em sua vocação de ser sacramento vivo e fermento do Reino de Deus na sociedade. Uma Igreja que, pelo cultivo da memória de Jesus de Nazaré, escuta os clamores dos pobres, deixa-se desafiar pelo discernimento do Espírito Santo e acolhe, com determinação profética, o chamado de defender a dignidade da vida humana e testemunhar a prática da justiça, do diálogo e do amor fraterno como caminho para a paz.

Edward Neves Monteiro de Barros Guimarães

Secretário Executivo do Observatório da Evangelização PUC Minas

2 Comentários

  1. Sinto-me Católica de útero materno. Fiz o curso “Primário” em colégio de irmãs de Sta. Catarina. Preparada para a Primeira Eucristia pelos Franciscanos. Não engajei em nenhum movimento da Igreja.Houve uma questão pessoal que talvez tenha ocasionado: fobia social. Todavia, mantive a ligação com a Igreja com muita fidelidade e amor.Hoje percebo um franco testemunho social. Quanto ao clericalismo é realmente um fato. Precisa ser amenizado!

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