Igreja Católica – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 31 May 2024 00:14:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Igreja Católica – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Corpus Christi: outra compreensão necessária a partir dos sinais dos tempos https://observatoriodaevangelizacao.com/corpus-christi-outra-compreensao-necessaria-a-partir-dos-sinais-dos-tempos/ https://observatoriodaevangelizacao.com/corpus-christi-outra-compreensao-necessaria-a-partir-dos-sinais-dos-tempos/#respond Thu, 30 May 2024 13:50:13 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49889 [Leia mais...]]]> A Eucaristia, na experiência cristã católica, é o sacramento do Corpo de Cristo. Jesus de Nazaré, o enviado no Pai, pela luz e força do Espírito Santo, revelou-nos o Amor de Deus por nós e abriu-nos um caminho de salvação, um caminho a ser trilhado: transformados pela força da experiência do amor gratuito de Deus por nós, somos chamados a cultivar o amar, cuidar e servir. Na Eucaristia celebramos este Mistério de Amor que vem até nós e, com claridade solar, nos revela que somos filhos e filhas, amados de Deus, que somos irmãos e irmãs e que o caminho da salvação é amar como Jesus nos amou. Os cristãos batizados, que enraizaram as suas vidas em Jesus, são chamados a uma missão: serem o “Corpo de Cristo” hoje. Continuarem, portanto, a missão de Jesus. Em pequenas comunidades de fé e partilha de vida, os cristãos são chamados a ser fermento, sal e luz de outra sociedade possível e necessária. Sociedade firmada na mesa da irmandade, na prática da justiça divina, da misericórdia e da compaixão pelos sofredores, pela partilha solidária com os pobres, pela defesa da dignidade da vida de quem está excluído.

Jesus, em sua última ceia, depois de lavar os pés de seus discípulos, na véspera de sua paixão-morte-ressurreição, sintetizou, num gesto profundamente simbólico, o sentido maior que deu à sua vida: uma entrega, com fidelidade ao Projeto salvífico de Deus! Jesus fez de sua vida um serviço a Deus, concretamente como serviço ao próximo. A práxis acolhedora-libertadora de Jesus, desde os desfigurados da dignidade humana: escravizados, explorados, empobrecidos, marginalizados, encarcerados, por serem considerados impuros desprezados, doentes, sofredores. Em nome de Deus, pela força da Ruah divina, Jesus, o Filho amado, libertou da cegueira, da surdez, da paralisia, da exclusão do amor social, das garras do mal… Após a sua traição, prisão, condenação, tortura e execução na cruz, Jesus, por sua fidelidade a missão, foi ressuscitado pelo Pai. A Ressurreicão de Jesus confirma, aos olhos da nossa fé, que o Caminho aberto por Jesus, é o nosso caminho de salvação. A vida de Jesus, para a fé cristã, é sim: o nosso caminho de salvação, a verdade do Projeto de Deus e a fonte geradora de vida, de vida nova com a consciência de nossa filiação divina e de compromisso fratersororal. Como nos diz o papa Francisco, “somos todos irmãos e irmãs” (Fratelli Tutti).

 

Um pouco da história da festa de Corpus Christi

Tapete de Corpus Christi 002Tapete para a festa de Corpus Christi

A festa de Corpus Christi, tradicionalmente, teve como objetivo maior o testemunho público da fé e da devoção católica na adoração ao Corpo de Cristo presente na hóstia consagrada. Segundo antiga tradição, a festa de Corpus Christi teve origem em torno do ano de 1243, em Liège, na Bélgica, quando uma freira, Ir. Juliana de Cornion, teve visões nas quais o próprio Jesus Cristo pede que o mistério celebrado na Eucaristia tivesse maior destaque e reconhecimento público. Ela compartilha as suas experiências espirituais com aquele que, mais tarde, viria a se tornar o papa Urbano IV. Este, no ano de 1264, decide instituir esta festa litúrgica para toda a Igreja.

Procissão de Corpus ChristiProcissão de Corpus Christi

O Papa pediu, então, que Tomás de Aquino preparasse textos litúrgicos específicos para esta data. A procissão com a hóstia consagrada, como um cortejo público de ação de graças a Deus, teve início no ano de 1274. No Brasil, como em Portugal, tornou-se popular a tradição de enfeitar as ruas com lindos tapetes com imagens e símbolos religiosos. Na liturgia, a celebração de Corpus Christi inclui missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.

Tapete para a festa de Corpus Christi Confecção dos tapetes com símbolos cristãos para a festa de Corpus Christi

Um contexto cultural de insensibilidade ecumênica e de pouca atenção à necessidade de diálogo inter-religioso favoreceu deturpações e muitos conflitos religiosos. A festa de Corpus Christi, em muitos lugares, tornou-se mais que uma celebração da liturgia cristã católica. Passou a ser encarada ou utilizada, por muitos infelizmente, como momento oportuno para explicitar, publicamente, a supremacia do catolicismo, em relação às outras igrejas cristãs, bem como às outras tradições religiosas.

 

Outra compreensão se faz necessária a partir dos sinais dos tempos

Hoje, nós cristãos somos chamados a agir na Igreja e na sociedade, com a consciência de sermos desafiados a ser o Corpo de Cristo, ou seja, a continuar a missão de Jesus em nosso contexto. Somos interpelados pela vida de Jesus, a testemunhar o amor universal de Deus e o amor fratersororal entre nós. Pelo diálogo fraterno, somos chamados a melhor cuidar da Casa comum e defender, irmanando-se nas lutas dos movimentos populares, a igual dignidade de todos os filhos e filhas amados de Deus. O amor de Deus nos irmana e nos compromete com a unidade da família de Deus: a humanidade.

Para os cristãos, não deveria haver fronteiras culturais ou religiosas para irradiar, cultivar e praticar o amor, pois, pela vida de Jesus, todo ser humano, independente de qualquer critério, é acolhido como filho e filha amado de Deus. Ser cristão, portanto, é um desafio que se faz compromisso sociopolítico, econômico, ecológico e religioso – em todas as dimensões da vida – de testemunhar-anunciar a boa notícia da universalidade, gratuidade e incondicionalidade do Amor de Deus, desde os últimos, Amor que nos transforma em cuidadores da inclusão de todos na grande mesa da irmandade e da igual dignidade dos filhos e filhas amados de Deus.

Grito dos excluídos - 2014Caminhada ecumênica de 7 de setembro – Grito dos excluídos organizado pelas Igrejas cristãs em defesa da dignidade da vida.

Aconteceram muitas mudanças culturais em nosso meio que se tornam autênticos sinais dos tempos, como nos ensinou o papa João XXIII, nos albores do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). Dentre outras, merecem destaque:

  • cresce a consciência planetária e que a humanidade compartilha uma mesma “aldeia global”;
  • cresce a percepção de dois gritos: dos pobres e da Terra. Nossos modelos de desenvolvimento e busca do progresso e da felicidade, nem inclui a todos – parcela significativa de irmãos e irmãs ficam de fora, é excluída da mesa -, nem cuida do equilibrio e do futuro da vida na Terra;
  • com as novas tecnologias de transporte e comunicação passamos a reconhecer a beleza enriquecedora do pluralismo cultural e religioso;
  • em muitos países, o Estado se tornou laico e democrático, defensor dos direitos fundamentais, entre estes o da liberdade de crença, de culto e também de convicções areligiosas;
  • em vista da paz entre os povos, nações, grupos, pessoas, cresceu a consciência da importância de desenvolvermos e cultivarmos o espírito ecumênico entre as igrejas cristãs e posturas de diálogo inter-religioso, diante, sobretudo, da conquista da legitimidade cultural da diversidade religiosa.

Tais sinais clamam por outras posturas sociopolíticas e religiosas possíveis e necessárias. A Igreja católica, há 60 anos, no Concílio Ecumênico Vaticano II, reconheceu essas mudanças culturais, legitimou e convocou os cristãos católicos, a  assumirem o movimento ecumênico com as outras igrejas cristãs e posturas dialógicas para com as outras tradições religiosas. Alguns passos já foram dados, mas ainda temos muito que aprender e caminhar.

Mutirão pela moradia para todos!Mutirão ecumênico por moradia para todos!

A festa de Corpus Christi – como todas as festas valorizadas pelo cristianismo católico, tais como Natal, Semana Santa, Páscoa, Pentecostes, festividades de Nossa Senhora e todos os santos e santas da devoção popular – é chamada a deixar-se fecundar e transformar pelos sinais dos tempos. Em toda ação evangelizadora da Igreja, por fidelidade a Jesus Cristo e a tradição apostólica, não deve conter qualquer resquício de espírito apologético agressivo ou mentalidade eclesiocêntrica ou religiocêntrica arrogante e que provoca beligerância religiosa em nome de Deus. Importa dizer não a qualquer compreensão de guerra santa!

Mutirão pelos desabrigadosMutirão pelos desabrigados promovido por iniciativa da Caritas.

A festa de Corpus Christi, balizada pelos valores do Evangelho do Reino, tem como objetivo favorecer aos fiéis oportunidades criativas de encontro com o Jesus Ressuscitado, de crescimento na vida cristã e aprofundamento da identidade cristã católica, mas sem qualquer pretensão de agredir ou diminuir outras igrejas cristãs e/ou tradições religiosas.

O fundamento bíblico deve prevalecer na ação evangelizadora: cada cristão, enquanto seguidor ou seguidora de Jesus e alguém que se alimenta da vida do Mestre do Caminho, do Verbo de Deus ressuscitado e sempre estradeiro conosco, é chamado pelo batismo a concretizar em suas ações, no contexto em que vive, a vontade de Deus. Ele se nutre da memória dos feitos de Jesus para, juntamente com seus irmãos e irmãs de fé, agir e atuar na Igreja e na sociedade, em vista do bem comum, com a consciência de ser membro vivo do Corpo de Cristo hoje.

Para refletirmos: que significa celebrar a festa de Corpus Christi no contexto em que vivemos?

Sobre o autor:

Edward  Guimarães é doutor em Ciências da Religião pela PUC Minas e mestre em Teologia pela FAJE.  Professor do Mestrado Profissional em Teologia Prática e de Cultura Religiosa da PUC Minas.
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O estudo da filosofia e da teologia https://observatoriodaevangelizacao.com/o-estudo-da-filosofia-e-da-teologia/ https://observatoriodaevangelizacao.com/o-estudo-da-filosofia-e-da-teologia/#respond Thu, 09 May 2024 22:21:34 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49879 [Leia mais...]]]> O ESTUDO DA FILOSOFIA E DA TEOLOGIA

 

Por Joaquim Jocélio de Sousa Costa [1]

Nossas sociedades estão cada vez mais envolvidas pela técnica e pela exigência de eficiência e produção. Assim, a própria produção de conhecimento está fundamentalmente ligada a uma visão pragmática do mundo. Quando se confronta uma área do conhecimento, a pergunta é: Para que serve isso? E o que se lucra com isso? Nesse sentido, conhecimentos filosóficos e teológicos são pouco valorizados. Considerados até não científicos ou, ao menos, de segunda categoria. Comecemos pela filosofia, qual seria a sua especificidade e razão de ser?

 

O estudo da filosofia

Todas as ciências trazem questionamentos cujas respostas, embora sempre parciais, geram as transformações que vemos na sociedade. As perguntas filosóficas se diferenciam das demais feitas pelas ciências empíricas, assim como se diferencia das perguntas comuns do cotidiano. As ciências podem se perguntar pela estrutura do DNA, pela fórmula química da água, pelas leis físicas que regem o universo, pela estrutura do cérebro humano, pelo modo como se organiza a sociedade. A filosofia se pergunta: O que é a vida? O que é a realidade e como ela se estrutura? O que é a mente? O que é o poder? O que é a pessoa humana? No dia a dia, podemos perguntar que horas são, se alguém está mentindo, porque aconteceu tal coisa. A filosofia se pergunta: O que é o tempo? O que é a verdade? O que é a razão? Existe a relação de causa e feito? (Cf. CHAUÍ, 1995, p. 9-12).

Como podemos perceber, as perguntas filosóficas se preocupam com o fundamento último das coisas, com sua essência, é um conhecimento radical (que vai a raiz), isto é, o que as coisas são em si mesmas. Mais que filosofia, se aprende a filosofar. Filosofia não é como se costuma dizer: “aquilo com o qual ou sem o qual, tudo fica tal e qual”. Ou seja, a filosofia não é inútil. Por trás de todas as descobertas e investigações científicas, estão perguntas filosóficas que motivaram as investigações. A filosofia molda a forma de pensar e a própria elaboração teórica dos conhecimentos. A filosofia, portanto, pergunta pela essência das coisas (O QUE É); por sua estrutura e organização (O COMO É); sua causa e razão de ser (POR QUE É); mas também sua finalidade e intenção (PARA QUE É e o PARA QUEM É) (Cf. CHAUÍ, 1995, p. 13-18). Esses últimos pontos explicitam bem sua dimensão crítica, pois “a filosofia tem, portanto, além de uma função radicalizadora, uma função desmascaradora das ideias e das teorias aparentemente ‘puras’, ‘neutras’ e ‘verdadeiras’” (GONZÁLEZ, 1987, p. 31).

A filosofia trata, desse modo, da totalidade das coisas, as realidades vistas a partir do todo, a partir do seu fundamento último. Ao longo da história, algumas áreas filosóficas se destacaram, como a metafísica (o que a realidade é nela mesma?), a epistemologia (como é possível conhecer as coisas?) e a linguagem (como é possível expressar as coisas?). Estudar filosofia envolve, logicamente, recorrer aos textos e reflexões dos grandes filósofos nos diferentes contextos da história, mas sobretudo, assumir uma atitude filosófica diante do mundo. Aqui, se destaca sua importância e, poderíamos também dizer, sua praticidade; isto é, como ela ajuda em nosso dia a dia. A atitude filosófica nos leva a ir além dos conhecimentos formais e nos ajuda a perceber como o próprio conhecimento é organizado, estruturado e até instrumentalizado. Nos ajuda a perceber como nós também podemos e devemos fazer a diferença no mundo. E a abordagem da teologia, qual a sua contribuição singular?

 

O estudo da teologia

A teologia é um conhecimento que desde muito cedo esteve em profundo diálogo com a filosofia. Contudo, é preciso ter muito claro o que é específico da teologia. Ela é inteligência da fé. Ela “parte do dado da fé, por isso, pretende falar a partir de Deus, a partir da relação que ele estabelece com o ser humano… Seu ponto de partida é a experiência de fé” (CROATTO, 2001, p. 22. 23). Ou seja, o teólogo é antes de tudo uma pessoa de fé. Sua reflexão não é alheia a sua vida, mas profundamente ligada a ela; não é simplesmente falar de Deus, mas falar a partir da sua relação com Ele. A teologia pressupõe, assim, que Deus revelou seus desígnios de amor com a finalidade de salvar a humanidade, ou seja, fazê-la participar de sua vida divina. Desse modo, todas as questões humanas são tratadas a partir do olhar da fé. Por isso, “para promover a teologia no futuro, não se pode limitar-se a propor de forma abstrata fórmulas e esquemas do passado. Chamada a interpretar profeticamente o presente e a vislumbrar novos itinerários para o futuro, à luz da Revelação, a teologia terá de enfrentar profundas transformações culturais” (FRANCISCO, 2023b, n 1).

Assim, a teologia é sempre ato segundo, pois antes de tudo está a vida de fé. A teologia é uma reflexão sobre esta fé vivida e é feita dentro dela. São momentos distinguíveis, mas não separáveis. A teologia, inclusive, tem um momento chamado de pré-teológico, quando dialoga com diversos conhecimentos para melhor pensar a fé. Aqui entra seu histórico e profundo diálogo com a filosofia. Muito das elaborações doutrinais e da própria reflexão teológica bebeu e bebe de compreensões filosóficas. A teologia não é filosofia, mas a utiliza em sua reflexão sobre a fé; confronta o saber filosófico a partir dos dados da revelação; o mesmo faz com a sociologia, economia, história, direito, psicologia etc. Existem diferentes níveis de elaboração teológica, desde aquele mais complexo elaborado nas universidades (teologia profissional) até níveis mais simples como as elaborações realizada pelos pastores em homilias e formações (teologia pastoral) ou pelos demais fiéis em círculos bíblicos, novenas ou mesmo conversas mais informais (teologia popular) (Cf. BOFF, 2015, p. 597-600).

Contudo, fazer teologia não é o mais importante para o cristão, o mais fundamental é seguir a Jesus Cristo, viver como ele viveu. A teologia é um meio muito importante para isso. A fé é pensada e refletida para ser melhor vivida. Por isso, as diversas realidades cotidianas “exigem uma ‘teologia em saída’, capaz de compreender questões, muitas vezes, situadas nos confins de existências complexas, conturbadas e feridas” (FRANCISCO, 2023a). A teologia deve ser compromisso com um mundo mais justo e fraterno, sinal do Reino de Deus. As universidades, na produção da teologia profissional, devem ter muita clareza sobre isso. “Devemos sempre nos perguntar: para que serve a nossa ciência? Qual o potencial transformador do conhecimento que produzimos? O que e a quem servimos? A neutralidade é uma ilusão. Portanto, uma universidade católica deve tomar decisões, e estas devem ser um reflexo do Evangelho. Ele deve se posicionar e demonstrá-lo com suas ações de forma transparente, ‘sujando as mãos’ evangelicamente na transformação do mundo e no serviço da pessoa humana” (FRANCISCO, 2024).

A teologia é “um conhecimento transcendente e, ao mesmo tempo, atento à voz do povo, portanto, teologia ‘popular’, misericordiosamente dirigida às feridas abertas da humanidade e da criação e nas dobras da história humana, para a qual profetiza a esperança de uma realização final” (FRANCISCO, 2023b, 7). Assim, temos que ter “a coragem de adotar esta teologia que tem cheiro de ‘carne e de povo’” (FRANCISCO, 2023a). Para isso se estuda teologia, para melhor seguirmos a Jesus de Nazaré, amando como ele amou, construindo com ele o Reino.

E você, o que pensa dos estudos de filosofia e teologia?

Referências bibliográficas

BOFF, Clodovis. Teoria do Método Teológico. 6ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2015.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995.

CROATTO, José Severino. As linguagens da experiência religiosa: Uma introdução à fenomenologia da religião. São Paulo: Paulinas, 2001. p. 22. 23.

FRANCISCO, PP. A Teologia que tem gosto de carne e de povo: Prefácio do Papa no livro “Repensar o pensamento” de dom Antonio Stagliano. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-11/teologia-prefacio-papa-francisco-livro-repensar-pensamento.html, acesso em: 22.11.2023a.

FRANCISCO, PP. Discurso del Santo Padre Francisco a la Delegación e la Federación Internaciónal de las Universidades Católicas. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/es/speeches/2024/january/documents/20240119-fiuc.html, acesso em: 24.01.2024.

FRANCISCO, PP. Motu Proprio Ad theologiam promovendam. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/it/motu_proprio/documents/20231101-motu-proprio-ad-theologiam-promovendam.html, acesso em: 22.11.2023b.

GONZÁLEZ, Antonio. Introducción a la práctica de la filosofía: Texto de iniciación. San Salvador: UCA Editores, 1987.

Joaquim Jocélio de Souza Costa é graduado em filosofia e teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza; é diácono da Diocese de Limoeiro do Norte-CE.

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Pastoral do Povo da Rua tem novo bispo referencial https://observatoriodaevangelizacao.com/pastoral-do-povo-da-rua-tem-novo-bispo-referencial/ Tue, 30 Apr 2024 02:06:01 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49848 [Leia mais...]]]>

Uma das mais desafiantes pastorais sociais da Igreja católica, a Pastoral do Povo da Rua, tem novo bispo referencial.  Isso mesmo, uma das mais desafiantes, porque pessoas em situação de rua, infelizmente, com frequência são consideradas uma espécie de “lixo humano”, são tratadas como um estorvo que sujam e enfeiam o centro das grandes cidades. E como se não bastasse, além de serem, por muitos, socialmente invisibilizadas, são também desprezadas até mesmo pelas políticas públicas.

Esta Pastoral social nasce como um apelo ético do Evangelho que nos interpela a contemplar, no rosto dos pobres e sofredores, a presença de Deus e a acolher cada pessoa humana, de modo especial, as mais vulneráveis e excluídas da mesa da dignidade, como irmãos e irmãs.

Recebemos com alegria esta notícia: No dia 17 de Abril de 2024, a presidência da Comissão episcopal para a ação sociotransformadora da CNBB, conduzida por dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo – MA, nomeou como novo bispo referencial da Pastoral do Povo da Rua, dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, bispo auxiliar de Belo Horizonte. Dom Mol, como é conhecido, vem se destacando, como uma das lideranças da Igreja católica mais atuantes e comprometidas com a defesa da democracia, da igualdade cidadã, da justiça social e da dignidade humana.

 

Com dom José Valdeci, nós da equipe do Observatório da Evangelização também suplicamos a Deus que abençoe o trabalho de dom Joaquim Mol na Pastoral do Povo da Rua. Que esta importante pastoral social ganhe maior visibilidade e apoio da Igreja e de toda a sociedade brasileira.

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O presbítero, homem de coração dilatado https://observatoriodaevangelizacao.com/o-presbitero-homem-de-coracao-dilatado/ Sat, 27 Apr 2024 13:54:33 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49842 [Leia mais...]]]> Segundo Matias Soares, “os desafios que estão sendo postos à Igreja, que precisam ser enfrentados, têm sido causa de escândalo e muita tristeza, principalmente na dimensão humano-afetiva dos ministros ordenados. A atenção dada à formação humana é mais do que indispensável. É urgente. Essa dimensão da existência sacerdotal foi tratada com desconfiança por séculos… Depois de Sigmund Freud (1856-1939), Carl Gustav Jung (1875-1961) e outros mestres da psicologia do profundo, novos questionamentos surgem acerca dos dramas existentes na formação da identidade da pessoa, marcada na sua história por alegrias e tristezas. A Igreja tentará assumir caminhos novos. O humanismo integral e o personalismo serão a base antropológica do Concílio Vaticano II e, com estes, a atenção que será dada à subjetividade humana, colocando a pessoa no centro, como protagonista da própria formação… Na atualidade, estamos a falar de pós-humanismo, inteligência artificial, pós-secularismo e, depois da pandemia, questões na área de doenças mentais, que colocam desafios novos à própria formação permanente dos presbíteros. A Igreja volta o seu olhar para esta urgência… Na nossa hipermodernidade, o humano é definitivamente apresentado como fragmentado e com possibilidades de ser transumanizado, buscando novas formas de ser e agir, a partir de suas subjetividades… Na formação dos futuros presbíteros e para a formação permanente dos atuais, como nos encontramos numa mudança de época e numa época de mudanças, os métodos precisam ser ressignificados e mudados.

Confira o provocante artigo do pe. Matias Soares que nos convida a um outro olhar para os presbíteros, a grande parcela dos ministros ordenados na Igreja Católica. O mesmo olhar pode ser feito para os bispos e diáconos, e também para pastores e pastoras das outras igrejas cristãs.

 

Arquidiocese de Fortaleza volta a celebrar caminhada penitencial; confira  data | Ceará | G1
             Registro da caminhada penitencial em Fortaleza, em 2023.

 

O presbítero, homem de coração dilatado

O papa Francisco, recentemente, num discurso feito aos participantes de um congresso realizado em Roma, sobre a formação permanente dos presbíteros, assim admoestou aos presentes:

A graça pressupõe sempre a natureza, e por isso temos necessidade duma formação humana integral. Na verdade, ser discípulo do Senhor não é um revestimento religioso, mas um estilo de vida e por conseguinte requer o cuidado da nossa humanidade. O contrário disto é o padre ‘mundano’. Quando a mundanidade entra no coração do padre, estraga-se tudo. Peço-vos para investir o melhor das vossas energias e recursos neste aspeto: o cuidado da formação humana. E também o cuidado por viver de maneira humana”.

O presbítero não pode ser alguém que tenha medo de sua humanidade. Sua história, seus afetos, anseios existenciais e sonhos de realização pessoal devem ser cuidados e ordenados por uma capacidade humana e evangélica de amar. A vocação deve estar situada numa condição humana integral e integrativa.

Os desafios que estão sendo postos à Igreja, que precisam ser enfrentados, têm sido causa de escândalo e muita tristeza, principalmente na dimensão humano-afetiva dos ministros ordenados. A atenção dada à formação humana é mais do que indispensável. É urgente. Essa dimensão da existência sacerdotal foi tratada com desconfiança por séculos. A teologia que tinha suas bases no neoplatonismo penetrou na espiritualidade cristã e, ainda mais, no ordenamento formativo dos ministros ordenados. O tratamento dado aos sacerdotes, como homens do sagrado, principalmente depois do Concílio de Trento (1545-1563), mesmo com seus avanços para a época, pouco a pouco foi sendo superado e surgindo novas necessidades e demandas de atualizações. Envolvidos pela mística da ascese e do sacrifício, como sinal da mortificação das pulsões humanas, o sacerdote do antes do Vaticano II é o homem que deve ter como marcas distintivas: a sabedoria, a saúde e a santidade. Essa integração, nem sempre foi tratada com tanta clarividência e contando com as possibilidades ofertadas pelas ciências humanas, especialmente a psicanálise. Depois de Sigmund Freud (1856-1939), Carl Gustav Jung (1875-1961) e outros mestres da psicologia do profundo, novos questionamentos surgem acerca dos dramas existentes na formação da identidade da pessoa, marcada na sua história por alegrias e tristezas. A Igreja tentará assumir caminhos novos. O humanismo integral e o personalismo serão a base antropológica do Concílio Vaticano II e, com estes, a atenção que será dada à subjetividade humana, colocando a pessoa no centro, como protagonista da própria formação.

Um novo cenário se nos é posto. Na atualidade, estamos a falar de pós-humanismo, inteligência artificial, pós-secularismo e, depois da pandemia, questões na área de doenças mentais, que colocam desafios novos à própria formação permanente dos presbíteros. A Igreja volta o seu olhar para esta urgência. Um novo humanismo pode ser elaborado. Com o neotomismo, tão em voga ainda nas proposições conciliares, a pessoa ainda era tida como realidade integral, que precisava ser integrada. Na nossa hipermodernidade, o humano é definitivamente apresentado como fragmentado e com possibilidades de ser transumanizado, buscando novas formas de ser e agir, a partir de suas subjetividades. Com a determinação de ‘ser no tempo e instantaneamente’, com a confirmação dos pressupostos heiddegerianos. Isso está visível nas novas manifestações do ‘Ser’. Esse (Dasein) é o homem contemporâneo, tão simplesmente, com suas escolhas e autodeterminações.

Nessa conjuntura do estilo de ser e estar no tempo, encontra-se a Igreja que ainda não encontrou um método equilibrado de se relacionar com essas subjetividades. Pois sempre foi aquela que, basicamente dos séculos IV ao XIX, impôs, e não propôs o modo de agir da cultura ocidental. Na formação dos futuros presbíteros e para a formação permanente dos atuais, como nos encontramos numa mudança de época e numa época de mudanças, os métodos precisam ser ressignificados e mudados. A formação, como os ensina o papa Francisco, também precisa absorver a perspectiva da ‘sinodalidade’. Com menos disciplinamento e mais autoconsciência.

Ouso a dizer que a pedra de toque desse modo de ‘ser Igreja’ é o acolhimento das diferenças, por meio da capacidade de escuta de todos. É o respeito e reconhecimento dos sujeitos que são envolvidos no processo formativo. O que é de interesse de todos deve ser participado por todos. Mais confiança que gera responsabilidade e promove a adesão consciente e personalizada do processo formativo. Basta a percepção dos sinais, que estão aí, na maioria dos que são ordenados atualmente. A vida de oração está sendo substituída pelas mídias, os livros estão sendo trocados pelos smartphones e vaidades nas vestimentas, que refletem mais o anseio de autoafirmação, na maioria dos casos, a comunhão presbiteral é distorcida pelos lobbies e, ainda, a proximidade ao povo fiel de Deus, especialmente com os que estão nas periferias geográficas e existenciais, que é trocada pelas relações de conveniências. Esses sinais são fenômenos que dizem muito das motivações e problemáticas humanas dos ministros ordenados e de como as nossas estruturas formativas não estão preenchendo os hiatos existentes nos variados perfis individuais. Está faltando paixão presbiteral e missionária. Uma grande parcela está se tornando despreparada e agindo como simples ‘funcionários do sagrado’.

 

A vida de oração está sendo substituída pelas mídias, os livros estão sendo trocados pelos smartphones e vaidades nas vestimentas, que refletem mais o anseio de autoafirmação, na maioria dos casos, a comunhão presbiteral é distorcida pelos lobbies e, ainda, a proximidade ao povo fiel de Deus, especialmente com os que estão nas periferias geográficas e existenciais, que é trocada pelas relações de conveniências. Esses sinais são fenômenos que dizem muito das motivações e problemáticas humanas dos ministros ordenados e de como as nossas estruturas formativas não estão preenchendo os hiatos existentes nos variados perfis individuais. Está faltando paixão presbiteral e missionária. Uma grande parcela está se tornando despreparada e agindo como simples ‘funcionários do sagrado’

 

O presbítero dos nossos dias, considerando estas manifestações, precisa ser um ‘homem com um coração dilatado para o amor’. E num horizonte de fé, isso só pode acontecer a partir de uma profunda experiência de Deus. Algumas indagações precisam ser respondidas pelos ambientes formativos e demais casas religiosas da Igreja, a saber:

  • Estamos formando homens e mulheres de Deus?
  • Percebemos pessoas performadas segundo o Espírito?
  • Há mais preocupação com o que é mundano nas casas de formação, do que com o que é próprio da ação missionária?
  • Existe desejo de conversão permanente, com a abertura ao que é proposto pelo Evangelho?
  • Quais as motivações que estão levando as pessoas a buscarem as nossas casas de formação?
  • Por que e para que estamos formando padres, religiosos e religiosas?
  • Os formandos e formandas, como também os que já estão ordenados e consagrados, estão inseridos, sendo sal e luz, pastores com cheiro das ovelhas, na vida e na história do povo fiel de Deus?
  • Os nossos métodos formativos estão servindo para que o discernimento evangélico e espiritual aconteça neste processo de maturidade humana e vocacional? Etc…

Os fechamentos ao que pode ser aprofundado é, talvez, a principal dificuldade que temos para avançarmos. Enquanto não nos confrontarmos com a nossa verdade, inclusive enquanto instituição, não conseguiremos falar e agir com ‘parresia’, ou seja, com coragem de encarar a verdade no encontro com nossas fragilidades internas e diferenças externas. Por isso, o fechamento em bolhas e a grande dificuldade de dialogar e agir neste mundo hipermoderno que nos desafia e desacredita constantemente. Na Igreja, ainda temos muito medo da verdade; por isso, não conseguimos ser livres. Com frequência, nos esqueçamos que só ela pode nos dar a liberdade (cf. Jo 8,32). Ou ela é endógena a vida da Igreja e, para isso, precisa ‘acontecer’ na existência de cada um de nós, ou teremos a impressão de que somos uma composição, ou uma simples instituição, na qual muitos ainda não viveram o encontro pessoal com Jesus Cristo e, desta forma, ainda não se tornaram cristãos. A seguinte afirmação do papa Bento XVI sintetiza bem essa reflexão à qual me proponho neste momento:

Nós cremos no amor de Deus — deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida. ‘Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo’. No seu Evangelho, João tinha expressado este acontecimento com as palavras seguintes: ‘Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único para que todo o que n’Ele crer (…) tenha a vida eterna’” (cf. DCE 1).  

 

Papa Francisco, bispos, padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas caminham juntos no Sínodo para a Amazônia.

 

Enfim, instigados a formar um coração dilatado ao amor, sem jaulas e correntes, verdadeiros e sinceros, ternos e misericordiosos, podemos amadurecer. O papa Francisco tem nos provocado positivamente. Para os que ainda vivem no ‘país das maravilhas’, com uma mentalidade pré-moderna e com odor de cristandade, se chega a afirmar que “este Papa não gosta dos ministros ordenados”. Penso que esta não seja a questão! Ele denuncia a mentalidade clericalista e mundana de muitos de nós, que estamos ainda protegidos pela força de uma instituição que vem sendo desafiada a repensar seu modo de ser no mundo de hoje. Numa realidade na qual todos estamos “desnudados”. Numa sociedade do cansaço e do digital (cf. Byung-Chul Han), na qual tudo é visto e todos se veem sem conhecimento profundo e personalizado. Nós estamos inseridos neste tempo e nessa história. Temos que sair das nossas casinhas e construções oníricas. Só conseguiremos ser fortes e perseverantes, como ministros ordenados e consagrados, se tivermos corações dilatados para amar e ser amados. Assim o seja!

 

Pe. Matias Soares

Pároco da paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório, Natal-RN

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O Clericalismo que habita em nós https://observatoriodaevangelizacao.com/o-clericalismo-que-habita-em-nos/ Fri, 26 Apr 2024 18:59:30 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49838 [Leia mais...]]]>  

O CLERICALISMO QUE HABITA EM NÓS

Por Toninho Kalunga

Francisco é o primeiro Papa a tocar em um tema de fundamental importância para a sobrevivência da Igreja Católica no meio dos pobres. É a chaga do clericalismo. Este mal nasce do entendimento de uma parcela dos padres, de que a fé que eles devotam a Deus, é uma fé mais importante do que a fé das pessoas que não são padres.

O clericalismo nasceu disso. O desenvolvimento desta perspectiva de fé trouxe uma tese de uma certa hierarquia na relação com Deus. Assim, primeiro, vem o Papa, com sua infalibilidade, logo em seguida são os poderosos cardeais, seguidos dos arcebispos, bispos e finalmente a massa sacerdotal. O povo é conduzido e a estes, basta este papel!

Por outro lado, quem cuida, de fato, da fé do povo católico são os padres. Aliás, neste ponto nem há tanta contradição, pois, eles se formam em seminários, num período que vai de 8 à 12 anos, para ajudar na construção e consolidação de uma perspectiva religiosa e sua consequente fé. No decorrer do tempo, infelizmente, ao invés de servir, optaram por ser servidos. E aí é que a coisa degringolou.

Podemos verificar nas lembranças de nossa juventude, “Igrejas que não cabiam gente” de tanta gente que ia às Missas! Era o tempo da Igreja Pastoral, de uma Igreja onde seus pastores tinham “cheiro de suas ovelhas”. Entre o Concílio Vaticano II e o final dos anos 1970, os seminários formaram padres que tinham como perspectiva e sonho, servir ao povo de Deus.

No começo dos anos 1980, com o advento do papado de João Paulo II, essa proposta de Igreja Pastoral, foi perdendo seu vigor e passou a ser combatida ferozmente com incentivo papal do anticomunismo. Se houve erro no papado de João Paulo II, certamente, esse foi o maior deles, pois sua visão de mundo e histórico pessoal, dava a ele a dimensão de que a Polônia era o mundo. E não era!

A Igreja Latino Americana, não era a mesma Igreja Européia. Nem é!! Essa falta de perspectiva cultural e de dimensão social e econômica de João Paulo II, fez com que seu papado passasse a ser de enfrentamento a uma Igreja alegre e popular, uma Igreja de dimensão profética e acolhedora. Uma Igreja gigantesca na dimensão espiritual, eclesial e popular. Foi uma Igreja libertadora e feliz, vocacionada a ser sal na terra e luz no mundo. Por isso, era cheia, vigorosa, devota e encarnada na vida do povo. O resultado é que a vitória dos conservadores, está sendo a derrota de toda a Igreja.

Assim, esta nova proposta ganhou força e os seminários passaram a construir com grande esforço e incentivo do Vaticano, uma formação cada vez mais clericalista, onde a ideia do padre tutor, com pouco interesse na dimensão cotidiana do povo e apegado ao status sacerdotal. A igreja católica passou então a abrir mão do tríplice múnus, que é o múnus sacerdotal, múnus profético e múnus pastoral, para assumir e incentivar apenas o primeiro.

A partir deste momento, começou a crise das ordenações sacerdotais; Diminuindo drasticamente a quantidade de seminaristas e vocações religiosas femininas nos conventos. Jovens que buscavam servir, deixaram de ver na Igreja um atrativo, afinal, para ter poder, melhor seria ser candidato a vereador, prefeito ou deputado e não a padre ou “freira”!!

Assim, fomos apresentados ao orgulhoso Padre de Sacristia, perdendo de vez o líder pastoral. Foi quando começou a surgir a figura dos padres cantores ou o padre popstar, que juntava muita gente em Igrejas enormes e afastavam ao mesmo tempo, o mesmo povo, de suas pequenas comunidades. Esse foi o começo do fim das Comunidades Eclesiais de Base. Enquanto o povo cantava que tinha:

 “anjos voando neste lugar, no meio do povo e em cima do altar, subindo e descendo em todas as direções”, 

O povo na periferia ficava vendo lobos em pele de pastores, engolindo sua fé e arrancando suas esperanças, dizendo que a culpa pelas dificuldades que passavam era em razão de seu pecado e não em razão de um sistema econômico e social que os escravizavam.

Assim, como suspiro de esperança, nas periferias que ainda resistiam, a canção era outra: Ao perceber que lhes faltavam pastores o povo clamava:

“Falta gente pra ir ao povo Descobrir porque o povo se cala Pastores e animadores pra incentivar o teu povo a falar.  Falta luz porque não se acende Não se acende porque faltam sonhos. E falta esse jeito novo de levar luz e falar de Jesus”

Em razão da perda de contato da Igreja Católica com a realidade do povo, surgiu um vácuo, que foi ocupado por uma dimensão religiosa já existente, que se pulverizou: pastores evangélicos oriundos e envolvidos com a realidade de suas comunidades, favelas e periferias em geral levando apoio em nome de Jesus.

Ao destruírem pastorais como a Pastoral Carcerária, os pastores passaram a dar assistência às famílias dos detentos pobres e dos próprios presidiários. Ao impedir a dimensão profética de Pastorais como a Pastoral da Terra, abrimos mão do apoio aos trabalhadores rurais e deixamo-los à própria sorte, sendo estes acolhidos por pequenas comunidades evangélicas nas pequenas cidades e no campo.

O que sobrou aos católicos foi uma elite paroquiana que ao pagar o dízimo e doar um bezerro para a festa da Padroeira, tirava o senso crítico da realidade vivida pelos mais pobres, assim, não fazia diferença participar de uma Igreja onde o padre culpava os pecadores por seus pecados, e o pastor que dizia que o pecado era coisa do demônio. Assim, melhor era falar com o pastor, que ao menos lhes falava que iam sair no tapa com o belzebu!

Nenhum destes, no entanto, se interessava mais em falar sobre a esperança de uma vida melhor aqui, neste lugar. Todos só garantiam isso depois da morte. Assim, a vida vivida, era abafada e o que restava era se adaptar e deixar o tempo passar. Os que não aceitavam essa condição, construíram sua própria fé! Contudo sem formação, sem dimensão filosófica e teológica pastoral. Não demorou para que a falta destas dimensões formativas, fossem adaptadas para o campo da política conservadora e o resultado desta pulverização está aí para que todos possamos ver!

Além dos seminários, outra figura que transforma bons padres, em padres clericalistas, é a própria comunidade de leigos e leigas que exigem destes homens uma postura que muitos não gostariam de ter – nem têm – responsabilizando e exigindo destes uma postura de super humanos. Não é sem razão que existem tantas desistências e frustrações com o sonho da vida sacerdotal.

No campo progressista não é muito diferente, lamentavelmente! O que deveria ser um sopro de alívio para os padres, passa a ser também uma exigência de posicionamentos que cabem aos leigos e não aos padres. E isso também é muito frustrante.

Ao fim, o que se tem é um séquito de religiosos, que chegam numa comunidade e destroem a organização histórica Pastoral dessas comunidades e impõe o seu estilo e ponto de vista, acompanhado de um viés ideológico de extrema direita e hipócrita,  em detrimento da história daquela comunidade. Não servem. Exigem serem servidos.

Tem uma canção que gosto muito, que é bastante cantada na ceb nos atos penitenciais que diz assim:

“Quem não te aceita, quem te rejeita, pode não crer, por ver cristãos que vivem mal…”

Tenho visto cada vez mais pessoas que estão tristes com a Igreja Católica que trazem consigo características em comum: Não participam da vida comunitária, não batem um prego num sabão para ajudar na construção da reflexão e não ajudam na lida cotidiana da comunidade, mas querem espaço de liderança. Não topam estar numa turma de catequese com um grupo de 05 ou 10. Querem ser chamados para fazer palestra nos grupos x ou y, mas não estão dispostos a participar da formação na paróquia. Ou seja. Só aceitam posição de liderança ou de destaque, (igual ao padre) não querem, portanto, fazer parte da massa. O que não entendem é que se não se misturar a esta massa, jamais poderá ter de novo o prazer de se alegrar em uma comunidade.

Não é este o comportamento clericalista?? Não é essa a razão pela qual reclamamos dos Padres que não ouvem, não colocam os pés no barro, não frequentam a casa dos mais pobres?? Aí me pergunto, aos que reclamam daqueles: não estamos imitando e nos comportando da mesma forma??

Não é necessário brigar com o padre. Mas é necessário construir a comunidade junto com ele. Estar à disposição de uma comunidade de fé (E NÃO DO PADRE) significa também ter a humildade e a disposição de amadurecer a fé a partir do exemplo do lavapés e aí, sim, estar pronto para ajudar o padre. Afinal, o ensinamento Evangélico é que se não houver a permissão para que os próprios pés sejam lavados, não se compreenderá que este exemplo não é para usufruir de um serviço mas a ação diária para se fazer imitador de Cristo.

Portanto, esta reflexão não é um chamado de uma guerra contra os padres, muito menos de uma postura que queira lançar culpas a quem quer que seja, antes de mais nada é um apelo para que o clero, enquanto representantes tão privilegiados ( mas não únicos) do amor de Deus, se voltem novamente ao serviço profético de anunciadores do amor de Deus e denunciadores contra as mazelas que os poderosos infligem contra a razão maior das suas existências: os pobres.

Que todos nós, filhos e filhas de Deus e peregrinos por este mundo em busca do conforto espiritual, tenhamos a reciprocidade da acolhida de nossos pontos de vista e não da imposição do ponto de vista ideológico, travestido de teológico por parte do clero e de lideranças leigas fascistas, pois estas, destroem o amor, a fraternidade e a solidariedade entre nós!

Que nosso projeto de religiosidade tenha, na necessidade da dignidade de qualquer vida, o parâmetro da defesa da vida de todos, e que esta dignidade seja aplicada da concepção (e não apenas da concepção à Luz), indo até a morte natural como parâmetro da defesa da vida, conforme proposto pelo próprio Cristo. (João,10-10)

 

Toninho Kalunga é leigo orionita na Comunidade do Pequeno Cotolengo, Santuário São Luis Orione em Cotia e membro da Fraternidade Leiga Charles de Foucauld

Fonte: CEBs do Brasil

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Uma experiência sinodal na Igreja do Brasil https://observatoriodaevangelizacao.com/uma-experiencia-sinodal-na-igreja-do-brasil-2/ Thu, 25 Apr 2024 18:10:29 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49792 [Leia mais...]]]> Neste texto, Neuza Mafra nos apresenta “Uma experiência sinodal na Igreja do Brasil”. Trata-se do Sínodo da Diocese de Tubarão, que foi uma proposta “gestada aos poucos no Conselho Diocesano de Pastoral, amparada pelas comarcas (regiões pastorais), paróquias, comunidades e pastorais, através de consultas, sendo assumida concretamente por todos numa Assembleia Diocesana de Pastoral”, com a missão de transformar a realidade social/eclesial à luz do Concílio Vaticano II”. Não é exatamente isso que o papa Francisco vem impulsionando com o seu projeto de reforma da Igreja, de modo especial, com o Sínodo sobre a sinodalidade? 

Este é um texto da iniciativa do Serviço Teológico-Pastoral, que publica quinzenalmente em diversas mídias católicas textos opinativos que contribuam para a reflexão e a formação na caminhada de conversão sinodal da Igreja Católica impulsionada pelo papa Francisco.

Desejamos a todos e todas uma boa leitura!

 

UMA EXPERIÊNCIA SINODAL NA IGREJA DO BRASIL

 “O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do Terceiro milênio!” 

Papa Francisco

Por Neuza Mafra

Capa do Documento de Trabalho do Sínodo da Diocese de Tubarão.

O papa Francisco tem afirmado que a sinodalidade é uma dimensão constitutiva na vida da Igreja. Ou seja, é da sua natureza, o “caminhar juntos” dos irmãos e irmãs que acolhem o chamado de fazer parte do Povo de Deus e participar de sua missão. Daí a necessidade de realizar “sínodos” ao longo da caminhada, através de Assembleias Eclesiais para discernir, à luz da Palavra de Deus, questões pastorais, litúrgicas, doutrinais, que expressem o “modus vivendi et operandi da Igreja povo de Deus”. Esses são momentos específicos para tratar de determinados assuntos significativos para a caminhada, para tomadas de decisões conjuntamente. Evidencia, portanto, que a prática sinodal é recorrente na caminhada histórica da Igreja, inspirada na vivência das Primeiras Comunidades Cristãs, manifestações significativas inspiradas e referenciais da vida eclesial dos primeiros séculos. Não é uma invenção do papado de Francisco. Ele apenas deseja recuperar o que o próprio Concílio Vaticano II propôs.

Na caminhada recente da Igreja do Brasil, inúmeros eventos sinalizam essa prática: as Assembleias do Povo de Deus, as Conferências Episcopais, os Sínodos Diocesanos…

Voltemos em meados dos anos de 1984-1986, na Diocese de Tubarão, sul de Santa Catarina, onde se realizou o Sínodo Diocesano de Planejamento Participativo. Ele nasceu sob as inspirações do Concílio Vaticano II (1962-1965), das Conferências de Medellín (1968), Puebla (1979) e da organização da CNBB, no contexto da busca de uma pastoral de conjunto, como resposta ao cenário que naquele momento se apresentava na esfera eclesial. Uma experiência sinodal muito significativa que pode servir de inspiração profética para o nosso tempo. Vejamos.

 

Cenário eclesial da Diocese de Tubarão

O Sínodo da Diocese de Tubarão está situado no contexto histórico, social e eclesial dos anos de 1980. Passados vinte anos do Concílio Vaticano II, discernia-se que era chegado o momento da Igreja de Tubarão alinhar-se às perspectivas do grande Concílio. Isso porque, até então, as suas propostas e definições pastorais para a Igreja haviam chegado muito pouco à Diocese de Tubarão.

Mesmo com a reforma litúrgica e a catequese renovada, e embora já houvesse uma estrutura organizativa na Diocese de Tubarão, como o Secretariado Diocesano de Pastoral, a elaboração de planos de pastoral de conjunto, uma coordenação diocesana colegiada e também muitos setores de pastoral, a atividade eclesial ainda era desenvolvida numa perspectiva ad intra, a pastoral continuava centralizada nos padres e nas paróquias, em torno da sacramentalização e da Igreja-matriz, com a “pastoral de conservação”. Os movimentos eclesiais cresciam e multiplicavam-se, e mesmo tendo vida própria e participando pouco dos espaços de comunhão da Diocese, tinham a bênção do poder central da Igreja. Há que se considerar que houve um esforço na superação dessas práticas pré-conciliares, mas os resultados eram pequenos e estavam longe de caminhar numa perspectiva mais libertadora, voltada para a opção preferencial pelos pobres e com atuação no meio popular.

Da parte dos leigos e leigas, era nítido o desejo de pertencer a uma Igreja “Povo de Deus”, toda ministerial, servidora e comprometida com a vida e com os pobres, em diálogo com o mundo e, consciente de sua dimensão histórica. Contudo, estes ainda não se compreendiam como sujeitos eclesiais.

As Comunidades Eclesiais de Base – CEBs se apresentavam como uma promessa de renovação eclesial: fomentava-se Grupos de Reflexão em torno na Palavra de Deus, como sementeiras a fazer surgir novas lideranças, organização de projetos e lutas em defesa da vida, e futuras Comunidades Eclesiais de Base. Essa imagem de uma Igreja que emerge das bases, de baixo para cima, das periferias, era o horizonte desejado pelo Sínodo de Planejamento Participativo da Diocese de Tubarão.

 

A tomada de decisão 

A proposta de um Sínodo na Diocese foi gestada aos poucos no Conselho Diocesano de Pastoral, amparada pelas comarcas (regiões pastorais), paróquias, comunidades e pastorais, através de consultas, sendo assumida concretamente por todos numa Assembleia Diocesana de Pastoral (cf.: ASDT, 1985, v. 1, f.70).

 

O lema e os objetivos do Sínodo

A consulta feita às bases resultou num acúmulo de 50 sugestões vindas de toda a Diocese que apontavam para um lema: “Igreja, Povo a caminho da libertação” (ASDT, 1985, v. 2, f.14). Como dissemos, havia a preocupação em transformar a realidade social/eclesial à luz do Concílio Vaticano II.

Para fazer isso implicava olhar, profunda e atentamente, a realidade, suscitar pessoas, nos mais diferentes ambientes e situações, que assumissem um compromisso, ou seja, multiplicar lideranças. Para isso, foram assumidos os seguintes objetivos para o Sínodo:

  • 1º Elaborar um plano de pastoral;
  • 2º Tentar adaptar a Igreja aos novos tempos;
  • 3º Dar mais voz e vez aos leigos/as na Igreja;
  • 4º Conhecer a realidade global;
  • 5º Fazer um planejamento participativo e orgânico;
  • 6º Fazer do planejar um evangelizar. (DF, 75, 1983, p.2-7).

O número de participantes no Sínodo teve um tom de legitimidade: “será uma convocação de todas as pessoas, grupos e comunidades das cinquenta e três (53) paróquias que compõem a Diocese” (ASDT, 1985, v. 1, f. 7).

 

O que o Sínodo fortaleceu

Durante seu processo, a formação para a sinodalidade fervilhava por todos os lugares. Era comum ver leigos/as participando de formações lideradas pelos padres, e também os padres participando de formações lideradas pelos leigos/as.

O processo de planejamento participativo, com a metodologia assumida no Sínodo da Diocese de Tubarão, apontava os novos caminhos para a Igreja diocesana, firmando a eclesiologia do “Povo de Deus”.

Essa prática fortaleceu as instâncias de comunhão, participação e missão que estavam no bojo de todo o processo sinodal, tais como:

  • os Conselhos de Pastoral, em todas as instâncias, com a descentralização do poder nas tomadas de decisões e encaminhamentos;
  • as Assembleias em todas as instâncias, como órgãos máximos de tomada de decisão;
  • Conselho de Leigos/as;
  • Associação dos Presbíteros;
  • Escola de Teologia para Leigos e Leigas;
  • os Cursos de Capacitação;
  • bem como, outras forças vivas.

O Sínodo constituiu-se num processo vivo e criativo de renovação. Por meio dele algumas conquistas foram reafirmadas e passos concretos foram dados. A busca por respostas novas foi marcada por momentos de tensões, de incertezas e de conflitos, o que exigiu uma conversão pessoal e pastoral. E sempre exigirá.

Entre a implementação do processo do Sínodo, a organização, a realização e o pós-sínodo, enquanto momento próprio para a sua recepção na vida e no dinamismo concreto da Igreja, há uma caminhada de muitos passos. Exige espaço e tempo de reflexão, aprofundamento, abertura e paciência histórica, conflitos e discernimento de novos desafios que se apresentam. Não podemos esquecer que a Igreja é Povo de Deus que caminha rumo a libertação. E da caminhada da Igreja, como nos ensina o Concílio, se exige dupla fidelidade: primeiro, ao Evangelho e a Tradição da Igreja, segundo, ao tempo de hoje.

Talvez esteja na hora da Diocese de Tubarão realizar um novo sínodo!

Bibliografia:

  1. Compêndio dos Documentos do Sínodo de Planejamento Participativo 1984-1986;
  2. Anotações da Tese de Doutorado de Pe. Pedro Paulo das Neves;

(Os grifos são nossos.)

Neuza Mafra é pedagoga, com pós-graduação em Doutrina Social da Igreja. Trabalha na Cáritas, faz parte da Ampliada das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs e é colunista do Portal das CEBs.
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Igreja em saída para as periferias. Caminhar juntos na missão https://observatoriodaevangelizacao.com/igreja-em-saida-para-as-periferias-caminhar-juntos-na-missao-2/ Thu, 25 Apr 2024 14:18:18 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49783 [Leia mais...]]]>
IGREJA EM SAÍDA PARA AS PERIFERIAS. CAMINHAR JUNTOS NA MISSÃO
Por Francisco Aquino Júnior
A Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe (novembro de 2021), proposta pelo papa Francisco em resposta à solicitação de uma nova Conferência do Episcopado Latino-americano, reuniu as várias expressões e os vários organismos do Povo de Deus. Ela aconteceu no contexto do processo de escuta sinodal em preparação ao próximo sínodo dos bispos em outubro de 2023 (Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação, missão) e no espírito da última conferência do episcopado latino-americano em Aparecida em maio de 2007 (Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida). Essa dupla referência dá o tom e a perspectiva dessa Primeira Assembleia Eclesial: sinodalidade e missão. E aparece claramente no tema da assembleia: Todos somos discípulos missionários em saída. São aspectos inseparáveis que se remetem e se implicam mutuamente: a missão é de todos e deve ser assumida por todos (“caminhar justos” do povo de Deus) e a sinodalidade se dá na e em função da missão (“caminhar juntos” na missão). Nunca é demais insistir na natureza sinodal da missão (povo de Deus) e na natureza missionária da sinodalidade (missão).
Mas aqui queremos insistir nesse segundo aspecto: a natureza missionária da sinodalidade. Pode parecer algo simples e evidente, mas na prática é muito mais complexo e problemático do que possa parecer. Primeiro, porque a insistência na participação de todos na Igreja pode acabar relativizando e/ou deixando em segundo plano o “onde” e o “em que” consiste e se dá essa participação e terminar em disputa de poder que não deixa de ser mais uma expressão de clericalismo (disputa de chefia/mando). Segundo, porque a missão pode e comumente costuma ser entendida/realizada de maneira autocentrada ou autorreferencial, relativizando ou mesmo negando seu caráter de “sacramento” de salvação ou do reinado de Deus no mundo e de “serviço” aos pobres e marginalizados desse mundo (crescimento e dinamismo interno da Igreja). Basta ver em que consiste (na prática, não nos textos e documentos) os movimentos de animação missionária em nossas comunidades, paróquias e dioceses…
Não basta dizer que a Igreja é missionária. É preciso compreender bem em que consiste esta missão que não é outra senão a missão de Jesus, tal como está narrada/testemunhada nos Evangelhos: anunciar e tornar presente o reinado de Deus no mundo. Na prática, isso significa/implica socorrer os caídos, curar as feridas, consolar os aflitos e desesperados, acolher os marginalizados/excluídos e fazer comunhão de mesa com eles, afrontar costumes e leis que agridam a dignidade humana, denunciar os poderosos e opressores, viver e desencadear processos de fraternidade (amor, perdão, compaixão, serviço etc.), exercitar o poder como serviço. Numa palavra: viver na lógica do reinado de Deus: filiação divina que se concretiza no amor e na fraternidade entre todos, até com os inimigos. Toda atividade eclesial (catequese, liturgia, encontros de formação, Santas Missões Populares, visitas missionárias etc.) deve ser pensada e realizada em vista da missão fundamental da Igreja que é anunciar e tornar presente no mundo o reinado de Deus que é um reinado de fraternidade, de justiça e de paz.
Francisco não se cansa de insistir na necessidade e urgência de uma “transformação missionária da Igreja” (EG, cap. I), entendida como “saída para as periferias” geográficas, sociais e existenciais (EG, 20, 30, 46, 191). Frente a tendências autorreferenciais da Igreja, insiste sem cessar na necessidade e urgência de “saída para as periferias”. Contra todo comodismo, é preciso sair (Igreja em saída). Mas não se trata de uma saída qualquer para qualquer lugar e/ou qualquer coisa, mas de uma saída em direção à humanidade sofredora para viver a fraternidade, curar suas feridas, socorrer suas necessidades, participar de suas lutas por direitos etc. (saída para as periferias).
E essa perspectiva missionária constitui o coração da Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. Isso aparece claramente no tema da assembleia: Todos somos discípulos missionários em saída. E é melhor explicitado nos desafios pastorais identificados e assumidos pela assembleia. É verdade que a ordem/sequência de apresentação dos desafios (não se sabe bem o critério usado aqui) pode relativizar a até perder de vista esse horizonte da missão cristã, pondo mais ênfase na vida interna da Igreja (participação eclesial, protagonismo dos leigos) que em sua missão no mundo (saída para as periferias). É a tentação permanente à autorreferencialidade e ao clericalismo… Em todo caso, alguns dos desafios identificados e assumidos pela assembleia indicam a perspectiva e o caminho fundamentais da Igreja nesse mundo e, concretamente, em nosso tempo:
“acompanhar as vítimas das injustiças sociais e eclesiais com processos de reconhecimento e reparação”;
“promover e defender a dignidade da vida e da pessoa humana desde sua concepção até sua morte natural”; “escutar o clamor dos pobres, excluídos e descartados”;
“reafirmar e dar prioridade a uma ecologia integral em nossas comunidades, a partir dos quatro sonhos da [Exortação Apostólica] Querida Amazônia”;
“acompanhar os povos originários e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e das culturas”.
Certamente, esses não são os únicos desafios de nosso mundo. E certamente não basta identificar os desafios: Eles precisam ser concretizados e enfrentados em cada território e/ou contexto. Precisam ser transformados em projetos pastorais. Precisam ser assumidos como missão fundamental de toda a Igreja. Mas os desafios identificados e assumidos indicam onde deve estar o coração da Igreja de Jesus e para onde ela deve caminhar, se quiser ser fiel a Jesus e seu Evangelho do reinado de Deus que consiste na manifestação do amor de Deus pela humanidade sofredora, por mais que isso seja escandaloso para os “sacerdotes e escribas”, o “filho mais velho” ou os “operários da primeira hora” que somos todos nós. Os pobres e marginalizados desse mundo são, n’Ele, juízes e senhores de nossas vidas, igrejas e teologias (Mt 25, 31-46).
Francisco Junior Aquino é presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte – CE, membro do grupo Emaús, assessor das CEBs e das Pastorais Sociais, ele é professor de teologia da Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) e da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).
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Processos educativos para a sinodalidade https://observatoriodaevangelizacao.com/processos-educativos-para-a-sinodalidade/ Thu, 25 Apr 2024 11:03:50 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46561 [Leia mais...]]]> Neste texto, a teóloga Alzirinha Souza nos mostra a relação estreita fecunda e pedagogicamente decisiva entre sinodalidade e comunidade. Isso porque sinodalidade é “a construção comum de uma nova forma de caminhar juntos, de modo que todos tenham voz, vez e lugar na comunidade eclesial, onde as diferenças sejam superadas em favor da comum-união que se estabelece em torno da pessoa de Jesus” e a comunidade é “a base dos processos de formação. É ela que dá à humanidade e à Igreja a possibilidade de existirem concretamente na história… a personificação da realidade histórica, da humanidade nova (homens novos) na expressão paulina, em que se reflete, a partir do Evangelho, valores humanos que constroem e formam os que ali convivem”.

Alzirinha enfatiza que “é em comunidade que se revela a verdadeira superação das relações de dominação” e “a real comunidade existe no ágape, no compromisso vivido por seus membros. Ele (o ágape) é o bem superior e permanece para sempre, cria koinonia, cria vida comum que leva à participação de todos aos mesmos bens (1Cor 13)”. E ao constatar que “muitas vezes que não reaprendemos a dialogar como sujeitos eclesiais até os dias de hoje”, afirma que “é urgente desenvolver processos de educação para o diálogo — logo, para a sinodalidade — que rompam com lógicas não pertencentes ao sentido evangélico de comunidade”.

Este é um texto da iniciativa do Serviço Teológico Pastoral, que publica em diversas mídias católicas textos opinativos que contribuam para a reflexão e a formação na caminhada de conversão sinodal da Igreja Católica impulsionada pelo papa Francisco.

Desejamos a todos e todas uma boa leitura!

Processos educativos para a sinodalidade

Em tempos de distanciamentos, secularismos, individualismos e dinâmicas de poder que já entraram em nossas comunidades eclesiais, a sinodalidade — enquanto nova forma de convivência proposta a partir do Evangelho — torna-se “o” caminho por excelência para cristãos e cristãs desejosos de constituir uma Igreja que quer ser sinal do Reino de Deus nesse processo histórico.

Por isso, não se trata apenas de “caminhar juntos”. Isso é o que vimos tentando fazer desde o princípio da Igreja. Sinodalidade é, antes, a construção comum de uma nova forma de caminhar juntos, de modo que todos tenham voz, vez e lugar na comunidade eclesial, onde as diferenças sejam superadas em favor da comum-união que se estabelece em torno da pessoa de Jesus (EG, 228).

Tal processo de retomada exige que voltemos a nos compreender como comunidade. Elemento central para o cristianismo e, em especial, para a teologia paulina (que a toma como modelo concreto de caminho de transformação humana), a reflexão sobre a comunidade deve ser a base dos processos de formação. É ela que dá à humanidade e à Igreja a possibilidade de existirem concretamente na história. Desde o Novo Testamento, elas são em si mesmas a personificação da realidade histórica, da humanidade nova (homens novos) na expressão paulina, em que se refletem, a partir do Evangelho, valores humanos que constroem e formam os que ali convivem. Por isso, desde o cristianismo primitivo, “homens novos” constituem uma realidade social, concreta, visível e palpável que vai sendo afirmada através da expressão revestir-se do homem novo (Ef 4,22-24).

Revestir-se significa entrar na comunidade cristã e adotar seu modo de viver. Dessa forma, a comunidade cristã reafirma o que é a mensagem fundamental do Novo Testamento: o homem novo não é um indivíduo nem é uma humanidade total concebida como grande corpo, em que os indivíduos seriam uma grande engrenagem. A comunidade é mais: “representa o homem novo, frente a todos os individualismos e todos os totalitarismos sociais, eclesiásticos, civis ou militares” (Comblin, 1987, p. 23)[2].. É em comunidade que se revela a verdadeira superação das relações de dominação. Elas são constituídas pela liberdade. Todos tomam a iniciativa e ninguém está obrigado a fazer a vontade do outro — o que não quer dizer uma anarquia, mas, sim, que cada um faz voluntariamente o que é bom para a comunidade. A liberdade sem serviço mútuo leva ao individualismo, e o serviço sem liberdade leva ao totalitarismo (Gal 5,13) (Comblin, 1987, p. 114)[3]. Ser livre é ser com os outros, entrar nas relações novas movidas pelo amor. Nesse sentido, não existe liberdade do homem só. O conteúdo concreto da liberdade é a relação mútua entre homens e mulheres a partir da chave do serviço mútuo (Comblin, 1974, p. 91)[4].

Essas relações são baseadas pelo ágape, que, ao contrário do amor como disposição subjetiva individual, é a alma da comunidade, pois permite estabelecer uma relação de compromisso mútuo entre pessoas, em que todos participam do bem comum. Logo, a real comunidade existe no ágape, no compromisso vivido por seus membros. Ele (o ágape) é o bem superior e permanece para sempre, cria koinonia, cria vida comum que leva à participação de todos nos mesmos bens (1Cor 13). Por isso, o papa Francisco nos pede que promovamos uma comunhão dinâmica, aberta e missionária, que estimule os organismos de participação e outras formas de diálogo pastoral com o desejo de ouvir a todos, e não apenas alguns (EG, 31).

Ora, esse processo não é dado por si mesmo. É necessário formar as pessoas para essa dinâmica, conscientizá-las da possibilidade de novas formas de ser Igreja. Estabelecer uma nova dinâmica que nasce do diálogo para nós, não é fácil. Como apresentado anteriormente, à luz do pensamento de Joseph Moingt[5], recordamos as bases históricas da formação eclesial que limitaram o aprendizado para o diálogo. E, apesar de o Concílio Ecumênico Vaticano II ter afirmado que a vida de todo cristão é sacerdotal na medida em que ele se entrega ao poder do amor (encarnado na autodoação salvífica de Jesus Cristo ao nos olharmos hoje), constatamos muitas vezes que não reaprendemos a dialogar como sujeitos eclesiais até os dias de hoje.

Por isso, é urgente desenvolver processos de educação para o diálogo — logo, para a sinodalidade — que rompam com lógicas não pertencentes ao sentido evangélico de comunidade. É preciso que esses processos incluam todos(as) em seu sentido mais lato, ou seja, tanto aqueles(as) que pretendem formar para a sinodalidade (mas que, eventualmente, não percebem que em muitas práticas não o fazem) como os que se formam para uma mudança de atitude, estabelecendo uma dinâmica global na Igreja.

Não é nossa intenção aqui propor métodos ou práticas formativas. Antes, queremos exortar a que eles sejam desenvolvidos, considerando cada contexto concreto, e implementados a partir da chave de ressignificação da comunidade em todos os espaços de nossa comunidade eclesial, desde as comunidades e paróquias até os seminários e casas de formação. A riqueza da Igreja consiste numa diversidade ampla, constituída por cada pessoa que pode contribuir para o estabelecimento de uma nova dinâmica. Isso é apreendido, exercitado e construído à medida que nos colocamos na dinâmica do Espírito que nos impulsiona às transformações de nós mesmos e de nossas realidades.

 

Referências:

Comblin, José. Antropología Cristiana. Madrid: Ediciones Paulinas, 1987

Comblin, José. Liberté et libération, concepts théologiques. Revue Concilium, n. 96, p. 85-95 (p. 91), jun. 1974.

Souza, Alzirinha. Fazer a Igreja Católica se mover: a pertinência do Evangelho no mundo contemporâneo. Paralellus, Recife, v. 9, n. 22, p. 667-697 (p. 673), set./dez. 2018.

Notas:

[2] Comblin, J. Antropología Cristiana. Madri: Ediciones Paulinas, 1987. p. 23. (Colección Teología y Liberación).

[3] Comblin, J. Antropología Cristiana. Madri: Ediciones Paulinas, 1987. p. 114. (Colección Teología y Liberación).

[4] Comblin, J. Liberté et libération, concepts théologiques. Revue Concilium, n. 96, p. 85-95 (p. 91), jun. 1974.

[5] Souza, Alzirinha. Fazer a Igreja Católica se mover: a pertinência do Evangelho no mundo contemporâneo. Paralellus, Recife, v. 9, n. 22, p. 667-697 (p. 673), set./dez. 2018.

Profª Drª Alzirinha Souza é leiga, doutora em Teologia pela Université catholique de Louvain, na Bélgica, mestre em Teologia pela Universidad San Dámaso (Madri, Espanha), e bacharel em Teologia pela PUC-SP. Membro da Sociedade Internacional de Teologia Prática (SITP); fundadora e colaboradora do Centro de Pesquisa de Documentação José Comblin – Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Atualmente, é professora do Mestrado Profissional em Teologia Prática da PUC Minas.

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Sinodalidade e missão: na Igreja sinodal, onde estão e qual o lugar das jovens e dos jovens? https://observatoriodaevangelizacao.com/sinodalidade-e-missao-na-igreja-sinodal-onde-estao-e-qual-o-lugar-das-jovens-e-dos-jovens-2/ Tue, 23 Apr 2024 18:22:51 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49797 [Leia mais...]]]> Neste texto de dom Luiz Fernando Lisboa, “Sinodalidade e missão: na Igreja sinodal, onde estão e qual o lugar das jovens e dos jovens?”, no qual recorda a primeira prioridade da Assembleia Eclesial da América Latiana e Caribe – “Reconhecer e valorizar o protagonismo dos jovens na comunidade eclesial e na sociedade como agentes de transformação” -, lança como desafio: “temos longo caminho a percorrer. As comunidades cristãs devem ´criar´ estes espaços para os adolescentes e jovens. Os adolescentes e jovens, quando perceberem que não têm este espaço, devem ´conquistar´, ´exigir´ até que consigam. Quando é conquistado, tem ainda mais valor“.

Este um texto da iniciativa do Serviço Teológico-Pastoral, de publicar quinzenalmente textos opinativos que contribuam para a reflexão e a formação na caminhada de conversão sinodal da Igreja Católica impulsionada pelo papa Francisco.

Como afirma dom Luiz Fernando, “Para que este caminho da Sinodalidade seja realmente autêntico, é fundamental a participação e a contribuição dos Jovens na missão da Igreja, especialmente trazendo o que eles têm de melhor: a provocação, a inquietação e a alegria“.

Desejamos a todos e todas uma boa leitura!

 

Sinodalidade e missão: na Igreja sinodal, onde estão e qual o lugar das jovens e dos jovens?

Por Dom Luiz Fernando Lisboa, cp

Bispo de Cachoeiro de Itapemirim, ES

A Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe e o Sínodo sobre a Sinodalidade tiveram início na mesma época: Outubro e Novembro de 2021. Os dois acontecimentos são processos abertos, iniciados, mas sem data de conclusão. São um verdadeiro desafio para colocar a Igreja Povo de Deus, em sinodalidade, a caminho, em missão.

O papa Francisco pediu que a Assembleia Eclesial retomasse Aparecida e assim o fizemos. Na verdade, muitas reflexões da Conferência de Aparecida já tinham sido feitas nas Conferências passadas, sobretudo nas de Medellin e Puebla: a opção preferencial pelos pobres, a opção preferencial pelos jovens, as comunidades eclesiais de base, a centralidade da Palavra, a participação das mulheres, as culturas e a interculturalidade, a missão, entre outras.

A Assembleia Eclesial, com o Documento de Aparecida nas mãos, a partir testemunhos, de reflexões teológico-bíblico-pastorais e dos trabalhos em grupos, alertou nossa Igreja latino-americana para 41 desafios pastorais e, juntos, chegamos à escolha de 12 prioridades, sem deixar de lado os desafios. Entre as prioridades, chamou a atenção que a primeira delas tenha sido: “Reconhecer e valorizar o protagonismo dos jovens na comunidade eclesial e na sociedade como agentes de transformação”.

Registro de jovens protagonistas na Igreja Católica no projeto Economia de Francisco e Clara.
  1. O que já se disse sobre a Juventude na Igreja após o Vaticano II?

A Conferência de Medellín (1968) afirmou que

frequentemente os jovens identificam a Igreja com os bispos e os sacerdotes. Por não terem sido chamados a uma plena participação na comunidade eclesial, não se consideram como integrantes da Igreja. A linguagem comum da transmissão da palavra (pregação, documentos pastorais etc.), são-lhes muitas vezes estranhos e por isso não têm influência em suas vidas. Esperam dos pastores que não somente divulguem princípios doutrinais, mas que os provem com atitudes e realizações concretas. Dá-se o caso de jovens que condicionam a aceitação dos pastores à coerência de suas atitudes com a dimensão social do Evangelho: («…o mundo, disse Paulo VI, nos observa hoje de modo particular com relação à pobreza e à simplicidade de vida…»). (Med 5. Juventudes 1.1.5).

Na Conferência de Puebla (1979) a Igreja fez a “opção preferencial pelos jovens” e afirmou que “confia neles e que eles são a sua esperança” (DP 1186), além de que

os jovens devem sentir que são Igreja, experimentando-a como lugar de comunhão e participação. Por isso, a Igreja aceita suas críticas, por reconhecer-se limitada em seus membros, e os quer gradualmente responsáveis na sua construção até que os envie como testemunhas e missionários, especialmente à grande massa juvenil. Nela, os jovens sentem-se povo novo, o povo das bem-aventuranças, sem outra segurança que a de Cristo; um povo dotado de coração de pobre, contemplativo, em atitude de escutar e discernir evangelicamente, construtor de paz, portador de alegria e de um projeto libertador integral em favor, sobretudo, de seus irmãos jovens. (DP 1184).

            Para Puebla, é preciso investir fortemente na Pastoral Juvenil pois

a juventude não se pode considerar em abstrato, nem é um grupo isolado no corpo social. Por isso, ela requer pastoral articulada que permita comunicação efetiva entre os diversos períodos da juventude e continuidade de formação e compromisso depois, na idade adulta. (DP 1204).

 Santo Domingo (1992) dá continuidade ao apoio e àquele espaço que os jovens devem ocupar nas suas comunidades e ressalta que

na Igreja da América Latina, os jovens católicos organizados em grupos, pedem aos pastores acompanhamento espiritual e apoio em suas atividades, mas necessitam sobretudo em cada país de linhas pastorais claras que contribuam para uma pastoral juvenil orgânica” (SD 113).

Os bispos em Santo Domingo chegam a prometer:

Nós nos propomos executar as seguintes ações pastorais: – Reafirmar a “opção preferencial” pelos jovens proclamada em Puebla, não só de modo afetivo mas também efetivamente; isto deve significar uma opção concreta por uma pastoral juvenil orgânica, onde haja um acompanhamento e apoio real com diálogo mútuo entre jovens, pastores e comunidades. A efetiva opção pelos jovens exige maiores recursos pessoais e materiais por parte das paróquias e das dioceses. Esta pastoral juvenil deve ter sempre uma dimensão vocacional. (SD 114).

Em Aparecida (2007), a Igreja é chamada a estimular a pastoral dos adolescentes, com suas próprias características pois o adolescente procura uma experiência de amizade com Jesus (DAp 442) e, além disso, os jovens e adolescentes constituem a grande maioria da América Latina e do Caribe e representam enorme potencial para o presente e o futuro da Igreja e de nossos povos, como discípulos missionários (DAp 443).

Aparecida ainda acentua a importância da Pastoral da Juventude pois ela “ajudará os jovens a se formar de maneira gradual, para a ação social e política e a mudança de estruturas, conforme a Doutrina Social da Igreja, fazendo própria a opção preferencial e evangélica pelos pobres e necessitados” (DAp 446e).

Na Exortação Apostólica Christus Vivit, elaborada depois e como fruto do Sínodo sobre a Juventude (2019), o papa Francisco pergunta:

«Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos a todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nossos olhos mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenhais medo de ir e levar Cristo a todos os ambientes, até às periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor». E convida-nos a levar, sem medo, o anúncio missionário aos locais onde nos encontrarmos e às pessoas com quem convivermos: no bairro, no estudo, no desporto, nas saídas com os amigos, no voluntariado ou no emprego, é sempre bom e oportuno partilhar a alegria do Evangelho. É assim que o Senhor Se vai aproximando de todos; e pensou em vós, jovens, como seus instrumentos para irradiar luz e esperança, porque quer contar com a vossa coragem, frescor e entusiasmo” (CV 177).

 

  1. Qual o espaço que a juventude tem ocupado na Igreja, hoje? Outras interrogações pertinentes

Quando levamos em conta todos os documentos da Igreja que estimulam e valorizam a participação da juventude, todas as últimas JMJs, a recente priorização da Juventude pela Assembleia Eclesial e tantos outros bons propósitos, nos perguntamos: Eles ajudaram ou fizeram realmente a juventude ocupar o seu espaço dentro da Igreja e na sociedade? Sim e Não!

Há comunidades, paróquias, dioceses nas quais a juventude é protagonista e tem grande envolvimento na participação e nas tomadas de decisão. Elas – comunidades, paróquias, dioceses – entenderam o ensinamento de Puebla que afirma que os jovens devem sentir que são Igreja, experimentando-a como lugar de comunhão e participação. E ainda, que, aceitam suas críticas e os quer gradualmente responsáveis na sua construção e os enviam como testemunhas e missionários, especialmente à grande massa juvenil (DP 1184).

No entanto, há muitas comunidades, paróquias e dioceses parecidas com realidades da Europa, onde a participação é maioritariamente de adultos e idosos. Em certas realidades, e não são poucas, a juventude ainda está afastada e não tem vontade de participar porque “incomoda muito”, tamanha a falta de sensibilidade, de acolhida e vontade dos adultos de conviver com esta faixa etária. Muitos jovens não veem nenhum “atrativo” na Igreja. Também é verdade que não se preparam suficientemente pessoas para assessorarem a juventude. Esta assessoria faz muita falta e faz toda a diferença.

Algumas perguntas para ajudar na nossa reflexão: Quantos jovens há nos nossos conselhos de pastoral comunitário, paroquial e diocesano? Como cuidamos da formação da juventude? Qual o acompanhamento que se dá aos nossos crismandos e crismados? Por que a maioria abandona a Igreja? Qual a relação e o trabalho conjunto entre a PJ e a Catequese Crismal? Qual a importância que damos ao acompanhamento dos adolescentes em geral? Em que medida envolvemos a juventude em nossas ações missionárias? Qual o conhecimento que oferecemos sobre a Doutrina Social da Igreja, já que eles são tão sensíveis a esta temática? Quais os espaços são oferecidos ou conquistados pela juventude na Igreja? Como são acolhidos, acompanhados e orientados os Movimentos juvenis? Qual a ligação dos Movimentos juvenis com a Pastoral da Juventude e com a Pastoral de Conjunto? O que nos falta fazer para esta integração?

Ainda: Como é a formação nos nossos Seminários? Por que muitos padres jovens não querem trabalhar com a juventude? Por que há tão poucos padres, religiosas, religiosos, leigos e leigas especializando-se em pastoral juvenil? Por que os bispos não enviam de cada Diocese ao menos três ou quatro pessoas para se especializarem em Pastoral juvenil? Onde estão no Brasil e na América Latina os Centros especializados em Pastoral juvenil?

 

  1. A Igreja não será sinodal sem os jovens e as jovens

A Igreja sempre foi conduzida por um adulto, aliás, na maior parte do tempo e nos últimos séculos, por um idoso. Isto, porém, não tira a importância do quanto ela foi ajudada a mudar e avançar a partir da visão e audácia de muitos jovens e muitas jovens que a desafiaram: Paulo de Tarso, Francisco e Clara de Assis, Terezinha do Menino Jesus, Joana D’arc, Agostinho, Rosa de Lima, Carlos Lwanga, entre tantos outros e outras.

A Assembleia Eclesial aponta esta prioridade da Juventude justamente porque temos longo caminho a percorrer. As comunidades cristãs devem “criar” estes espaços para os adolescentes e jovens. Os adolescentes e jovens, quando perceberem que não têm este espaço, devem “conquistar”, “exigir” até que consigam. Quando é conquistado, tem ainda mais valor.

Jovens, adolescentes, adultos, crianças, idosos, vulneráveis, descartados, todos e todas fazem parte deste Povo de Deus a caminho.

O papa Francisco enviou aos Jovens uma belíssima mensagem em preparação para a 36ª Jornada Mundial da Juventude, a realizar-se em Lisboa, em 2023, baseado no texto bíblico de Atos dos Apóstolos 26, 16, quando Jesus diz a Paulo: “Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste!”. Eis o que o Papa propõe aos jovens de hoje:

– Levanta-te e testemunha a tua experiência de cego que encontrou a luz, viu o bem e a beleza de Deus em si mesmo, nos outros e na comunhão da Igreja que vence toda a solidão.

– Levanta-te e testemunha o amor e o respeito que se podem estabelecer nas relações humanas, na vida familiar, no diálogo entre pais e filhos, entre jovens e idosos.

– Levanta-te e defende a justiça social, a verdade e a retidão, os direitos humanos, os perseguidos, os pobres e vulneráveis, aqueles que não têm voz na sociedade, os imigrantes.

– Levanta-te e testemunha o novo olhar que te faz ver a criação com olhos cheios de maravilha, te faz reconhecer a Terra como a nossa casa comum e te dá a coragem de defender a ecologia integral.

– Levanta-te e testemunha que as existências fracassadas podem ser reconstruídas, as pessoas já mortas no espírito podem ressuscitar, as pessoas escravizadas podem voltar a ser livres, os corações oprimidos pela tristeza podem reencontrar a esperança”.

– Levanta-te e testemunha com alegria que Cristo vive! Espalha a sua mensagem de amor e salvação entre os teus coetâneos, na escola, na universidade, no trabalho, no mundo digital, por todo o lado. (Mensagem do papa Francisco em preparação para a 36ª Jornada Mundial da Juventude)

Para que este caminho da Sinodalidade seja realmente autêntico, é fundamental a participação e a contribuição dos Jovens na missão da Igreja, especialmente trazendo o que eles têm de melhor: a provocação, a inquietação e a alegria.

Dom Luiz Fernando Lisboa, bispo de Cachoeiro – ES
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X Assembleia Nacional dos Organismos do Povo de Deus: um caminho de sinodalidade https://observatoriodaevangelizacao.com/x-assembleia-nacional-dos-organismos-do-povo-de-deus-um-caminho-de-sinodalidade/ Wed, 19 Oct 2022 16:49:15 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46247 [Leia mais...]]]>  

Igreja do Brasil reúne representantes da totalidade do Povo de Deus.

Com o tema “Comunhão e Missão: caminho para a Igreja do Brasil”, aconteceu em Brasília-DF, a X Assembleia Nacional dos Organismos do Povo de Deus. Encontro que reúne representantes da totalidade do povo de Deus: cristãos leigos e leigas, membros dos Institutos Seculares, da Vida Religiosa Consagrada, representantes dos diáconos, dos presbíteros e dos bispos. Um encontro que expressa a busca da “sinodalidade” na Igreja do Brasil, desde a sua primeira assembleia, em 1991. Esta aconteceu entre os dias 14 a 16 de outubro e lema que animou o caminho a ser feito foi “Preservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (cf. Ef. 4,5).

A caminho de uma Igreja mais sinodal

Dois acontecimentos importantes marcaram o primeiro dia da Assembleia: a celebração dos 70 anos da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, presidida pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambatistta Diquattro e concelebrada por Dom Jaime e Dom Joel, membros da Diretoria da CNBB. Outro acontecimento importante foi a abertura da X Assembleia dos Organismos do Povo de Deus. Dom Walmor de Oliveira Azevedo, atual Presidente da CNBB, por motivos de saúde, não pode estar presente e enviou uma vídeo mensagem para os participantes. Ele destacou que vivemos tempos de grandes dificuldades, mas também de riquezas e entre elas, uma grande riqueza e representada pelos Organismos do Povo de Deus. Assim, de corações abertos à graça de Deus, no amor fraterno e sororal desejou que seja reforçada a comunhão na Igreja do Brasil.

Cada representante dos vários Organismos teve oportunidade de fazer uso da palavra no momento de abertura da Assembleia. Nas falas sobressaíram os temas da sinodalidade, a colegialidade, da busca de caminhar juntos, o cuidado com a Casa Comum,  a missão da Igreja diante da crise civilizatória que vivemos, a necessidade de discernir os sinais dos tempos. Olhando para a SSma. Trindade, somos todos iguais, precisamos caminhar juntos para dar respostas urgentes aos clamores do povo, nas periferias geográficas e existenciais. Para isso é preciso vencer o clericalismo, em todas as suas formas e dimensões, pois este vem sendo empecilho para a missão da Igreja.

Depois das falas de abertura, Laudelino fez uma memória das Assembleias anteriores por meio de uma contextualização eclesial e social da caminhada dos Organismos do Povo de Deus. Fundamentando-se nos documentos da Igreja lembrou que as raízes desta caminhada encontram-se no Vaticano II, de modo especial na Constituição Dogmática Lumen Gentiun e que, mesmo antes de tratarmos da sinodalidade, já a experimentamos nessa caminhada das Assembleias dos Organismos do povo de Deus. E com boa fundamentação bíblica  expressou, com clareza, a contextualização social e, diante do quadro político atual, cheio de tantas contradições e ameaças, não dá para ficar do lado de quem apoia a morte, a violência, o ódio, a mentira e finalizou citando Charles de Foucauld: pergunte o que Jesus faria neste contexto e faça.

Anseio por uma Conferência Eclesial do Brasil

O segundo dia da Assembleia dos Organismos do Povo de Deus foi dedicado a uma retomada  do processo sinodal na Igreja do Brasil. Dom Joel enfatizou a caminhada feita até o momento, a experiência pessoal de cada um e a síntese nacional enviada a Roma. Das sínteses enviadas à CNBB, ressaltou o desafio da síntese final organizada em três eixos: Valores, Preocupações e Sugestões. Para o trabalho da manhã focou-se nos dois primeiros eixos deixando as sugestões para serem apresentadas na parte da tarde em outro momento de trabalho em grupos. Formaram-se quatro grupos: 1. Ministerialidade; 2. Ação Sócio-Transformadora; 3. Solidariedade aos vulneráveis; 4. Cuidado com a Casa Comum. Na parte da tarde o trabalho das oficinas ocupou-se na busca de sugestões a serem apresentadas para as próximas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil.

Em dois momentos, um pela parte da manhã e outro pela parte da tarde, ocorreram partilhas de vida, com testemunhos de representantes de cada um dos Organismos do Povo de Deus. Cada testemunho procurava identificar como a sinodalidade está sendo vivida em diferentes regiões. Foi um momento enriquecedor sinalizando o Evangelho transformado em ação diante de realidades desafiantes,  na busca da justiça, da solidariedade e na promoção da vida. Foram destacadas ações e projetos desenvolvidos com a juventude, iniciativas de geração de renda, defesa dos povos originários e da Casa Comum, empoderamento da mulher, acolhida e amparo de crianças em situação de vulnerabilidade,  participação nas lutas populares e na promoção humana, entre outras.

Na parte da tarde, houve a apresentação de uma minuta da “carta compromisso” da Assembleia e uma breve “fila do povo” na qual sobressaiu o anseio de uma maior participação dos organismos na vida eclesial salientando que os eixos sinodais “Comunhão, Participação e Missão”, pois formam um conjunto e devem ser tomados sem uma hierarquização de um sobre os demais. Com isso manifestou-se o anseio da criação de mecanismos que garantam maior participação efetiva de todos. Também retomou-se o anseio pela criação de uma Conferência Eclesial do Brasil, apelo que vem desde a Assembleia do Conselho Nacional do Laicato, celebrada em agosto deste ano. Outro anseio apresentado foi a manutenção da denominação CEBs: “Comunidades Eclesiais de Base”, por sua raiz na história e teologia latino-americanas. Os Intereclesiais expressam o encontro e o trabalho conjunto de comunidades, Igreja viva,  e, desde às suas origens, são expressão viva de sinodalidade no seio da Igreja.

Pistas de ação para a Igreja no Brasil

Nos dois primeiros dias da Assembleia, a dinâmica dos trabalhos voltou-se para um olhar a realidade e para uma iluminação bíblica à luz do lema: “preservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (cf. Ef 4,5). O terceiro dia, domingo, foi dedicado a reunir as pistas de ação, fruto das oficinas de trabalho realizadas no sábado, à apresentação da carta da Assembleia e à celebração festiva de encerramento.

Entre as pistas de ação, fruto das oficinas de trabalho, destacam-se: que as Assembleias dos Organismos do povo de Deus sejam realizadas antes das Assembleias da CNBB, afim de poder oferecer eventuais contribuições para as Diretrizes de Ação Evangelizadora ; resgate do uso do termo CEBs, com maior valorização das Comunidades Eclesiais de Base; dar passos para a construção da Assembleia Eclesial do Brasil; propiciar mais espaços de formação sobre a Doutrina Social da Igreja e sobre a Ecologia Integral; fortalecer as pastorais sociais e assumir com maior ênfase a Semana Social Brasileira; dar maior importância às notas oficiais da CNBB em nossas paróquias e comunidades; cultivar a ecologia integral como uma dimensão da nossa espiritualidade, capaz de nos irmanar com a Criação de Deus; assumir, como Igreja, maior cuidado e defesa efetiva dos povos originários e da Amazônia; recuperar a voz profética da Igreja diante das ameaças à vida humana e à nossa Casa Comum; criar a “Semana da Ecologia Integral” a ser realizada na 1ª semana de setembro; realizar uma Assembleia das juventudes a nível diocesano, regional e nacional, com vistas a recuperar a presença dos jovens na Igreja; buscar o resgate da eclesialidade fortalecendo o “grito dos excluídos”, a Campanha da Fraternidade, as CEBs e os sonhos de Francisco no documento Querida Amazônia.

Dom Severino, fazendo uso da “fila do povo” destacou a necessidade de se fortalecer ainda mais a participação dos Organismos do Povo de Deus e reforçou a necessidade de se dar passos para uma Assembleia Eclesial do Brasil por ser mais representativa da totalidade dos batizados. Ela poderá fazer com que as decisões, documentos e diretrizes da Igreja cheguem mais rapidamente às nossas paróquias e comunidades e sejam abraçadas com maior ênfase e colocadas em prática.

Fez-se também o anúncio e pediu-se empenho para o III Ano Vocacional que será aberto no dia 20 de novembro de 2022, na festa de Cristo Rei,  encerrando-se em 26 de novembro do próximo ano. Este Ano Vocacional foi inspirado no Documento Final do Sínodo dos Bispos sobre Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Ele tem como tema: “Vocação: Graça e Missão” e o lema é Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24, 32-33). 

Depois disto foi apresentada a Carta Mensagem da X Assembleia dos Organismos do povo de Deus.

A Conclusão da Assembleia se deu de forma solene com uma missa celebrada na Catedral de Brasília, contando com a presença dos membros da Assembleia e da comunidade presente. A missa foi presidida por Dom Joel e concelebrada pelos demais bispos e presbíteros presentes.

O secretário-geral da CNBB, ao comentar o Evangelho (Lc 18,1-8) ressaltou: “somos uma Igreja rica em sua diversidade, de muitos dons e carismas, muitas formas de ser. Mas nunca poderemos ser uma Igreja como o homem do Evangelho, que só pensa em si, nos seus interesses, de costas e de olhos fechados para as dores de tantas pessoas. Aquele homem significa tudo o que nós, como Igreja, não podemos ser”.

Que esta X Assembleia dos Organismos do Povo de Deus fecunde a sinodalidade na Igreja do Brasil, que Comunhão, participação e Missão, sejam, verdadeiramente, o caminho para a Igreja envolvendo, efetivamente a totalidade dos batizados e batizadas. Como bem expressa a mensagem final: “Em sintonia com a Igreja no mundo inteiro, atentos aos apelos do Papa Francisco, vivemos a feliz expectativa pelo Sínodo em 2023, dispondo-nos a “caminhar juntos”, na fidelidade ao Evangelho”.

Crédito da Foto: Marcus Tullius

Denilson Mariano – Doutor em teologia, membro do grupo de pesquisa de Teologia Pastoral (FAJE) e da SOTER- Sociedade de Teologia e Ciências da Religião. Redator da Revista O Lutador, Integrante do MOBON – Movimento da Boa Nova. Membro do Observatório de Evangelização – PUC Minas.

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