Evangelizar implica cultivar intimidade com a pessoa de Jesus de Nazaré, o profeta que encarna, por palavras e ações, o dinamismo do Reino de Deus. Além disso, exige do/a evangelizador/a buscar lucidez diante dos desafios e urgências de seu tempo. João Batista Libanio, por ter se dedicado tanto a vivência da fé na contemporaneidade, no marco de seus 80 anos, um pouco antes de partir para o grande encontro com o Pai, em entrevista, assim caracterizou o nosso tempo:
“No momento atual de pós-modernidade vivemos o paradoxo de extrema subjetividade e de ritualismo exterior acentuado. A subjetividade não se molda pela liberdade interior, nascida da experiência da proximidade de Jesus, mas da autocentração hedonista e narcisista. E o ritualismo reforça tal perspectiva. A própria exterioridade confirma o lado autocentrado da pós-modernidade. Jesus aporta claro antídoto a tal tendência já que ele afirma, como norma suprema, o amor de si até a entrega da vida pelo e para o outro. Não há maior amor que dá a vida. Vida hoje significa tempo, cuidado, liberdade de e para, serviço.”
Na travessia desses tempos difíceis, para Libanio, na esteira de outros grandes mestres espirituais da fé cristã, não há outro caminho: importa voltarmos ao Jesus palestinense e caminhar com ele, passo a passo, da Galileia a Jerusalém, contemplando em cada encontro, palavra e ação, a sua liberdade libertada para amar e servir, o seu discernimento espiritual na busca convicta e livre de colocar-se a serviço dos/as sofredores/as, fazendo a vontade do Pai, concretizando em seu agir o dinamismo transformador do Reino de Deus, atento aos inviabilizados/as e excluídos/as da mesa da dignidade. Nas palavras de João Batista Libanio:
Cada vez mais frequento o Jesus histórico e a partir dele busco luz para a vida pastoral e estudos. Aliás, pertence ao cerne da espiritualidade inaciana dedicar nos Exercícios Espirituais amplíssimo espaço às meditações dos mistérios da vida de Jesus. Hoje, com a contribuição da exegese e de estudos históricos, a figura do Jesus palestinense, mesmo que lido à luz da ressurreição, se nos torna expressiva e instigante. Impressiona-me em Jesus a liberdade em face das formalidades e costumes da época, considerados lei de Moisés. Jesus apelava para o princípio superior do bem das pessoas, a partir do qual interpretava as prescrições. Não se enroscava em discussões formais de legalidades, próprias dos fariseus de seu tempo.
Fonte:
LIBANIO, João Batista. “Acolhi a vida como dom”. Entrevista a Graziela Wolfart e Luis Carlos Dalca Rosa publicada na Edição 394 do IHU on line em maio de 2012, pp. 7-12.