A Celebração eucarística foi presidida por Dom Carlo Verzeletti, bispo de Castanhal-PA. Após o café, às 9h, Dom José Antonio Peruzzo, arcebispo de Curitiba e presidente da Comissão Bíblico-Catequética da CNBB, proferiu a conferência “Do encontro com Jesus ao encontro com o irmão: viver em comunidade”.
Alguns destaques do conteúdo apresentado:
– A forma nominal “seguimento” não se encontra nos evangelhos. Seus autores empregam o verbo “seguir”.
– “Seguir Jesus” era uma realidade possível, cujo início dependia, fundamentalmente, de um encontro pessoal com Ele. Sem burocracias, sem pré-requisitos.
– O que se afigurava um encontro ocasional se tornou comunhão de vida e até participação plena na mesma causa dele. Nestas linhas, além de dialogar com os evangelistas, tendo diante dos olhos a suas palavras, é a Palavra de Deus que nos vai ensinar sobre o seguimento.
– No evangelho de Mc 1,16-20 o tema do seguimento está entre as primeiras palavras pronunciadas por Jesus. Isto é já sinal de que estamos ante uma das questões mais caras aos evangelistas. Viu e lhes pronunciou a palavra-convite. Aquele olhar e aquela palavra assinalaram um fim e um começo: deixaram de ser pescadores de peixes. Começou o caminho dos pescadores de homens.
– Em Jo 1,35-39 – a resposta “Vinde e vede” (1,39) não propõe um endereço. Oferece-lhes sua relação de convívio. Isso não se aprende por informação, nem por lição vinda de um mestre. É por experiência, é mediante o encontro pessoal.
– E o seguimento continuou. Jesus, caminhando à beira do mar, viu… chamou… E eles, imediatamente, deixaram as redes e o seguiram (Mc 1,16-18). Assim também com Levi: “Ele se levantou e seguiu-o” (Mc 2,14). Algo semelhante aconteceu nos relatos de João. Apenas um exemplo: “Os dois discípulos ouviram esta declaração de João Batista e passaram a seguir Jesus” (Jo 1,37). Na realidade, os evangelistas querem estimular o leitor à adesão a Jesus. Por isso, aceleram o tempo da história. Mas houve um processo. Houve um caminho começado. E continuado até com dificuldades.
– O evangelista tem sempre ante seus olhos o leitor. A ele quer aproximar a história e os passos dos discípulos. Expõe seus caminhos, tropeços, e novos caminhos. Chegamos ao lava-pés (Jo 13,1-11). Impressionam o vs. 4-5. São vários verbos no presente: “Levanta-se… depõe o manto… cinge-se… derrama água na bacia…pôs-se a lavar… a enxugar”. Na língua grega isso significa que aqueles mesmos gestos e significados continuam a valer para o tempo do leitor. Pedro não entendera todos aqueles ritos. Referiu-se a Jesus como “Senhor”, mas custava-lhe ver Jesus com avental, água, toalha… Vê-lo como soberano não requer nova mentalidade. No seguimento Pedro seria interpelado a colocar o avental…, fazer-se e lavar os pés dos irmãos (Jo 13,13-17). É o caminho do discípulo.
– A fraternidade entre os seguidores de Jesus é uma verdade constitutiva do discipulado. Ou seja, se esta faltar não há mais seguimento.
– O mandamento novo “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos…” não tem alcance cronológico, mas qualitativo. Por outro lado, o complemento “assim como eu vos amei” aponta para o fundamento que sustenta a missão de amar-se uns aos outros. Este decorre da experiência de amor que eles, discípulos, terão tido com Jesus. É ele a causa do amor entre eles. A amizade com Jesus, por eles experimentada, não é apenas comparação. É a realidade fundante.
– A Igreja no Brasil está a pedir a seus filhos que recomecemos a partir de Jesus Cristo. Nossa vocação e missão apontam para o encontro com Ele e com o irmão. Ou seja, para experiências comunitárias e eclesiais de seguimento.
– É hora da fé e da esperança no caminho da Iniciação à Vida Cristã. Os evangelistas parecem ter percebido isso desde seus primeiros escritos. Pedem que não nos atrasemos.
Após o intervalo, a palavra foi dada ao professor Moisés Sbardelotto para a conferência: “A catequese na era digital: novas linguagens, novos processos de comunicação”.
Alguns destaques do conteúdo:
- Não está em questão o uso de tecnologias, o que está em jogo é uma cultura nova que vai além do uso de tecnologias. A Igreja é convidada a repensar os seus processos de comunicação.
- Não é uma questão de oferecer receitas para a catequese. Temos uma Igreja diversa, não adianta dar receitas porque a longo prazo não servirá. Não iremos refletir sobre o uso de maquinário técnico, o mais importante é entender as lógicas que movimentam isso. A cultura digital tem facetas próprias em vários locais.
- Em 30 anos a transformação no mundo foi enorme. Também a Igreja mudou sua maneira de fazer comunicação. Alguns dados importantes:
Dados sobre o Brasil:
-Dos 210 milhões de habitantes, metade usa internet.
-130 milhões usam mídias sociais
-O tempo médio de uso da internet é de 9 horas de uso por dia.
Uso específico em mídias sociais: 4 horas por dia.
É importante pensar esses dados à luz da fé.
- A ferramenta mais utilizada é o YouTube, depois Facebook, Messenger, Instagram. São as principais.
- Cresce o número de crianças e adolescentes conectados só pelo celular. A maioria não assiste televisão. O computador fixo também diminuiu o uso. 44% consomem informações via celular. 85% usou a internet ao menos uma vez em 3 meses. Também em classes de renda baixa.
- Os maiores medos das novas gerações: não ter WiFi, ficar sem internet, ficar sem bateria.
Características dessa cultura digital
.Cultura sintética (digitalização de tudo).
– Cultura da convergência.
– Da multimídia à transmídia.
Vivemos nessa cultura digital, do link. Fala-se em transmídia. Verificar como cada uma pode ajudar no processo comunicacional.
.Cultura da conectividade
– Somos Aldeias globais.
– Mutação da relação com o conhecimento e com o outro: “inteligência coletiva” e “intercriatividade”.
.Ubiquidade
– A rede em toda a parte ao mesmo tempo. “Aqui, agora, já”. Mobilidade.
– Cultura instantânea, simultânea, “presenteísta”.
.Autonomia
– “Autocomunicação de massa” M. Castells
– “O amador ocupa o espaço livre entre o profano e o especialista” P.Flichy
– Cultura da participação.
– Cultura maker.
Se a catequese não circula no espaço digital, amadores ocupam este espaço. Quem é cultura da participação não suporta ficar sentado, precisa participar. O debate é mais precioso. É uma cultura do fazer.
Crianças querem fazer, colocar a mão na massa, também adolescentes e jovens.
Inculturação digital
– Pela inculturação, a Igreja “introduz os povos com as suas culturas na sua própria comunidade”, porque “cada cultura oferece formas e valores positivos que podem enriquecer o modo como o Evangelho é pregado, compreendido e vivido” (EG 116).
– É preciso ver o que há de positivo na cultura digital e como ela pode enriquecer a catequese. Não significa trazer tecnologia para dentro da Igreja e da catequese, mas as formas, os valores dessa cultura…
– A Igreja tem reflexão interessante sobre isso. Basta acompanhar as mensagens dos dias mundiais das comunicações sociais, por exemplo. A mensagem do próximo ano irá tratar sobre “Comunidades em rede e comunidades eclesiais”.
– A Igreja não só reflete, mas tenta encarnar o que propõe:
.março 95 – Vaticano lança um site.
.Papa João Paulo II enviou um primeiro e-mail, em novembro 2001, aos bispos do mundo inteiro.
.Papa Bento XVI inaugura sua página no Twitter. O primeiro papa que fala em nome próprio na cultura digital (dezembro de 2012).
.Papa Francisco continuou usando essa página no Twitter – O papa é o primeiro colocado na lista de líderes mundiais mais seguidos. Em março de 2016, criou sua conta no instagram.
É a tentativa de aproximar a Igreja nas redes.
Interfaces entre a catequese e a cultura digital
Didático-informativa
A internet é um “banco de dados” e ”memória sociocultural”. Que bom se a catequese puder se aproveitar disso, das imagens, dos textos. Os assuntos do momento também podem ser utilizados como sinais dos tempos…
O celular pode ser utilizado como recurso. Como aproveitar o celular como recurso catequético? Usar para fotos, para pesquisa…
Aplicativos podem ser desenvolvidos.
– Sombras:
- Hiperinformação e infoxicação.
- Fake News e desordem informacional (falso + nocivos). Mistura maldade, agressão.
“Na atualidade temos excesso de informação e insuficiência de organização, logo carência de conhecimento (E. Morin).
Os nativos digitais sabem usar a tecnologia, mas precisam ser educados no uso delas. Temos muita informação, mas o que se faz com ela para gerar conhecimento é que é a questão.
– Luzes:
– Que os encontros possam organizar e ressignificar: deslocamento do doutrinal para o experiencial/vivencial. Ensinar a exigência irrenunciável do amor ao próximo (EG 161).
– Catequese querigmática e mistagógica (EG 160). A catequese pode ajudar a ler o que se vivencia em rede.
– Alfabetização midiática, presença significativa, ativa, autocritica e cristã. Formar para a informação.
– Discernimento: examinar, priorizar, escolher, decidir. Ajudar a ver quais prioridades tenho no dia a dia, a quem seguir, a quem bloquear
– Verdade – beleza – bem comum – são os critérios.
Psicopedagógica
– Identificação e significação da pessoa. Fazer esforço para conhecer o perfil dos catequizandos e o contexto cultural em que estão inseridos. Podemos conhecer mais coisas das pessoas do que no presencial. Não é bisbilhotar a vida dos catequizandos, mas ver o que a rede nos apresenta sobre essa pessoa, se comunica a pessoa do catequizando. Tudo que se faz em rede não é neutro. Estamos falando sobre nós mesmos quando falamos em rede.
– É preciso colocar um ouvido no megafone que são as redes sociais e ouvir o que os catequizandos estão confessando sobre si. Captar a riqueza, valores, possibilidades…
– Ficar à escuta do povo para descobrir aquilo que os fiéis precisam ouvir. Um pregador é um contemplativo da Palavra e também um contemplativo do povo. Nunca se deve responder a perguntas que ninguém se põe (EG 154-155). Olhar as redes e ver quais perguntas aparecem sobre os catequizandos.
Sombras:
– Quanto sofrimento há na rede, ciberlullyng, pornografia, boatos, fraudes, isolamento…
– Supervelocidade: aceleração do tempo e perda de memória.
– Bolhas informacionais: mais do mesmo.
Luzes:
– Arte do acompanhamento espiritual: também nas redes sociais…
Ajudar a refletir o que se viu, o que os catequizandos postam.
– Nem tudo é bobagem no que a pessoa posta na rede. É ela que está se revelando.
– Somos chamados a formar as consciências, não pretender substituí-las (AL 37).
– Num tempo tão veloz podemos propor a lentidão, propor o jejum tecnológico, o deserto digital.
Sociocomunitária
Como a rede pode nos alimentar nas relações? É preciso ver as redes como facilitadoras e potencializadoras de comunidades.
– Podemos fazer teleconferências e intercâmbios catequéticos: uma catequese na diversidade, encontro com lideranças.
– Sala de catequese expandida: abertura à sociedade e ao mundo. Ruas e redes….
– “Gesto concreto digital”: doar tecnologias para periferias.
O Papa Francisco falou com um grupo de crianças do mundo inteiro. A maneira como foi realizada a preparação para o sínodo com seminários online também foi uma inovação.
Teológico pastoral (algumas indicações)
– Oração via internet e aplicativos.
-Pregrinação virtual (visita a museus religiosos, viagem online à terra santa, caminhar pela terra santa via aplicativo)
– Buscar e encontrar Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus (Santo Inácio). Deus já age nas redes sociais antes de nós. Como perceber sua presença nesses ambientes é nossa tarefa.
– Dar testemunho em rede. O testemunho cristão nas redes não se faz com o bombardeio de mensagens religiosas, mas com a vontade de se doar aos outros, atento às suas questões. Ter coerência dentro e fora dos encontros catequéticos.
Após o almoço, os participantes foram divididos em 20 novos grupos para uma experiência de vivência bíblica. Cada grupo recebeu um texto bíblico e teve a assessoria para a reflexão e vivência do mesmo.
Após o café, às 16h30, os participantes retornaram ao auditório para uma conferência de Dom Otávio Ruiz Arenas, secretário do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização (o resumo da sua conferência estará em outro texto).
Após o jantar, foram feitas homenagens a alguns entre os grandes colaboradores e colaboradoras da caminhada da catequese:
- Ir. Israel José Nery
- Therezinha Motta Lima da Cruz
- Marlene Maria Silva
- Dom Francisco Javier
- Pe. Luiz Alves de Lima
Gratidão por todo empenho, dinamismo, reflexão e por todo o trabalho feito pela catequese no Brasil.
Fonte: