Na festa de Corpus Christi, inspirado em Rubem Alves, o teólogo Elias Wolff partilhou instigante poema sobre sua fé da ressurreição do corpo, vale a pena deixar-se iluminar… E você, provocado pela beleza deste poema e por sua fé no Deus de Jesus, o que pensa sobre esta temática tão importante de nosso esperançado viver?
Creio na ressurreição do corpo
Por Elias Wolff
Creio na ressurreição do corpo
que morre na frustração do presente
corpo que sente, que chora, que ri, que estremece desconcertado
diante do Mistério da existência, atitudes de temor, reverência.
É o corpo que trabalha e se cansa na fadiga das labutas
o corpo que dança, que salta, que cai
corpo que reclama a dor e reclama também o amor.
É o corpo de Deus, humanizado, nas lágrimas ungido
e por amor padece, à sepultura desce, sofre o frio na mansidão dos mortos
corpo de Deus, no pecado amaldiçoado, na cruz pregado,
corpo solitário, por todos abandonado.
Eu creio na ressurreição do corpo.
No corpo habita Deus, em cada criatura sua
templo do divino, sacrário, lugar de adoração.
No corpo rezamos, louvamos, agradecemos
Deus é cultuado, às vezes profanado
no corpo pecamos, contradição.
Somos corpo, não o corpo sacrificado na idolatria,
perseguido na heresia, viciado na malícia.
Sim o corpo transfigurado, manifestação do divino
Vive da fé e da esperança, no Corpo do Ressuscitado.
O corpo que reza “Mostra-me tua face, Senhor”
a Deus reconhece habitando em outros corpos, em muitas formas:
no corpo que tem fome, tem sede, está nu, doente, preso…
no corpo caído à margem de nossas memórias
no corpo prostituído, sacrificado, consumido
corpo que sofre a repressão, anseia libertação.
Ressurreição do corpo é transformação da história.
No corpo somos mundo, humanos em todo o viver
no corpo somos espírito, vocação divina para ser.
Corpo vivente é espírito encarnado, onde a alma é acariciada,
corpo/alma choram, padecem, de dor e de prazer
fortalecidos nos gestos de amor, miseráveis no pecado e na dor
necessitados de fé para ser mais
carentes de acalanto para não perecer.
Corpo acabrunhado no pecado e na injustiça
sente culpa, remorso, sofre a solidão.
Corpo que enfraquece, padece, anseia redenção
insatisfeito com momentos de viver,
é corpo que aspira amar, mesmo sem lucidez.
Nesse corpo ressuscitaremos.
Elias Wolff
Programa de Pós-Graduação em Teologia – PUCPR
Coordenador do Núcleo Ecumênico e Inter-religioso – PUCPR
Bolsista Produtividade CNPq