“Divisão de poderes” na Igreja promoveria maior reconhecimento dos leigos?

Cardeal Reinhard Marx, um dos membros do C6 do papa Francisco, reflete sobre a necessidade de haver maior divisão de poderes entre clérigos e leigos na dinamização da vida da Igreja. Será este o caminho para um maior reconhecimento dos leigos e leigas na vida da Igreja? Esta divisão ajudará a combater o abuso de poder e o clericalismo na Igreja?

Com texto é de Cameron Doody, publicado em periodistadigital.com e a tradução é de Edward Guimarães para o Observatório da Evangelização. Confira:

Marx defende maior “divisão de poderes” na Igreja entre cristãos leigos e ordenados

Cardeal Reinhard Marx

(Cameron Doody) – Isso é perfeitamente compatível com a teologia e a lei da igreja, pois, o Código de Direito Canônico “não é um manual para um Estado absolutista”. O cardeal Reinhard Marx tem defendido o que chama de maior “divisão de poderes” na Igreja, seja para combater os abusos do poder, seja o clericalismo que, segundo ele, têm sido uma das principais causas da crise da pedofilia ( e do dinamismo da vida paroquial e pastoral, acrescenta o tradutor, que é teólogo leigo, tendo presente a atual realidade eclesial brasileira).

O cardeal considerou que não adiantaria nada atribuir o problema da pedofilia à presença de homossexuais entre os clérigos, pois, em termos de cometer abusos “eles não correm mais riscos do que outros”.

Já faz bastante tempo que, na Igreja, há uma “co-determinação” (ou corresponsabilidade) compartilhada por clérigos e leigos, mas os fiéis têm a sensação de que isso ainda não chegou a acontecer na realidade eclesial e isso tem que mudar, defendeu Marx, nesta quinta-feira, 20/12/2018, em um discurso no Munich Press Club, Alemanha, cidade da qual ele é o arcebispo. De acordo com o que foi publicado por katholisch.de, web dos bispos alemães, o cardeal explicou que “desde agora” já seria possível para o papa e os bispos cederem de seu poder para que um leigo ou uma leiga se encarregasse de um Dicastério no Vaticano ou que fiéis não ordenados tomassem assento em tribunais eclesiásticos. Liderança na Igreja “não é uma questão de consagração, mas de competência”, disse o cardeal.

O presidente da Conferência Episcopal Alemã também sugeriu que outra possível resposta à crise de abuso poderia ser uma mudança da moralidade sexual católica, com a qual, em sua opinião, o papa Francisco está aberto, mas “não está tão comprometido”. Por outro lado, o cardeal considerou que não servirá para nada atribuir o problema da pedofilia à presença de homossexuais entre o clero que, em termos de cometer abusos, “não estão mais em risco do que outros”. Em vez disso, o cardeal está preocupado com a visão simplista de “forças que acreditam que não ter padres homossexuais consertaria o problema do abuso”.

O Cardeal Marx, em seu discurso, se referiu a outras questões atuais da Igreja, como a condenação do Cardeal Pell e a comunhão eucarística, em certos casos, acontecer junto entre cristãos católicos e protestantes.

No que diz respeito à primeira, o membro do “gabinete” dos cardeais do papa Francisco, agora conhecido como C6, diz que o cardeal australiano, considerado culpado de pedofilia, “não tem mais influência em Roma” por estar “praticamente inativo” desde que foi concedida sua saída no verão de 2017. Quanto à segunda, apesar do “espetáculo” que a hierarquia tem oferecido ao mostrar-se dividida quanto à idéia de que os cônjuges protestantes de fiéis católicos, em certos casos, venham a receber juntos a comunhão, Marx previu que prática será, em breve, habitual. “Isso será feito de qualquer maneira”, disse o cardeal.

Fonte:

www.periodistadigital.com