“Concretizar a sinodalidade do processo como metodologia eclesial” – Dom Cláudio Hummes

“Procuremos desenvolver o espírito e a prática sinodais” nas comunidades. O presidente da CEAMA enfatiza a urgência de treinar futuros pastores indígenas ordenados e incentiva os bispos a avançar no caminho da inculturação da fé. O cardeal Hummes também assinalou outras necessidades, tais como a criação de uma Universidade Católica Pan-Amazônica, insistindo no apoio do CELAM e da REPAM.”

Retomar e implementar as tarefas da CEAMA para 2022, “em favor da missão da Igreja na nossa querida Panamazônia”. Este foi o objetivo da mensagem em vídeo lançada pelo Cardeal Claudio Hummes, presidente da entidade.

Em um caminho legitimado e iluminado pelo Sínodo para a Amazônia e seus documentos norteadores, assim como pela criação e reconhecimento canônico da CEAMA, o cardeal brasileiro chama a “caminhar juntos, respeitando as nossas legítimas diferenças, e mantendo-nos em rede entre nós e em comunhão jubilosa e real com nosso querido Papa Francisco”.

Para o presidente da CEAMA, a sinodalidade deve ser a metodologia eclesial, na qual todos participam, procurando ser uma “Igreja em saída”, que “derruba os muros e constrói pontes para chegar e escutar a todos, com prioridade aos pobres”, insistindo em alcançar os povos indígenas e com eles buscar os avanços necessários.

O Cardeal Hummes chamou a ” socializar o que cada comunidade está fazendo e inspirar as demais em seu próprio trabalho”, lembrando a necessidade de “elaborar e pôr em prática um Plano de Pastoral de Conjunto”, algo que já está sendo feito e que “quer tornar real uma pastoral missionária de uma Igreja que visa não somente as comunidades e pessoas humanas, mas toda a criação, a natureza, numa ecologia integral”.

Dom Cláudio também fez um chamado a assumir a preservação do meio ambiente e que “procuremos desenvolver o espírito e a prática sinodais” nas comunidades. O presidente da CEAMA enfatiza a urgência de treinar futuros pastores indígenas ordenados e incentiva os bispos a avançar no caminho da inculturação da fé. O cardeal Hummes também assinalou outras necessidades, tais como a criação de uma Universidade Católica Pan-Amazônica, insistindo no apoio do CELAM e da REPAM.

Finalmente, Dom Cláudio enfatizou a importância do trabalho diário nas comunidades locais, insistindo que “é ali que se deve escutar as bases e com elas elaborar e realizar concretamente o básico do que nos pede todo este processo sinodal”.

Por Luis Miguel Modino – Regional Norte 1

MENSAGEM DO PRESIDENTE DA CEAMA PARA INÍCIO DE 2022

Caros amigos e amigas, irmãos e irmãs, quem lhes fala aqui é Dom Cláudio Hummes, atual presidente da Conferência Eclesial da Amazônia, a CEAMA. Permitam-me dirigir-lhes a seguinte mensagem neste início de ano. Terminadas as comemorações natalinas e da passagem do ano, importa retomar e implementar, na luz do Espírito Santo, as nossas tarefas de CEAMA para o transcurso do ano de 2022 em favor da missão da Igreja na nossa querida Panamazônia.

O Sínodo para a Amazônia e seus documentos orientadores, bem como a criação e o reconhecimento canônico da CEAMA, legitimam e iluminam o nosso caminho. Este caminho deverá ser um “caminhar juntos”, respeitando as nossas legítimas diferenças, e mantendo-nos em rede entre nós e em comunhão jubilosa e real com nosso querido Papa Francisco.
No “caminhar juntos” importa concretizar a sinodalidade do processo, como metodologia “eclesial”, isto é, em que participam na qualidade de sujeitos não apenas os pastores, mas também as demais categorias do Povo de Deus, ou seja, consagrados e leigos, com suas múltiplas formas de se organizarem.

Já disse numa mensagem anterior que, neste sentido de realizar o sínodo, já se está fazendo muita coisa nas comunidades locais, sejam da população sejam da Igreja. A presente mensagem quer animar a todos a continuar este trabalho e pedir que seus relatórios sejam levados a nossa rede de comunicação, através da secretaria executiva da CEAMA, que tem sua sede no CELAM, em Bogotá. Isso tornará possível socializar o que cada comunidade está fazendo e inspirar as demais em seu próprio trabalho.

Como eu disse acima, é preciso continuar corajosamente este nosso trabalho na Panamazônia, com alegria e muita oração. A bênção de Deus não nos faltará. Só para lembrar algumas dessas tarefas, cito especialmente aquela que Aparecida e depois o sínodo sublinharam, isto é, elaborar e pôr em prática um Plano de Pastoral de Conjunto. Estamos já fazendo isto, mas ainda não terminamos.

Dentro deste horizonte, recordemos que este plano de pastoral envolve e quer tornar real uma pastoral missionária de uma Igreja que visa não somente as comunidades e pessoas humanas, mas toda a criação, a natureza, numa ecologia integral, segundo as orientações do Papa Francisco, em que é importante, nessa ecologia integral, nessa pastoral, lutar também pela preservação do território, do Planeta, porque é obra de Deus e porque de sua saúde, da saúde do Planeta, depende nosso futuro.

Por isso, continuemos firmes na luta em favor da preservação das florestas, a luta contra a contaminação do ar, do solo e das águas dos rios, lagos e nascentes. A proteção das nascentes é fundamental. Vamos promover o reflorestamento, onde for o caso, e a descontaminação das águas, do solo e do ar. Sejamos também força de resistência, quando nossos governos devastam a natureza. Na população de nossas cidades situadas junto às florestas, vamos desenvolver a consciência de que a floresta não é obstáculo ao progresso; ao contrário, a floresta em pé pode produzir mais riquezas do que quando a abatemos.

Em todas as nossas comunidades procuremos desenvolver o espírito e a prática sinodais. Isso poderá ser até mesmo uma contribuição concreta e já em andamento para o próximo Sínodo Ordinário dos Bispos, de 2023, que o Papa convocou para refletir sobre a sinodalidade de toda a Igreja.

Outra tarefa urgente e fundamental é a formação de futuros pastores ordenados indígenas (bispos, padres, diáconos), bem como de ministros indígenas instituídos e catequistas. Os bispos de cada país panamazônico poderiam reunir-se para planejar sobre como realizar isto em seu país. Seria um passo decisivo para o processo de uma verdadeira inculturação da fé. Por que, quem melhor do que os próprios indígenas para inculturar a fé em suas culturas? Que serão processos de médio e longo prazo.

Outra tarefa ampla, complexa e que demandará seu devido tempo, é a criação de uma universidade católica panamazônica. Ela demandará da parte de Roma a criação de uma Fundação Pontifícia. Também pressupõe a formulação, a médio prazo, de um projeto inovador, elaborado com a ajuda de especialistas do setor, criativos e interessados. Este projeto de universidade está em andamento, sim, sendo levado avante por um comitê de promoção, mas precisa muito de nosso apoio e principalmente do apoio de nossas universidades católicas.

Contamos também com a colaboração das Agências Católicas Internacionais de Ajuda e com os setores universitários internacionais contatados pela REPAM quando a CEAMA ainda não existia.

Dentro de todo este processo precisamos do apoio e da colaboração do CELAM, que acaba de realizar uma bem sucedida Assembleia Eclesial da Igreja na América Latina e Caribe. A REPAM, por sua vez, certamente estará sempre conosco, lado a lado.

Contudo, volto a dizer que no dia a dia importa o trabalho nas comunidades locais. É ali que se deve escutar as bases e com elas elaborar e realizar concretamente o básico do que nos pede todo este processo sinodal.

Termino, agradecendo a Deus a sua bênção inspiradora e a todos os colaboradores a sua participação. E vamos em frente!

Cardeal Dom Cláudio Hummes, O.F.M.

Presidente da CEAMA