As CEBs e os desafios de ser Igreja no mundo urbano
Nos dias 17 a 19 de março de 2017 aconteceu em Belo Horizonte o Seminário dos Assessores das CEBs dos estados de Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O tema refletido foi: As CEBs e os desafios de ser Igreja no mundo urbano.
A expectativa que tínhamos no início era de acontecer uma articulação, partilha, convivência, conhecimento, experiência das realidades do mundo urbano. Foi um seminário que nos apontou horizontes novos para enfrentar os desafios da cidade.
A reflexão partiu da partilha de experiências e, de modo especial, da exortação do Papa Francisco, no documento Evangelii Gaudium, e nos apontou pistas para a concretização de uma Igreja em saída, aquela que vai ao encontro das pessoas, sobretudo nas periferias existenciais humanas. Para isso, importa ser presença lá onde as pessoas estão, ir ao encontro delas. As CEBs precisam de outro olhar para a cidade. escutar e aprender com a própria dinâmica plural da cidade. Isso, porque, Deus está na cidade, está nas pessoas, especialmente nas crianças, jovens, idosos que são excluídas(os) da sociedade. Para que isso se concretize importa cuidar e aprofundar o nosso encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo e com a prática libertadora do Profeta do Reino, cultivando uma espiritualidade/mística que nasce da unidade entre a leitura popular da Bíblia e do irmanar-se nas diversas lutas dos movimentos populares de defesa da dignidade da vida que se multiplicam pelos diversos pontos da cidade e do campo.
A sociedade pode tirar a vida, mas Cristo chama as CEBs a ser fermento, a ser presença viva e promover a dignidade da vida na cidade, valorizando o ser humano, a casa comum, que é o planeta criado como nossa morada.
Nas oficinas refletimos sobre os desafios das CEBs na comunicação, ecologia, juventudes, gênero humano e ministérios leigos. Descobrimos que para comunicar é preciso escutar as experiências e acreditar no nosso jeito de ser Igreja para transmitir, com convicção, a Boa Nova do Reino de Deus.
- Será que ouvimos as bases?
- O que fazemos é para eles ou com eles?
- Será que comunicamos nossas ideias ou escutamos as experiências das bases?
Também, outro desafio são as juventudes. Descobrimos que precisamos ser presença no meio dos jovens.
- Será que as CEBs estão dispostas a ir onde os jovens estão ou querem que eles venham ao nosso encontro?
A terra é nossa casa comum. Descobrimos que precisamos rever, com profundidade, provocados pela reflexão da ecologia integral, as relações que concretizamos.
- O que a Igreja está fazendo de forma efetiva para cuidar do planeta?
- Qual é a contribuição das CEBs nesse sentido?
- Como nossa comunidade de fé está administrando a relação de poder, refletindo as relações de gênero?
As relações humanas dentro da vida eclesial podem melhorar muito. Descobrimos que precisamos avançar na concretização da lógica evangélica do colocar-se a serviço do Reino, construindo no seio das CEBs relações humanas pautadas pela igualdade, justiça, inclusão social, promoção e valorização do que está a margem a partir da opção preferencial pelos pobres.
- Será que todos têm a igualdade na hora de decidir?
- Estamos avançando na direção de descolonização, descentralização e desclericalização, ou temos avançado pouco?
- Estamos caminhando para uma Igreja toda ministerial?
- Nossos leigos, de verdade, exercem o ministério como vocação batismal ou simplesmente como colaboradores do clero?
- Somos uma Igreja povo de Deus?
Constatamos que estamos construindo uma Igreja “como uma torre de Babel”, onde valorizamos mais nossa ideologia, nossa economia, nossa tecnologia, nosso poder e nossa política. A partir daí, foi possível comparar esse modelo de “torre” com as cinco oficinas, nas quais pudemos desconstruir esse modelo de “torre” e construir uma comunidade onde todos são valorizados que simboliza o “edifício espiritual”. Não é esse o sentido da conversão pastoral proposta pelo Papa Francisco?
Então, poderemos avançar: talvez, em vez de comunicar ideologia, poderemos comunicar o Evangelho. Também, no lugar de valorizar a economia, é possível investirmos na valorização da casa comum e na vida. Talvez, ainda, devamos valorizar o mundo da tecnologia, e com isso incentivar a juventude a assumir esse jeito de ser Igreja, através da técnica e da era digital. No mundo onde o poder é disputado, devemos transformar o poder e servir melhor na igualdade, na justiça e no amor.
Também precisamos avançar mais na comum-unidade entre o clero e os leigos para que sejamos uma Igreja a serviço e não do poder.
Em suma, há muitos desafios no mundo urbano e não precisamos pensar que estes são difíceis de ser enfrentados. Precisamos, sim, aprender fazer a experiência de Cristo e comunicá-lo, nessa casa comum, valorizando o ser humano, a partir da juventude, usando a economia, a política e a tecnologia a serviço de todos.
Pe. José Geraldo de Sousa
Assessor das CEBs da Arquidiocese de Belo Horizonte,
Belo Horizonte, 22 de março de 2017