Em memória de Marina Bandeira, mulher servidora, militante e de fé cristã adulta

Minha força vem da frágil flor ferida
que se entreabre resgatada pelo orvalho
da vida que já vivi
…”

(Thiago de Mello)

Marina Bandeira foi uma expoente da Igreja Católica. Foi uma das fundadoras do MEB (Movimento de Educação de Base), da CBJP (Comissão Brasileira de Justiça e Paz) e do CEHILA (Comissão de Estudos de História da Igreja e do Cristianismo na América Latina). Foi assistente da CNBB e participou dos embates entre Igreja e governo militar durante a ditadura. Sua história de vida está intrinsecamente ligada à luta pela democracia brasileira.

A sociedade brasileira perde uma pessoa lúcida, comprometida com os valores democráticos e os destinos brasileiros por liberdade, justiça, direitos humanos e sociais. Como cristã trabalhou por uma Igreja Povo de Deus. 

Deixa um legado rico de humanidade, fé e esperança. Expressamos nossos sentimentos aos familiares e aos grupos que trabalharam ao seu lado. Que ela descanse em paz. Como cristãos, afirmamos com o escritor José Calderón Salazar: “Não estamos ameaçados de morte. Estamos ameaçados de vida, de esperança, de amor…ameaçados de ressurreição“.


Mauro Passos
Presidente do CEHILA

Marina Bandeira
22/12/1924-14/05/2019
Foto: Acervo do núcleo de memória da PUC Rio

Alguns de seus feitos:

  • Foi uma das fundadoras do Movimento de Educação de Base (MEB) e da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP);
  • Foi assistente na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), trabalhando diretamente com Dom Hélder Câmara;
  • Participou ativamente dos embates entre a Igreja e o governo militar durante a ditadura, por quem foi identificada como “comunista infiltrada na Igreja Católica”;
  • Com o professor Cândido Mendes, escreveu em 1966, o livro “Comissão Brasileira Justiça e Paz (1969-1995): Empenho e memória“.
  • Foi membro do grupo de trabalho “Alceu Amoroso Lima”;
  • Desdobrou-se das denúncias às cartas e às marchas na defesa da sua visão evangélica dos direitos humanos e do respeito ao outro;
  • Deixou-nos o exemplo de luminosa vida de quem soube viver desde a fé, fundamentada no Doutrina Social da Igreja, os destinos do povo brasileiro em sua saga por liberdade, direitos e soberania”;
  • Como cristã leiga e profundamente comprometida com os valores democráticos e da dignidade do homem, destacou-se na promoção de estudos e reflexões sobre educação e direitos humanos;
  • Antes da atuação na Igreja, trabalhou no Departamento de Imprensa da Embaixada da Índia, quando viu Dom Hélder Câmara pela primeira vez durante uma palestra, em 1954.;
  • Na Igreja, ela também participou da criação da Rede Nacional de emissoras católicas;
  • Em 1973, chegou a ser convocada pela Igreja Católica para ir a Roma, onde ocuparia o cargo de diretora da Comissão Justiça e Paz no Vaticano, mas acabou optando por permanecer no Brasil;
  • Em 2013, lançou o livro “Vigília e testemunho“, em que narra histórias do período de combate à ditadura.

Testemunho de Marina Bandeira sobre Dom Helder Câmara:

Por intermédio de Dom José Vicente Távora conheci Dom Helder em 1954, ambos Bispos Auxiliares do Rio de Janeiro. Dom Helder era responsável pela organização do Congresso Eucarístico Internacional, a realizar-se no Rio de Janeiro, em julho de 1955. Aceitei secretariar Dom Távora nos contatos com os meios de comunicação, numa sala ao lado da de Dom Helder, sempre de portas abertas. Só a profunda fé, a radical confiança na Divina Providência, explicam a energia, a capacidade de trabalho daquela figura franzina, quase doentia, que permitiu o êxito da monumental empreitada. Eu soube que em 1952, o então Padre Helder, assistente da Ação Católica Brasileira, com a ajuda desse laicato, idealizara a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, oficializada naquela data pela Santa Sé e aprovada. Soube também que a iniciativa se multiplicou em todos os continentes. A força espiritual, moral e até física de Dom Helder era alimentada pela Missa diária, às seis da manhã, e com meditações de madrugada. Mensalmente, aos domingos pela manhã, pregava um pequeno retiro para sua equipe, da qual eu já fazia parte. Dom Helder era não-violento por natureza, incapaz de rancor. Na década de 1960, anos da paranoia anticomunista: ‘ou se é comunista ou anticomunista’, independente, continuou a falar pelos ‘sem voz e sem vez’. Foi presença forte no Concílio Vaticano II ao encaminhar e ver aprovadas na Basílica de São Pedro, propostas arejadas que debatera em grupos de trabalho formais e informais. A voz de Dom Helder repercutiu em todos os continentes, sua presença era exigida por muitos, tanto no Brasil, quanto no exterior“.

Entrevista de Marina Bandeira sobre Dom Hélder Câmara concedida em julho de 2009:

1ª parte:

http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/primeiro_site/dhc/depoimentos/marinabandeira.htm

2ª parte:

http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/primeiro_site/dhc/depoimentos/marinabandeira2.htm

3ª parte:

http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/primeiro_site/dhc/depoimentos/marinabandeira3.htm

4ª parte:

http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/primeiro_site/dhc/depoimentos/marinabandeira4.htm