Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Wed, 05 Mar 2025 19:21:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Vale do Jequitinhonha e a ecologia integral https://observatoriodaevangelizacao.com/vale-do-jequitinhonha-e-a-ecologia-integral/ https://observatoriodaevangelizacao.com/vale-do-jequitinhonha-e-a-ecologia-integral/#respond Wed, 05 Mar 2025 19:19:23 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49908 [Leia mais...]]]> “Exigimos, em nome de Deus, responsabilidade social, investimentos na saúde, na educação, na moradia, na preservação dos mananciais, no cuidado com nossa gente e os povos originários do Vale – quilombolas e indígenas –, no cuidado com nossos rios, nossa fauna e nossa flora… E por amar o Vale, queremos que ele continue a ser vale, chapada, grande sertão e veredas, respeitando suas terras, sua vegetação, suas nascentes e rios, seus povos originários e sua gente, mantendo sua qualidade de vida e de harmonia… Não somos contrários ao desenvolvimento. O que exigimos é desenvolvimento sustentável, sem desequilibrar a harmonia da ecologia integral. O nosso olhar precisa ter o verde da esperança e nossas palavras não podem perder a força da profecia.” Confira o texto de dom Geraldo dos Reis Maia, bispo da diocese de Araçuaí:

 

Vale do Jequitinhonha e a ecologia integral

Por Dom Geraldo dos Reis Maia

Crise socioambiental

E por amar o Vale, queremos que ele continue a ser vale, chapada, grande sertão e veredas, respeitando e seus biomas.

No princípio houve o encontro de dois rios. O rio das “Araras Grandes” (Araçuaí), generosamente, despejava suas águas no rio “Largo cheio de Peixes” (Jequitinhonha). Desse encontro de águas, formava-se o grande e belo Vale do Jequitinhonha. Também este Vale se fez vizinho de outros dois importantes vales: o Mucuri e o Rio Pardo, formando a variedade e exuberância da fauna e flora dessas terras.

Banhado por importantes bacias hidrográficas e localizado em região estratégica do Nordeste do estado de Minas Gerais, o Vale do Jequitinhonha presencia o encontro de biomas: Mata Atlântica, Cerrado e o início da Caatinga no Semiárido. É composto por regiões mais férteis e por outras menos férteis, a depender da vegetação, do clima e do tipo de suas terras. Ainda que prevaleçam altas temperaturas em algumas localidades, o clima varia em outras localidades, com temperaturas amenas.

Em décadas anteriores, o Vale do Jequitinhonha era conhecido como Vale da Miséria, Vale da Pobreza, Vale do Subdesenvolvimento. Graças à resistência e determinação de sua gente, ao compromisso sociotransformador da Igreja Católica, e às políticas públicas ali destinadas, o Vale do Jequitinhonha superou desafios socioeconômicos e passou a ser conhecido pelas riquezas de sua biodiversidade, pluralidade cultural, saborosa culinária, finos artesanatos, religiosidade popular e alegria de sua gente. A riqueza dessas terras é o seu povo, que procura unir fé e vida, religiosidade e cultura, história e arte.

Historicamente, habitavam as terras desses vales os povos Tocoiós e Botocudos. Até que começaram a chegar aventureiros, garimpeiros e tropeiros, em busca de ouro e pedras preciosas. Iniciava-se a formação de povoados e cidades. Dizimados os indígenas daquele tempo, a região conta hoje com a presença dos povos Aranã Caboclo, Machacali, Aranã Indío e Pankararu. Instalaram-se nessa região, quilombos formados por escravizados que fugiam das fazendas e garimpos. Encontram-se no território da Diocese de Araçuaí, hoje, 97 comunidades quilombolas, que procuram resistir com suas culturas e tradições.

As fontes de renda mais incidentes na região, de acordo com a sondagem feita nas paróquias da diocese são: agricultura familiar, pecuária, prestação de serviços básicos autônomos (pedreiros, carpinteiros, serventes de pedreiros, pintores), benefícios sociais, aposentadorias e pensões, funcionalismo público e comércio local. Com menos incidência: cerâmica industrial, artesanato, garimpos, monocultura do eucalipto, da banana, plantação de café, extrativismo em áreas de preservação e conservação e empregados em grandes empresas e mineradoras.

A realidade da migração ainda está presente em todo o território da diocese, com números significativos. A incidência maior é para o trabalho na construção civil, para a colheita do café, para o comércio no litoral e, em alguns lugares, ainda, para o corte de cana, jovens que partem para outros lugares, a fim de dar continuidade aos estudos. Com a atividade de mineradoras, tem acontecido um movimento de acolhida de migrantes vindos de outras partes para a região do Vale do Jequitinhonha.

A atividade mineradora se caracteriza por: extração de granito, grafite, lítio, pedras preciosas e semipreciosas, via dragas em rios. As comunidades são atingidas pela poluição das águas dos rios por produtos químicos, poluição da atmosfera, danificação das construções, e poluição auditiva por uso de explosivos. A questão da monocultura do eucalipto e da banana é também relevante e traz impacto no lençol freático, diminuindo as águas das nascentes e contaminando as águas com o uso de agrotóxicos.

 

Fraternidade e ecologia integral

“E Deus viu que era tudo muito bom” (Gn 1,31). Com este lema, aprofundamos o tema da Campanha da Fraternidade proposto para este ano: “Fraternidade e Ecologia Integral”. A partir do texto-base dessa campanha, constatamos a tarefa deixada ao ser humano: “descobrir a beleza, a bondade, a singularidade, a diversidade e a agradabilidade de todos os seres. Sendo assim, qualquer tipo de destruição da obra criacional torna-se algo contrário à ótica bíblica da criação” (Texto-base CF 2025, 69).

Num importante documento, chamado Laudato Sì, encíclica sobre o cuidado da Casa Comum, lançada em 2015, o papa Francisco nos assegura que tudo está conectado: “se tudo está em relação, também o estado de saúde das instituições de uma sociedade comporta consequências para o ambiente e para a qualidade da vida humana […] Em tal sentido, a ecologia social é necessariamente institucional e atinge progressivamente diversas dimensões que vão do grupo social primário, a família, até a vida internacional, passando pela comunidade local e a Nação” (LS, 142).

Várias empresas têm investido no Vale do Jequitinhonha, interessadas em extrair suas riquezas naturais, olhos fixos em seus lucros. Exigimos, em nome de Deus, que essas empresas assumam compromissos sociais, como orienta um dos princípios da Igreja: “Sobre toda propriedade privada pesa uma responsabilidade social”. Se levam as riquezas do Vale, que não nos deixem somente crateras e resíduos, águas poluídas e matas destruídas.

Queremos ver acontecer essa responsabilidade social, no respeito pela ecologia integral: investimentos na saúde, na alimentação, na educação, na moradia, na preservação dos mananciais, no cuidado com nossa gente e os povos originários do Vale – quilombolas e indígenas –, no cuidado com nossos rios, nossa fauna e nossa flora.

 

Vale, que vale cantar

Como compôs Verono, na canção imortalizada pela voz de Rubinho do Vale, cantamos com alegria e esperança, os encantos e belezas de nossa esplêndida região: “Vale que vale cantar/ Vale que vale viver/ Vale do Jequitinhonha/ Vale, eu amo você”.

E por amar o Vale, queremos que ele continue a ser vale, chapada, grande sertão e veredas, respeitando suas terras, sua vegetação, suas nascentes e rios, seus povos originários e sua gente, mantendo sua qualidade de vida e de harmonia, pois “tudo está em relação”, “tudo é coligado”, “tudo está conectado”, como diz o refrão que perpassa a Laudato Sì.

Não somos contrários ao desenvolvimento. O que exigimos é desenvolvimento sustentável, sem desequilibrar a harmonia da ecologia integral. O nosso olhar precisa ter o verde da esperança e nossas palavras não podem perder a força da profecia. “Mesmo com a deterioração da nossa relação com a sociedade e a natureza, a esperança nos move a unir os esforços das ciências ao profetismo da fé, acreditando que, fazendo a experiência dos limites do planeta, poderemos superar o impasse existencial e ambiental em que vivemos” (Texto-base CF 2025, 136).

Conclamamos a todos que, nesta Quaresma, busquemos a nossa conversão ambiental, acreditando que “outro mundo é possível”.

Dom Geraldo dos Reis Maia é bispo de Araçuaí, Vale do Jequitinhonha (MG)

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Os pobres ainda têm lugar nas nossas teologias? https://observatoriodaevangelizacao.com/os-pobres-ainda-tem-lugar-nas-nossas-teologias/ https://observatoriodaevangelizacao.com/os-pobres-ainda-tem-lugar-nas-nossas-teologias/#respond Tue, 04 Mar 2025 20:16:49 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49900 [Leia mais...]]]> “Sem os pobres não é possível se fazer teologia autenticamente cristã… Não está na hora de revermos seriamente nosso modo de fazer teologia? Não é este um grande desafio para aquela teologia que teve como grande marca justamente a centralidade dos pobres? Será que os pobres ainda têm lugar nas nossas teologias?”.

Confira o artigo do jovem teólogo Joaquim Jocélio de Sousa Costa:

 

OS POBRES AINDA TÊM LUGAR NAS NOSSAS TEOLOGIAS?

 

Por Joaquim Jocélio de Sousa Costa[1]

 

Após o Concílio Vaticano II, houve uma grande renovação na Igreja em vários âmbitos: liturgia, catequese, pastorais, organização interna, diálogo com outras igrejas e religiões, leigos e leigas, ministério ordenado, vida religiosa consagrada etc. A teologia também recebeu um ardor diferente. O Concílio levou a Igreja a entrar em profundo diálogo com as diversas realidades humanas e para que isso fosse feito cada vez com maior seriedade e profundidade, era preciso uma teologia à altura. A coleção Mysterium Salutis surgiu com o objetivo de atualizar os grandes temas da tradição teológica, mas era necessário ir além. Havia um dado da Tradição que sempre acabava esquecido e precisava ser retomado para uma teologia que realmente falasse aos nossos dias e estivesse a serviço do Reino de Deus. Esse dado eram os pobres.

Durante o Concílio, um grupo de bispos, padres e teólogos empenhou-se para que a questão dos pobres fosse considerada central na renovação da Igreja. Dentre eles, se destacavam o cardeal belga Suenens, o bispo brasileiro Helder Camara e o cardeal italiano Lercaro. Este último fez uma intervenção no final da Primeira Sessão do Concílio pedindo justamente isso, que no centro das discussões do Concílio estivesse o mistério de Cristo presente nos pobres. Contudo, o chamado Grupo da Pobreza não teve muito sucesso. O Concílio não abraçou os pobres como questão central. Fez apenas duas menções mais relevantes (LG 8 e GS 1). Todavia, cerca de 40 bispos, um mês antes da conclusão do Concílio, assinaram o chamado Pacto das Catacumbas, após missa celebrada nas catacumbas de Santa Domitila em Roma, pacto que firmava o compromisso de viver a pobreza e o serviço aos pobres. Posteriormente, cerca de 500 bispos aderiram ao pacto, de modo que ao voltarem para as dioceses, muitos deixaram os palácios e foram morar em casas simples, fizeram reforma agrária em terras da diocese e se aproximaram mais das lutas e da vida do povo. As Conferências dos bispos da América Latina em Medellín (1968) e em Puebla (1979) confirmaram essas opções de vida e apontaram caminhos para concretizá-las cada vez mais.

Nesse contexto, surge a Teologia da Libertação, entendida como uma nova forma de fazer teologia, de pensar os grandes conteúdos da fé. “A teologia da libertação nos propõe, talvez, não tanto um novo tema para reflexão quanto uma nova maneira de fazer teologia. A teologia como reflexão crítica da práxis histórica é assim uma teologia libertadora, uma teologia da transformação libertadora da história da humanidade e, portanto, também da porção dela — reunida em ecclesia — que confessa abertamente Cristo. Uma teologia que não se limita a pensar o mundo, mas procura situar-se como um momento do processo por meio do qual o mundo é transformado” (G. Gutiérrez). Não é teologia de um assunto (política, por exemplo), mas é uma maneira de tratar todos os assuntos a partir da libertação que vem do Evangelho.  A Teologia da Libertação, portanto, se vê como ato segundo, pois, primeiro, vem a vivência da fé, entendida aqui como práxis libertadora; depois vem a reflexão dessa fé, a teologia. Nesse sentido, é preciso ter claro a partir de onde se faz teologia, a partir de onde se pensa a fé, qual o lugar teológico por excelência. Entendendo lugar teológico, como bem explicitado por Ellacuría, como: 1) lugar onde, de maneira especial, se manifesta o agir do Deus de Jesus; 2) lugar mais adequado para a vivência da fé e 3) lugar mais adequado para refletir sobre a fé. E esse lugar, olhando para os Evangelhos, é o mundo dos pobres. “Se levarmos a sério que os pobres são ‘lugar teológico’ no sentido que acabamos de assinalar, é claro que eles se tornam não apenas uma prioridade, mas, em certa medida, um absoluto, ao qual devem subordinar-se muitos outros elementos e atividades da Igreja” (I. Ellacuría). Sem os pobres, portanto, não é possível se fazer teologia autenticamente cristã.

Nessa linha, surgiu uma grande literatura nestes anos, cujo marco é considerado o livro de Gustavo Gutiérrez “Teologia da Libertação: Perspectivas” (1971). O foco inicial era muito mais a dimensão econômica e houve um profundo diálogo com as ciências sociais na busca de se compreender a sociedade (momento pré-teológico); depois, a partir da fé, refletir e agir de forma a transformá-la, construindo o mundo conforme a vontade de Deus. Posteriormente, outras abordagens importantes foram surgindo: negra, indígena, ecumênica, ecológica, feminista, cultural, queer. Todas para enriquecer o debate teológico e, assim, ajudá-lo em seu objetivo que é servir na construção do Reinado de Deus, ou seja, seu senhorio, sua vontade se realizando na história. Contudo, um problema vem crescendo nos últimos anos: Os pobres estão sumindo de nossas teologias!

Pode uma Teologia da Libertação sem os pobres? Dom Pedro Casaldáliga, grande bispo e profeta da libertação, já respondia: “à famosa pergunta, bem ou mal-intencionada, sobre ‘que resta da Teologia da Libertação’, a gente responde que restam Deus e os pobres”. Logo, sem Deus e sem os pobres, não resta teologia alguma, menos ainda uma teologia que se pretenda “da libertação”. Mas hoje, alguns teólogos e teólogas, que se identificam com essa teologia ou ao menos a admiram, passaram a tratar de outras perspectivas (sem dúvida muito boas e necessárias), mas com ausência dos pobres ou tornando eles mero apêndice/anexo. Exemplo escancarado disso foi o debate sobre sinodalidade. Havia preocupação com a participação dos leigos e leigas nas decisões da Igreja, com a ordenação de homens casados e de mulheres, a inculturação da liturgia, acolhida de pessoas homossexuais ou com matrimônios considerados “irregulares”; todas questões muito importantes, contudo, esquecendo a centralidade evangélica dos pobres. E aqui o problema aparece em dois aspectos fundamentais.

Primeiro, algumas dessas questões estão mais diretamente ligadas a vida interna da Igreja (participação das decisões, ordenação, liturgia etc.). E, portanto, é preciso tomar cuidado para não cairmos naquilo que tantas vezes denunciou o papa Francisco: a tentação de sermos uma Igreja autocentrada ou autorreferencial. O Concílio já ensinava que a missão da Igreja é ser luz do mundo, ela não existe para ela mesma, mas para construir um mundo mais justo e fraterno, sinal do Reino de Deus (Cf. LG 5). Ou, nas palavras do papa Francisco, ser uma Igreja em saída para as periferias (Cf. EG 20, 30, 49). Assim, embora seja importante a organização interna da Igreja, é preciso sempre se perguntar o “para quê” de tal organização. Para que os leigos e leigas devem participar das decisões da Igreja? Ou para que as mulheres devem estar nas funções de poder? Apenas para sermos mais democráticos? Para termos paridade de gênero na Igreja? Não, mas para que todos, assumindo sua dignidade batismal, participem das decisões que buscam tornar o Reino de Deus presente no mundo, que é nossa missão (Cf. EG 176). E nessa missão, ocupa lugar fundamental os pobres, pois o Reino é deles (Cf. Mt 5, 3; Lc 6, 20). É para ser uma Igreja pobre e para os pobres que buscamos caminhar juntos como irmãos e irmãs. A sinodalidade é para a missão. Sem os pobres, podemos até ter uma Igreja mais democrática, mas não a Igreja de Jesus.

Outro aspecto fundamental é que as diversas realidades de sofrimento e opressão precisam ser consideradas tomando sempre o aspecto econômico como fator intensificador da injustiça. Fala-se do cuidado com a criação, da acolhida da comunidade LGBTQIAPN+, dos negros, das mulheres, das outras religiões, mas se esquece que a pobreza piora toda opressão. Uma mulher sempre estará sujeita ao machismo, mas não é a mesma coisa ser uma mulher pobre da periferia e uma mulher rica da alta sociedade. O negro sempre sofrerá com o racismo estrutural, principalmente em nosso país construído a partir da escravidão do negro africano, mas não sofre com a mesma intensidade o negro pobre da favela e o negro rico. Ser homossexual numa sociedade tão preconceituosa como a nossa sempre será ocasião de discriminação, mas não é a mesma coisa ser um gay pobre e um gay rico. Com isso, queremos dizer que o pobre sempre sofrerá mais e o fator econômico sempre intensifica todas as formas de opressão e marginalização. Por isso, o pobre, economicamente falando, precisa estar em primeiro plano em nossa reflexão teológica. E o pobre num sentido dialético, como empobrecido (existem pobres porque existem ricos, a pobreza é fruto da exploração e acumulação).

São raros os artigos teológicos onde a perspectiva dos pobres é a determinante. Os pobres são hoje, na melhor das hipóteses, anexos de nossas teologias. Se fale de mil coisas e no final se fala dos pobres quase como uma obrigação a cumprir e não uma convicção de fé a assumir. Nesse sentido, é curioso como acusam o papa Francisco de ter “mania de pobre”. Claro que o papa tem mania de pobre, ele busca ser fiel seguidor de Jesus e Jesus tinha uma séria mania de pobre, tanto que nele, Deus mesmo se fez pobre! Ah se toda a Igreja tivesse mania de pobre e levasse a sério todas as consequências disso! Ah se nossas teologias tivessem mania de pobre! E tal mania deve se manifestar não apenas nos textos que publicamos, mas antes na vivência mesma da fé, chão das nossas teologias. Isso implica vencer outra grande tentação que é a “teologia de gabinete”. Como alertou o próprio papa Francisco, devemos ter “a coragem de adotar esta teologia que tem cheiro de ‘carne e de povo’”. O teólogo deve estar envolvido nas lutas do povo, estar com as comunidades que lutam por seus direitos, que constroem o Reino de Deus na história. Assim sendo, a pergunta permanece: Não está na hora de revermos seriamente nosso modo de fazer teologia? Não é este um grande desafio para aquela teologia que teve como grande marca justamente a centralidade dos pobres? Será que os pobres ainda têm lugar nas nossas teologias?

[1]  Joaquim Jocélio de Sousa Costa é teólogo

e presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte-Ce.

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Corpus Christi: outra compreensão necessária a partir dos sinais dos tempos https://observatoriodaevangelizacao.com/corpus-christi-outra-compreensao-necessaria-a-partir-dos-sinais-dos-tempos/ Thu, 30 May 2024 13:50:13 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49889 [Leia mais...]]]> A Eucaristia, na experiência cristã católica, é o sacramento do Corpo de Cristo. Jesus de Nazaré, o enviado no Pai, pela luz e força do Espírito Santo, revelou-nos o Amor de Deus por nós e abriu-nos um caminho de salvação, um caminho a ser trilhado: transformados pela força da experiência do amor gratuito de Deus por nós, somos chamados a cultivar o amar, cuidar e servir. Na Eucaristia celebramos este Mistério de Amor que vem até nós e, com claridade solar, nos revela que somos filhos e filhas, amados de Deus, que somos irmãos e irmãs e que o caminho da salvação é amar como Jesus nos amou. Os cristãos batizados, que enraizaram as suas vidas em Jesus, são chamados a uma missão: serem o “Corpo de Cristo” hoje. Continuarem, portanto, a missão de Jesus. Em pequenas comunidades de fé e partilha de vida, os cristãos são chamados a ser fermento, sal e luz de outra sociedade possível e necessária. Sociedade firmada na mesa da irmandade, na prática da justiça divina, da misericórdia e da compaixão pelos sofredores, pela partilha solidária com os pobres, pela defesa da dignidade da vida de quem está excluído.

Jesus, em sua última ceia, depois de lavar os pés de seus discípulos, na véspera de sua paixão-morte-ressurreição, sintetizou, num gesto profundamente simbólico, o sentido maior que deu à sua vida: uma entrega, com fidelidade ao Projeto salvífico de Deus! Jesus fez de sua vida um serviço a Deus, concretamente como serviço ao próximo. A práxis acolhedora-libertadora de Jesus, desde os desfigurados da dignidade humana: escravizados, explorados, empobrecidos, marginalizados, encarcerados, por serem considerados impuros desprezados, doentes, sofredores. Em nome de Deus, pela força da Ruah divina, Jesus, o Filho amado, libertou da cegueira, da surdez, da paralisia, da exclusão do amor social, das garras do mal… Após a sua traição, prisão, condenação, tortura e execução na cruz, Jesus, por sua fidelidade a missão, foi ressuscitado pelo Pai. A Ressurreicão de Jesus confirma, aos olhos da nossa fé, que o Caminho aberto por Jesus, é o nosso caminho de salvação. A vida de Jesus, para a fé cristã, é sim: o nosso caminho de salvação, a verdade do Projeto de Deus e a fonte geradora de vida, de vida nova com a consciência de nossa filiação divina e de compromisso fratersororal. Como nos diz o papa Francisco, “somos todos irmãos e irmãs” (Fratelli Tutti).

 

Um pouco da história da festa de Corpus Christi

Tapete de Corpus Christi 002Tapete para a festa de Corpus Christi

A festa de Corpus Christi, tradicionalmente, teve como objetivo maior o testemunho público da fé e da devoção católica na adoração ao Corpo de Cristo presente na hóstia consagrada. Segundo antiga tradição, a festa de Corpus Christi teve origem em torno do ano de 1243, em Liège, na Bélgica, quando uma freira, Ir. Juliana de Cornion, teve visões nas quais o próprio Jesus Cristo pede que o mistério celebrado na Eucaristia tivesse maior destaque e reconhecimento público. Ela compartilha as suas experiências espirituais com aquele que, mais tarde, viria a se tornar o papa Urbano IV. Este, no ano de 1264, decide instituir esta festa litúrgica para toda a Igreja.

Procissão de Corpus ChristiProcissão de Corpus Christi

O Papa pediu, então, que Tomás de Aquino preparasse textos litúrgicos específicos para esta data. A procissão com a hóstia consagrada, como um cortejo público de ação de graças a Deus, teve início no ano de 1274. No Brasil, como em Portugal, tornou-se popular a tradição de enfeitar as ruas com lindos tapetes com imagens e símbolos religiosos. Na liturgia, a celebração de Corpus Christi inclui missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.

Tapete para a festa de Corpus Christi Confecção dos tapetes com símbolos cristãos para a festa de Corpus Christi

Um contexto cultural de insensibilidade ecumênica e de pouca atenção à necessidade de diálogo inter-religioso favoreceu deturpações e muitos conflitos religiosos. A festa de Corpus Christi, em muitos lugares, tornou-se mais que uma celebração da liturgia cristã católica. Passou a ser encarada ou utilizada, por muitos infelizmente, como momento oportuno para explicitar, publicamente, a supremacia do catolicismo, em relação às outras igrejas cristãs, bem como às outras tradições religiosas.

 

Outra compreensão se faz necessária a partir dos sinais dos tempos

Hoje, nós cristãos somos chamados a agir na Igreja e na sociedade, com a consciência de sermos desafiados a ser o Corpo de Cristo, ou seja, a continuar a missão de Jesus em nosso contexto. Somos interpelados pela vida de Jesus, a testemunhar o amor universal de Deus e o amor fratersororal entre nós. Pelo diálogo fraterno, somos chamados a melhor cuidar da Casa comum e defender, irmanando-se nas lutas dos movimentos populares, a igual dignidade de todos os filhos e filhas amados de Deus. O amor de Deus nos irmana e nos compromete com a unidade da família de Deus: a humanidade.

Para os cristãos, não deveria haver fronteiras culturais ou religiosas para irradiar, cultivar e praticar o amor, pois, pela vida de Jesus, todo ser humano, independente de qualquer critério, é acolhido como filho e filha amado de Deus. Ser cristão, portanto, é um desafio que se faz compromisso sociopolítico, econômico, ecológico e religioso – em todas as dimensões da vida – de testemunhar-anunciar a boa notícia da universalidade, gratuidade e incondicionalidade do Amor de Deus, desde os últimos, Amor que nos transforma em cuidadores da inclusão de todos na grande mesa da irmandade e da igual dignidade dos filhos e filhas amados de Deus.

Grito dos excluídos - 2014Caminhada ecumênica de 7 de setembro – Grito dos excluídos organizado pelas Igrejas cristãs em defesa da dignidade da vida.

Aconteceram muitas mudanças culturais em nosso meio que se tornam autênticos sinais dos tempos, como nos ensinou o papa João XXIII, nos albores do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). Dentre outras, merecem destaque:

  • cresce a consciência planetária e que a humanidade compartilha uma mesma “aldeia global”;
  • cresce a percepção de dois gritos: dos pobres e da Terra. Nossos modelos de desenvolvimento e busca do progresso e da felicidade, nem inclui a todos – parcela significativa de irmãos e irmãs ficam de fora, é excluída da mesa -, nem cuida do equilibrio e do futuro da vida na Terra;
  • com as novas tecnologias de transporte e comunicação passamos a reconhecer a beleza enriquecedora do pluralismo cultural e religioso;
  • em muitos países, o Estado se tornou laico e democrático, defensor dos direitos fundamentais, entre estes o da liberdade de crença, de culto e também de convicções areligiosas;
  • em vista da paz entre os povos, nações, grupos, pessoas, cresceu a consciência da importância de desenvolvermos e cultivarmos o espírito ecumênico entre as igrejas cristãs e posturas de diálogo inter-religioso, diante, sobretudo, da conquista da legitimidade cultural da diversidade religiosa.

Tais sinais clamam por outras posturas sociopolíticas e religiosas possíveis e necessárias. A Igreja católica, há 60 anos, no Concílio Ecumênico Vaticano II, reconheceu essas mudanças culturais, legitimou e convocou os cristãos católicos, a  assumirem o movimento ecumênico com as outras igrejas cristãs e posturas dialógicas para com as outras tradições religiosas. Alguns passos já foram dados, mas ainda temos muito que aprender e caminhar.

Mutirão pela moradia para todos!Mutirão ecumênico por moradia para todos!

A festa de Corpus Christi – como todas as festas valorizadas pelo cristianismo católico, tais como Natal, Semana Santa, Páscoa, Pentecostes, festividades de Nossa Senhora e todos os santos e santas da devoção popular – é chamada a deixar-se fecundar e transformar pelos sinais dos tempos. Em toda ação evangelizadora da Igreja, por fidelidade a Jesus Cristo e a tradição apostólica, não deve conter qualquer resquício de espírito apologético agressivo ou mentalidade eclesiocêntrica ou religiocêntrica arrogante e que provoca beligerância religiosa em nome de Deus. Importa dizer não a qualquer compreensão de guerra santa!

Mutirão pelos desabrigadosMutirão pelos desabrigados promovido por iniciativa da Caritas.

A festa de Corpus Christi, balizada pelos valores do Evangelho do Reino, tem como objetivo favorecer aos fiéis oportunidades criativas de encontro com o Jesus Ressuscitado, de crescimento na vida cristã e aprofundamento da identidade cristã católica, mas sem qualquer pretensão de agredir ou diminuir outras igrejas cristãs e/ou tradições religiosas.

O fundamento bíblico deve prevalecer na ação evangelizadora: cada cristão, enquanto seguidor ou seguidora de Jesus e alguém que se alimenta da vida do Mestre do Caminho, do Verbo de Deus ressuscitado e sempre estradeiro conosco, é chamado pelo batismo a concretizar em suas ações, no contexto em que vive, a vontade de Deus. Ele se nutre da memória dos feitos de Jesus para, juntamente com seus irmãos e irmãs de fé, agir e atuar na Igreja e na sociedade, em vista do bem comum, com a consciência de ser membro vivo do Corpo de Cristo hoje.

Para refletirmos: que significa celebrar a festa de Corpus Christi no contexto em que vivemos?

Sobre o autor:

Edward  Guimarães é doutor em Ciências da Religião pela PUC Minas e mestre em Teologia pela FAJE.  Professor do Mestrado Profissional em Teologia Prática e de Cultura Religiosa da PUC Minas.
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Um modo confiável de ajudar nossos irmãos e irmãs do Sul https://observatoriodaevangelizacao.com/um-modo-confiavel-de-ajudar-nossos-irmaos-e-irmas-do-sul/ Fri, 10 May 2024 16:51:54 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49885 [Leia mais...]]]> Neste momento, nas ações emergenciais solidárias urgentes doar (veja a chave PIX SOS@ALSB.ORG.BR) e renovar o compromisso ético e ecoético de dar mãos e participar das lutas que escutam o grito da Terra e o grito dos pobres e vulneráveis, em defesa da vida, em todo lugar.

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O estudo da filosofia e da teologia https://observatoriodaevangelizacao.com/o-estudo-da-filosofia-e-da-teologia/ Thu, 09 May 2024 22:21:34 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49879 [Leia mais...]]]> O ESTUDO DA FILOSOFIA E DA TEOLOGIA

 

Por Joaquim Jocélio de Sousa Costa [1]

Nossas sociedades estão cada vez mais envolvidas pela técnica e pela exigência de eficiência e produção. Assim, a própria produção de conhecimento está fundamentalmente ligada a uma visão pragmática do mundo. Quando se confronta uma área do conhecimento, a pergunta é: Para que serve isso? E o que se lucra com isso? Nesse sentido, conhecimentos filosóficos e teológicos são pouco valorizados. Considerados até não científicos ou, ao menos, de segunda categoria. Comecemos pela filosofia, qual seria a sua especificidade e razão de ser?

 

O estudo da filosofia

Todas as ciências trazem questionamentos cujas respostas, embora sempre parciais, geram as transformações que vemos na sociedade. As perguntas filosóficas se diferenciam das demais feitas pelas ciências empíricas, assim como se diferencia das perguntas comuns do cotidiano. As ciências podem se perguntar pela estrutura do DNA, pela fórmula química da água, pelas leis físicas que regem o universo, pela estrutura do cérebro humano, pelo modo como se organiza a sociedade. A filosofia se pergunta: O que é a vida? O que é a realidade e como ela se estrutura? O que é a mente? O que é o poder? O que é a pessoa humana? No dia a dia, podemos perguntar que horas são, se alguém está mentindo, porque aconteceu tal coisa. A filosofia se pergunta: O que é o tempo? O que é a verdade? O que é a razão? Existe a relação de causa e feito? (Cf. CHAUÍ, 1995, p. 9-12).

Como podemos perceber, as perguntas filosóficas se preocupam com o fundamento último das coisas, com sua essência, é um conhecimento radical (que vai a raiz), isto é, o que as coisas são em si mesmas. Mais que filosofia, se aprende a filosofar. Filosofia não é como se costuma dizer: “aquilo com o qual ou sem o qual, tudo fica tal e qual”. Ou seja, a filosofia não é inútil. Por trás de todas as descobertas e investigações científicas, estão perguntas filosóficas que motivaram as investigações. A filosofia molda a forma de pensar e a própria elaboração teórica dos conhecimentos. A filosofia, portanto, pergunta pela essência das coisas (O QUE É); por sua estrutura e organização (O COMO É); sua causa e razão de ser (POR QUE É); mas também sua finalidade e intenção (PARA QUE É e o PARA QUEM É) (Cf. CHAUÍ, 1995, p. 13-18). Esses últimos pontos explicitam bem sua dimensão crítica, pois “a filosofia tem, portanto, além de uma função radicalizadora, uma função desmascaradora das ideias e das teorias aparentemente ‘puras’, ‘neutras’ e ‘verdadeiras’” (GONZÁLEZ, 1987, p. 31).

A filosofia trata, desse modo, da totalidade das coisas, as realidades vistas a partir do todo, a partir do seu fundamento último. Ao longo da história, algumas áreas filosóficas se destacaram, como a metafísica (o que a realidade é nela mesma?), a epistemologia (como é possível conhecer as coisas?) e a linguagem (como é possível expressar as coisas?). Estudar filosofia envolve, logicamente, recorrer aos textos e reflexões dos grandes filósofos nos diferentes contextos da história, mas sobretudo, assumir uma atitude filosófica diante do mundo. Aqui, se destaca sua importância e, poderíamos também dizer, sua praticidade; isto é, como ela ajuda em nosso dia a dia. A atitude filosófica nos leva a ir além dos conhecimentos formais e nos ajuda a perceber como o próprio conhecimento é organizado, estruturado e até instrumentalizado. Nos ajuda a perceber como nós também podemos e devemos fazer a diferença no mundo. E a abordagem da teologia, qual a sua contribuição singular?

 

O estudo da teologia

A teologia é um conhecimento que desde muito cedo esteve em profundo diálogo com a filosofia. Contudo, é preciso ter muito claro o que é específico da teologia. Ela é inteligência da fé. Ela “parte do dado da fé, por isso, pretende falar a partir de Deus, a partir da relação que ele estabelece com o ser humano… Seu ponto de partida é a experiência de fé” (CROATTO, 2001, p. 22. 23). Ou seja, o teólogo é antes de tudo uma pessoa de fé. Sua reflexão não é alheia a sua vida, mas profundamente ligada a ela; não é simplesmente falar de Deus, mas falar a partir da sua relação com Ele. A teologia pressupõe, assim, que Deus revelou seus desígnios de amor com a finalidade de salvar a humanidade, ou seja, fazê-la participar de sua vida divina. Desse modo, todas as questões humanas são tratadas a partir do olhar da fé. Por isso, “para promover a teologia no futuro, não se pode limitar-se a propor de forma abstrata fórmulas e esquemas do passado. Chamada a interpretar profeticamente o presente e a vislumbrar novos itinerários para o futuro, à luz da Revelação, a teologia terá de enfrentar profundas transformações culturais” (FRANCISCO, 2023b, n 1).

Assim, a teologia é sempre ato segundo, pois antes de tudo está a vida de fé. A teologia é uma reflexão sobre esta fé vivida e é feita dentro dela. São momentos distinguíveis, mas não separáveis. A teologia, inclusive, tem um momento chamado de pré-teológico, quando dialoga com diversos conhecimentos para melhor pensar a fé. Aqui entra seu histórico e profundo diálogo com a filosofia. Muito das elaborações doutrinais e da própria reflexão teológica bebeu e bebe de compreensões filosóficas. A teologia não é filosofia, mas a utiliza em sua reflexão sobre a fé; confronta o saber filosófico a partir dos dados da revelação; o mesmo faz com a sociologia, economia, história, direito, psicologia etc. Existem diferentes níveis de elaboração teológica, desde aquele mais complexo elaborado nas universidades (teologia profissional) até níveis mais simples como as elaborações realizada pelos pastores em homilias e formações (teologia pastoral) ou pelos demais fiéis em círculos bíblicos, novenas ou mesmo conversas mais informais (teologia popular) (Cf. BOFF, 2015, p. 597-600).

Contudo, fazer teologia não é o mais importante para o cristão, o mais fundamental é seguir a Jesus Cristo, viver como ele viveu. A teologia é um meio muito importante para isso. A fé é pensada e refletida para ser melhor vivida. Por isso, as diversas realidades cotidianas “exigem uma ‘teologia em saída’, capaz de compreender questões, muitas vezes, situadas nos confins de existências complexas, conturbadas e feridas” (FRANCISCO, 2023a). A teologia deve ser compromisso com um mundo mais justo e fraterno, sinal do Reino de Deus. As universidades, na produção da teologia profissional, devem ter muita clareza sobre isso. “Devemos sempre nos perguntar: para que serve a nossa ciência? Qual o potencial transformador do conhecimento que produzimos? O que e a quem servimos? A neutralidade é uma ilusão. Portanto, uma universidade católica deve tomar decisões, e estas devem ser um reflexo do Evangelho. Ele deve se posicionar e demonstrá-lo com suas ações de forma transparente, ‘sujando as mãos’ evangelicamente na transformação do mundo e no serviço da pessoa humana” (FRANCISCO, 2024).

A teologia é “um conhecimento transcendente e, ao mesmo tempo, atento à voz do povo, portanto, teologia ‘popular’, misericordiosamente dirigida às feridas abertas da humanidade e da criação e nas dobras da história humana, para a qual profetiza a esperança de uma realização final” (FRANCISCO, 2023b, 7). Assim, temos que ter “a coragem de adotar esta teologia que tem cheiro de ‘carne e de povo’” (FRANCISCO, 2023a). Para isso se estuda teologia, para melhor seguirmos a Jesus de Nazaré, amando como ele amou, construindo com ele o Reino.

E você, o que pensa dos estudos de filosofia e teologia?

Referências bibliográficas

BOFF, Clodovis. Teoria do Método Teológico. 6ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2015.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995.

CROATTO, José Severino. As linguagens da experiência religiosa: Uma introdução à fenomenologia da religião. São Paulo: Paulinas, 2001. p. 22. 23.

FRANCISCO, PP. A Teologia que tem gosto de carne e de povo: Prefácio do Papa no livro “Repensar o pensamento” de dom Antonio Stagliano. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-11/teologia-prefacio-papa-francisco-livro-repensar-pensamento.html, acesso em: 22.11.2023a.

FRANCISCO, PP. Discurso del Santo Padre Francisco a la Delegación e la Federación Internaciónal de las Universidades Católicas. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/es/speeches/2024/january/documents/20240119-fiuc.html, acesso em: 24.01.2024.

FRANCISCO, PP. Motu Proprio Ad theologiam promovendam. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/it/motu_proprio/documents/20231101-motu-proprio-ad-theologiam-promovendam.html, acesso em: 22.11.2023b.

GONZÁLEZ, Antonio. Introducción a la práctica de la filosofía: Texto de iniciación. San Salvador: UCA Editores, 1987.

Joaquim Jocélio de Souza Costa é graduado em filosofia e teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza; é diácono da Diocese de Limoeiro do Norte-CE.

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Tragédia anunciada (mais uma)! Chuva demais, inteligência e responsabilidade de menos https://observatoriodaevangelizacao.com/tragedia-anunciada-mais-uma-chuva-demais-inteligencia-e-responsabilidade-de-menos/ Thu, 09 May 2024 20:56:31 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49866 [Leia mais...]]]> Será que desta vez vamos aceitar que a ameaça é real? Entraremos em pânico ao perceber que o que está ruim pode piorar? O futuro será pior que o presente. O aquecimento global está apenas em seu começo. Poucos meses após a passagem de um ciclone extratropical que trouxe devastação e morte ao Rio Grande do Sul, enchentes ainda maiores estão castigando os gaúchos. 80% dos municípios devastados, milhares de desabrigados e desalojados, centenas de feridos, mortos e desaparecidos.

A tragédia é mais um sinal gravíssimo da crise ambiental. Desmatamento, mineração ilegal, queimadas, destruição dos biomas, desertificação. Enxurrada, enchentes, inundações, causando desmoronamentos, destruindo casas, matando gente e arruinando meios de subsistência. O ambiente mudou tanto que o que antes era uma possibilidade, agora é um fenômeno real.

Eventos extremos se tornaram frequentes. Embora esteja acontecendo no Sul, impacta diretamente todo o Brasil. Não são fatalidades naturais, mas um fenômeno resultante das mudanças climáticas. Há muito a ciência alerta sobre o agravamento do aquecimento global. Um crescimento econômico continuado num planeta finito e sobrecarregado só pode terminar em tragédia. Uma catástrofe ambiental é prenúncio de flagelo social: migração, desemprego, fome, doenças, pobreza.

Fingir surpresa diante dos fatos é cinismo e canalhice. O negacionismo das alterações climáticas foi fomentado por muitos anos. A falta de bom senso e o desprezo pela ciência é prenúncio de desastre. Não faltam alertas científicos! O último relatório do IPCC de 2023, após 15 anos de pesquisas realizadas por centenas de cientistas, apontou a América do Sul como área de eventos climáticos extremos, como inundações.

Em 2015, o relatório “Brasil 2040”, da Presidência da República, indicou o aumento de chuvas acentuadas no Sul em decorrência das mudanças climáticas. O documento apresentava medidas para minimizar os impactos das mudanças inevitáveis. O estudo foi arquivado. Previsões ignoradas. Essa é a quarta ocorrência de fortes chuvas em terras gaúchas em menos de um ano.

Registro da tragédia do Ciclone extratropical no Rio Grande do Sul em 2021.

Não há como negar tantas evidências científicas, mas…

Eduardo Leite (PSDB), governador desde 2018, e Sebastião Melo (MDB) prefeito de Porto Alegre desde 2020, não só desprezaram as advertências, como também destruíram o Estado, privatizaram a infraestrutura e sucatearam a secretaria de meio ambiente. A prefeitura de Porto Alegre não investiu um centavo em prevenção contra enchentes em 2023. Tudo em nome da austeridade fiscal.

O governo estadual aumentou o orçamento da defesa civil em apenas 50 mil reais, alterou 480 artigos do Código do Meio Ambiente, mudou o conceito de Área de Preservação Permanente (APP) favorecendo a intervenção do agronegócio em áreas sem autorização de órgão ambiental, retirou os artigos que versavam sobre Unidades de Conservação e sua proteção. Menos de um mês atrás, o governador sancionou uma lei que flexibiliza regras ambientais para construção de barragens em APPs.“A crise já chegou, ela não é no futuro.

 

A crise já chegou, ela não é no futuro. Não há mais como evitar os eventos extremos.

Suely Araújo, coordenadora do Observatório do Clima.

 

A crise já chegou, ela não é no futuro. Não há mais como evitar os eventos extremos” (Suely Araújo, coordenadora do Observatório do Clima). A mudança climática é uma realidade, mas a legislação e as políticas públicas ainda são pensadas como se ela não existisse. A flexibilização da legislação ambiental pode gerar muitas outras tragédias. Tramita no Congresso um “pacote da destruição”: mais de 20 projetos de lei que fragilizam a legislação ambiental. Em meio ao desastre climático, a bancada ruralista quer reduzir reservas na Amazônia.

Catástrofes causadas pela crise climática podem ser evitadas? Quem poderá frear a ganância predatória dos poderosos que sacrificam um país inteiro em benefício próprio? É um desastre após outro. É preciso pôr fim à tamanha insanidade. “Continuaremos sonâmbulos para as catástrofes climáticas?” (António Guterres, secretário-geral da ONU).

 

Continuaremos sonâmbulos para as catástrofes climáticas?

António Guterres, secretário-geral da ONU.

 

As vidas perdidas logo serão esquecidas? Continuaremos elegendo governantes e políticos negacionistas patrocinados por empresas e seus interesses escusos? Uma hora a conta chega. A fatura chegou no Rio Grande do Sul!

Não basta maquiar mudanças na economia. Sem visão de futuro, pode ser tarde demais. A crise climática é expressão de uma crise muito maior: a crise civilizatória. São urgentes mudanças “nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder que hoje regem as sociedades” (Laudato Si’, 5).

A crise climática-humanitária revela um profundo abandono dos mais pobres. Diante desse desamparo, o povo se enche de compaixão e se organiza por meio de doações e voluntariado. A ação coletiva mostra que pode fazer a diferença na reconstrução de uma sociedade. Solidariedade é essencial, mas a mobilização por justiça climática também é urgente. Não se pode enfrentar um problema tão grave apenas com medidas pontuais. Respostas emergenciais e provisórias são insuficientes.Eventos extremos como esse não podem ser tratados como imprevistos. Um problema sistêmico gerador de tragédias humano-ambientais só será realmente enfrentado com a mudança do modelo socioeconômico. Prevenir é melhor que remediar.

(Os grifos são nossos!)

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte: Portal FAJE

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Pastoral do Povo da Rua tem novo bispo referencial https://observatoriodaevangelizacao.com/pastoral-do-povo-da-rua-tem-novo-bispo-referencial/ Tue, 30 Apr 2024 02:06:01 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49848 [Leia mais...]]]>

Uma das mais desafiantes pastorais sociais da Igreja católica, a Pastoral do Povo da Rua, tem novo bispo referencial.  Isso mesmo, uma das mais desafiantes, porque pessoas em situação de rua, infelizmente, com frequência são consideradas uma espécie de “lixo humano”, são tratadas como um estorvo que sujam e enfeiam o centro das grandes cidades. E como se não bastasse, além de serem, por muitos, socialmente invisibilizadas, são também desprezadas até mesmo pelas políticas públicas.

Esta Pastoral social nasce como um apelo ético do Evangelho que nos interpela a contemplar, no rosto dos pobres e sofredores, a presença de Deus e a acolher cada pessoa humana, de modo especial, as mais vulneráveis e excluídas da mesa da dignidade, como irmãos e irmãs.

Recebemos com alegria esta notícia: No dia 17 de Abril de 2024, a presidência da Comissão episcopal para a ação sociotransformadora da CNBB, conduzida por dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo – MA, nomeou como novo bispo referencial da Pastoral do Povo da Rua, dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, bispo auxiliar de Belo Horizonte. Dom Mol, como é conhecido, vem se destacando, como uma das lideranças da Igreja católica mais atuantes e comprometidas com a defesa da democracia, da igualdade cidadã, da justiça social e da dignidade humana.

 

Com dom José Valdeci, nós da equipe do Observatório da Evangelização também suplicamos a Deus que abençoe o trabalho de dom Joaquim Mol na Pastoral do Povo da Rua. Que esta importante pastoral social ganhe maior visibilidade e apoio da Igreja e de toda a sociedade brasileira.

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O presbítero, homem de coração dilatado https://observatoriodaevangelizacao.com/o-presbitero-homem-de-coracao-dilatado/ Sat, 27 Apr 2024 13:54:33 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49842 [Leia mais...]]]> Segundo Matias Soares, “os desafios que estão sendo postos à Igreja, que precisam ser enfrentados, têm sido causa de escândalo e muita tristeza, principalmente na dimensão humano-afetiva dos ministros ordenados. A atenção dada à formação humana é mais do que indispensável. É urgente. Essa dimensão da existência sacerdotal foi tratada com desconfiança por séculos… Depois de Sigmund Freud (1856-1939), Carl Gustav Jung (1875-1961) e outros mestres da psicologia do profundo, novos questionamentos surgem acerca dos dramas existentes na formação da identidade da pessoa, marcada na sua história por alegrias e tristezas. A Igreja tentará assumir caminhos novos. O humanismo integral e o personalismo serão a base antropológica do Concílio Vaticano II e, com estes, a atenção que será dada à subjetividade humana, colocando a pessoa no centro, como protagonista da própria formação… Na atualidade, estamos a falar de pós-humanismo, inteligência artificial, pós-secularismo e, depois da pandemia, questões na área de doenças mentais, que colocam desafios novos à própria formação permanente dos presbíteros. A Igreja volta o seu olhar para esta urgência… Na nossa hipermodernidade, o humano é definitivamente apresentado como fragmentado e com possibilidades de ser transumanizado, buscando novas formas de ser e agir, a partir de suas subjetividades… Na formação dos futuros presbíteros e para a formação permanente dos atuais, como nos encontramos numa mudança de época e numa época de mudanças, os métodos precisam ser ressignificados e mudados.

Confira o provocante artigo do pe. Matias Soares que nos convida a um outro olhar para os presbíteros, a grande parcela dos ministros ordenados na Igreja Católica. O mesmo olhar pode ser feito para os bispos e diáconos, e também para pastores e pastoras das outras igrejas cristãs.

 

Arquidiocese de Fortaleza volta a celebrar caminhada penitencial; confira  data | Ceará | G1
             Registro da caminhada penitencial em Fortaleza, em 2023.

 

O presbítero, homem de coração dilatado

O papa Francisco, recentemente, num discurso feito aos participantes de um congresso realizado em Roma, sobre a formação permanente dos presbíteros, assim admoestou aos presentes:

A graça pressupõe sempre a natureza, e por isso temos necessidade duma formação humana integral. Na verdade, ser discípulo do Senhor não é um revestimento religioso, mas um estilo de vida e por conseguinte requer o cuidado da nossa humanidade. O contrário disto é o padre ‘mundano’. Quando a mundanidade entra no coração do padre, estraga-se tudo. Peço-vos para investir o melhor das vossas energias e recursos neste aspeto: o cuidado da formação humana. E também o cuidado por viver de maneira humana”.

O presbítero não pode ser alguém que tenha medo de sua humanidade. Sua história, seus afetos, anseios existenciais e sonhos de realização pessoal devem ser cuidados e ordenados por uma capacidade humana e evangélica de amar. A vocação deve estar situada numa condição humana integral e integrativa.

Os desafios que estão sendo postos à Igreja, que precisam ser enfrentados, têm sido causa de escândalo e muita tristeza, principalmente na dimensão humano-afetiva dos ministros ordenados. A atenção dada à formação humana é mais do que indispensável. É urgente. Essa dimensão da existência sacerdotal foi tratada com desconfiança por séculos. A teologia que tinha suas bases no neoplatonismo penetrou na espiritualidade cristã e, ainda mais, no ordenamento formativo dos ministros ordenados. O tratamento dado aos sacerdotes, como homens do sagrado, principalmente depois do Concílio de Trento (1545-1563), mesmo com seus avanços para a época, pouco a pouco foi sendo superado e surgindo novas necessidades e demandas de atualizações. Envolvidos pela mística da ascese e do sacrifício, como sinal da mortificação das pulsões humanas, o sacerdote do antes do Vaticano II é o homem que deve ter como marcas distintivas: a sabedoria, a saúde e a santidade. Essa integração, nem sempre foi tratada com tanta clarividência e contando com as possibilidades ofertadas pelas ciências humanas, especialmente a psicanálise. Depois de Sigmund Freud (1856-1939), Carl Gustav Jung (1875-1961) e outros mestres da psicologia do profundo, novos questionamentos surgem acerca dos dramas existentes na formação da identidade da pessoa, marcada na sua história por alegrias e tristezas. A Igreja tentará assumir caminhos novos. O humanismo integral e o personalismo serão a base antropológica do Concílio Vaticano II e, com estes, a atenção que será dada à subjetividade humana, colocando a pessoa no centro, como protagonista da própria formação.

Um novo cenário se nos é posto. Na atualidade, estamos a falar de pós-humanismo, inteligência artificial, pós-secularismo e, depois da pandemia, questões na área de doenças mentais, que colocam desafios novos à própria formação permanente dos presbíteros. A Igreja volta o seu olhar para esta urgência. Um novo humanismo pode ser elaborado. Com o neotomismo, tão em voga ainda nas proposições conciliares, a pessoa ainda era tida como realidade integral, que precisava ser integrada. Na nossa hipermodernidade, o humano é definitivamente apresentado como fragmentado e com possibilidades de ser transumanizado, buscando novas formas de ser e agir, a partir de suas subjetividades. Com a determinação de ‘ser no tempo e instantaneamente’, com a confirmação dos pressupostos heiddegerianos. Isso está visível nas novas manifestações do ‘Ser’. Esse (Dasein) é o homem contemporâneo, tão simplesmente, com suas escolhas e autodeterminações.

Nessa conjuntura do estilo de ser e estar no tempo, encontra-se a Igreja que ainda não encontrou um método equilibrado de se relacionar com essas subjetividades. Pois sempre foi aquela que, basicamente dos séculos IV ao XIX, impôs, e não propôs o modo de agir da cultura ocidental. Na formação dos futuros presbíteros e para a formação permanente dos atuais, como nos encontramos numa mudança de época e numa época de mudanças, os métodos precisam ser ressignificados e mudados. A formação, como os ensina o papa Francisco, também precisa absorver a perspectiva da ‘sinodalidade’. Com menos disciplinamento e mais autoconsciência.

Ouso a dizer que a pedra de toque desse modo de ‘ser Igreja’ é o acolhimento das diferenças, por meio da capacidade de escuta de todos. É o respeito e reconhecimento dos sujeitos que são envolvidos no processo formativo. O que é de interesse de todos deve ser participado por todos. Mais confiança que gera responsabilidade e promove a adesão consciente e personalizada do processo formativo. Basta a percepção dos sinais, que estão aí, na maioria dos que são ordenados atualmente. A vida de oração está sendo substituída pelas mídias, os livros estão sendo trocados pelos smartphones e vaidades nas vestimentas, que refletem mais o anseio de autoafirmação, na maioria dos casos, a comunhão presbiteral é distorcida pelos lobbies e, ainda, a proximidade ao povo fiel de Deus, especialmente com os que estão nas periferias geográficas e existenciais, que é trocada pelas relações de conveniências. Esses sinais são fenômenos que dizem muito das motivações e problemáticas humanas dos ministros ordenados e de como as nossas estruturas formativas não estão preenchendo os hiatos existentes nos variados perfis individuais. Está faltando paixão presbiteral e missionária. Uma grande parcela está se tornando despreparada e agindo como simples ‘funcionários do sagrado’.

 

A vida de oração está sendo substituída pelas mídias, os livros estão sendo trocados pelos smartphones e vaidades nas vestimentas, que refletem mais o anseio de autoafirmação, na maioria dos casos, a comunhão presbiteral é distorcida pelos lobbies e, ainda, a proximidade ao povo fiel de Deus, especialmente com os que estão nas periferias geográficas e existenciais, que é trocada pelas relações de conveniências. Esses sinais são fenômenos que dizem muito das motivações e problemáticas humanas dos ministros ordenados e de como as nossas estruturas formativas não estão preenchendo os hiatos existentes nos variados perfis individuais. Está faltando paixão presbiteral e missionária. Uma grande parcela está se tornando despreparada e agindo como simples ‘funcionários do sagrado’

 

O presbítero dos nossos dias, considerando estas manifestações, precisa ser um ‘homem com um coração dilatado para o amor’. E num horizonte de fé, isso só pode acontecer a partir de uma profunda experiência de Deus. Algumas indagações precisam ser respondidas pelos ambientes formativos e demais casas religiosas da Igreja, a saber:

  • Estamos formando homens e mulheres de Deus?
  • Percebemos pessoas performadas segundo o Espírito?
  • Há mais preocupação com o que é mundano nas casas de formação, do que com o que é próprio da ação missionária?
  • Existe desejo de conversão permanente, com a abertura ao que é proposto pelo Evangelho?
  • Quais as motivações que estão levando as pessoas a buscarem as nossas casas de formação?
  • Por que e para que estamos formando padres, religiosos e religiosas?
  • Os formandos e formandas, como também os que já estão ordenados e consagrados, estão inseridos, sendo sal e luz, pastores com cheiro das ovelhas, na vida e na história do povo fiel de Deus?
  • Os nossos métodos formativos estão servindo para que o discernimento evangélico e espiritual aconteça neste processo de maturidade humana e vocacional? Etc…

Os fechamentos ao que pode ser aprofundado é, talvez, a principal dificuldade que temos para avançarmos. Enquanto não nos confrontarmos com a nossa verdade, inclusive enquanto instituição, não conseguiremos falar e agir com ‘parresia’, ou seja, com coragem de encarar a verdade no encontro com nossas fragilidades internas e diferenças externas. Por isso, o fechamento em bolhas e a grande dificuldade de dialogar e agir neste mundo hipermoderno que nos desafia e desacredita constantemente. Na Igreja, ainda temos muito medo da verdade; por isso, não conseguimos ser livres. Com frequência, nos esqueçamos que só ela pode nos dar a liberdade (cf. Jo 8,32). Ou ela é endógena a vida da Igreja e, para isso, precisa ‘acontecer’ na existência de cada um de nós, ou teremos a impressão de que somos uma composição, ou uma simples instituição, na qual muitos ainda não viveram o encontro pessoal com Jesus Cristo e, desta forma, ainda não se tornaram cristãos. A seguinte afirmação do papa Bento XVI sintetiza bem essa reflexão à qual me proponho neste momento:

Nós cremos no amor de Deus — deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida. ‘Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo’. No seu Evangelho, João tinha expressado este acontecimento com as palavras seguintes: ‘Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único para que todo o que n’Ele crer (…) tenha a vida eterna’” (cf. DCE 1).  

 

Papa Francisco, bispos, padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas caminham juntos no Sínodo para a Amazônia.

 

Enfim, instigados a formar um coração dilatado ao amor, sem jaulas e correntes, verdadeiros e sinceros, ternos e misericordiosos, podemos amadurecer. O papa Francisco tem nos provocado positivamente. Para os que ainda vivem no ‘país das maravilhas’, com uma mentalidade pré-moderna e com odor de cristandade, se chega a afirmar que “este Papa não gosta dos ministros ordenados”. Penso que esta não seja a questão! Ele denuncia a mentalidade clericalista e mundana de muitos de nós, que estamos ainda protegidos pela força de uma instituição que vem sendo desafiada a repensar seu modo de ser no mundo de hoje. Numa realidade na qual todos estamos “desnudados”. Numa sociedade do cansaço e do digital (cf. Byung-Chul Han), na qual tudo é visto e todos se veem sem conhecimento profundo e personalizado. Nós estamos inseridos neste tempo e nessa história. Temos que sair das nossas casinhas e construções oníricas. Só conseguiremos ser fortes e perseverantes, como ministros ordenados e consagrados, se tivermos corações dilatados para amar e ser amados. Assim o seja!

 

Pe. Matias Soares

Pároco da paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório, Natal-RN

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O Clericalismo que habita em nós https://observatoriodaevangelizacao.com/o-clericalismo-que-habita-em-nos/ Fri, 26 Apr 2024 18:59:30 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49838 [Leia mais...]]]>  

O CLERICALISMO QUE HABITA EM NÓS

Por Toninho Kalunga

Francisco é o primeiro Papa a tocar em um tema de fundamental importância para a sobrevivência da Igreja Católica no meio dos pobres. É a chaga do clericalismo. Este mal nasce do entendimento de uma parcela dos padres, de que a fé que eles devotam a Deus, é uma fé mais importante do que a fé das pessoas que não são padres.

O clericalismo nasceu disso. O desenvolvimento desta perspectiva de fé trouxe uma tese de uma certa hierarquia na relação com Deus. Assim, primeiro, vem o Papa, com sua infalibilidade, logo em seguida são os poderosos cardeais, seguidos dos arcebispos, bispos e finalmente a massa sacerdotal. O povo é conduzido e a estes, basta este papel!

Por outro lado, quem cuida, de fato, da fé do povo católico são os padres. Aliás, neste ponto nem há tanta contradição, pois, eles se formam em seminários, num período que vai de 8 à 12 anos, para ajudar na construção e consolidação de uma perspectiva religiosa e sua consequente fé. No decorrer do tempo, infelizmente, ao invés de servir, optaram por ser servidos. E aí é que a coisa degringolou.

Podemos verificar nas lembranças de nossa juventude, “Igrejas que não cabiam gente” de tanta gente que ia às Missas! Era o tempo da Igreja Pastoral, de uma Igreja onde seus pastores tinham “cheiro de suas ovelhas”. Entre o Concílio Vaticano II e o final dos anos 1970, os seminários formaram padres que tinham como perspectiva e sonho, servir ao povo de Deus.

No começo dos anos 1980, com o advento do papado de João Paulo II, essa proposta de Igreja Pastoral, foi perdendo seu vigor e passou a ser combatida ferozmente com incentivo papal do anticomunismo. Se houve erro no papado de João Paulo II, certamente, esse foi o maior deles, pois sua visão de mundo e histórico pessoal, dava a ele a dimensão de que a Polônia era o mundo. E não era!

A Igreja Latino Americana, não era a mesma Igreja Européia. Nem é!! Essa falta de perspectiva cultural e de dimensão social e econômica de João Paulo II, fez com que seu papado passasse a ser de enfrentamento a uma Igreja alegre e popular, uma Igreja de dimensão profética e acolhedora. Uma Igreja gigantesca na dimensão espiritual, eclesial e popular. Foi uma Igreja libertadora e feliz, vocacionada a ser sal na terra e luz no mundo. Por isso, era cheia, vigorosa, devota e encarnada na vida do povo. O resultado é que a vitória dos conservadores, está sendo a derrota de toda a Igreja.

Assim, esta nova proposta ganhou força e os seminários passaram a construir com grande esforço e incentivo do Vaticano, uma formação cada vez mais clericalista, onde a ideia do padre tutor, com pouco interesse na dimensão cotidiana do povo e apegado ao status sacerdotal. A igreja católica passou então a abrir mão do tríplice múnus, que é o múnus sacerdotal, múnus profético e múnus pastoral, para assumir e incentivar apenas o primeiro.

A partir deste momento, começou a crise das ordenações sacerdotais; Diminuindo drasticamente a quantidade de seminaristas e vocações religiosas femininas nos conventos. Jovens que buscavam servir, deixaram de ver na Igreja um atrativo, afinal, para ter poder, melhor seria ser candidato a vereador, prefeito ou deputado e não a padre ou “freira”!!

Assim, fomos apresentados ao orgulhoso Padre de Sacristia, perdendo de vez o líder pastoral. Foi quando começou a surgir a figura dos padres cantores ou o padre popstar, que juntava muita gente em Igrejas enormes e afastavam ao mesmo tempo, o mesmo povo, de suas pequenas comunidades. Esse foi o começo do fim das Comunidades Eclesiais de Base. Enquanto o povo cantava que tinha:

 “anjos voando neste lugar, no meio do povo e em cima do altar, subindo e descendo em todas as direções”, 

O povo na periferia ficava vendo lobos em pele de pastores, engolindo sua fé e arrancando suas esperanças, dizendo que a culpa pelas dificuldades que passavam era em razão de seu pecado e não em razão de um sistema econômico e social que os escravizavam.

Assim, como suspiro de esperança, nas periferias que ainda resistiam, a canção era outra: Ao perceber que lhes faltavam pastores o povo clamava:

“Falta gente pra ir ao povo Descobrir porque o povo se cala Pastores e animadores pra incentivar o teu povo a falar.  Falta luz porque não se acende Não se acende porque faltam sonhos. E falta esse jeito novo de levar luz e falar de Jesus”

Em razão da perda de contato da Igreja Católica com a realidade do povo, surgiu um vácuo, que foi ocupado por uma dimensão religiosa já existente, que se pulverizou: pastores evangélicos oriundos e envolvidos com a realidade de suas comunidades, favelas e periferias em geral levando apoio em nome de Jesus.

Ao destruírem pastorais como a Pastoral Carcerária, os pastores passaram a dar assistência às famílias dos detentos pobres e dos próprios presidiários. Ao impedir a dimensão profética de Pastorais como a Pastoral da Terra, abrimos mão do apoio aos trabalhadores rurais e deixamo-los à própria sorte, sendo estes acolhidos por pequenas comunidades evangélicas nas pequenas cidades e no campo.

O que sobrou aos católicos foi uma elite paroquiana que ao pagar o dízimo e doar um bezerro para a festa da Padroeira, tirava o senso crítico da realidade vivida pelos mais pobres, assim, não fazia diferença participar de uma Igreja onde o padre culpava os pecadores por seus pecados, e o pastor que dizia que o pecado era coisa do demônio. Assim, melhor era falar com o pastor, que ao menos lhes falava que iam sair no tapa com o belzebu!

Nenhum destes, no entanto, se interessava mais em falar sobre a esperança de uma vida melhor aqui, neste lugar. Todos só garantiam isso depois da morte. Assim, a vida vivida, era abafada e o que restava era se adaptar e deixar o tempo passar. Os que não aceitavam essa condição, construíram sua própria fé! Contudo sem formação, sem dimensão filosófica e teológica pastoral. Não demorou para que a falta destas dimensões formativas, fossem adaptadas para o campo da política conservadora e o resultado desta pulverização está aí para que todos possamos ver!

Além dos seminários, outra figura que transforma bons padres, em padres clericalistas, é a própria comunidade de leigos e leigas que exigem destes homens uma postura que muitos não gostariam de ter – nem têm – responsabilizando e exigindo destes uma postura de super humanos. Não é sem razão que existem tantas desistências e frustrações com o sonho da vida sacerdotal.

No campo progressista não é muito diferente, lamentavelmente! O que deveria ser um sopro de alívio para os padres, passa a ser também uma exigência de posicionamentos que cabem aos leigos e não aos padres. E isso também é muito frustrante.

Ao fim, o que se tem é um séquito de religiosos, que chegam numa comunidade e destroem a organização histórica Pastoral dessas comunidades e impõe o seu estilo e ponto de vista, acompanhado de um viés ideológico de extrema direita e hipócrita,  em detrimento da história daquela comunidade. Não servem. Exigem serem servidos.

Tem uma canção que gosto muito, que é bastante cantada na ceb nos atos penitenciais que diz assim:

“Quem não te aceita, quem te rejeita, pode não crer, por ver cristãos que vivem mal…”

Tenho visto cada vez mais pessoas que estão tristes com a Igreja Católica que trazem consigo características em comum: Não participam da vida comunitária, não batem um prego num sabão para ajudar na construção da reflexão e não ajudam na lida cotidiana da comunidade, mas querem espaço de liderança. Não topam estar numa turma de catequese com um grupo de 05 ou 10. Querem ser chamados para fazer palestra nos grupos x ou y, mas não estão dispostos a participar da formação na paróquia. Ou seja. Só aceitam posição de liderança ou de destaque, (igual ao padre) não querem, portanto, fazer parte da massa. O que não entendem é que se não se misturar a esta massa, jamais poderá ter de novo o prazer de se alegrar em uma comunidade.

Não é este o comportamento clericalista?? Não é essa a razão pela qual reclamamos dos Padres que não ouvem, não colocam os pés no barro, não frequentam a casa dos mais pobres?? Aí me pergunto, aos que reclamam daqueles: não estamos imitando e nos comportando da mesma forma??

Não é necessário brigar com o padre. Mas é necessário construir a comunidade junto com ele. Estar à disposição de uma comunidade de fé (E NÃO DO PADRE) significa também ter a humildade e a disposição de amadurecer a fé a partir do exemplo do lavapés e aí, sim, estar pronto para ajudar o padre. Afinal, o ensinamento Evangélico é que se não houver a permissão para que os próprios pés sejam lavados, não se compreenderá que este exemplo não é para usufruir de um serviço mas a ação diária para se fazer imitador de Cristo.

Portanto, esta reflexão não é um chamado de uma guerra contra os padres, muito menos de uma postura que queira lançar culpas a quem quer que seja, antes de mais nada é um apelo para que o clero, enquanto representantes tão privilegiados ( mas não únicos) do amor de Deus, se voltem novamente ao serviço profético de anunciadores do amor de Deus e denunciadores contra as mazelas que os poderosos infligem contra a razão maior das suas existências: os pobres.

Que todos nós, filhos e filhas de Deus e peregrinos por este mundo em busca do conforto espiritual, tenhamos a reciprocidade da acolhida de nossos pontos de vista e não da imposição do ponto de vista ideológico, travestido de teológico por parte do clero e de lideranças leigas fascistas, pois estas, destroem o amor, a fraternidade e a solidariedade entre nós!

Que nosso projeto de religiosidade tenha, na necessidade da dignidade de qualquer vida, o parâmetro da defesa da vida de todos, e que esta dignidade seja aplicada da concepção (e não apenas da concepção à Luz), indo até a morte natural como parâmetro da defesa da vida, conforme proposto pelo próprio Cristo. (João,10-10)

 

Toninho Kalunga é leigo orionita na Comunidade do Pequeno Cotolengo, Santuário São Luis Orione em Cotia e membro da Fraternidade Leiga Charles de Foucauld

Fonte: CEBs do Brasil

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Uma Igreja sinodal em missão https://observatoriodaevangelizacao.com/uma-igreja-sinodal-em-missao/ Fri, 26 Apr 2024 18:16:17 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49834 [Leia mais...]]]>

Uma Igreja Sinodal em Missão – Cartilha

Conheça a Cartilha “Igreja Sinodal em Missão” organizada pelo CNLB, Caritas Brasileira e CCB Jesuítas – Uma reflexão sobre a sinodalidade!

O Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), a Caritas Brasileira e o Centro Cultural de Brasília (Jesuítas – Companhia de Jesus) lançaram a cartilha “UMA IGREJA SINODAL EM MISSÃO”. É possível fazer o download na versão digital bem como na versão para impressão, no site do CNLB.

A presidente do CNLB lembrou que a ideia de fazer uma cartilha para rezar e estudar o documento síntese da 1ª Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade surgiu em uma reunião do CNLB. “O Colegiado Deliberativo do Conselho fez a indicação de procurarmos a Caritas Brasileira e os Jesuíta para construção desse instrumento de oração, estudo e reflexão”, enfatizou Sônia Gomes.

Padre Miguel Martins, jesuíta, tem a expectativa de que, de modo especial, os cristãos leigos e leigas, possam se utilizar dessa cartilha se apropriar dos conteúdos do relatório síntese da 1ª Sessão do Sínodo da Sinodalidade. “O processo sinodal não é um evento. É um modo de ser Igreja que inclusive nós aqui no Brasil já vivemos. Mas precisamos reavivar isso, esse modo de ser igreja, que é um modo de participação de todos, para que todos tenham voz e vez”, destacou o jesuíta.

Marilza Schuina da Comissão de Assessoria Permanente (CAP) do CNLB lembra que a cartilha quer ajudar a aprofundar as questões que o Sínodo sobre Sinodalidade aponta a partir da realidade em que vivemos. “Nossa expectativa é que esta cartilha favoreça que os cristãos leigos e leigas, nas comunidades, movimentos e pastorais possam refletir sobre os temas apresentados no relatório síntese da primeira sessão sinodal”, finalizou Schuina.

 

O porquê da Cartilha “Uma Igreja Sinodal em Missão” …

Este subsídio deve ajudar as pessoas por meio da leitura orante, dos círculos bíblicos, textos, cantos e outros instrumento para uma reflexão orante do relatório síntese da 1ª Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade. “Aproximar aqueles e aquelas dos mais distantes lugares para refletir e ler o relatório síntese, entender o que é uma Igreja sinodal e assim ajudar a viver esse jeito de ser Igreja na prática”, destacou Sônia Gomes.

Já Marilza Schuina reforça que o objetivo da Cartilha não é apenas responder as questões do relatório, mas refletir e debater como podemos ser uma Igreja verdadeiramente Sinodal na sua essência, uma Igreja povo de Deus, de comunhão, participação e missão.

Como utilizar a Cartilha?

A Cartilha tem linguagem de fácil entendimento e muito simples de utilizar. Assim sendo, o jesuíta Miguel Martins, nos lembra que esse instrumento pode ser usado nos encontros dos grupos de jovens, das pastorais, dos movimentos, das CEBs. São 20 capítulos com temas ligados ao relatório síntese da 1ª Sessão do Sínodo da Sinodalidade. “Os animadores de comunidades, lideranças das pastorais, organismos, serviços, movimentos e demais forças vivas da Igreja são sujeitos eclesiais que podem liderar essa reflexão em seus espaços e assim ajudar na espiritualidade sinodal, nosso jeito de viver a fé”, reforçou padre Miguel.

Sônia Gomes nos lembra que a Cartilha pode ser usada em todos os espaços que participamos inclusive nos novos areópagos como a internet. “A cartilha pode inclusive ser usada em nossas reuniões virtuais para reflexão da Igreja Sinodal em comunhão com o Sínodo da Sinodalidade”, finalizou a presidente do CNLB.

Fonte: Conselho Nacional do Laicato do Brasil

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