Foi realizada, no dia 26 de junho de 2020, reunião virtual com diversas entidades, serviços, pastorais e obras da Igreja Católica no Brasil com o objetivo de fortalecer, no país, a articulação da “Rede Clamor”, ou Rede Latino-americana e do Caribe para a Pastoral de Migrantes, Refugiados e vítimas do tráfico. A articulação surgiu em 2016 com o apoio do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) por meio de seu Departamento Justiça e Solidariedade (DEJUSOL).
Segundo o o bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, trata-se de uma iniciativa que conta com o apoio da entidade e visa fortalecer a união e a articulação dos serviços que atuam junto à pessoas e grupos que são forçadas a abandonar suas raízes, migrar para outras localidades e se refugiar em outro locais e países, muitos até mesmo em situação de tráfico humano. Na Igreja no Brasil, segundo levantamento inicial dos participantes, estima-se que existam mais de 100 obras e serviços que atuam nesta causa.
Dom Joel informa que o primeiro passo acordado para fortalecer a articulação é a formalização de um convênio entre a CNBB e as entidades que atuam nesta frente no país. A Rede Clamor ficará vinculada ao trabalho que realiza a Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB.
Sete ações integram o trabalho que buscará fortalecer a Rede Clamor no Brasil:
- 1) Partilhar as diferentes experiências no trabalho com migrantes, refugiados e tráfico humano;
- 2) Formar agentes de pastoral na Igreja no Brasil;
- 3) Produzir subsídios;
- 4) Desenvolver campanhas de mobilização e conscientização sobre o tema;
- 5) Estimular ações concretas que visam defender as pessoas forçadas à migração, refúgio e ao tráfico humano;
- 6) Celebrar as datas significativas;
- 7) Mapear os serviços e obras, especialmente os da Igreja Católica no país, que atuam na área.
Duas datas mobilizarão a Rede Clamor no Brasil no segundo semestre deste ano:
a) Dia Nacional do Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, celebrado no próximo 30 de julho;
b) 106ª Jornada Mundial do Migrante e Refugiado, em setembro.
Ao acolher a articulação da Rede Clamor no Brasil, o secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella, faz coro às palavras do papa Francisco, na homilia da celebração de Corpus Christi deste ano:
É necessário urgência no cuidado daqueles daqueles que têm fome de comida e dignidade, daqueles que não têm emprego e lutam para avançar. E fazendo-o de maneira concretamente.
Do Brasil, participaram da reunião o secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, representantes da Comissão episcopal pastoral para a ação sociotransformadora da CNBB, do Serviço pastoral dos migrantes (SPM), da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), da Cáritas Brasileira, do Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados (SJMR), do Instituído Migração e Direitos Humanos (IMDH) e padres e religiosas Scalabrianos.
Uma série de atividades marcaram a celebração do Dia Mundial do Refugiado na Igreja no Brasil
No dia 20 de junho de 2020, a Igreja no Brasil marcou o Dia Mundial dos Refugiados com uma série de programações e debates sobre a situação das pessoas que são forçadas a deixar sua terra e seu país em função de crises econômicas, perseguições, violências e desastres ambientais.
Segundo dados divulgados pelo Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), na 4ª edição do relatório “Refúgio em Números”, o Brasil reconheceu, apenas em 2018, um total de 1.086 refugiados de diversas nacionalidades. Com isso, o país atinge a marca de 11.231 pessoas reconhecidas como refugiadas pelo Estado brasileiro. Desse total, os sírios representam 36% da população refugiada com registro ativo no Brasil, seguidos dos congoleses, com 15%, e angolanos, com 9%.
O ano de 2018 foi o maior em número de solicitações de reconhecimento de condição de refugiado. Isso porque o fluxo venezuelano de deslocamento aumentou exponencialmente. No total, foram mais de 80 mil solicitações no ano passado, sendo 61.681 de venezuelanos. Em segundo lugar está o Haiti, com 7 mil solicitações. Na sequência estão os cubanos (2.749), os chineses (1.450) e os bengaleses (947). Os estados com mais solicitações em 2018 são Roraima (50.770), Amazonas (10.500) e São Paulo (9.977). Para se ter uma ideia do crescimento de solicitações, Roraima recebeu quase 16 mil solicitações em 2017 – um aumento de mais de 300% se comparado com o ano passado.
Em sua 106ª Mensagem ao Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados, publicada em Roma, em São João de Latrão, na memória de Nossa Senhora de Fátima, 13 de maio de 2020, o papa Francisco convida a Igreja e o mundo a voltar seus olhares ao drama dos povos deslocados dentro da sua própria nação. Um drama, segundo o Santo Padre, – muitas vezes invisível – que a crise mundial causada pela pandemia do Covid-19 exacerbou. O Dia Mundial do Migrante e Refugiado é celebrado, pela Igreja no mundo, em 27 de setembro de 2020.
“À luz dos acontecimentos dramáticos que têm marcado o ano de 2020 quero, nesta Mensagem dedicada às pessoas deslocadas internamente, englobar todos aqueles que atravessaram e ainda vivem experiências de precariedade, abandono, marginalização e rejeição por causa do vírus Covid-19″, afirma o papa Francisco na mensagem.
Mensagem do presidente da CNBB
Em mensagem, no link abaixo, o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, afirma que ao olhar para cada migrante e refugiado é necessário enxergar um irmão e uma irmã que veio de um outro lugar com hábitos e costumes diferentes. Os refugiados, segundo dom Walmor, integram e formam a família da humanidade.
O presidente da CNBB chamou a atenção para o fato de que cresce a liberdade para a circulação de mercadoria ao mesmo tempo em que se multiplicam as perseguições aos migrantes e refugiados:
“Os objetos e bens são mais valorizados que as pessoas. Falta solidariedade a quem precisa deixar seus países por conta da miséria, de guerras, perseguições religiosas e tantas outras formas de violência”, disse.
35ª Semana do Migrante
A Igreja no Brasil se soma à celebração do Dia Mundial do Refugiado que acontece dia 20 de junho dentro da 35ª Semana do Migrante, cujo início foi marcado por celebração de abertura no último dia 14 de junho, com a missa de abertura presidida por dom José Luís Ferreira Salles, bispo da Diocese de Pesqueira (PE), responsável pelo setor de Mobilidade Humana da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes. A programação, que envolve diversos serviços, pastorais e organismos da Igreja católica no Brasil, se estende até o dia 21 de junho.
Este ano, a 35ª Semana do Migrante trouxe o seguinte lema bíblico: “Onde está teu irmão, tua irmã?”. O evento, há mais de três décadas, mobiliza pessoas, grupos e comunidades para ações que promovam acolhida, integração, defesa de direitos, além de partilha, no campo das experiências sagradas e multiculturais de todos os povos. Segundo a irmã Rosita Milesi, da congregação das Scalabrianas e diretora do Instituto de Migrações e Direitos Humanos, em sua 35ª edição, diante do cenário de crescentes fluxos migratórios, da crise sanitária e social que se intensificou para a população migrante no Brasil, com a pandemia de Covid-19, a iniciativa propôs o tema Migração e acolhida.
Para a religiosa a pergunta “Onde está teu irmão, tua irmã?” nos reporta à família humana, à qual todos e todas pertencemos:
“É uma pergunta provocadora, pois é a revelação do compromisso que temos uns para com os outros, sem esquivar-nos da corresponsabilidade frente às necessidades das irmãs e irmãos migrantes e refugiados. E este compromisso que a todos e todas envolve, enquanto membros da mesma família humana é um apelo, um clamor neste tempo de enfrentamento do COVID-19 e seus efeitos junto às pessoas mais vulneráveis – os refugiados, os migrantes, os empobrecidos, os desempregados. É urgente que cuidemos de quem tem fome de comida e de dignidade, diz o Papa Francisco. E que este cuidar seja real, concreto, efetivo”, afirmou.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de sua Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora, integrou a programação junto a outros organismos e serviços da Igreja. Uma série de atividades aconteceram voltadas para compreender e discutir especialmente a realidade dos migrantes e refugiados no Brasil.
Uma delas aconteceu no dia 20 de junho, às 17h, virtualmente e é organizada pelo Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados. Trata-se do festival “Tantos Somos, Somos Um”. Segundo o padre jesuíta Agnaldo Júnior, um dos coordenadores do festival, o objetivo foi celebrar a solidariedade, o amor e a esperança em dias melhores por meio da arte, do encontro e da união entre os povos.
O festival, que englobou performances, poesia, música e dança, foi realizado pelo Serviço Jesuíta ao Migrante e Refugiado (SJMRBrasil). O evento foi transmitido pelo fc.com/sjmrbrasil.
Em outra iniciativa, organizada pela coordenação do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a pessoas puderam acompanhar, virtualmente, a exposição “Em Casa, no Brasil”. O internauta pode entrar, virtualmente, e conhecer uma casa real da Agência da ONU para os refugiados. No Brasil, a ONU disponibiliza 1.200 casas como a conhecida na exposição.
O lançamento aconteceu dia 21 de junho, às 9h. O projeto é concebido pela ONG Estou Refugiado e realizada com o SESC-SP. A exposição virtual mostrou por dentro como é uma Unidade de Habitação do ACNUR, casa utilizada para abrigamento de pessoas em contextos de emergência, e traz depoimentos de pessoas refugiadas que passaram a se sentir em casa no Brasil.
Programação do que aconteceu no Dia Mundial do Refugiado, 20 e 21 de junho de 2020:
- Live Musical com participação de cantores do Brasil, Haiti, Venezuela, Cuba e Síria – às 20h;
- Pronunciamento da Rede CLAMOR, vinculada ao Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), da qual o Brasil faz parte;
- Ações desenvolvidas sob a coordenação do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), com a participação de várias entidades religiosas, em www.acnur.org;
- Festival “Muitos somos, somos um” – dia 20, às 17 horas, com realização do Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados, pode ser acessado aqui: https://sjmrbrasil.org;
- Celebração Eucarística, dia 21, às 9h30, com dom Mario Antônio da Silva, bispo de Roraima (RR) e segundo vice-presidente da CNBB;
- Web-conferência: Dia Mundial do Refugiado, das 10 às 12, com o tema “Refúgio e Migração no Contexto da Pandemia”, promovida pelo Comitê Estadual Intersetorial de Atenção aos Refugiados, Apátridas e Migrantes de Rio Grande do Norte e participação da governadora do Estado.