Estamos assistindo a uma crescente cruzada promovida pelos católicos ultraconservadores, como nos recorda Mauro Lopes, contra o magistério de Pedro exercido pelo papa Francisco, especialmente por este retomar veementemente o espírito ecumênico e de reforma da Igreja encetado pelo Concílio Vaticano II e pela profética caminhada da Igreja dos pobres na América Latina em seu esforço de receber entre nós as intuições do grande Concílio a partir da injusta realidade social de nosso Continente.
Muitos cristãos católicos estão publicando preces, cartas, notas e mensagens de apoio ao papa Francisco e ao seu modo de conduzir o magistério de Pedro na vida da Igreja:
Papa sob ataque e ameaça de golpe: acusado de amor!
Outra onda de ataques dos católicos ultraconservadores, de perfil fundamentalista, contra o Papa está em pleno curso – começou na última terça-feira (30/04/2019). O objetivo é derrubar Francisco.
É a terceira tentativa de golpe da extrema-direita católica desde novembro de 2016.
A primeira foi quando quatro cardeais, os alemães Walter Brandmüller e Joachim Meisner, o italiano Carlo Cafarra, e norte-americano Raymond Burke, divulgaram uma carta privada que haviam enviado dois meses antes a Francisco. A carta ficou conhecida como “dubia” (dúvida), mas não apresentava dúvida alguma, era na verdade um ataque frontal à exortação apostólica Amoris Laetitia sobre o amor na família – especialmente pela abertura para que os casais de segunda união pudessem comungar.
A segunda aconteceu em setembro de 2017, quando um grupo de 62 teólogos e padres, igualmente de extrema direita, emitiram uma ‘Correctio filialis de haeresibus propagatis’ (literalmente, ‘Uma correção filial concernente à propagação de heresias’), que nada tinha de filial, era um novo e violento ataque ao Papa.
A terceira, agora, há alguns dias, quando um grupo de 19 teólogos e católicos fundamentalistas promove uma nova onda de ataques ao Papa acusando-o formalmente de “heresia” e, na prática, conclamando o colégio de cardeais a depor Francisco – a carta foi enviada a todos os bispos do mundo e especialmente aos 222 cardeais que compõem o colégio eleitoral papal.
“O texto ataca Francisco por supostamente amolecer a posição da Igreja em uma série de assuntos. Os autores dizem que o Papa não tem se declarado abertamente o bastante contra o aborto, tem sido muito hospitaleiro para com os homossexuais e tolerante demais com protestantes e muçulmanos.“
Não há nenhum brasileiro na lista de assinaturas da carta que concita à deposição de Francisco, mas os fundamentalistas católicos do país têm sido ativos na articulação global:
- em 2019, trouxeram ao país o cardeal Burke, o principal porta-voz da do grupo, e ele foi tratado como um santo, em meio a suas roupas milionárias, com um sem-número de capas e dobras;
- na última semana, veio ao Brasil o cardeal Gerhard Muller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, deposto pelo Papa em 2017, e novamente foi recebido em êxtase pela ultradireita. Recebeu salamaleques de ninguém menos que o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer.
As acusações ao Papa não são diferentes dos ataques que os fundamentalistas realizam no Brasil aos democratas, à esquerda e, historicamente, à Teologia da Libertação.
No ataque de agora, há uma ampliação do escopo das críticas ao papa Francisco. Elas soam como inacreditáveis para qualquer pessoa minimamente tolerante, aberta ao outro, mas estão lá. Quais são as mais significativas?
- O Papa defende o direito à comunhão de pessoas divorciadas que voltaram a se casar;
- O Papa é aberto ao acolhimento dos homossexuais na Igreja;
- O Papa defende uma postura de compreensão em relação às mulheres que fazem aborto;
- O Papa está aproximando os católicos dos protestantes, encerrando a guerra teológica de séculos (o Papa afirmou mais de uma vez que as intenções de Martinho Lutero “não eram equivocadas” e assinou um comunicado conjunto com luteranos no qual mencionava os “presentes teológicos” da Reforma protestante. Para os fundamentalistas, Lutero é quase uma encarnação do diabo);
- O Papa está cometendo o “delito” de aproximar católicos e muçulmanos (os ultraconservadores respiram até hoje o espírito das Cruzadas. No texto de acusação ao papa Francisco, foi criticado o comunicado conjunto que o ele assinou em fevereiro com o Grande Imam de Al-Azhar Ahmed Al-Tayyibum no qual se afirma que a diversidade de religiões é um “desejo de Deus”).
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