O texto original do Documento de Aparecida — que teve à frente da Comissão de Redação o então cardeal Bergoglio — antes de ser publicado como texto oficial, sofreu ao redor de 250 mudanças. Diante da negativa da Presidência da V Conferência pela autoria das mudanças e oficiosamente do próprio papa Bento XVI, que se limitou a “autorizar” a publicação do texto, os autores das censuras no texto original do Documento de Aparecida (DAp), nunca foram revelados. Frente a isso, o curioso é constatar que o Papa Francisco, desde a primeira-hora de seu pontificado, em seus pronunciamentos e documentos, tem resgatado praticamente tudo aquilo que os censores do texto original de Aparecida tinham suprimido. É o “Papa do fim do mundo”, fazendo soprar desde a periferia os “ventos do Sul” no coração da Igreja como um todo. Trata-se da afirmação da tradição eclesial libertadora da Igreja na América Latina, antes sob suspeição e, agora, reconhecida e enriquecendo a Igreja inteira. Dentre as mais de duas centenas de mudanças, há umas 40 maiores e de fundo, das quais este estudo aborda 10 delas, apresentando seu teor no texto original de Aparecida, seguido das censuras presentes no texto oficial e o resgate do que foi suprimido pelos censores em pronunciamentos e documentos do papa Francisco.
Palavras-chave: Documento de Aparecida. Vaticano II. Papa Francisco. Igreja na América Latina. Magistério Pontifício.
(Obs.: Esta é a SEGUNDA PARTE do texto do teólogo pastoralista Agenor Brighenti publicado na Revista Pistis e Práxis. Teologia e Pastoral. Adaptação para o Observatório da Evangelização é de Edward Guimarães. Os grifos são nossos.)
2. A opção pelos pobres
Outra questão sensível colocada em relevo pelos censores do Documento de Aparecida, é em relação aos pobres. A opção pelos pobres, tal como afirmou o papa Bento XVI em Aparecida, “radica na fé cristológica”, embora nem sempre tenha sido preferencial na Igreja. O papa João XXIII, consciente da “irrupção do Terceiro Mundo”, tal como acusam as Encíclicas Mater et magistra (1961) e Pacem in terris (1963), ao convocar o Vaticano II, sonhou com “uma Igreja pobre e para os pobres, para que seja a Igreja de todos”. Durante o Concílio, o “Grupo Igreja dos Pobres” que se reunia junto ao cardeal Lercaro e o “Pacto das Catacumbas” em torno a dom Hélder Câmara, trouxeram esta sensibilidade para dentro da aula conciliar. Terminado o Concílio, o papa Paulo VI, assumindo a perspectiva dos pobres do “Terceiro Mundo”, publicou a Populorum progressio (1967), que iria ter influência decisiva sobre a Conferência de Medellín (1968) e a explicitação e tematização da opção preferencial pelos pobres na vida cristã.
Na América Latina, em pleno período de ditaduras militares, que se impuseram sob o patrocínio dos Estados Unidos em quase todos os países do Continente, a Igreja, consequente com a opção pelos pobres, adquire um rosto profético e libertador, em torno das comunidades eclesiais de base, da leitura popular da Bíblia, da pastoral social, da teologia da libertação e aos mártires das causas sociais. A repressão não tardou a se impor fora da Igreja pelos regimes de exceção e, dentro dela, mal-entendidos e difamações proliferaram por meio de segmentos reticentes à renovação do Vaticano II.
A opção pelos pobres adjetivada pelos censores
As tensões em torno à opção pelos pobres se fizeram presentes também na Conferência de Aparecida. Por um lado, a afirmação do papa Bento XVI no Discurso Inaugural de que é uma opção que se “radica na fé cristológica” (apud DAp 393), livrou a Assembleia de debates em torno à questão, prestando um grande serviço aos bispos. Mas, por outro lado, os censores se encarregaram de adjetivá-la no “texto oficial”, corrigindo o “texto original”. Sempre que o texto se referia à “opção pelos pobres”, acrescentou-se: “Ela, não obstante, não é nem exclusiva, nem excludente” (DAp 392).
Ora, a opção pelos pobres, desde que foi tematizada pela Igreja na América Latina em torno à Conferência de Medellín, se sabe que não é uma opção contra os ricos, mas contra a pobreza e a exclusão, à qual os ricos precisam também estar engajados. A desconfiança de que a opção pelos pobres é classista é ainda ranço do temor do marxismo, que tanto as ditaduras militares como os setores conservadores da Igreja mantiveram por décadas. Este temor aparece também na cristologia. O “texto original” refere-se a Jesus, “feito pobre” e os censores mudaram no “texto oficial” por “feito homem” (DAp 176). Na realidade, se não compreendem a opção pelos pobres feita por Jesus, muito menos vão compreender o sentido e o alcance da mesma opção, feita por cristãos engajados na construção de uma sociedade onde caibam todos.
Papa Francisco: os pobres são a carne de Cristo
Um Jesus Cristo pobre, que fez opção pelos pobres e assumiu a defesa deles como causa mesma de Deus, é matizado pelos censores do Documento de Aparecida, mas não pelo papa Francisco. Em seu modo de ser e em seus pronunciamentos, a opção pelos pobres é uma questão central. Na inauguração de seu pontificado, inspirado em João XXIII e alicerçado no testemunho dos mártires das causas socais da Igreja na América Latina, o papa Francisco expressou seu desejo incômodo: “como eu gostaria de uma Igreja pobre, para os pobres!” (EG 198). E começou por ele mesmo: pagando suas contas no dia seguinte à sua eleição, simplificando seus trajes, trocando o “trono” por uma cadeira, conservando sua cruz peitoral e seus sapatos pretos, utilizando carro modesto… É a expressão da acolhida da famosa admoestação de São Bernardo ao seu confrade cisterciense, eleito papa Eugênio III: “não te esqueça que és o sucessor de um pescador e não do imperador Constantino”. Em entrevista a um jornalista italiano, o papa Francisco disse que “os chefes da Igreja, geralmente, têm sido narcisistas, adulados e exaltados pelos seus cortesãos. A corte é a lepra do papado” (BRIGHENTI, 2014, p. 17).
Em sua visita ao Brasil o papa Francisco repetiu em diversas ocasiões: “a Igreja deve sempre lembrar, que não pode afastar-se da simplicidade” (apud IRMÃS PAULINAS, 2013, p. 91)1. Prestígio e poder são classificados por ele de “mundanismo”, pois afasta a Igreja da proposta evangélica do Reino de Deus, inaugurado e mostrado em Jesus de Nazaré (EG 93). Em Evangelii gaudium afirma que
este escuro mundanismo se manifesta em muitas atitudes aparentemente opostas, mas com a mesma pretensão de ‘dominar o espaço da Igreja’. Em alguns, há um cuidado ostentoso da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas sem preocupá-los que o Evangelho tenha uma real inserção no Povo de Deus e nas necessidades concretas da história. Assim, a vida da Igreja se converte em peça de museu ou em uma posse de poucos.
Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n. 95
Coerente com o espírito da “opção pelos pobres”, tão bem explicitada e tematizada pela teologia latino-americana, o papa Francisco faz dos pobres uma questão primeira e central na vida da Igreja e de seu pontificado. A preocupação primeira do papa Francisco não é sua autoridade ou imagem pública, nem a doutrina da Igreja ou discursos bem arquitetados, mas o sofrimento e causa dos pobres no mundo, que são a causa de Deus. Como Jesus veio “para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10), a prioridade não é a religião, mas a vida minguada e ameaçada de dois terços da humanidade. Nisto está a essência do Evangelho, pois recolhe o modo de relação de Jesus com o sofrimento dos doentes, dos pobres, dos desprezados, sejam eles pecadores ou publicanos, crianças silenciadas ou mulheres desprezadas.
Para o papa Francisco, urge “uma Igreja pobre e para os pobres” (EG 198) reais, não virtuais, numa opção pelos pobres espiritualista. Como disse numa obra social em Roma e repetiu no Brasil: “vocês, os pobres, são a carne de Cristo”2 (apud IRMÃS PAULINAS, 2013, p. 30). Os pobres prolongam a paixão de Cristo, na paixão do mundo (Leonardo Boff). Por isso, para o Papa, “é nas favelas, nas vilas miséria, onde se deve ir buscar e servir a Cristo” (ibid., p. 71)7. No Centro Astalli, respondendo algumas perguntas sobre “periferias existenciais”, o Papa encoraja os institutos religiosos com poucas vocações a não venderem os seus edifícios, mas abri-los aos necessitados. E acrescentou: “a realidade é melhor entendida a partir da periferia do que do centro, que corre o risco da atrofia” (BRIGHENTI: 2014, p. 18).
Em Evangelii gaudium, diante de tantas espiritualidades alienantes, o papa Francisco clama por um cristianismo encarnado: “mais do que o ateísmo, hoje se coloca o desafio de responder adequadamente à sede de Deus de muita gente, para que não busquem apagá-la com propostas alienantes ou em um Jesus Cristo sem carne e sem compromisso com o outro. Se não encontram na Igreja uma espiritualidade que os sane, liberte, os encha de vida e de paz, ao mesmo tempo em que os convoque à comunhão solidária e à fecundidade missionária, acabarão enganados por propostas que não humanizam, nem dão glória a Deus” (EG 89).
3. Sistema econômico-político e ecologia
Uma terceira questão sensível, colocada em relevo pelos censores do Documento de Aparecida, é com relação ao sistema liberal capitalista. Diz Y. Calvez que na Doutrina Social do magistério pontifício, com relação ao sistema coletivista marxista, a posição da Igreja foi sempre de uma intrínseca incompatibilidade com os princípios cristãos. Entretanto, diz ele, com o sistema liberal capitalista, sempre permaneceu um posicionamento ingênuo, no sentido de que ele é humanizável ou reformável, quando na realidade é tão contraditório com a mensagem cristã quanto o coletivismo marxista.
Na Conferência de Puebla, os Bispos da América Latina e Caribe, diferente do posicionamento ingênuo do magistério social pontifício, tomaram uma posição clara: nem coletivismo marxista e nem capitalismo, pois se o marxismo professa um ateísmo teórico e prático, o sistema capitalista, embora não seja teoricamente ateu, na medida em que coloca no centro o “ter” ou o lucro, é também ateu, pois professa um ateísmo prático.
O profetismo silenciado
Em Aparecida, em diversos momentos do processo de redação do Documento, se quis introduzir no texto uma análise mais contundente do sistema liberal capitalista, mas sempre esbarrou na oposição de determinados segmentos da assembleia. Entretanto, tanto no econômico como no campo político e no ecológico, o “texto original” tinha posicionamentos proféticos, mas que depois os censores matizaram ou suprimiram.
Com relação ao econômico, o “texto original” dizia: “Entretanto, segundo a Doutrina Social da Igreja, a Economia Social de Mercado continua sendo uma forma idônea de organizar o trabalho, o conhecimento e o capital, para satisfazer as autênticas necessidades humanas”. No “texto oficial” aparece: “Entretanto, segundo a Doutrina Social da Igreja, o objeto da economia é a formação da riqueza e seu incremento progressivo, em termos não só quantitativos, mas qualitativos: tudo é moralmente correto se está orientado para o desenvolvimento global e solidário do homem e da sociedade na qual vive e trabalha. O desenvolvimento, na verdade, não pode se reduzir a um mero processo de acumulação de bens e de serviços. Ao contrário, a pura acumulação, ainda que para o bem comum, não é uma condição suficiente para a realização de uma autêntica felicidade humana” (DAp 69). Com relação ao tráfico de droga, o “texto original” apontava para a raiz do problema — o sistema socioeconômico e cultural dos grupos dominantes, do qual são vítimas também os pequenos traficantes das favelas. Diziam os bispos: “É muito dolorosa a situação de tantas pessoas e, em sua maioria jovens, que são vítimas da voracidade insaciável de interesses econômicos de que comercializam a droga”. Os censores suprimiram o texto e abordam o problema na perspectiva da repressão ao tráfico por parte do Estado, da educação da juventude e da assistência aos drogados (DAp 422).
No campo político, os censores se mostram permeáveis à preocupação dos setores tradicionalmente dominantes, frente ao poder que os pobres vão gradativamente conquistando de modo democrático, sobretudo os indígenas. O “texto original” do Documento de Aparecida dizia: “Constatamos como fato positivo o fortalecimento dos regimes democráticos em muitos países da América Latina e Caribe, segundo demonstram os últimos processos eleitorais”. O “texto oficial” matiza: “Constatamos um certo processo democrático que se demonstra em diversos processos eleitorais” (DAp 74)
No campo da ecologia, não se explica porque os censores suprimiram do texto a referência às águas e aos recursos naturais. Dizia o “texto original”: “[…] não um planeta com ar contaminado, com águas envenenadas e com recursos naturais esgotados”. E, acrescentou-se: “Felizmente, em algumas escolas católicas, começou-se a introduzir entre as disciplinas uma educação em relação à responsabilidade ecológica” (DAp 471).
Papa Francisco: esta economia mata
Um mercado que tome em conta o social e o bem comum, as contradições do atual sistema econômico com os ideais evangélicos, assim como Estados, na história recente da América Latina, promotores de políticas públicas de inclusão social, são desqualificados pelos censores do Documento de Aparecida, mas não pelo papa Francisco. Na melhor tradição franciscana, o papa Francisco frisa que “o cristianismo combina transcendência e encarnação” (apud IRMÃS PAULINAS, 2013, p. 79)3. Por isso, diz aos jovens, no Rio de Janeiro: “ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo” (ibid., p. 39)4. É preciso tomar posição, ir à ação: “quero que a Igreja saia às ruas, defendendo-se de tudo o que seja mundanismo, instalação, comodidade, clericalismo, estar fechada em si mesma” (ibid., p. 44). Nem é preciso perguntar-se muito sobre o que fazer: “com as Bem-aventuranças e Mateus 25, 31-46 (parábola do juízo final), se têm um programa de ação” (ibid. p. 46). Para o Papa, o grande desafio para os cristãos, consequentes com o Evangelho da vida, é “não deixar entrar em nosso coração a cultura do descartável. Ninguém é descartável!” (ibid., p. 40). Por isso, “tenham a coragem de ir contra a corrente dessa cultura eficientista, dessa cultura do descarte” (ibid., p. 74). Em nossa sociedade, hoje, “a exclusão dos jovens e dos idosos é uma eutanásia oculta” (ibid. p. 44).
Isso não se resolve simplesmente apelando para milagres, curas, ações paternalistas ou saídas providencialistas. Em Evangelii gaudium, o papa Francisco frisa que “ninguém pode nos exigir que releguemos a religião à intimidade secreta das pessoas, sem influência alguma na vida social e nacional, sem nos preocuparmos com a saúde das instituições da sociedade civil, sem opinar sobre os acontecimentos que afetam os cidadãos”. E continua: assim como o mandamento de ‘não matar’ põe limite claro para assegurar o valor da vida humana, hoje temos que dizer ‘não a uma economia da exclusão e da falta de equidade’. Esta economia mata. É inadmissível que não seja notícia que morra de frio um idoso morador de rua e que seja notícia a queda de dois pontos na bolsa. E continua:
hoje, clama-se por segurança, porém, enquanto não se elimine a exclusão e a falta de equidade no seio de uma sociedade e entre os povos, será impossível erradicar a violência. Acusa-se da violência os pobres e os povos pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as diversas formas de agressão e de guerra encontrarão terreno fértil, que cedo ou tarde, provocará sua explosão. Quando a sociedade — local, nacional, mundial — abandona na periferia uma parte de si mesma, não haverá programas políticos nem aparato policial ou de inteligência que possam assegurar indefinidamente a tranquilidade.
Papa Francisco, Evangelii gaudium, n. 53
Chama atenção o papa Francisco nesta Exortação Apostólica que “isto ocorre não somente porque a falta de equidade provoca a reação violenta dos excluídos do sistema, mas porque o sistema social e econômico é injusto em sua raiz”. Parafraseando João Paulo II que afirmou a vigência de uma sociedade que gera “ricos cada vez mais ricos, à custa de pobres cada vez mais pobres”, o Papa diz que
enquanto os ganhos de uns poucos crescem desmesuradamente, os ganhos da maioria ficam cada vez mais distantes do bem-estar desta minoria feliz. Este desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle por parte dos Estados, encarregados de velar pelo bem comum. Instala-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe de forma unilateral e implacável suas leis e suas regras.
Papa Francisco, Evangelii gaudium, n. 56
Aqui está um complexo campo de ação dos cristãos, mas que é tarefa de todos os cidadãos. Não outra saída, “o futuro exige hoje a tarefa de reabilitar a política, que é uma das formas mais altas da caridade”, disse o Papa no Rio de Janeiro (apud IRMÃS PAULINAS, 2013, p. 80)10.
Com relação à ecologia, o papa Francisco também surpreende com a dedicação de uma encíclica sobre a questão — a Laudato si’ (LS) — introduzindo no magistério social pontifício a noção de “ecologia integral”, somando à compreensão do conceito em encíclicas anteriores, também os conceitos de “ecologia econômica”, “ecologia social”, “ecologia cultural” e “ecologia da vida cotidiana”. E de forma profética, inclui prioritariamente os pobres, que testemunham também sua forma de ecologia humana e social, vivendo laços de pertença e de solidariedade de uns para com os outros (LS 149). Para Francisco, faz-se necessária uma noção de ecologia “que integre o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a realidade que o circunda” (LS 15). Aspecto importante porque, “isto nos impede de considerar a natureza como algo separado de nós ou como uma mera moldura da nossa vida” (LS 139).
Na Encíclica Laudato si’, embora a palavra “capitalismo” não apareça, fica muito claro que para o papa Francisco os dramáticos problemas ecológicos de nossa época resultam das “engrenagens da atual economia globalizada”, engrenagens que constituem um sistema global, “um sistema de relações comerciais e de propriedade estruturalmente perverso”. Esta perversidade se deve a um sistema no qual predominam “os interesses ilimitados das empresas” e “uma discutível racionalidade econômica”, uma racionalidade instrumental que tem por único objetivo aumentar o lucro. Para o Papa, esta perversidade não é própria de um país ou outro, mas de “um sistema mundial, onde predominam a especulação e o princípio de maximização do lucro, e uma busca de rentabilidade financeira que tende a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade humana e o meio ambiente. Assim, se manifesta a íntima relação entre degradação ambiental e degradação humana e ética”. A obsessão do crescimento ilimitado, o consumismo, a tecnocracia, o domínio absoluto da finança e a divinização do mercado são outras características perversas do sistema. Em sua lógica destrutiva, tudo se reduz ao mercado e ao “cálculo financeiro de custos e benefícios”. Mas sabemos que “o meio ambiente é um desses bens que os mecanismos de mercado não são capazes de defender ou de promover adequadamente”. O poder “absoluto” do capital financeiro especulativo é um aspecto essencial do sistema, como revelou a recente crise bancária. O comentário da Encíclica é contundente: “a salvação dos bancos a todo custo, fazendo a população pagar o preço, confirma o domínio absoluto das finanças que não têm futuro e só pode gerar novas crises, depois de uma longa, custosa e aparente cura”.
Notas:
- Alocução no Encontro com o Episcopado Brasileiro, por ocasião de sua visita ao Brasil, no Arcebispado do Rio de Janeiro, dia 27 de junho de 2013.
- Expressão do Papa Francisco em pronunciamento feito por ocasião de sua visita ao Brasil, concretamente ao Hospital São Francisco de Assis na Providência de Deus, Rio de Janeiro, dia 24 de julho de 2013.
- Expressão recorrente nos pronunciamentos do Papa Francisco, que se remete à alocução feita por ocasião da visita à Comunidade de Varginha (Manguinhos), Rio de Janeiro, no dia 25 de julho, durante sua visita ao Brasil, em 2013.
- Alocução à “Classe dirigente do Brasil”, por ocasião de sua visita ao Brasil, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, dia 27 de junho de 2013.
Fonte:
Revista Pistis & Praxis, Teologia e Pastoral, Curitiba, v. 8, n. 3, 673-713, set./dez. 2016.