Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 31 May 2024 00:14:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Corpus Christi: outra compreensão necessária a partir dos sinais dos tempos https://observatoriodaevangelizacao.com/corpus-christi-outra-compreensao-necessaria-a-partir-dos-sinais-dos-tempos/ https://observatoriodaevangelizacao.com/corpus-christi-outra-compreensao-necessaria-a-partir-dos-sinais-dos-tempos/#respond Thu, 30 May 2024 13:50:13 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49889 [Leia mais...]]]> A Eucaristia, na experiência cristã católica, é o sacramento do Corpo de Cristo. Jesus de Nazaré, o enviado no Pai, pela luz e força do Espírito Santo, revelou-nos o Amor de Deus por nós e abriu-nos um caminho de salvação, um caminho a ser trilhado: transformados pela força da experiência do amor gratuito de Deus por nós, somos chamados a cultivar o amar, cuidar e servir. Na Eucaristia celebramos este Mistério de Amor que vem até nós e, com claridade solar, nos revela que somos filhos e filhas, amados de Deus, que somos irmãos e irmãs e que o caminho da salvação é amar como Jesus nos amou. Os cristãos batizados, que enraizaram as suas vidas em Jesus, são chamados a uma missão: serem o “Corpo de Cristo” hoje. Continuarem, portanto, a missão de Jesus. Em pequenas comunidades de fé e partilha de vida, os cristãos são chamados a ser fermento, sal e luz de outra sociedade possível e necessária. Sociedade firmada na mesa da irmandade, na prática da justiça divina, da misericórdia e da compaixão pelos sofredores, pela partilha solidária com os pobres, pela defesa da dignidade da vida de quem está excluído.

Jesus, em sua última ceia, depois de lavar os pés de seus discípulos, na véspera de sua paixão-morte-ressurreição, sintetizou, num gesto profundamente simbólico, o sentido maior que deu à sua vida: uma entrega, com fidelidade ao Projeto salvífico de Deus! Jesus fez de sua vida um serviço a Deus, concretamente como serviço ao próximo. A práxis acolhedora-libertadora de Jesus, desde os desfigurados da dignidade humana: escravizados, explorados, empobrecidos, marginalizados, encarcerados, por serem considerados impuros desprezados, doentes, sofredores. Em nome de Deus, pela força da Ruah divina, Jesus, o Filho amado, libertou da cegueira, da surdez, da paralisia, da exclusão do amor social, das garras do mal… Após a sua traição, prisão, condenação, tortura e execução na cruz, Jesus, por sua fidelidade a missão, foi ressuscitado pelo Pai. A Ressurreicão de Jesus confirma, aos olhos da nossa fé, que o Caminho aberto por Jesus, é o nosso caminho de salvação. A vida de Jesus, para a fé cristã, é sim: o nosso caminho de salvação, a verdade do Projeto de Deus e a fonte geradora de vida, de vida nova com a consciência de nossa filiação divina e de compromisso fratersororal. Como nos diz o papa Francisco, “somos todos irmãos e irmãs” (Fratelli Tutti).

 

Um pouco da história da festa de Corpus Christi

Tapete de Corpus Christi 002Tapete para a festa de Corpus Christi

A festa de Corpus Christi, tradicionalmente, teve como objetivo maior o testemunho público da fé e da devoção católica na adoração ao Corpo de Cristo presente na hóstia consagrada. Segundo antiga tradição, a festa de Corpus Christi teve origem em torno do ano de 1243, em Liège, na Bélgica, quando uma freira, Ir. Juliana de Cornion, teve visões nas quais o próprio Jesus Cristo pede que o mistério celebrado na Eucaristia tivesse maior destaque e reconhecimento público. Ela compartilha as suas experiências espirituais com aquele que, mais tarde, viria a se tornar o papa Urbano IV. Este, no ano de 1264, decide instituir esta festa litúrgica para toda a Igreja.

Procissão de Corpus ChristiProcissão de Corpus Christi

O Papa pediu, então, que Tomás de Aquino preparasse textos litúrgicos específicos para esta data. A procissão com a hóstia consagrada, como um cortejo público de ação de graças a Deus, teve início no ano de 1274. No Brasil, como em Portugal, tornou-se popular a tradição de enfeitar as ruas com lindos tapetes com imagens e símbolos religiosos. Na liturgia, a celebração de Corpus Christi inclui missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.

Tapete para a festa de Corpus Christi Confecção dos tapetes com símbolos cristãos para a festa de Corpus Christi

Um contexto cultural de insensibilidade ecumênica e de pouca atenção à necessidade de diálogo inter-religioso favoreceu deturpações e muitos conflitos religiosos. A festa de Corpus Christi, em muitos lugares, tornou-se mais que uma celebração da liturgia cristã católica. Passou a ser encarada ou utilizada, por muitos infelizmente, como momento oportuno para explicitar, publicamente, a supremacia do catolicismo, em relação às outras igrejas cristãs, bem como às outras tradições religiosas.

 

Outra compreensão se faz necessária a partir dos sinais dos tempos

Hoje, nós cristãos somos chamados a agir na Igreja e na sociedade, com a consciência de sermos desafiados a ser o Corpo de Cristo, ou seja, a continuar a missão de Jesus em nosso contexto. Somos interpelados pela vida de Jesus, a testemunhar o amor universal de Deus e o amor fratersororal entre nós. Pelo diálogo fraterno, somos chamados a melhor cuidar da Casa comum e defender, irmanando-se nas lutas dos movimentos populares, a igual dignidade de todos os filhos e filhas amados de Deus. O amor de Deus nos irmana e nos compromete com a unidade da família de Deus: a humanidade.

Para os cristãos, não deveria haver fronteiras culturais ou religiosas para irradiar, cultivar e praticar o amor, pois, pela vida de Jesus, todo ser humano, independente de qualquer critério, é acolhido como filho e filha amado de Deus. Ser cristão, portanto, é um desafio que se faz compromisso sociopolítico, econômico, ecológico e religioso – em todas as dimensões da vida – de testemunhar-anunciar a boa notícia da universalidade, gratuidade e incondicionalidade do Amor de Deus, desde os últimos, Amor que nos transforma em cuidadores da inclusão de todos na grande mesa da irmandade e da igual dignidade dos filhos e filhas amados de Deus.

Grito dos excluídos - 2014Caminhada ecumênica de 7 de setembro – Grito dos excluídos organizado pelas Igrejas cristãs em defesa da dignidade da vida.

Aconteceram muitas mudanças culturais em nosso meio que se tornam autênticos sinais dos tempos, como nos ensinou o papa João XXIII, nos albores do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). Dentre outras, merecem destaque:

  • cresce a consciência planetária e que a humanidade compartilha uma mesma “aldeia global”;
  • cresce a percepção de dois gritos: dos pobres e da Terra. Nossos modelos de desenvolvimento e busca do progresso e da felicidade, nem inclui a todos – parcela significativa de irmãos e irmãs ficam de fora, é excluída da mesa -, nem cuida do equilibrio e do futuro da vida na Terra;
  • com as novas tecnologias de transporte e comunicação passamos a reconhecer a beleza enriquecedora do pluralismo cultural e religioso;
  • em muitos países, o Estado se tornou laico e democrático, defensor dos direitos fundamentais, entre estes o da liberdade de crença, de culto e também de convicções areligiosas;
  • em vista da paz entre os povos, nações, grupos, pessoas, cresceu a consciência da importância de desenvolvermos e cultivarmos o espírito ecumênico entre as igrejas cristãs e posturas de diálogo inter-religioso, diante, sobretudo, da conquista da legitimidade cultural da diversidade religiosa.

Tais sinais clamam por outras posturas sociopolíticas e religiosas possíveis e necessárias. A Igreja católica, há 60 anos, no Concílio Ecumênico Vaticano II, reconheceu essas mudanças culturais, legitimou e convocou os cristãos católicos, a  assumirem o movimento ecumênico com as outras igrejas cristãs e posturas dialógicas para com as outras tradições religiosas. Alguns passos já foram dados, mas ainda temos muito que aprender e caminhar.

Mutirão pela moradia para todos!Mutirão ecumênico por moradia para todos!

A festa de Corpus Christi – como todas as festas valorizadas pelo cristianismo católico, tais como Natal, Semana Santa, Páscoa, Pentecostes, festividades de Nossa Senhora e todos os santos e santas da devoção popular – é chamada a deixar-se fecundar e transformar pelos sinais dos tempos. Em toda ação evangelizadora da Igreja, por fidelidade a Jesus Cristo e a tradição apostólica, não deve conter qualquer resquício de espírito apologético agressivo ou mentalidade eclesiocêntrica ou religiocêntrica arrogante e que provoca beligerância religiosa em nome de Deus. Importa dizer não a qualquer compreensão de guerra santa!

Mutirão pelos desabrigadosMutirão pelos desabrigados promovido por iniciativa da Caritas.

A festa de Corpus Christi, balizada pelos valores do Evangelho do Reino, tem como objetivo favorecer aos fiéis oportunidades criativas de encontro com o Jesus Ressuscitado, de crescimento na vida cristã e aprofundamento da identidade cristã católica, mas sem qualquer pretensão de agredir ou diminuir outras igrejas cristãs e/ou tradições religiosas.

O fundamento bíblico deve prevalecer na ação evangelizadora: cada cristão, enquanto seguidor ou seguidora de Jesus e alguém que se alimenta da vida do Mestre do Caminho, do Verbo de Deus ressuscitado e sempre estradeiro conosco, é chamado pelo batismo a concretizar em suas ações, no contexto em que vive, a vontade de Deus. Ele se nutre da memória dos feitos de Jesus para, juntamente com seus irmãos e irmãs de fé, agir e atuar na Igreja e na sociedade, em vista do bem comum, com a consciência de ser membro vivo do Corpo de Cristo hoje.

Para refletirmos: que significa celebrar a festa de Corpus Christi no contexto em que vivemos?

Sobre o autor:

Edward  Guimarães é doutor em Ciências da Religião pela PUC Minas e mestre em Teologia pela FAJE.  Professor do Mestrado Profissional em Teologia Prática e de Cultura Religiosa da PUC Minas.
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Um modo confiável de ajudar nossos irmãos e irmãs do Sul https://observatoriodaevangelizacao.com/um-modo-confiavel-de-ajudar-nossos-irmaos-e-irmas-do-sul/ https://observatoriodaevangelizacao.com/um-modo-confiavel-de-ajudar-nossos-irmaos-e-irmas-do-sul/#respond Fri, 10 May 2024 16:51:54 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49885 [Leia mais...]]]> Neste momento, nas ações emergenciais solidárias urgentes doar (veja a chave PIX SOS@ALSB.ORG.BR) e renovar o compromisso ético e ecoético de dar mãos e participar das lutas que escutam o grito da Terra e o grito dos pobres e vulneráveis, em defesa da vida, em todo lugar.

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O estudo da filosofia e da teologia https://observatoriodaevangelizacao.com/o-estudo-da-filosofia-e-da-teologia/ https://observatoriodaevangelizacao.com/o-estudo-da-filosofia-e-da-teologia/#respond Thu, 09 May 2024 22:21:34 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49879 [Leia mais...]]]> O ESTUDO DA FILOSOFIA E DA TEOLOGIA

 

Por Joaquim Jocélio de Sousa Costa [1]

Nossas sociedades estão cada vez mais envolvidas pela técnica e pela exigência de eficiência e produção. Assim, a própria produção de conhecimento está fundamentalmente ligada a uma visão pragmática do mundo. Quando se confronta uma área do conhecimento, a pergunta é: Para que serve isso? E o que se lucra com isso? Nesse sentido, conhecimentos filosóficos e teológicos são pouco valorizados. Considerados até não científicos ou, ao menos, de segunda categoria. Comecemos pela filosofia, qual seria a sua especificidade e razão de ser?

 

O estudo da filosofia

Todas as ciências trazem questionamentos cujas respostas, embora sempre parciais, geram as transformações que vemos na sociedade. As perguntas filosóficas se diferenciam das demais feitas pelas ciências empíricas, assim como se diferencia das perguntas comuns do cotidiano. As ciências podem se perguntar pela estrutura do DNA, pela fórmula química da água, pelas leis físicas que regem o universo, pela estrutura do cérebro humano, pelo modo como se organiza a sociedade. A filosofia se pergunta: O que é a vida? O que é a realidade e como ela se estrutura? O que é a mente? O que é o poder? O que é a pessoa humana? No dia a dia, podemos perguntar que horas são, se alguém está mentindo, porque aconteceu tal coisa. A filosofia se pergunta: O que é o tempo? O que é a verdade? O que é a razão? Existe a relação de causa e feito? (Cf. CHAUÍ, 1995, p. 9-12).

Como podemos perceber, as perguntas filosóficas se preocupam com o fundamento último das coisas, com sua essência, é um conhecimento radical (que vai a raiz), isto é, o que as coisas são em si mesmas. Mais que filosofia, se aprende a filosofar. Filosofia não é como se costuma dizer: “aquilo com o qual ou sem o qual, tudo fica tal e qual”. Ou seja, a filosofia não é inútil. Por trás de todas as descobertas e investigações científicas, estão perguntas filosóficas que motivaram as investigações. A filosofia molda a forma de pensar e a própria elaboração teórica dos conhecimentos. A filosofia, portanto, pergunta pela essência das coisas (O QUE É); por sua estrutura e organização (O COMO É); sua causa e razão de ser (POR QUE É); mas também sua finalidade e intenção (PARA QUE É e o PARA QUEM É) (Cf. CHAUÍ, 1995, p. 13-18). Esses últimos pontos explicitam bem sua dimensão crítica, pois “a filosofia tem, portanto, além de uma função radicalizadora, uma função desmascaradora das ideias e das teorias aparentemente ‘puras’, ‘neutras’ e ‘verdadeiras’” (GONZÁLEZ, 1987, p. 31).

A filosofia trata, desse modo, da totalidade das coisas, as realidades vistas a partir do todo, a partir do seu fundamento último. Ao longo da história, algumas áreas filosóficas se destacaram, como a metafísica (o que a realidade é nela mesma?), a epistemologia (como é possível conhecer as coisas?) e a linguagem (como é possível expressar as coisas?). Estudar filosofia envolve, logicamente, recorrer aos textos e reflexões dos grandes filósofos nos diferentes contextos da história, mas sobretudo, assumir uma atitude filosófica diante do mundo. Aqui, se destaca sua importância e, poderíamos também dizer, sua praticidade; isto é, como ela ajuda em nosso dia a dia. A atitude filosófica nos leva a ir além dos conhecimentos formais e nos ajuda a perceber como o próprio conhecimento é organizado, estruturado e até instrumentalizado. Nos ajuda a perceber como nós também podemos e devemos fazer a diferença no mundo. E a abordagem da teologia, qual a sua contribuição singular?

 

O estudo da teologia

A teologia é um conhecimento que desde muito cedo esteve em profundo diálogo com a filosofia. Contudo, é preciso ter muito claro o que é específico da teologia. Ela é inteligência da fé. Ela “parte do dado da fé, por isso, pretende falar a partir de Deus, a partir da relação que ele estabelece com o ser humano… Seu ponto de partida é a experiência de fé” (CROATTO, 2001, p. 22. 23). Ou seja, o teólogo é antes de tudo uma pessoa de fé. Sua reflexão não é alheia a sua vida, mas profundamente ligada a ela; não é simplesmente falar de Deus, mas falar a partir da sua relação com Ele. A teologia pressupõe, assim, que Deus revelou seus desígnios de amor com a finalidade de salvar a humanidade, ou seja, fazê-la participar de sua vida divina. Desse modo, todas as questões humanas são tratadas a partir do olhar da fé. Por isso, “para promover a teologia no futuro, não se pode limitar-se a propor de forma abstrata fórmulas e esquemas do passado. Chamada a interpretar profeticamente o presente e a vislumbrar novos itinerários para o futuro, à luz da Revelação, a teologia terá de enfrentar profundas transformações culturais” (FRANCISCO, 2023b, n 1).

Assim, a teologia é sempre ato segundo, pois antes de tudo está a vida de fé. A teologia é uma reflexão sobre esta fé vivida e é feita dentro dela. São momentos distinguíveis, mas não separáveis. A teologia, inclusive, tem um momento chamado de pré-teológico, quando dialoga com diversos conhecimentos para melhor pensar a fé. Aqui entra seu histórico e profundo diálogo com a filosofia. Muito das elaborações doutrinais e da própria reflexão teológica bebeu e bebe de compreensões filosóficas. A teologia não é filosofia, mas a utiliza em sua reflexão sobre a fé; confronta o saber filosófico a partir dos dados da revelação; o mesmo faz com a sociologia, economia, história, direito, psicologia etc. Existem diferentes níveis de elaboração teológica, desde aquele mais complexo elaborado nas universidades (teologia profissional) até níveis mais simples como as elaborações realizada pelos pastores em homilias e formações (teologia pastoral) ou pelos demais fiéis em círculos bíblicos, novenas ou mesmo conversas mais informais (teologia popular) (Cf. BOFF, 2015, p. 597-600).

Contudo, fazer teologia não é o mais importante para o cristão, o mais fundamental é seguir a Jesus Cristo, viver como ele viveu. A teologia é um meio muito importante para isso. A fé é pensada e refletida para ser melhor vivida. Por isso, as diversas realidades cotidianas “exigem uma ‘teologia em saída’, capaz de compreender questões, muitas vezes, situadas nos confins de existências complexas, conturbadas e feridas” (FRANCISCO, 2023a). A teologia deve ser compromisso com um mundo mais justo e fraterno, sinal do Reino de Deus. As universidades, na produção da teologia profissional, devem ter muita clareza sobre isso. “Devemos sempre nos perguntar: para que serve a nossa ciência? Qual o potencial transformador do conhecimento que produzimos? O que e a quem servimos? A neutralidade é uma ilusão. Portanto, uma universidade católica deve tomar decisões, e estas devem ser um reflexo do Evangelho. Ele deve se posicionar e demonstrá-lo com suas ações de forma transparente, ‘sujando as mãos’ evangelicamente na transformação do mundo e no serviço da pessoa humana” (FRANCISCO, 2024).

A teologia é “um conhecimento transcendente e, ao mesmo tempo, atento à voz do povo, portanto, teologia ‘popular’, misericordiosamente dirigida às feridas abertas da humanidade e da criação e nas dobras da história humana, para a qual profetiza a esperança de uma realização final” (FRANCISCO, 2023b, 7). Assim, temos que ter “a coragem de adotar esta teologia que tem cheiro de ‘carne e de povo’” (FRANCISCO, 2023a). Para isso se estuda teologia, para melhor seguirmos a Jesus de Nazaré, amando como ele amou, construindo com ele o Reino.

E você, o que pensa dos estudos de filosofia e teologia?

Referências bibliográficas

BOFF, Clodovis. Teoria do Método Teológico. 6ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2015.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995.

CROATTO, José Severino. As linguagens da experiência religiosa: Uma introdução à fenomenologia da religião. São Paulo: Paulinas, 2001. p. 22. 23.

FRANCISCO, PP. A Teologia que tem gosto de carne e de povo: Prefácio do Papa no livro “Repensar o pensamento” de dom Antonio Stagliano. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-11/teologia-prefacio-papa-francisco-livro-repensar-pensamento.html, acesso em: 22.11.2023a.

FRANCISCO, PP. Discurso del Santo Padre Francisco a la Delegación e la Federación Internaciónal de las Universidades Católicas. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/es/speeches/2024/january/documents/20240119-fiuc.html, acesso em: 24.01.2024.

FRANCISCO, PP. Motu Proprio Ad theologiam promovendam. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/it/motu_proprio/documents/20231101-motu-proprio-ad-theologiam-promovendam.html, acesso em: 22.11.2023b.

GONZÁLEZ, Antonio. Introducción a la práctica de la filosofía: Texto de iniciación. San Salvador: UCA Editores, 1987.

Joaquim Jocélio de Souza Costa é graduado em filosofia e teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza; é diácono da Diocese de Limoeiro do Norte-CE.

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Tragédia anunciada (mais uma)! Chuva demais, inteligência e responsabilidade de menos https://observatoriodaevangelizacao.com/tragedia-anunciada-mais-uma-chuva-demais-inteligencia-e-responsabilidade-de-menos/ https://observatoriodaevangelizacao.com/tragedia-anunciada-mais-uma-chuva-demais-inteligencia-e-responsabilidade-de-menos/#respond Thu, 09 May 2024 20:56:31 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49866 [Leia mais...]]]> Será que desta vez vamos aceitar que a ameaça é real? Entraremos em pânico ao perceber que o que está ruim pode piorar? O futuro será pior que o presente. O aquecimento global está apenas em seu começo. Poucos meses após a passagem de um ciclone extratropical que trouxe devastação e morte ao Rio Grande do Sul, enchentes ainda maiores estão castigando os gaúchos. 80% dos municípios devastados, milhares de desabrigados e desalojados, centenas de feridos, mortos e desaparecidos.

A tragédia é mais um sinal gravíssimo da crise ambiental. Desmatamento, mineração ilegal, queimadas, destruição dos biomas, desertificação. Enxurrada, enchentes, inundações, causando desmoronamentos, destruindo casas, matando gente e arruinando meios de subsistência. O ambiente mudou tanto que o que antes era uma possibilidade, agora é um fenômeno real.

Eventos extremos se tornaram frequentes. Embora esteja acontecendo no Sul, impacta diretamente todo o Brasil. Não são fatalidades naturais, mas um fenômeno resultante das mudanças climáticas. Há muito a ciência alerta sobre o agravamento do aquecimento global. Um crescimento econômico continuado num planeta finito e sobrecarregado só pode terminar em tragédia. Uma catástrofe ambiental é prenúncio de flagelo social: migração, desemprego, fome, doenças, pobreza.

Fingir surpresa diante dos fatos é cinismo e canalhice. O negacionismo das alterações climáticas foi fomentado por muitos anos. A falta de bom senso e o desprezo pela ciência é prenúncio de desastre. Não faltam alertas científicos! O último relatório do IPCC de 2023, após 15 anos de pesquisas realizadas por centenas de cientistas, apontou a América do Sul como área de eventos climáticos extremos, como inundações.

Em 2015, o relatório “Brasil 2040”, da Presidência da República, indicou o aumento de chuvas acentuadas no Sul em decorrência das mudanças climáticas. O documento apresentava medidas para minimizar os impactos das mudanças inevitáveis. O estudo foi arquivado. Previsões ignoradas. Essa é a quarta ocorrência de fortes chuvas em terras gaúchas em menos de um ano.

Registro da tragédia do Ciclone extratropical no Rio Grande do Sul em 2021.

Não há como negar tantas evidências científicas, mas…

Eduardo Leite (PSDB), governador desde 2018, e Sebastião Melo (MDB) prefeito de Porto Alegre desde 2020, não só desprezaram as advertências, como também destruíram o Estado, privatizaram a infraestrutura e sucatearam a secretaria de meio ambiente. A prefeitura de Porto Alegre não investiu um centavo em prevenção contra enchentes em 2023. Tudo em nome da austeridade fiscal.

O governo estadual aumentou o orçamento da defesa civil em apenas 50 mil reais, alterou 480 artigos do Código do Meio Ambiente, mudou o conceito de Área de Preservação Permanente (APP) favorecendo a intervenção do agronegócio em áreas sem autorização de órgão ambiental, retirou os artigos que versavam sobre Unidades de Conservação e sua proteção. Menos de um mês atrás, o governador sancionou uma lei que flexibiliza regras ambientais para construção de barragens em APPs.“A crise já chegou, ela não é no futuro.

 

A crise já chegou, ela não é no futuro. Não há mais como evitar os eventos extremos.

Suely Araújo, coordenadora do Observatório do Clima.

 

A crise já chegou, ela não é no futuro. Não há mais como evitar os eventos extremos” (Suely Araújo, coordenadora do Observatório do Clima). A mudança climática é uma realidade, mas a legislação e as políticas públicas ainda são pensadas como se ela não existisse. A flexibilização da legislação ambiental pode gerar muitas outras tragédias. Tramita no Congresso um “pacote da destruição”: mais de 20 projetos de lei que fragilizam a legislação ambiental. Em meio ao desastre climático, a bancada ruralista quer reduzir reservas na Amazônia.

Catástrofes causadas pela crise climática podem ser evitadas? Quem poderá frear a ganância predatória dos poderosos que sacrificam um país inteiro em benefício próprio? É um desastre após outro. É preciso pôr fim à tamanha insanidade. “Continuaremos sonâmbulos para as catástrofes climáticas?” (António Guterres, secretário-geral da ONU).

 

Continuaremos sonâmbulos para as catástrofes climáticas?

António Guterres, secretário-geral da ONU.

 

As vidas perdidas logo serão esquecidas? Continuaremos elegendo governantes e políticos negacionistas patrocinados por empresas e seus interesses escusos? Uma hora a conta chega. A fatura chegou no Rio Grande do Sul!

Não basta maquiar mudanças na economia. Sem visão de futuro, pode ser tarde demais. A crise climática é expressão de uma crise muito maior: a crise civilizatória. São urgentes mudanças “nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder que hoje regem as sociedades” (Laudato Si’, 5).

A crise climática-humanitária revela um profundo abandono dos mais pobres. Diante desse desamparo, o povo se enche de compaixão e se organiza por meio de doações e voluntariado. A ação coletiva mostra que pode fazer a diferença na reconstrução de uma sociedade. Solidariedade é essencial, mas a mobilização por justiça climática também é urgente. Não se pode enfrentar um problema tão grave apenas com medidas pontuais. Respostas emergenciais e provisórias são insuficientes.Eventos extremos como esse não podem ser tratados como imprevistos. Um problema sistêmico gerador de tragédias humano-ambientais só será realmente enfrentado com a mudança do modelo socioeconômico. Prevenir é melhor que remediar.

(Os grifos são nossos!)

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte: Portal FAJE

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Pastoral do Povo da Rua tem novo bispo referencial https://observatoriodaevangelizacao.com/pastoral-do-povo-da-rua-tem-novo-bispo-referencial/ Tue, 30 Apr 2024 02:06:01 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49848 [Leia mais...]]]>

Uma das mais desafiantes pastorais sociais da Igreja católica, a Pastoral do Povo da Rua, tem novo bispo referencial.  Isso mesmo, uma das mais desafiantes, porque pessoas em situação de rua, infelizmente, com frequência são consideradas uma espécie de “lixo humano”, são tratadas como um estorvo que sujam e enfeiam o centro das grandes cidades. E como se não bastasse, além de serem, por muitos, socialmente invisibilizadas, são também desprezadas até mesmo pelas políticas públicas.

Esta Pastoral social nasce como um apelo ético do Evangelho que nos interpela a contemplar, no rosto dos pobres e sofredores, a presença de Deus e a acolher cada pessoa humana, de modo especial, as mais vulneráveis e excluídas da mesa da dignidade, como irmãos e irmãs.

Recebemos com alegria esta notícia: No dia 17 de Abril de 2024, a presidência da Comissão episcopal para a ação sociotransformadora da CNBB, conduzida por dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo – MA, nomeou como novo bispo referencial da Pastoral do Povo da Rua, dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, bispo auxiliar de Belo Horizonte. Dom Mol, como é conhecido, vem se destacando, como uma das lideranças da Igreja católica mais atuantes e comprometidas com a defesa da democracia, da igualdade cidadã, da justiça social e da dignidade humana.

 

Com dom José Valdeci, nós da equipe do Observatório da Evangelização também suplicamos a Deus que abençoe o trabalho de dom Joaquim Mol na Pastoral do Povo da Rua. Que esta importante pastoral social ganhe maior visibilidade e apoio da Igreja e de toda a sociedade brasileira.

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O presbítero, homem de coração dilatado https://observatoriodaevangelizacao.com/o-presbitero-homem-de-coracao-dilatado/ Sat, 27 Apr 2024 13:54:33 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49842 [Leia mais...]]]> Segundo Matias Soares, “os desafios que estão sendo postos à Igreja, que precisam ser enfrentados, têm sido causa de escândalo e muita tristeza, principalmente na dimensão humano-afetiva dos ministros ordenados. A atenção dada à formação humana é mais do que indispensável. É urgente. Essa dimensão da existência sacerdotal foi tratada com desconfiança por séculos… Depois de Sigmund Freud (1856-1939), Carl Gustav Jung (1875-1961) e outros mestres da psicologia do profundo, novos questionamentos surgem acerca dos dramas existentes na formação da identidade da pessoa, marcada na sua história por alegrias e tristezas. A Igreja tentará assumir caminhos novos. O humanismo integral e o personalismo serão a base antropológica do Concílio Vaticano II e, com estes, a atenção que será dada à subjetividade humana, colocando a pessoa no centro, como protagonista da própria formação… Na atualidade, estamos a falar de pós-humanismo, inteligência artificial, pós-secularismo e, depois da pandemia, questões na área de doenças mentais, que colocam desafios novos à própria formação permanente dos presbíteros. A Igreja volta o seu olhar para esta urgência… Na nossa hipermodernidade, o humano é definitivamente apresentado como fragmentado e com possibilidades de ser transumanizado, buscando novas formas de ser e agir, a partir de suas subjetividades… Na formação dos futuros presbíteros e para a formação permanente dos atuais, como nos encontramos numa mudança de época e numa época de mudanças, os métodos precisam ser ressignificados e mudados.

Confira o provocante artigo do pe. Matias Soares que nos convida a um outro olhar para os presbíteros, a grande parcela dos ministros ordenados na Igreja Católica. O mesmo olhar pode ser feito para os bispos e diáconos, e também para pastores e pastoras das outras igrejas cristãs.

 

Arquidiocese de Fortaleza volta a celebrar caminhada penitencial; confira  data | Ceará | G1
             Registro da caminhada penitencial em Fortaleza, em 2023.

 

O presbítero, homem de coração dilatado

O papa Francisco, recentemente, num discurso feito aos participantes de um congresso realizado em Roma, sobre a formação permanente dos presbíteros, assim admoestou aos presentes:

A graça pressupõe sempre a natureza, e por isso temos necessidade duma formação humana integral. Na verdade, ser discípulo do Senhor não é um revestimento religioso, mas um estilo de vida e por conseguinte requer o cuidado da nossa humanidade. O contrário disto é o padre ‘mundano’. Quando a mundanidade entra no coração do padre, estraga-se tudo. Peço-vos para investir o melhor das vossas energias e recursos neste aspeto: o cuidado da formação humana. E também o cuidado por viver de maneira humana”.

O presbítero não pode ser alguém que tenha medo de sua humanidade. Sua história, seus afetos, anseios existenciais e sonhos de realização pessoal devem ser cuidados e ordenados por uma capacidade humana e evangélica de amar. A vocação deve estar situada numa condição humana integral e integrativa.

Os desafios que estão sendo postos à Igreja, que precisam ser enfrentados, têm sido causa de escândalo e muita tristeza, principalmente na dimensão humano-afetiva dos ministros ordenados. A atenção dada à formação humana é mais do que indispensável. É urgente. Essa dimensão da existência sacerdotal foi tratada com desconfiança por séculos. A teologia que tinha suas bases no neoplatonismo penetrou na espiritualidade cristã e, ainda mais, no ordenamento formativo dos ministros ordenados. O tratamento dado aos sacerdotes, como homens do sagrado, principalmente depois do Concílio de Trento (1545-1563), mesmo com seus avanços para a época, pouco a pouco foi sendo superado e surgindo novas necessidades e demandas de atualizações. Envolvidos pela mística da ascese e do sacrifício, como sinal da mortificação das pulsões humanas, o sacerdote do antes do Vaticano II é o homem que deve ter como marcas distintivas: a sabedoria, a saúde e a santidade. Essa integração, nem sempre foi tratada com tanta clarividência e contando com as possibilidades ofertadas pelas ciências humanas, especialmente a psicanálise. Depois de Sigmund Freud (1856-1939), Carl Gustav Jung (1875-1961) e outros mestres da psicologia do profundo, novos questionamentos surgem acerca dos dramas existentes na formação da identidade da pessoa, marcada na sua história por alegrias e tristezas. A Igreja tentará assumir caminhos novos. O humanismo integral e o personalismo serão a base antropológica do Concílio Vaticano II e, com estes, a atenção que será dada à subjetividade humana, colocando a pessoa no centro, como protagonista da própria formação.

Um novo cenário se nos é posto. Na atualidade, estamos a falar de pós-humanismo, inteligência artificial, pós-secularismo e, depois da pandemia, questões na área de doenças mentais, que colocam desafios novos à própria formação permanente dos presbíteros. A Igreja volta o seu olhar para esta urgência. Um novo humanismo pode ser elaborado. Com o neotomismo, tão em voga ainda nas proposições conciliares, a pessoa ainda era tida como realidade integral, que precisava ser integrada. Na nossa hipermodernidade, o humano é definitivamente apresentado como fragmentado e com possibilidades de ser transumanizado, buscando novas formas de ser e agir, a partir de suas subjetividades. Com a determinação de ‘ser no tempo e instantaneamente’, com a confirmação dos pressupostos heiddegerianos. Isso está visível nas novas manifestações do ‘Ser’. Esse (Dasein) é o homem contemporâneo, tão simplesmente, com suas escolhas e autodeterminações.

Nessa conjuntura do estilo de ser e estar no tempo, encontra-se a Igreja que ainda não encontrou um método equilibrado de se relacionar com essas subjetividades. Pois sempre foi aquela que, basicamente dos séculos IV ao XIX, impôs, e não propôs o modo de agir da cultura ocidental. Na formação dos futuros presbíteros e para a formação permanente dos atuais, como nos encontramos numa mudança de época e numa época de mudanças, os métodos precisam ser ressignificados e mudados. A formação, como os ensina o papa Francisco, também precisa absorver a perspectiva da ‘sinodalidade’. Com menos disciplinamento e mais autoconsciência.

Ouso a dizer que a pedra de toque desse modo de ‘ser Igreja’ é o acolhimento das diferenças, por meio da capacidade de escuta de todos. É o respeito e reconhecimento dos sujeitos que são envolvidos no processo formativo. O que é de interesse de todos deve ser participado por todos. Mais confiança que gera responsabilidade e promove a adesão consciente e personalizada do processo formativo. Basta a percepção dos sinais, que estão aí, na maioria dos que são ordenados atualmente. A vida de oração está sendo substituída pelas mídias, os livros estão sendo trocados pelos smartphones e vaidades nas vestimentas, que refletem mais o anseio de autoafirmação, na maioria dos casos, a comunhão presbiteral é distorcida pelos lobbies e, ainda, a proximidade ao povo fiel de Deus, especialmente com os que estão nas periferias geográficas e existenciais, que é trocada pelas relações de conveniências. Esses sinais são fenômenos que dizem muito das motivações e problemáticas humanas dos ministros ordenados e de como as nossas estruturas formativas não estão preenchendo os hiatos existentes nos variados perfis individuais. Está faltando paixão presbiteral e missionária. Uma grande parcela está se tornando despreparada e agindo como simples ‘funcionários do sagrado’.

 

A vida de oração está sendo substituída pelas mídias, os livros estão sendo trocados pelos smartphones e vaidades nas vestimentas, que refletem mais o anseio de autoafirmação, na maioria dos casos, a comunhão presbiteral é distorcida pelos lobbies e, ainda, a proximidade ao povo fiel de Deus, especialmente com os que estão nas periferias geográficas e existenciais, que é trocada pelas relações de conveniências. Esses sinais são fenômenos que dizem muito das motivações e problemáticas humanas dos ministros ordenados e de como as nossas estruturas formativas não estão preenchendo os hiatos existentes nos variados perfis individuais. Está faltando paixão presbiteral e missionária. Uma grande parcela está se tornando despreparada e agindo como simples ‘funcionários do sagrado’

 

O presbítero dos nossos dias, considerando estas manifestações, precisa ser um ‘homem com um coração dilatado para o amor’. E num horizonte de fé, isso só pode acontecer a partir de uma profunda experiência de Deus. Algumas indagações precisam ser respondidas pelos ambientes formativos e demais casas religiosas da Igreja, a saber:

  • Estamos formando homens e mulheres de Deus?
  • Percebemos pessoas performadas segundo o Espírito?
  • Há mais preocupação com o que é mundano nas casas de formação, do que com o que é próprio da ação missionária?
  • Existe desejo de conversão permanente, com a abertura ao que é proposto pelo Evangelho?
  • Quais as motivações que estão levando as pessoas a buscarem as nossas casas de formação?
  • Por que e para que estamos formando padres, religiosos e religiosas?
  • Os formandos e formandas, como também os que já estão ordenados e consagrados, estão inseridos, sendo sal e luz, pastores com cheiro das ovelhas, na vida e na história do povo fiel de Deus?
  • Os nossos métodos formativos estão servindo para que o discernimento evangélico e espiritual aconteça neste processo de maturidade humana e vocacional? Etc…

Os fechamentos ao que pode ser aprofundado é, talvez, a principal dificuldade que temos para avançarmos. Enquanto não nos confrontarmos com a nossa verdade, inclusive enquanto instituição, não conseguiremos falar e agir com ‘parresia’, ou seja, com coragem de encarar a verdade no encontro com nossas fragilidades internas e diferenças externas. Por isso, o fechamento em bolhas e a grande dificuldade de dialogar e agir neste mundo hipermoderno que nos desafia e desacredita constantemente. Na Igreja, ainda temos muito medo da verdade; por isso, não conseguimos ser livres. Com frequência, nos esqueçamos que só ela pode nos dar a liberdade (cf. Jo 8,32). Ou ela é endógena a vida da Igreja e, para isso, precisa ‘acontecer’ na existência de cada um de nós, ou teremos a impressão de que somos uma composição, ou uma simples instituição, na qual muitos ainda não viveram o encontro pessoal com Jesus Cristo e, desta forma, ainda não se tornaram cristãos. A seguinte afirmação do papa Bento XVI sintetiza bem essa reflexão à qual me proponho neste momento:

Nós cremos no amor de Deus — deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida. ‘Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo’. No seu Evangelho, João tinha expressado este acontecimento com as palavras seguintes: ‘Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único para que todo o que n’Ele crer (…) tenha a vida eterna’” (cf. DCE 1).  

 

Papa Francisco, bispos, padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas caminham juntos no Sínodo para a Amazônia.

 

Enfim, instigados a formar um coração dilatado ao amor, sem jaulas e correntes, verdadeiros e sinceros, ternos e misericordiosos, podemos amadurecer. O papa Francisco tem nos provocado positivamente. Para os que ainda vivem no ‘país das maravilhas’, com uma mentalidade pré-moderna e com odor de cristandade, se chega a afirmar que “este Papa não gosta dos ministros ordenados”. Penso que esta não seja a questão! Ele denuncia a mentalidade clericalista e mundana de muitos de nós, que estamos ainda protegidos pela força de uma instituição que vem sendo desafiada a repensar seu modo de ser no mundo de hoje. Numa realidade na qual todos estamos “desnudados”. Numa sociedade do cansaço e do digital (cf. Byung-Chul Han), na qual tudo é visto e todos se veem sem conhecimento profundo e personalizado. Nós estamos inseridos neste tempo e nessa história. Temos que sair das nossas casinhas e construções oníricas. Só conseguiremos ser fortes e perseverantes, como ministros ordenados e consagrados, se tivermos corações dilatados para amar e ser amados. Assim o seja!

 

Pe. Matias Soares

Pároco da paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório, Natal-RN

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O Clericalismo que habita em nós https://observatoriodaevangelizacao.com/o-clericalismo-que-habita-em-nos/ Fri, 26 Apr 2024 18:59:30 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49838 [Leia mais...]]]>  

O CLERICALISMO QUE HABITA EM NÓS

Por Toninho Kalunga

Francisco é o primeiro Papa a tocar em um tema de fundamental importância para a sobrevivência da Igreja Católica no meio dos pobres. É a chaga do clericalismo. Este mal nasce do entendimento de uma parcela dos padres, de que a fé que eles devotam a Deus, é uma fé mais importante do que a fé das pessoas que não são padres.

O clericalismo nasceu disso. O desenvolvimento desta perspectiva de fé trouxe uma tese de uma certa hierarquia na relação com Deus. Assim, primeiro, vem o Papa, com sua infalibilidade, logo em seguida são os poderosos cardeais, seguidos dos arcebispos, bispos e finalmente a massa sacerdotal. O povo é conduzido e a estes, basta este papel!

Por outro lado, quem cuida, de fato, da fé do povo católico são os padres. Aliás, neste ponto nem há tanta contradição, pois, eles se formam em seminários, num período que vai de 8 à 12 anos, para ajudar na construção e consolidação de uma perspectiva religiosa e sua consequente fé. No decorrer do tempo, infelizmente, ao invés de servir, optaram por ser servidos. E aí é que a coisa degringolou.

Podemos verificar nas lembranças de nossa juventude, “Igrejas que não cabiam gente” de tanta gente que ia às Missas! Era o tempo da Igreja Pastoral, de uma Igreja onde seus pastores tinham “cheiro de suas ovelhas”. Entre o Concílio Vaticano II e o final dos anos 1970, os seminários formaram padres que tinham como perspectiva e sonho, servir ao povo de Deus.

No começo dos anos 1980, com o advento do papado de João Paulo II, essa proposta de Igreja Pastoral, foi perdendo seu vigor e passou a ser combatida ferozmente com incentivo papal do anticomunismo. Se houve erro no papado de João Paulo II, certamente, esse foi o maior deles, pois sua visão de mundo e histórico pessoal, dava a ele a dimensão de que a Polônia era o mundo. E não era!

A Igreja Latino Americana, não era a mesma Igreja Européia. Nem é!! Essa falta de perspectiva cultural e de dimensão social e econômica de João Paulo II, fez com que seu papado passasse a ser de enfrentamento a uma Igreja alegre e popular, uma Igreja de dimensão profética e acolhedora. Uma Igreja gigantesca na dimensão espiritual, eclesial e popular. Foi uma Igreja libertadora e feliz, vocacionada a ser sal na terra e luz no mundo. Por isso, era cheia, vigorosa, devota e encarnada na vida do povo. O resultado é que a vitória dos conservadores, está sendo a derrota de toda a Igreja.

Assim, esta nova proposta ganhou força e os seminários passaram a construir com grande esforço e incentivo do Vaticano, uma formação cada vez mais clericalista, onde a ideia do padre tutor, com pouco interesse na dimensão cotidiana do povo e apegado ao status sacerdotal. A igreja católica passou então a abrir mão do tríplice múnus, que é o múnus sacerdotal, múnus profético e múnus pastoral, para assumir e incentivar apenas o primeiro.

A partir deste momento, começou a crise das ordenações sacerdotais; Diminuindo drasticamente a quantidade de seminaristas e vocações religiosas femininas nos conventos. Jovens que buscavam servir, deixaram de ver na Igreja um atrativo, afinal, para ter poder, melhor seria ser candidato a vereador, prefeito ou deputado e não a padre ou “freira”!!

Assim, fomos apresentados ao orgulhoso Padre de Sacristia, perdendo de vez o líder pastoral. Foi quando começou a surgir a figura dos padres cantores ou o padre popstar, que juntava muita gente em Igrejas enormes e afastavam ao mesmo tempo, o mesmo povo, de suas pequenas comunidades. Esse foi o começo do fim das Comunidades Eclesiais de Base. Enquanto o povo cantava que tinha:

 “anjos voando neste lugar, no meio do povo e em cima do altar, subindo e descendo em todas as direções”, 

O povo na periferia ficava vendo lobos em pele de pastores, engolindo sua fé e arrancando suas esperanças, dizendo que a culpa pelas dificuldades que passavam era em razão de seu pecado e não em razão de um sistema econômico e social que os escravizavam.

Assim, como suspiro de esperança, nas periferias que ainda resistiam, a canção era outra: Ao perceber que lhes faltavam pastores o povo clamava:

“Falta gente pra ir ao povo Descobrir porque o povo se cala Pastores e animadores pra incentivar o teu povo a falar.  Falta luz porque não se acende Não se acende porque faltam sonhos. E falta esse jeito novo de levar luz e falar de Jesus”

Em razão da perda de contato da Igreja Católica com a realidade do povo, surgiu um vácuo, que foi ocupado por uma dimensão religiosa já existente, que se pulverizou: pastores evangélicos oriundos e envolvidos com a realidade de suas comunidades, favelas e periferias em geral levando apoio em nome de Jesus.

Ao destruírem pastorais como a Pastoral Carcerária, os pastores passaram a dar assistência às famílias dos detentos pobres e dos próprios presidiários. Ao impedir a dimensão profética de Pastorais como a Pastoral da Terra, abrimos mão do apoio aos trabalhadores rurais e deixamo-los à própria sorte, sendo estes acolhidos por pequenas comunidades evangélicas nas pequenas cidades e no campo.

O que sobrou aos católicos foi uma elite paroquiana que ao pagar o dízimo e doar um bezerro para a festa da Padroeira, tirava o senso crítico da realidade vivida pelos mais pobres, assim, não fazia diferença participar de uma Igreja onde o padre culpava os pecadores por seus pecados, e o pastor que dizia que o pecado era coisa do demônio. Assim, melhor era falar com o pastor, que ao menos lhes falava que iam sair no tapa com o belzebu!

Nenhum destes, no entanto, se interessava mais em falar sobre a esperança de uma vida melhor aqui, neste lugar. Todos só garantiam isso depois da morte. Assim, a vida vivida, era abafada e o que restava era se adaptar e deixar o tempo passar. Os que não aceitavam essa condição, construíram sua própria fé! Contudo sem formação, sem dimensão filosófica e teológica pastoral. Não demorou para que a falta destas dimensões formativas, fossem adaptadas para o campo da política conservadora e o resultado desta pulverização está aí para que todos possamos ver!

Além dos seminários, outra figura que transforma bons padres, em padres clericalistas, é a própria comunidade de leigos e leigas que exigem destes homens uma postura que muitos não gostariam de ter – nem têm – responsabilizando e exigindo destes uma postura de super humanos. Não é sem razão que existem tantas desistências e frustrações com o sonho da vida sacerdotal.

No campo progressista não é muito diferente, lamentavelmente! O que deveria ser um sopro de alívio para os padres, passa a ser também uma exigência de posicionamentos que cabem aos leigos e não aos padres. E isso também é muito frustrante.

Ao fim, o que se tem é um séquito de religiosos, que chegam numa comunidade e destroem a organização histórica Pastoral dessas comunidades e impõe o seu estilo e ponto de vista, acompanhado de um viés ideológico de extrema direita e hipócrita,  em detrimento da história daquela comunidade. Não servem. Exigem serem servidos.

Tem uma canção que gosto muito, que é bastante cantada na ceb nos atos penitenciais que diz assim:

“Quem não te aceita, quem te rejeita, pode não crer, por ver cristãos que vivem mal…”

Tenho visto cada vez mais pessoas que estão tristes com a Igreja Católica que trazem consigo características em comum: Não participam da vida comunitária, não batem um prego num sabão para ajudar na construção da reflexão e não ajudam na lida cotidiana da comunidade, mas querem espaço de liderança. Não topam estar numa turma de catequese com um grupo de 05 ou 10. Querem ser chamados para fazer palestra nos grupos x ou y, mas não estão dispostos a participar da formação na paróquia. Ou seja. Só aceitam posição de liderança ou de destaque, (igual ao padre) não querem, portanto, fazer parte da massa. O que não entendem é que se não se misturar a esta massa, jamais poderá ter de novo o prazer de se alegrar em uma comunidade.

Não é este o comportamento clericalista?? Não é essa a razão pela qual reclamamos dos Padres que não ouvem, não colocam os pés no barro, não frequentam a casa dos mais pobres?? Aí me pergunto, aos que reclamam daqueles: não estamos imitando e nos comportando da mesma forma??

Não é necessário brigar com o padre. Mas é necessário construir a comunidade junto com ele. Estar à disposição de uma comunidade de fé (E NÃO DO PADRE) significa também ter a humildade e a disposição de amadurecer a fé a partir do exemplo do lavapés e aí, sim, estar pronto para ajudar o padre. Afinal, o ensinamento Evangélico é que se não houver a permissão para que os próprios pés sejam lavados, não se compreenderá que este exemplo não é para usufruir de um serviço mas a ação diária para se fazer imitador de Cristo.

Portanto, esta reflexão não é um chamado de uma guerra contra os padres, muito menos de uma postura que queira lançar culpas a quem quer que seja, antes de mais nada é um apelo para que o clero, enquanto representantes tão privilegiados ( mas não únicos) do amor de Deus, se voltem novamente ao serviço profético de anunciadores do amor de Deus e denunciadores contra as mazelas que os poderosos infligem contra a razão maior das suas existências: os pobres.

Que todos nós, filhos e filhas de Deus e peregrinos por este mundo em busca do conforto espiritual, tenhamos a reciprocidade da acolhida de nossos pontos de vista e não da imposição do ponto de vista ideológico, travestido de teológico por parte do clero e de lideranças leigas fascistas, pois estas, destroem o amor, a fraternidade e a solidariedade entre nós!

Que nosso projeto de religiosidade tenha, na necessidade da dignidade de qualquer vida, o parâmetro da defesa da vida de todos, e que esta dignidade seja aplicada da concepção (e não apenas da concepção à Luz), indo até a morte natural como parâmetro da defesa da vida, conforme proposto pelo próprio Cristo. (João,10-10)

 

Toninho Kalunga é leigo orionita na Comunidade do Pequeno Cotolengo, Santuário São Luis Orione em Cotia e membro da Fraternidade Leiga Charles de Foucauld

Fonte: CEBs do Brasil

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Uma Igreja sinodal em missão https://observatoriodaevangelizacao.com/uma-igreja-sinodal-em-missao/ Fri, 26 Apr 2024 18:16:17 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49834 [Leia mais...]]]>

Uma Igreja Sinodal em Missão – Cartilha

Conheça a Cartilha “Igreja Sinodal em Missão” organizada pelo CNLB, Caritas Brasileira e CCB Jesuítas – Uma reflexão sobre a sinodalidade!

O Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), a Caritas Brasileira e o Centro Cultural de Brasília (Jesuítas – Companhia de Jesus) lançaram a cartilha “UMA IGREJA SINODAL EM MISSÃO”. É possível fazer o download na versão digital bem como na versão para impressão, no site do CNLB.

A presidente do CNLB lembrou que a ideia de fazer uma cartilha para rezar e estudar o documento síntese da 1ª Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade surgiu em uma reunião do CNLB. “O Colegiado Deliberativo do Conselho fez a indicação de procurarmos a Caritas Brasileira e os Jesuíta para construção desse instrumento de oração, estudo e reflexão”, enfatizou Sônia Gomes.

Padre Miguel Martins, jesuíta, tem a expectativa de que, de modo especial, os cristãos leigos e leigas, possam se utilizar dessa cartilha se apropriar dos conteúdos do relatório síntese da 1ª Sessão do Sínodo da Sinodalidade. “O processo sinodal não é um evento. É um modo de ser Igreja que inclusive nós aqui no Brasil já vivemos. Mas precisamos reavivar isso, esse modo de ser igreja, que é um modo de participação de todos, para que todos tenham voz e vez”, destacou o jesuíta.

Marilza Schuina da Comissão de Assessoria Permanente (CAP) do CNLB lembra que a cartilha quer ajudar a aprofundar as questões que o Sínodo sobre Sinodalidade aponta a partir da realidade em que vivemos. “Nossa expectativa é que esta cartilha favoreça que os cristãos leigos e leigas, nas comunidades, movimentos e pastorais possam refletir sobre os temas apresentados no relatório síntese da primeira sessão sinodal”, finalizou Schuina.

 

O porquê da Cartilha “Uma Igreja Sinodal em Missão” …

Este subsídio deve ajudar as pessoas por meio da leitura orante, dos círculos bíblicos, textos, cantos e outros instrumento para uma reflexão orante do relatório síntese da 1ª Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade. “Aproximar aqueles e aquelas dos mais distantes lugares para refletir e ler o relatório síntese, entender o que é uma Igreja sinodal e assim ajudar a viver esse jeito de ser Igreja na prática”, destacou Sônia Gomes.

Já Marilza Schuina reforça que o objetivo da Cartilha não é apenas responder as questões do relatório, mas refletir e debater como podemos ser uma Igreja verdadeiramente Sinodal na sua essência, uma Igreja povo de Deus, de comunhão, participação e missão.

Como utilizar a Cartilha?

A Cartilha tem linguagem de fácil entendimento e muito simples de utilizar. Assim sendo, o jesuíta Miguel Martins, nos lembra que esse instrumento pode ser usado nos encontros dos grupos de jovens, das pastorais, dos movimentos, das CEBs. São 20 capítulos com temas ligados ao relatório síntese da 1ª Sessão do Sínodo da Sinodalidade. “Os animadores de comunidades, lideranças das pastorais, organismos, serviços, movimentos e demais forças vivas da Igreja são sujeitos eclesiais que podem liderar essa reflexão em seus espaços e assim ajudar na espiritualidade sinodal, nosso jeito de viver a fé”, reforçou padre Miguel.

Sônia Gomes nos lembra que a Cartilha pode ser usada em todos os espaços que participamos inclusive nos novos areópagos como a internet. “A cartilha pode inclusive ser usada em nossas reuniões virtuais para reflexão da Igreja Sinodal em comunhão com o Sínodo da Sinodalidade”, finalizou a presidente do CNLB.

Fonte: Conselho Nacional do Laicato do Brasil

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Você conhece a Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte? https://observatoriodaevangelizacao.com/voce-conhece-a-pastoral-de-rua-da-arquidiocese-de-belo-horizonte/ Fri, 26 Apr 2024 12:09:09 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=38913 [Leia mais...]]]> “Pois eu estava com fome, e me destes de comer; eu estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em sua casa; estava nu e me vestistes; doente e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me.”

Mateus 25, 35-36

“(…) a opção pelos pobres “envolve tanto à cooperação para resolver as causas estruturais da pobreza e promover o desenvolvimento integral dos pobres, como os gestos mais simples e diários de solidariedade para com as misérias muito concretas que encontramos” (EG, 188); passa não só pelos gestos pessoais e comunitários de solidariedade, mas também pela luta pela transformação das estruturas da sociedade.”

Prof. pe. Francisco de Aquino Júnior

 

Pastoral do Povo da Rua:  uma pastoral a serviço da vida!

A Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, criada em 1987, acontece em articulação com o Vicariato episcopal para ação social, política e ambiental – VEASPAM e com a Pastoral Nacional do Povo da Rua.

Sua missão? Ser presença libertadora e solidária junto à população em situação de rua e catadores de material reciclável, reconhecer os sinais de Deus presentes em sua história e desenvolver ações que transformem a situação de exclusão em projeto de vida para todos.

Em sua prática diária esta pastoral é comprometida com a educação para a cidadania, com a luta por direitos, contribuindo na inclusão social, promoção e respeito à dignidade de toda pessoa humana e na transformação da sociedade.

Rompendo com práticas assistencialistas e apostando no protagonismo, organização e promoção das pessoas, ao longo das últimas três décadas, a equipe da Pastoral de Rua vem incentivando e apoiando a mobilização de diferentes grupos para que conquistem seu espaço e lugar na sociedade. A organização dos catadores de material reciclável e da população em situação de rua, em torno da luta por direitos é uma das suas principais contribuições. Além disso, procura contribuir diretamente com a proposição, conquista e implementação de serviços públicos para que se tornem referência para a concretização de políticas públicas direcionadas para esse público em todo o nosso país.

 

 

O ideal humanitário de respeito às diferenças, de promoção da vida ameaçada e do protagonismo dos sujeitos de direitos orientam a ação cotidiana na relação de compromisso com a luta e organização desta população. Através de uma mística encarnada e profética, comprometida com a de defesa e promoção da vida. Enquanto uma Pastoral Social atua em articulação com a Pastoral Nacional do Povo da Rua e tem sua metodologia fundamentada nas seguintes dimensões:

  • Humana: Reconhecimento e respeito à dignidade;
  • Social: Metodologia que resgata o protagonismo, defende direitos constitucionais e promove projetos de inclusão;
  • Política: Denuncia os mecanismos de exclusão e morte e procura participar ativamente na proposição e na elaboração de políticas públicas;
  • Eclesial: Interlocução e sensibilização da Igreja com a realidade vivida nas ruas e promoção de espaço para vivência da mística cristã.

 

 

Nossos princípios estruturantes:

  1. Centralidade do reinado de Deus;
  2. Humanização da vida e das relações;
  3. Protagonismo do povo da rua e dos catadores de material reciclável;
  4. Participação na construção de projeto de sociedade: Mobilização e organização Social;
  5. Ecumenismo e diálogo inter-religioso;
  6. Construção de uma nova sociedade – civilização do bem viver e bem conviver.

 

 

Nossas diretrizes decisivas:

  1. Criar comunidades de fé e vida entre os catadores e a população em situação de rua;
  2. Fortalecer a organização e participação dos catadores e da população em situação de rua em vista à transformação social;
  3. Contribuir para elaboração e implementação de políticas públicas e exercer o controle social;
  4. Articular e sensibilizar a sociedade e a Igreja para a garantia dos direitos do povo da rua;
  5. Fortalecer a organicidade, identidade e a comunicação social da pastoral.

 

 

A Pastoral de Rua realiza suas atividades buscando promover o desenvolvimento de sociabilidades, na perspectiva de fortalecimento de vínculos interpessoais e/ou familiares que oportunizem a construção de novos projetos de vida e a superação da situação de vida nas ruas. O dinamismo de suas ações é desenvolvido a partir de metodologia participativa que torna possível reconstruir laços humanos e sociais e estruturar a luta efetiva por direitos sociais.

Atua na promoção e defesa de diretos por meio de diversas linhas de ação:

  • Humanização, cuidado e transformação:  a partir da acolhida, atendimento, rodas de conversas, oficinas, atividades diversas na Comunidade Amigos de Rua e realização de encaminhamentos sociais. Promove também formação, cultura do cuidado e vivência da mística e espiritualidade com o Povo da rua e com os agentes de pastoral;
  •  Ser presença no habitat e defesa de direitos humanos: visitas sistemáticas junto à população em situação de rua com escuta atenta e amiga, rodas de conversas, diagnóstico participativo, encaminhamentos sociais, apoio na defesa e garantia de direitos;
  • Apoio à organização e luta por moradia da população em situação de rua: por meio de apoio à “Associação de Luta por Moradia Para Todos”, à “Ocupação Anita Santos”, à “Ocupação Ir. Fortunata”, à articulação e mobilização política e, de modo especial, o acompanhamento de pessoas em processo de saída das ruas;
  • Ações articuladas: com universidades, colégios, ONG’s e da própria sociedade em geral, seja por meio da implementação de projetos, como os organizados pela extensão da PUC Minas, da Faculdade Arnaldo, mas também em parcerias com entidades e órgãos diversos de defesa de direitos, tais como a “Rede socioassistencial e políticas diversas”;
  • Mobilização social e incidência em espaços de controle social: apoio ao “Movimento Nacional do Povo da Rura – MNPR”, organização e participação no “Fórum Municipal e População de Rua”, participação no “Comitê Municipal de Assessoramento e Monitoramento da Política para as pessoas em situação de rua”, capacitação e apoio à pessoas em situação de rua para sua participação em conselhos de direitos, conferências, audiências, entre outros;
  • Apoio às iniciativas de geração de trabalho e renda: trabalho articulado com a Pastoral Nacional do Povo da Rua para o desenvolvimento do “Programa Empreendendo Vidas” que acontece a partir de grupos de Economia Solidária:  Cozinheiros de Rua, plantação, mãos seletas, operações e logística, industrianato;
  • Articulação pastoral/ eclesial: Com o Vicariato episcopal social, político e ambiental – Veaspam, da Arquidiocese de Belo Horizonte, e a Pastoral Nacional do Povo da Rua, concretizamos presença e apoio em grupos, comunidades, paróquias, foranias, regiões que atuam junto à pessoas em situação de rua.

 

Alguns resultados que celebramos:

  • Humanização da vida e das relações;
  • Protagonismo, aumento da autoestima e respeito pela própria vida e a do outro;
  • Criação de vínculos e identidades;
  • Transformação social pela conquista e garantia de direitos;
  • Conquista da cidadania;
  • Articulação e mobilização.

 

Mapa da presença da Igreja junto da população em situação de rua na arquidiocese de BH:

Atuação da Pastoral de Rua durante a pandemia:

Com o fechamento da cidade e de diversos serviços de atendimento à população em situação de rua, a equipe da Pastoral manteve atendimento diário de forma articulada com a equipe da Acolhida Solidária D. Luciano de Almeida, na sede do Vicariato episcopal social, político e ambiental. Ao longo desse período, o número de pessoas que procurou por atendimento aumentou significativamente.

Em vista de assegurar os cuidados necessários, orientações e normas sanitárias, inicialmente o acesso acontecia em pequenos grupos, mediante higienização das mãos e manutenção de distanciamento entre as pessoas, com entrega diária de lanche. Com o aumento dos casos da COVID-19 e a dificuldade de manter o distanciamento entre os atendidos definimos por suspender os atendimentos na comunidade e passamos a fazer de forma individual no espaço da Pastoral com escuta e atendimento de demandas diversas vinculadas à solicitação de informação à cerca do benefício emergencial, documentação, entre outros.

Desde o início da pandemia, a Pastoral, em conjunto com a Pastoral Nacional do Povo da Rua e Vicariato Episcopal para Ação Social, Ambiental e Político iniciou  uma nova  frente de ação  por meio da articulação e mobilização de órgãos de Defesa de direitos, serviços  públicos e entidades filantrópicas  no intuito de construir um plano de contingenciamento voltado para o atendimento à população em situação de Rua de Belo Horizonte.

Entre as quais destacamos:

  • Preparação e entregar de 4.000 refeições e lanche no primeiro final de semana de fechamento do comércio e serviços diversos (21 e 22/04/2020);
  • Criação de uma central para recebimento de doações na quadra do colégio Santo Antônio com recebimento e entrega de kits lanche, kits higiene, copos de água, cestas básicas e gêneros alimentícios diversos;
  • Articulação política junto ao legislativo, executivo, Ministério Público, entre outros;
  • Articulação de ais de 50 grupos de doação de alimentação com entrega de 115.818 marmitex.

As ações realizadas pela sociedade civil ganharam visibilidade e reconhecimento por parte de alguns grupos da iniciativa privada, como o Instituto Unibanco que em maio de 2020 iniciou contato com a equipe da Pastoral no intuito de viabilizar apoio financeiro, para fortalecer e ampliar ações desenvolvidas pela rede já articulada. Além de doações diversas de gêneros alimentícios, produtos de higiene, máscaras, água realizadas por pessoas diversas, setores da iniciativa privada e grupos diversos. O que culminou na criação de uma Frente Humanitária que ampliou e qualificou significativamente a capacidade de atendimento.

O escopo aprovado para implementação da Frente humanitária, em consonância com articulação política diversas possibilitou a estruturação e montagem de espaço físico na Serraria Souza Pinto, onde passou a funcionar o Canto da Rua Emergencial com os seguintes eixos de atendimento:

  • Direito à dignidade e saúde: Avaliação básica de saúde, orientações para cuidados e prevenção; distribuição de kits lanche na Serraria Souza Pinto; guarda volumes; banho; sanitários; lavagem e troca de roupas;
  •  Direito civil à assistência: Escuta e atendimento social; articulação e encaminhamento para rede sócio assistencial; atendimento a violações de direitos; apoio para acesso ao auxílio emergencial e aquisição de documentação;
  •  Direito à proteção, segurança e moradia: Distribuição kits inverno; hospedagem e acompanhamento a grupos de risco da população em situação de rua; distribuição de café da manhã – sábados e domingos em diversas regionais;
  • Direito ao trabalho e renda: Inclusão de trabalhadores com trajetória de rua na estrutura operacional da ação; promoção de grupos de economia solidária na estruturação; fomento do trabalho e renda nas hospedagens;
  •  Direito à informação: Registro e publicização das ações; geração de conteúdos sobre direitos da população em situação de rua; geração de conteúdos transversais às ações principais; visibilidade e interlocução institucional e gestão de chancelaria.

O atendimento no espaço da Serraria Souza Pinto iniciou em 13/06/20 com financiamento do Instituto Unibanco durante 3 meses e, posteriormente, assumido por mais três meses com aporte financeiro por parte da Secretaria Municipal de Assistência Social. O que foi possível, graças à visibilidade e importância que o espaço com todos os serviços ofertados passou a fazer no cotidiano da população em situação de rua.

Os números de atendimentos nos diversos serviços até a primeira quinzena de novembro são bastante expressivos.

  • Números de acessos na Serraria: 56.596;
  • Atendimento sócioassistencial: 8.620;
  • Atendimento de saúde: 634;
  • Ministério Público: 344;  
  • Defensoria pública: 430;
  • Centro de Defesa: 26;
  • Recivil: 383;
  • Distribuição de roupas: 8.961;
  • Lavanderia: 1.852;
  • Banhos e sanitários: 26.1280;  
  • Atendimento de Pets: 1.583,
  • Kit lanche: 79.400;
  • Distribuição de copos de água: 570.100;
  • Atendimento OdontoSesc: 824;
  • Entrega de 31.200 cafés da manhã nas diversas regionais da cidades;
  • Entrega de 1.500 kits invernos.
  • Como forma de assegurar local de proteção e cuidado, foram hospedadas 162 pessoas idosas e doentes em situação de rua.

Nesse tempo tudo foi e tem sido feito com uma intensidade inimaginável sem a força do Deus da da vida a nos impulsionar. Assim como o povo da rua, continuamos dispostas/os a prosseguirmos no caminho “(…)ameaçado de esperança, por mais que essa esperança possa ser ilutada.”  Caminhamos na teimosia dessa teia do encontro com o outro, que nos interpela como “Militantes da vida, pois vimos, viemos, sentimos, compadecemos e nos comprometemos com a luta e a labuta do povo da rua por uma vida digna com direitos assegurados”.

 

Para melhor conhecer o nosso trabalho de evangelização

Os interessados em acompanhar as atividades e participar da Pastoral da Rua pode encontrar mais informações da pastoral nos seguintes endereços eletrônicos:

 

Facebook:

www.facebook.com/Pastoral-de-Rua-BH

 

Instagram:

@pastoralderua1

 

E-mail:

pastoralrua@yahoo.com.br

 

Site da Pastoral Nacional do Povo da Rua:

https://pastoraldopovodarua.blogspot.com/

 

Endereço:

Rua Além Paraíba, 208 – CEP: 31210-120 – Lagoinha  – Belo Horizonte/ MG

Fones: (31) 3428-8366 / 3428-8002 / 988193052

  • Você gostaria de conhecer a Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte?
  • Você já pensou em fazer parte de nossa Pastoral?

 

Sandra Regina de Sousa

Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte

Claudenice Rodrigues

Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte

Edward Neves Monteiro de Barros Guimarães

Membro da equipe do Observatório da Evangelização

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Uma experiência sinodal na Igreja do Brasil https://observatoriodaevangelizacao.com/uma-experiencia-sinodal-na-igreja-do-brasil-2/ Thu, 25 Apr 2024 18:10:29 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49792 [Leia mais...]]]> Neste texto, Neuza Mafra nos apresenta “Uma experiência sinodal na Igreja do Brasil”. Trata-se do Sínodo da Diocese de Tubarão, que foi uma proposta “gestada aos poucos no Conselho Diocesano de Pastoral, amparada pelas comarcas (regiões pastorais), paróquias, comunidades e pastorais, através de consultas, sendo assumida concretamente por todos numa Assembleia Diocesana de Pastoral”, com a missão de transformar a realidade social/eclesial à luz do Concílio Vaticano II”. Não é exatamente isso que o papa Francisco vem impulsionando com o seu projeto de reforma da Igreja, de modo especial, com o Sínodo sobre a sinodalidade? 

Este é um texto da iniciativa do Serviço Teológico-Pastoral, que publica quinzenalmente em diversas mídias católicas textos opinativos que contribuam para a reflexão e a formação na caminhada de conversão sinodal da Igreja Católica impulsionada pelo papa Francisco.

Desejamos a todos e todas uma boa leitura!

 

UMA EXPERIÊNCIA SINODAL NA IGREJA DO BRASIL

 “O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do Terceiro milênio!” 

Papa Francisco

Por Neuza Mafra

Capa do Documento de Trabalho do Sínodo da Diocese de Tubarão.

O papa Francisco tem afirmado que a sinodalidade é uma dimensão constitutiva na vida da Igreja. Ou seja, é da sua natureza, o “caminhar juntos” dos irmãos e irmãs que acolhem o chamado de fazer parte do Povo de Deus e participar de sua missão. Daí a necessidade de realizar “sínodos” ao longo da caminhada, através de Assembleias Eclesiais para discernir, à luz da Palavra de Deus, questões pastorais, litúrgicas, doutrinais, que expressem o “modus vivendi et operandi da Igreja povo de Deus”. Esses são momentos específicos para tratar de determinados assuntos significativos para a caminhada, para tomadas de decisões conjuntamente. Evidencia, portanto, que a prática sinodal é recorrente na caminhada histórica da Igreja, inspirada na vivência das Primeiras Comunidades Cristãs, manifestações significativas inspiradas e referenciais da vida eclesial dos primeiros séculos. Não é uma invenção do papado de Francisco. Ele apenas deseja recuperar o que o próprio Concílio Vaticano II propôs.

Na caminhada recente da Igreja do Brasil, inúmeros eventos sinalizam essa prática: as Assembleias do Povo de Deus, as Conferências Episcopais, os Sínodos Diocesanos…

Voltemos em meados dos anos de 1984-1986, na Diocese de Tubarão, sul de Santa Catarina, onde se realizou o Sínodo Diocesano de Planejamento Participativo. Ele nasceu sob as inspirações do Concílio Vaticano II (1962-1965), das Conferências de Medellín (1968), Puebla (1979) e da organização da CNBB, no contexto da busca de uma pastoral de conjunto, como resposta ao cenário que naquele momento se apresentava na esfera eclesial. Uma experiência sinodal muito significativa que pode servir de inspiração profética para o nosso tempo. Vejamos.

 

Cenário eclesial da Diocese de Tubarão

O Sínodo da Diocese de Tubarão está situado no contexto histórico, social e eclesial dos anos de 1980. Passados vinte anos do Concílio Vaticano II, discernia-se que era chegado o momento da Igreja de Tubarão alinhar-se às perspectivas do grande Concílio. Isso porque, até então, as suas propostas e definições pastorais para a Igreja haviam chegado muito pouco à Diocese de Tubarão.

Mesmo com a reforma litúrgica e a catequese renovada, e embora já houvesse uma estrutura organizativa na Diocese de Tubarão, como o Secretariado Diocesano de Pastoral, a elaboração de planos de pastoral de conjunto, uma coordenação diocesana colegiada e também muitos setores de pastoral, a atividade eclesial ainda era desenvolvida numa perspectiva ad intra, a pastoral continuava centralizada nos padres e nas paróquias, em torno da sacramentalização e da Igreja-matriz, com a “pastoral de conservação”. Os movimentos eclesiais cresciam e multiplicavam-se, e mesmo tendo vida própria e participando pouco dos espaços de comunhão da Diocese, tinham a bênção do poder central da Igreja. Há que se considerar que houve um esforço na superação dessas práticas pré-conciliares, mas os resultados eram pequenos e estavam longe de caminhar numa perspectiva mais libertadora, voltada para a opção preferencial pelos pobres e com atuação no meio popular.

Da parte dos leigos e leigas, era nítido o desejo de pertencer a uma Igreja “Povo de Deus”, toda ministerial, servidora e comprometida com a vida e com os pobres, em diálogo com o mundo e, consciente de sua dimensão histórica. Contudo, estes ainda não se compreendiam como sujeitos eclesiais.

As Comunidades Eclesiais de Base – CEBs se apresentavam como uma promessa de renovação eclesial: fomentava-se Grupos de Reflexão em torno na Palavra de Deus, como sementeiras a fazer surgir novas lideranças, organização de projetos e lutas em defesa da vida, e futuras Comunidades Eclesiais de Base. Essa imagem de uma Igreja que emerge das bases, de baixo para cima, das periferias, era o horizonte desejado pelo Sínodo de Planejamento Participativo da Diocese de Tubarão.

 

A tomada de decisão 

A proposta de um Sínodo na Diocese foi gestada aos poucos no Conselho Diocesano de Pastoral, amparada pelas comarcas (regiões pastorais), paróquias, comunidades e pastorais, através de consultas, sendo assumida concretamente por todos numa Assembleia Diocesana de Pastoral (cf.: ASDT, 1985, v. 1, f.70).

 

O lema e os objetivos do Sínodo

A consulta feita às bases resultou num acúmulo de 50 sugestões vindas de toda a Diocese que apontavam para um lema: “Igreja, Povo a caminho da libertação” (ASDT, 1985, v. 2, f.14). Como dissemos, havia a preocupação em transformar a realidade social/eclesial à luz do Concílio Vaticano II.

Para fazer isso implicava olhar, profunda e atentamente, a realidade, suscitar pessoas, nos mais diferentes ambientes e situações, que assumissem um compromisso, ou seja, multiplicar lideranças. Para isso, foram assumidos os seguintes objetivos para o Sínodo:

  • 1º Elaborar um plano de pastoral;
  • 2º Tentar adaptar a Igreja aos novos tempos;
  • 3º Dar mais voz e vez aos leigos/as na Igreja;
  • 4º Conhecer a realidade global;
  • 5º Fazer um planejamento participativo e orgânico;
  • 6º Fazer do planejar um evangelizar. (DF, 75, 1983, p.2-7).

O número de participantes no Sínodo teve um tom de legitimidade: “será uma convocação de todas as pessoas, grupos e comunidades das cinquenta e três (53) paróquias que compõem a Diocese” (ASDT, 1985, v. 1, f. 7).

 

O que o Sínodo fortaleceu

Durante seu processo, a formação para a sinodalidade fervilhava por todos os lugares. Era comum ver leigos/as participando de formações lideradas pelos padres, e também os padres participando de formações lideradas pelos leigos/as.

O processo de planejamento participativo, com a metodologia assumida no Sínodo da Diocese de Tubarão, apontava os novos caminhos para a Igreja diocesana, firmando a eclesiologia do “Povo de Deus”.

Essa prática fortaleceu as instâncias de comunhão, participação e missão que estavam no bojo de todo o processo sinodal, tais como:

  • os Conselhos de Pastoral, em todas as instâncias, com a descentralização do poder nas tomadas de decisões e encaminhamentos;
  • as Assembleias em todas as instâncias, como órgãos máximos de tomada de decisão;
  • Conselho de Leigos/as;
  • Associação dos Presbíteros;
  • Escola de Teologia para Leigos e Leigas;
  • os Cursos de Capacitação;
  • bem como, outras forças vivas.

O Sínodo constituiu-se num processo vivo e criativo de renovação. Por meio dele algumas conquistas foram reafirmadas e passos concretos foram dados. A busca por respostas novas foi marcada por momentos de tensões, de incertezas e de conflitos, o que exigiu uma conversão pessoal e pastoral. E sempre exigirá.

Entre a implementação do processo do Sínodo, a organização, a realização e o pós-sínodo, enquanto momento próprio para a sua recepção na vida e no dinamismo concreto da Igreja, há uma caminhada de muitos passos. Exige espaço e tempo de reflexão, aprofundamento, abertura e paciência histórica, conflitos e discernimento de novos desafios que se apresentam. Não podemos esquecer que a Igreja é Povo de Deus que caminha rumo a libertação. E da caminhada da Igreja, como nos ensina o Concílio, se exige dupla fidelidade: primeiro, ao Evangelho e a Tradição da Igreja, segundo, ao tempo de hoje.

Talvez esteja na hora da Diocese de Tubarão realizar um novo sínodo!

Bibliografia:

  1. Compêndio dos Documentos do Sínodo de Planejamento Participativo 1984-1986;
  2. Anotações da Tese de Doutorado de Pe. Pedro Paulo das Neves;

(Os grifos são nossos.)

Neuza Mafra é pedagoga, com pós-graduação em Doutrina Social da Igreja. Trabalha na Cáritas, faz parte da Ampliada das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs e é colunista do Portal das CEBs.
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